segunda-feira, 8 de junho de 2015

Reencontro do Seminarista “foragido”

         Cap. IX-1 de: Um Seminário na década de 1950 

 (Veja Nota Explicativa ao final, com  a estrutura completa do livro e links dos capítulos já publicados neste blog)

   

       O Seminário Maior Nossa Senhora de Fátima, de Brasília, é mantido pela Congregação dos padres Sulpicianos (São Sulpício- França) e situa-se na principal via do Lago Sul. Foi inaugurado em 1962, como Seminário Menor, passando a Seminário Maior em 1976. São 90 seminaristas que se alojam em confortáveis instalações com esmerado paisagismo característico da cidade. Oferece cursos superiores de Filosofia e Teologia. O pórtico de entrada ostenta o seu nome e uma imagem da padroeira. Era visto pelo menino todos os finais de semana ao longo de 35 anos à caminho de sua chácara que também se situa na região sul de Brasília. A passagem por ali, bem em frente ao pórtico, sempre despertou reminiscências dos tempos de seminarista. Por coincidência também num seminário de mesmo nome: N.S. de Fátima, na cidade mineira de Itaúna. Às vezes pensava em visita-lo nalguma ocasião, mas isto nunca se concretizou. Não, até o dia em que fora à Catedral de Brasília para ganhar um livro sobre a história do mais belo monumento arquitetônico da cidade, em forma de mãos elevadas ao alto com seus belíssimos vitrais multicoloridos.

            Quarenta e cinco anos completava a Catedral naquele domingo, 30 de maio. No momento da visita estava acontecendo justamente a Missa Solene de comemoração do evento. A missa, celebrada pelo Bispo, Dom Valdir e acolitado por diversos padres e seminaristas, representou para o menino um passeio emocionado pelo distante ano de 1958.  Um belo coral completou o ofício, relembrando que há 57 anos o menino também fazia o mesmo, às vezes como acólito e outras com membro do coral de 70 vozes. E mais..., coincidência, num seminário de mesmo nome. Não faltou nada, nem mesmo o turíbulo espalhando o agradável aroma do incenso. Parece que nosso cérebro tem maior capacidade de armazenar cheiros e sabores do que outros acontecimentos passados. Aliás, o cheiro do incenso, percebido logo à entrada da Catedral, causou uma sensação diferente, inebriante, convidando à reflexão e elevando o coração ao alto. Mais, ainda, ao ouvir os acordes do harmônio seguidos da entonação de uma antífona em canto gregoriano, o menino flutuou tal qual aquele enorme anjo de bronze suspenso por um cabo bem ao meio da catedral. Estava completo o cenário do filme de reminiscências das missas solenes que o menino acolitava no seminário. Um filme que se repetia no imaginário daquele que estava afastado dos atos litúrgicos por mais de 50 anos. E agora estava tudo bem ali, ao vivo, padres paramentados em cor bege, seminaristas com batina e alvas sobrepelizes, incenso fumegando no turíbulo, cálices e ambula de ouro e prata, galheteiro duplo com as galhetas (jarrinhas) de cristal reluzente e alças de prata, sendo uma para a água e outra para o vinho licoroso, especial, fabricado pelos beneditinos (uma tentação para os meninos que gostavam de provar esses licorosos), a patena que recebe a grande hóstia da consagração, o missal, o coral acompanhado pelos acordes do harmônio... ah..., sem dúvida, foi muita emoção depois de tanto tempo afastado desses ofícios religiosos.

            Finalizados os atos litúrgicos fui à sacristia e o bispo achou engraçada a história do "foragido" seminarista. Posamos para fotos a seu lado e de seminaristas, aos quais dei uma carona de volta ao Seminário, pois os ônibus estavam em greve e por isso tinham vindo a pé, numa distancia de 9 km. Aproveitou para percorrer as instalações do Seminário de Brasília e assim conhecer aquele cujo pórtico de entrada já era visto há quase 40 anos.  O menino relatou aos caroneiros seu passado no seminário mineiro de mesmo nome e, agora, a emoção de assistir aos atos solenes na Catedral de Brasília. Acharam engraçada a história tão antiga do seminarista “foragido”, há exatos 57 anos. Desejei-lhes boa sorte e que possam chegar a bom termo nessa carreira de fé e evangelização e muita dedicação que se exige do sacerdócio.

Brasília, 30 de maio de 2015


Paulo das Lavras 



O que é mais bonito nesta majestosa Catedral? Por fora ou por dentro? 

 
O anjo de bronze flutuando

 
                                                  Para celebrar seus 45 anos de fundação, a   Catedral estava  
                                                   belissimamente enfeitada

 
                                               O cheiro do incenso fumegante, espargido pelo turíbulo de prata 

          O menino seminarista, em 1958, ajoelhado  à direita,
                                               em missa solene no Seminário de Itaúna        


 
 Hoje, 57 anos depois, o “foragido” reapareceu entre o Bispo
Dom Valdir e seminaristas de Brasília. Ficaram surpresos
com a história do "foragido".


 
A capela do Seminário N.S. de Fátima/Brasília   
      

                                                             A Igrejinha de Fátima na SQS 308/Brasília 

 
 Os seminaristas de Brasília - 2015


 
 O imponente Seminário, de Itaúna- 1958                                  
 

 
                                                    Os seminaristas de 1958. O menino ao centro,  assinalado,                                                                                                                    ao lado de dois colegas conterrâneos 




Nota Explicativa: 

Esta crônica é parte do livro: “Um Seminário na década de 1950”.  A obra compreende os capítulos de I a IX  e aqueles já publicadas neste blog estão com os links indicados abaixo, conforme a estrutura editorial: 

 Título geral: Um Seminário na década de 1950

Cap. I-   Uma viagem ao passado –publicadohttp://contosdaslavras.blogspot.com.br/2016/07/um-seminario-na-decada-de-1950-parte-i.html 

II- O despertar da vocação no menino  https://contosdaslavras.blogspot.com/2021/03/o-despertar-da-vocacao-sacerdotal-um.html

III- a viagem para o distante Seminário http://contosdaslavras.blogspot.com/2020/07/a-viagem-para-o-distante-seminario.html

IV- A vida no Seminário

4.1- a rotina diária de um internato

4.2- os seminaristas

4.3- os estudos do colégio 

4.4- A religiosidade               

4.5- o lazer e cultura

  4.6- Eventos marcantes

         4.6.1 - Fundições e Tecelagem Itaunense 

         4.6.2- Morro do Bonfim- a capela

        4.6.3- Copa do Mundo de 1958

   4.6.4- A morte chega ao Seminário  - já publicada:   http://contosdaslavras.blogspot.com/2017/07/a-morte-chega-ao-seminario.html

V – A viagem de volta - O fim

VI- O reencontro – 55 anos depois

VII- O legado 

VIII- Anexos: Curiosidades de 1958

IX- Pos-Scriptum:

 1- Brasília: O reencontro do seminarista foragido na Basílica Metropolitana - http://contosdaslavras.blogspot.com/2015/06/reencontro-do-seminarista-foragido.html   

     2-  29 de junho de 1958 – Sessenta anos da primeira Copa de Futebol - http://contosdaslavras.blogspot.com/2018/06/    

 

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