quinta-feira, 11 de junho de 2015

Aniversário de Lavras, 300 anos de história

Neste mês de outubro celebra-se o aniversário de nossa cidade. O feriado de aniversário de Lavras era comemorado em 20 de julho, dia da elevação da Vila de Sant´Ana das Lavras do Funil à categoria de cidade (20/07/1868), passando a se denominar simplesmente Lavras. Deixou de ser “Villa” há 145 anos.  Um marco muito importante de sua história e todos se lembram quando, em 1968, comemoramos o centenário da cidade que contou até mesmo com a presença de JK, o saudoso Presidente da República. Alguns anos depois, em 1981, foi mudada a data de aniversário para o dia 13 de Outubro. Isto porque se comemoraria naquele ano o sesquicentenário da elevação do Arraial à importante categoria de Vila, conforme Decreto Imperial de 13 de Outubro de 1831. Essa foi sem dúvida uma elevação de status muito importante, pois adquiriu a emancipação política com a criação de uma Câmara Municipal própria.

             Então porque o título acima? Estaria errado afirmar que seriam 300 anos de existência da cidade de Lavras e não os 182 que comemoramos neste ano de 2013? Mas, afinal quando foi o início do povoamento dessa região de exploração do ouro com tantas lavras de seu solo cujos vestígios, ainda hoje, continuam expostos em forma de verdadeiros buracões ou voçorocas como são chamadas pelos técnicos? Nossas voçorocas como aquela situada um pouco à esquerda da sede da Prefeitura, na Avenida Perimetral, são provas da origem do nome de nossa cidade.

E afinal em qual data seria o feriado de aniversário da cidade? Há novidade. Nem 20 de Julho e nem tampouco 13 de Outubro. Oficialmente, e após intensas pesquisas realizadas por uma comissão especial, decidiu-se pela data de 26 de julho de 1720 como a mais representativa da fundação da cidade de Lavras. Assim, baixou-se a Lei Municipal nº 3.845, de 14 de junho de 2012, determinando aquela data como sendo a de fundação. O dia 26 de julho foi em homenagem à Sant ´Ana (dia escolhido em 1584 pelo Papa Gregório XII) padroeira do lugar desde os primeiros dias do povoado. Já o ano de 1720 foi escolhido por causa das referencias mais antigas da chegada do fundador à região do funil do Rio Grande. Por essa data estaríamos comemorando, neste ano, 293 anos do início do povoamento da cidade de Lavras, faltando apenas sete para a celebração do tricentenário.
           
Mas quais foram os fatos históricos determinantes para a escolha de 1720 como ano de fundação da cidade?  Historiadores lavrenses têm se debruçado sobre essa questão. Firmino Costa, Jacy de Souza Lima, Ary Florenzano, Carlos Moreira Santos e Hugo de Oliveira integram o time dos mais antigos. Entre os mais recentes podem ser citados, dentre outros, Marcio Salviano Vilela e Geovani Németh-Torres. As pesquisas continuam, mas as publicações recentes nos mostram conclusões bem realistas sobre a data de 1720 como ano da fundação da cidade de Lavras. Mais que acertada a decisão da municipalidade ao adotar o 26 de Julho de 1720 como data da fundação de nossa progressista cidade. Para melhor compreensão da motivação do início do povoamento de Lavras é preciso recuar um pouco mais no tempo, bem antes de 1720. O fundador de Lavras, Capitão de Cavalaria, Francisco Bueno da Fonseca, participou em 1684/87 da expedição bandeirante à Sabarabuçu, comandada por Garcia Paes, filho do famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme. Este último, velho conhecido na história de Lavras, emprestou seu nome à rodovia que liga Belo Horizonte a São Paulo. Depois, em 1707/09, o capitão lutou ao lado de Amador Bueno na guerra dos Emboabas (Emboaba quer dizer amor à terra. Foi uma guerra de paulistas contra portugueses pelo direito de explorar as minas). Derrotados, os paulistas migraram suas buscas pelo ouro para Goiás e Mato Grosso. Mas, Francisco Bueno da Fonseca que conhecia muito bem as “minas geraes” tomou outra decisão e que foi determinante para a fundação do arraial das Lavras do Funil.

Embora a guerra dos Emboabas tivesse terminado em 1709 persistiam ainda em 1712 muitas desavenças entre paulistas e portugueses. Foi então que Francisco Bueno da Fonseca uniu-se aos revoltosos contra o desembargador sindicante e ouvidor geral-interino, Antônio da Cunha Souto Maior. Este era responsável pelo cumprimento das leis régias e por isso estava sempre em atrito com os paulistas. Devido a um deslize moral do desembargador Souto Maior, que desvirginara uma moça e com a qual se casara posteriormente, os revoltosos incluindo Francisco Bueno da Fonseca atacaram a residência daquele alto dirigente português, obrigando-o a fugir para o Rio de Janeiro e depois Lisboa.

Logo em seguida, em 1713, El-Rei expediu um mandado de prisão contra todos os revoltosos que atacaram o desembargador. Em 1718 o Conselho Ultramarino comunicou ao Rei que não saberiam informar se Francisco Bueno teria sido preso, degredado ou se fugira para os sertões. Nesse período, de 1712 a 1718/20, ele imigrou para a região do funil do Rio Grande. O ano de 1720 foi marcado também pela separação da Capitania de Minas que até então era vinculada à São Paulo. Segundo os registros históricos mais antigos naquele ano de 1720 o capitão Francisco Bueno já se encontrava por aqui, iniciando o povoamento da região de Lavras. Porém, é importante notar que os anos de 1712, data do ataque à casa do desembargador e 1713, quando foi decretada a prisão dos revoltosos, foram determinantes para a fundação de Lavras. Foi nesses anos que o bandeirante Francisco Bueno da Fonseca se viu obrigado a fugir da Província de São Paulo. Em vez de ir para as terras dos Goyazes e Mato Grosso, preferiu Minas que já conhecia desde 1684 quando participou das expedições a Sabarabuçu e depois na guerra dos Emboabas 1707/09. Portanto, a cidade de Lavras foi concebida naqueles anos decisivos da vida do capitão Francisco Bueno. Certamente no ano de 1718, quando as autoridades paulistas comunicaram a El-Rei que não sabiam de seu paradeiro, já estaria refugiado aqui nos Campos de Sant´Ana das Lavras do Funil.

Na verdade a região entre os rios Grande e Capivari, conhecida por Campos de Sant´Ana das Lavras do Funil, já era explorada antes mesmo de 1720. Havia, por exemplo, em 1714 e 15, um “Registro de passagem”, espécie de alfândega na região do funil do Rio Grande. Ainda hoje existe a Fazenda do Registro, na estrada que liga Lavras à ponte do Funil que, aliás, foi inundada pela usina hidrelétrica ali construída há pouco tempo. O ano de 1720 se caracterizou pela ocupação das Colinas do Funil, iniciada pelo capitão Francisco Bueno da Fonseca. Na época era conhecida como as Lavras de Ouro do Funil do Rio Grande e mais tarde, com a adoção nome da padroeira Senhora de Sant´Ana, passou a se chamar Arraial de Sant´Ana das Lavras do Funil e em 1831 foi elevada à condição de “Villa’, passando depois à categoria administrativa de cidade, em 1868.



Sim, mas falamos apenas das origens de Lavras e hoje? Trezentos anos depois do sonho de Francisco Bueno da Fonseca e 293 da efetiva fundação, como está a nossa cidade? Bem, para falar da pujança que Lavras ostenta hoje, com seus quase 100 mil habitantes, sendo grande parte de estudantes em todos os níveis, do maternal à universidade e dispondo de sofisticado comércio, muitas indústrias, moderno agronegócio e intensa atividade cultural, seria necessário ocupar todo o espaço da revista e ainda assim por várias edições. Não bastaria falar apenas do vertiginoso progresso econômico, mas, sobretudo de sua laboriosa gente que aqui aportou, dos paulistas e portugueses que a povoaram no início com também dos imigrantes italianos e sírios libaneses chegados no final do século XIX e início do século XX. Bem, mas isso é assunto para um próximo encontro com os leitores. Hoje, para celebrar os 182 anos da elevação do Arraial de Sant’Ana das Lavras do Funil à condição de Villa das Lavras do Funil, cujo ato se deu no dia 13 de Outubro de 1831, ficamos apenas nos registros históricos e na reprodução de uma ode escrita por Bi Moreira e um poema de Hugo de Oliveira que são verdadeiras declarações de amor à terra dos Ipês e das Escolas:

“Deixai que pisemos este chão que beijamos quando crianças, e que um dia se abrirá para receber-nos em seu seio”.   (Bi Moreira)

                   Bocaina...         
                                         (Hugo de Oliveira)
 
Há muito tempo afago esta esperança:
dar vida aos sonhos de voltar à terra,
de perder nos alcantis da serra
e revolver meus tempos de criança;
voltar onde se exala um ar que amaina
a flama de tristeza do exilado,
do preterido e eterno namorado
dos alcantis da Serra da Bocaina.

Àquela terra se eu voltar um dia,
mais velho, embora, assim, menos rapaz,
terei corpóreo o sonho que queria:
de Lavras ter o amor de suas manhãs,
viver seus dias e morrer em paz,
sob canções de ipês e flamboyants


            Parabéns Lavras pelos 182 anos de elevação à condição de Vila e 293 de fundação naqueles idos de 1720. Progresso, sempre!



Brasília, 13 de outubro de 2013

Paulo das Lavras


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