sábado, 30 de janeiro de 2021

O Nobel da Paz..., na Agricultura

(total de visualizações deste blog:  407.612 . Em 10/02/2024)


 
O jovem Alysson Paolinelli- Diretor da Escola Superior de Agricultura de Lavras/Esal, em evento social 
Foto: arquivos de Renato Libeck – Lavras, 1973


Parabéns ao Prof. Alysson Paolinelli. Mais que merecida a sua indicação ao Prêmio Nobel 2021. Esperamos e torcemos para que o Comitê Internacional considere e aprove a candidatura apresentada pelo Brasil. Há relatos e relatos sobre sua obra no acampo da agricultura. Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim... (ufa!), tem muito mais que isso e nunca ninguém publicou nada a respeito de suas ações junto ao MEC e ao ensino das Ciências Agrárias em nosso país.

Pesquisei por mais de 30 anos e encontrei farta documentação aqui no Ministério da Educação, onde dirigi por trinta e quatro anos o ensino agrícola superior, herdado da antiga SEAV/M.A. Ele, Paolinelli, influenciou e dobrou o MEC a aceitar o ensino agrícola superior nos moldes dos Land Grant College - com Ensino, Pesquisa e Extensão associados. Como se sabe, antes o ensino agrícola era subordinado ao Ministério da Agricultura e seguia o modelo acadêmico francês que cuidava apenas dos aspectos curriculares, sem se preocupar com a prática, a pesquisa e a extensão rural. Era caro, pois tinha professores em tempo integral que também pesquisavam, havia fazendas experimentais com criações a plantações diversificadas, por isso foi recusado pelo MEC. Foram sete anos de luta (1961/67), com Paolinelli à frente.

Veja abaixo o que foi publicado, hoje 30/01/2021, no maior jornal de circulação da capital federal, Correio Braziliense:  

 

Jornal Correio Brazilense - Coluna Opinião


A íntegra de minha pesquisa junto aos arquivos do MEC, destacando a atuação de Paolinelli, de 1960/67 e durante seu período como Ministro da Agricultura (1974/79) está em artigo técnico publicado recentemente, à pág. 357 da Revista do Patrimônio Cultural de Lavras, em:  https://archive.org/details/revista-do-patrimonio-cultural-de-lavras-1-1-2020/page/n357/mode/2up

Paolinelli merece o Prêmio Nobel, currículo e honrarias não lhe faltam, como essa de 2006, o Prêmio Mundial da Alimentação: 


 

     Além de sua expressiva contribuição à produção de alimentos e avanço das pesquisas agrícolas, esperamos que a sua grande e significativa contribuição junto ao Ensino Agrícola Superior, agora revelada, também possa contribuir e sensibilizar os membros do Comitê, como mais uma de suas realizações que engrandecem a ciência e nosso país  e contribui para  a paz mundial, sobretudo em época de escassez dos recursos naturais e a produção sustentável se torna imperiosa. Paolinelli foi o precusor nessa arte, portanto, ele e o nosso imenso país, merecem o Prêmio Nobel.

 

Brasília, 30 de janeiro de 2021

Paulo das Lavras 


 Como dirigente do Ensino Agrícola Superior no MEC, sempre fomos distinguidos com convites para solenidades do Ministério da Agricultura. Na foto (primeiro à esquerda), ao lado do Presidente da Cooperativa Agrícola, Sr. Pizzolanti, em Lavras e o Ministro Alysson Paolinelli 
Foto: Tribuna de Lavras – 26/07/1976


 
Ficamos muito honrados ao lado de Eudes de Souza Leão (ao centro) e Alysson Paolinelli, dois gigantes da Educação Agrícola Superior em nosso país. Eudes, então assessor do MEC em 1963, foi a Lavras para fechar a Esal, pois a mantenedora particular não mais podia arcar com seus custos. Paolinelli o convenceu do contrário e logo a seguir, no final daquele mesmo ano, a Esal foi federalizada, com o aval do próprio Prof. Eudes de Souza Leão . Ali mesmo, em Recife, o convidamos a voltar à Esal/Ufla 
Foto do autor- Recife-Pe, outubro de  2007


 Em 2012, finalmente, o Prof Eudes de Souza Leão voltou à Lavras e foi homenageado pela Universidade e toda a comunidade. Fiz questão de registrar,em foto, os dois gigantes, Eudes e Paolinelli, justamente em frente à antiga casa do Diretor da Esal, no próprio campus, onde Paolinelli hospedou o visitante que tinha a missão de fechar a mais que cinquentenária Escola (hoje tem 113 anos). Bastaram três dias em Lavras para o Prof Eudes constatar o valor daquela escola e recomendar a sua federalização. 
Foto do autor-  antiga casa do Diretor da Escola Superior de Agricultura de Lavras - 2012


 Em 2016, voltamos à UFLA, quando o Departamento de Engenharia (Prof Volpato - diretor, ao centro) completava 50 anos. Fundado pelo Prof. Paolinelli em 1966, o integrei, a seu convite, à partir de 1969 e ali instalamos  o terceiro curso de Engenharia Agrícola do país, em 1975. Paolinelli, sempre prestigiando e apoiando a educação agrícola, mesmo depois de mais de meio século de suas lutas aqui no MEC em prol da melhoria da qualidade do ensino.  Nada vem por acaso. Por isso o Brasil lidera a produção de alimentos no mundo. 
Foto do autor-  Ufla, maio de 2016


Por mais de 40 anos e como dirigente do ensino superior, estivemos viajando com Paolinelli em prol da educação agrícola superior. 
Foto do autor – aeroporto de Lavras, 1975

 






 



 


 




 




 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

O Homem Translúcido

 

Leitura concluída.

Autora - Deo Saraiva


 
O livro de Deo Saraiva. Vale a pena ler. O enredo passa-se no ano de 2035, bem ali, apenas 15 anos à frente. Ficção bem realista, até mesmo para engenheiro que há 50 anos está acostumado a lidar com as máquinas de inteligência artificial.
  Contato da autora - 24-999835829 (Whatsapp


Surpreendente a peça ficcional de Deo Saraiva, até mesmo para um engenheiro, de pensamento cartesiano, acostumado desde o ano de 1971, há exatos 50 anos, no começo da era computacional, com um dos primeiros “cérebros eletrônicos” (assim eram chamados os computadores), o UNIVAC, gigantesco, do tamanho de uma sala de aula, ali na USP/EESC, porém minúsculos na memória de apenas 400K (um simples smartphone de hoje tem dezenas de gigabytes). Aquele gigante de pequena memória usava válvulas, pois não existiam ainda os chips e elas esquentavam demasiadamente o ambiente que precisava ser refrigerado com vários aparelhos de ar condicionado. O Univac, computador recém-inventado, tinha que ser alimentado com montanhas de cartões recheados e picotados com as programações em linguagem Cobol ou Fortran que, nós mesmos, os mestrandos em engenharia, éramos obrigados a programar (não existiam os tais softwares para se comprar nas famosas lojas de App... rsrs). Pois bem, agora, ler um romance de ficção tendo a inteligência artificial como pano de fundo, foi indubitavelmente uma experiência diferente, inusitada e posso dizer muito aprazível, interessante mesmo se comparado com os avanços atuais depois de 50 anos de uso dessas máquinas inteligentes. Muito provavelmente será mesmo possível criar-se um homem translúcido, com a inteligência artificial e que se apresentará sob a forma de um holograma que, à vista em 4D, se transforma em realidade virtual que ama seu criador, aquele que detém seus comandos cibernéticos.

 

            Foi bem assim mesmo que me senti com a leitura do romance futurista, escrito por Deo Saraiva e que nos leva ao mundo da Inteligência Artificial – IA de forma suave, conduzindo-nos para as facilidades que os robôs nos proporcionam em todos os segmentos da vida. Começa pelo mundo da moda, com a perfeição ímpar nas criações, modelagens virtuais ao vivo, ao gosto da cliente e sem sair de casa. A madame recebe a encomenda, via drone aéreo, com seu vestido já provado, testado virtualmente em manequim à sua imagem e semelhança, conforme escaneado por robô. Paga com criptomoeda e depois vai com seu acompanhante, em taxi-drone-aéreo para a festa de gala ou restaurante de luxo. Também passa pela produção agrícola high-tec com drones autônomos controlando a irrigação, aplicação de defensivos e fertilizantes numa fazenda da família de Norah, a principal personagem do romance. E aqui podemos dar o testemunho do realismo, pois como diretor do Ensino Agrícola Superior, do Ministério da Educação-MEC, introduzimos a informática na Agricultura, já em 1983, quando realizamos em Fortaleza (UFC), em parceria com o Ministério da Agricultura e a Secretaria Especial de Informática (hoje MCTI), o I Seminário Nacional de Informática na Agropecuária – INFOAGRO, Desde então criamos com pioneirismo na América Latina a matéria/disciplina de Informática na Agricultura, nos cursos de ciências agrárias – a agronomia, engenharia agrícola e florestal.

 

Em seu romance bem estruturado, a autora usa e abusa dos drones sob a forma de taxi aéreo, carros autônomos, entregadores e auxiliares em tudo e em todas as atividades humanas. Sim, a autora faz isso com muita habilidade a ponto de deixar até engenheiros com vontade de viver naquele mundo futurista, bem ali no ano de 2035, apenas 15 anos à frente. Depois de nos induzir a viver e maravilhar-nos com as tecnologias decorrentes da IA, introduz o fator humano no enredo e daí a história de Norah, especialista em IA e principal protagonista, se desenvolve com as mais diversas e surpreendentes situações com seu “ente”, criado por ela, de nome Ali e que a acompanha em forma de holograma. Criou-o em realidade aumentada (4D), à imagem de um homem para suprir a sua solidão, numa relação virtual incrível. Mas..., porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim (... ufa!), sempre há um óbice em qualquer história por mais maravilhosa que seja. A criatura virtual deu sinais de querer controlar sua criadora e então começam os problemas. Norah teve que arquitetar um plano secreto, pois até os seus chips de controle de saúde serviam de fonte para o robô Ali, pois ele tudo via e ouvia o que ela dissesse e... pensasse (sim, no futuro teremos chips no corpo, conectados a sistemas de saúde /médicos e que monitorarão nosso corpo e darão diagnósticos precisos em qualquer caso de anomalias).

 

Não vamos contar aqui o desenrolar e tampouco o desfecho dessa bela ficção que até mesmo aos olhos de um engenheiro pareceu por demais realista. O certo é que a autora nos conduz, na figura de Norah, ao mundo das relações virtuais e a solidão do ser humano na era da IA que, mesmo hoje, nos prende por horas e horas nas redes sociais. Mas, mais surpreendente, ainda, é o final que a autora reservou para Norah, a criadora do robô, depois que executou seu plano para se livrar do jugo de Ali, sua criatura de IA quase autônoma.

Gostei e recomendo a leitura!

 

Brasília, 26 de janeiro de 2021

Paulo das Lavras

 

 

O Ministério da Educação, por meio da UFC, organizou o primeiro Seminário Nacional de Informática na Agricultura, intorduzindo essa matéria nos currículos dos cursos de Ciências Agrárias. Hoje, quase 50 anos depois os drones, dotados de computadores, aí estão a auxiliar no que agora chamamos de Agricultura de Precisão. De seu escritório ou de qualquer parte do mundo, onde quer que se encontre, o produtor rural comanda a sua lavoura, a um simples toque em seu smartphone.

No romance “O Homem Translúcido”, a autora, Deo Saraiva, menciona esse e outros avanços da Inteligência Artificial, numa peça ficcional, mas muito próxima da realidade, sobretudo se projetarmos tais avanços para o ano de 2035, quando ela, a autora, ambientou sua história, cheia de realismos.

Foto do autor – Folder do evento- arquivos pessoais e do Centro de Documentação do MEC






terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Carlos Murilo, um amigo de Brasília e Lavras

 

Brasília amanheceu, hoje, triste, muito triste, de luto, com a notícia do passamento de Carlos Murilo Felício dos Santos, um dos pioneiros da construção de Brasília. Faleceu, de causas naturais decorrentes de pneumonia, a dois dias de completar 94 anos de idade. Acompanhou o ex-presidente Juscelino Kubistchek desde antes de ser governador de Minas Gerais (1950/59) e a partir de então nunca mais o deixou, ocupando as funções de secretário particular do mais querido governador e presidente que o Brasil já teve. Também foi deputado estadual e federal e nessa condição, de político e secretário particular de JK, mantinha vasto arquivo da história do período em que foi protagonista. Tinha uma memória prodigiosa e era capaz de passar horas contando inúmeros casos da vida politica mineira e nacional. Foi assim que o conheci, em junho de 2012, na cerimônia de lançamento de seu livro “JK, Momentos decisivos contra o golpismo no Brasil”. O mais polido, culto, simpático e amável homem público que já conheci.

Quando me apresentei a ele, naquela cerimônia, ao dizer-lhe o nome de minha cidade natal, foi como se tivesse lhe destravado uma palavra-senha que abriu-lhe a memória. Relembrou-me que lá esteve por várias vezes e a primeiro detalhe revelado foi: Lavras, terra das moças mais bonitas de Minas Gerais...  A partir daí, parecia que já éramos velhos conhecidos, pois deixou os demais convivas e levou-me para um canto e gostosamente desfiou casos e casos da época. Não me surpreendi, pois ele tinha sido o companheiro do “pé-de-valsa” JK. E quem acompanhava o mais que simpático e carismático presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira tinha mesmo que ser assim, alegre, simpático. Foi logo falando de suas visitas à Lavras, a começar pelas campanhas eleitorais do candidato a governador de Minas Gerais. Depois, voltaram para inaugurar uma grande e importante usina hidrelétrica na região (Itutinga - 1955). Ainda falou do famoso Baile do Século, em comemoração ao centenário de Lavras, sempre recepcionado pelo amigo e correligionário de Jk, Dr Sílvio Menicucci, que foi prefeito em outras ocasiões e depois deputado estadual. Ótimas lembranças, tinha o autor do livro, Carlos Murilo, sobre a cidade natal do menino e passamos um bom tempo a recorda-las. Foi assim que, então disparei o convite: “... o senhor vai voltar a Lavras, tem que rever a cidade e os amigos e dentre os quais, agora, sou o primeiro a lhe convidar. Vamos fazer lá, também, o lançamento de seu livro na terra que tão bem os acolheu. Esperamos que o senhor nos conceda essa honra, de receber dois grandes amigos da cidade, o senhor e também JK (in memoriam) aqui reverenciado em seu livro”. Não titubeou e esboçou um largo sorriso de aceitação do convite.

Contatamos a Secretaria de Cultura e a Universidade Federal de Lavras que prontamente encamparam o convite e patrocinaram a cerimônia de lançamento do livro de Carlos Murilo, o amigo de Lavras que escreveu sobre outro amigo, JK. Assim, realizou-se em 30 de agosto de 2013, na belíssima Casa Rosada, a cerimônia de lançamento do livro JK, à qual compareceram o Vice Prefeito, Aristides Silva Filho, o Presidente da Câmara Municipal, Marcos Possato, o Reitor da UFLA, Prof Scolforo e outras autoridades, além da esposa do escritor, Srª Déa Lúcia Pimenta Felício dos Santos e também o filho e secretário, Beto Felício. Foi uma grande honra receber o Dr Carlos Murilo e sua família na cidade de Lavras, que ele e JK tanto amaram. Certamente a cidade e sua gente, os políticos de então (especialmente as lindas moças) os marcaram também, pois mesmo depois de quase cinquenta anos de sua última visita à cidade, ainda se lembrava de detalhes. Sentimo-nos honrados com sua presença, um ano depois, para o lançamento de seu livro de memórias de JK, evento que também serviu para reforçar os laços de amizade e admiração por tão ilustre memorialista da história de Minas e do Brasil.

E hoje, surpreendidos pela infausta notícia de seu passamento. Grande perda! Nosso abraço de pesar aos familiares desse grande homem, íntegro e que só queria o bem de todos, como bem disse a reportagem de hoje do jornal Correio Braziliense. Foi, ainda, um dos grandes batalhadores pela construção de Brasília e ajudou JK a vencer os obstáculos da política. Sou duplamente grato a ele, por Lavras, minha terra natal, onde pude receber a ele e sua família e, ainda, por Brasília onde resido há quase meio século. Sim, Brasília está de luto, o Brasil também.

Brasília, 12/01/2021

 Paulo das Lavras 


 Carlos Murilo, aos 85 anos de idade, na cerimônia de lançamento de seu livro, no Memorial JK, em Brasília 
Foto do autor - 12 de junho de 2012 



 
A triste notícia de hoje, no Correio Braziliense - 12/01/2020 – página 14


 JK na caminhonete do Sr Manoel Alves, em campanha política 
em Lavras, anos 50 
Foto: arquivos de Renato Libeck 


 Carlos Murilo, atrás de JK, que era o chefe da Casa Civil do Governador Benedito Valadares – anos 40 
Foto: arquivos de Renato Libeck


 Renato Libeck, historiador de Lavras, publicou essa carta em sua página do FB. É a carta de solidariedade ao Deputado lavrense, Sylvio Menicucci, que havia acabado de ter seu mandato cassado. Mostrei a cópia ao Dr. Carlos Murilo e ele confirmou que a conhecia e que aquele foi um dos períodos mais tristes da história de nosso país. 
Foto: arquivos de Renato Libeck 


 

Autografando seu livro

 



 Outro lavrense, o empresário Paulo Octávio Pereira, presente à solenidade no Memorial JK. O empresário é casado com Ana Christina, neta de JK 
Foto do autor - 2012






 

O convite da Ufla


 Foto histórica, na Casa Rosada. Lançamento do livro “JK- Momentos decisivos contra o golpismo no Brasil”. Da esquerda para a direita: Nilson Salvador, Pró-reitor de Cultura/Ufla; Vereador Marcos Possato, Presidente da Câmara Municipal; José Scolforo, Reitor da Ufla; Carlos Murilo Felício dos Santos, Paulo Roberto da Silva e
 o Vice-Prefeito, Aristides Silva Filho 
Foto do autor – Lavras, 30/08/2012


 A belíssima Casa Rosada, onde se realizou o evento, com a presença do grande amigo de Lavras,
o poeta e historiador Carlos Murilo Felício dos Santos. 
Foto: Catarina Júlia



 

Anexo:

Palavras do Menino das Lavras no lançamento do livro de Carlos Murilo:

Amigos,

 “JK só sonhou o que sonhou, viveu o que viveu, construiu o que construiu e sofreu o que sofreu, porque ousou se levantar contra as forças que sempre conspiraram contra a democracia, o desenvolvimento nacional, a progressão do nosso povo e o fortalecimento da nossa nação diante das outras nações do mundo.

A melhor forma de combate-las - já que elas estão aí, vivas e atuantes - é não esquecer o passado. Um povo que não conhece sua história não pode construir seu futuro”.

Com essas palavras o Dr. Carlos Murilo Felício dos Santos, que temos a honra de receber, nesta noite, sintetiza tudo aquilo que foi em vida o nosso eterno Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Daí, a escolha mais que acertada para o título dessa grandiosa obra: Momentos Decisivos- JK contra o golpismo no Brasil. Nesta obra o Dr. Carlos Murilo nos revela e que nos revela fatos inéditos.

Exmo Sr....

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Senhoras e Senhores...,

Nosso convidado especial...., Dr. Carlos Murilo Felício dos Santos e digníssimos familiares, Dona Déa, esposa, e Beto Felício , filho e Secretário Particular

A sua presença, Dr. Carlos Murilo, nesta cidade de Lavras, com mais de 300 anos de história que vem desde os primórdios das minerações auríferas nas terras das Minas Gerais, para aqui lançar a sua obra nesta Feira do Livro e das Letras de Lavras, como parte integrante das comemorações dos 105 anos de existência da Universidade Federal de Lavras, em copatrocínio com a Secretaria Municipal de Cultura, muito nos honra. Primeiramente pela sua primorosa e esmerada produção histórica sobre a vida do ex-presidente JK, amplamente elogiada pela crítica.  Em segundo lugar pelos laços históricos e afetivos que unem a cidade de Lavras ao autor e também ao personagem central do livro em questão.

 Dr. Carlos Murilo foi Deputado Federal e Secretário Particular de JK desde os primeiros dias de seu governo do estado de Minas Gerais (1951/55) e depois na Presidência da Republica, de 1956 a 1960. Estiveram, ele e Jk, várias vezes em Lavras, destacando-se dois grandes e marcantes eventos: a inauguração da nova iluminação elétrica da cidade, em 1954/55, após o início de funcionamento da Usina Hidrelétrica de Itutinga, por ele construída e depois, em outro evento também importante, em 1968, o Baile do Século, nas comemorações do centenário de elevação da Vila de Lavras do Funil à condição de cidade. Além disso, o autor do livro e o personagem retratado, sempre mantiveram laços de amizade e cooperação com políticos da cidade em benefício de toda a comunidade.

Não bastasse isso o Dr. Carlos Murilo presenciou e participou, diretamente, de alguns episódios mais importantes da história do Brasil no século XX ao conviver intimamente com JK, como primo, amigo e conselheiro, e acompanhou os desafios enfrentados por Nonô, na intimidade.

Seu livro retrata a fibra do homem público, JK, e seus grandes feitos em prol da democracia em nosso país. Uma verdadeira lição de estadista, corajoso, determinado e que todos temos muito a orgulhar. Assim, a presença do Dr Carlos Murilo Felício dos Santos, um dos últimos protagonistas daquela epopeia, será uma oportunidade ímpar para o meio cultural da cidade ouvir e reviver esse grande período da história local, regional e nacional.

Jk foi um homem destemido, corajoso, além de seu tempo. Deu mostras disso quando oficiais da Marinha o emparedaram ameaçando publicar um manifesto questionando seu governo. O então ministro da Marinha, portador do recado provocador da oficialidade daquela pasta, teve de retornar às pressas à sede de seu Ministério e transmitir a reação de JK que dizia:

“Deus poupou-me do sentimento de medo. Senhor Ministro, diga a seus oficiais que estão reunidos que eles têm cinco horas para rasgar esse documento e sair do prédio, sem divulga-lo, ou eu vou mandar cercar o prédio e prender todos que o tiverem assinado”,

 conforme relatado à pagina 101 deste livro de Memórias, duas depois saíram de mansinho, embora tivessem pensado que “JK estava perdido” e não lhe restaria outro caminho igual ao de Getúlio Vargas ou a renuncia na melhor das hipóteses.

Além de sua coragem e destemor, Jk foi, antes de tudo, um idealista que inspirou, instou, encorajou e deu novos horizontes ao brasileiro. Nelson Rodrigues, mordaz escritor e cronista, assim também o reconheceu em sua crônica “O Brasil em Marcha”. Disse o cronista:

“Amigos, o que importa é o que Juscelino fez do homem brasileiro. Deu-lhe uma nova e violenta dimensão interior. Sacudiu, dentro de nós, insuspeitadas potencialidades. A partir de Juscelino, surge um novo brasileiro. Aí é que está o importante, o eterno na obra do ex-presidente. Ele potencializou o homem do Brasil.”

 

Dr. Carlos Murilo muito bem interpretou isso ao publicar esse Livro e mais..., antes foi um batalhador na árdua luta pela construção do Memorial JK. Na época tiveram dificuldades enormes, até mesmo para a aquisição de um terreno onde se pudesse construí-lo. Ao saberem a que se destinava o terreno, imediatamente o vendedor desistia do negócio, tal era o medo naqueles tempos de repressão e bombas no Riocentro e atentados à OAB. Felizmente um amigo cantor muito popular, Silvio Caldas, abordou o presidente Figueiredo e este, surpreendentemente, encampou a ideia, chamou Dona Sara ao Palácio Alvorada e mandou que ela escolhesse o local. Ali, no ponto mais elevado, onde Jk mandou celebrar a primeira missa, construiu-se o Memorial. Porém..., relata Carlos Murilo:

“tivemos que enfrentar outra batalha para a colocação da estátua de JK”.

Uma minoria de direita radical dos militares se opôs ao içamento da estátua que hoje lá está. Por três vezes, sim, por três vezes a estátua subiu e teve que ser retirada por ordem de um mandante ou comandante encastelado no Forte Apache, sede do QG do Exército, situado a poucos metros à frente do Memorial. Na 4ª vez ela subiu e não desceu mais, depois que o Presidente ligou, pessoalmente, para o tal comandante e ordenou:

“Olha, amanhã, a estátua sobe, sem falta. E ninguém mais tira”.

Dr. Carlos Murilo foi protagonista de todas essas batalhas que à época a imprensa nem se atrevia a noticiar. Lembro-me que o jornal Correio Braziliense noticiou, timidamente, em notinhas de pé de pagina, numa das vezes que a estátua subiu e desceu, algo assim:

“a estátua de JK foi içada e menos de 24 horas depois foi retirada. Parece que forças invisíveis do QG do Exército não a sustentaram.”

Foi preciso muita garra e coragem desses bravos admiradores e defensores do eminente e saudoso JK, até mesmo depois de sua morte. Imaginem antes, enquanto vivo, quanto “perigo” representava a esses radicais de direita. Nenhum outro homem público era tão ameaçador à ditadura quanto JK. Seria sempre o querido do povo, um bem sucedido e natural candidato à Presidência da República e enquanto isso a Operação Condor cuidava de eliminar as principais lideranças politicas adversárias da ditadura instalada no país.

 

O livro traz, ainda, revelações inéditas. Por que a perseguição constante contra JK? Desde sua posse até sua morte? Pela primeira vez, um dos membros da família JK revela fatos envolvendo a vida e as circunstâncias de sua morte num acidente de carro na rodovia Dutra, a caminho do Rio de Janeiro, depois de uma estranha parada em um hotel à beira da estrada. Ali conversou durante 90 minutos, a sós, com um personagem não identificado. Logo em seguida, a pouco mais de um quilômetro da saída do hotel, o acidente fatal. E o fragmento de metal na cabeça do motorista? A farsa da batida no ônibus? São perguntas que o inquérito fajuto não considerou. Dr. Carlos Murilo conta a sua versão de atentado contra a vida de JK baseada em fatos que ele poresenciara dias antes, ainda em Brasília, antes daquela viagem fatídica.

E a despedida a Jk foi a mais comovente manifestação civica já vista em Brasília. Foi uma demonstração de amor ao fundador da cidade. Dr Carlos Murilo conta que o povo arrebatou das mãos dos Bombeiros a urna com o corpo de JK, gritando:

o povo leva... deixa que o povo leva...., o povo vai levar...

E assim foi, num trajeto que durou mais de seis horas, quando não deveria levar mais que meia hora. O povo cantando desde o Hino Nacional às canções como “Amanhã vai ser outro dia”, de Chico Buarque e “Para dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré. Nas janelas dos prédios, lenços e panos brancos sendo agitados....

.....E aqui, Dr Carlos Murilo, abro um parêntesis em seu relato para dizer que, também eu e minha família, estávamos na janela do 2º andar de nosso amplo apartamento vazado na Superquadra 308 Sul, cujos fundos dava para a Avenida W3 onde passou o féretro por volta da 21 horas. O Senhor, no entanto, não contou em seu livro que aqueles lenços e toalhas brancas que acenávamos das janelas, serviam também para enxugar as lágrimas que derramávamos diante daquele cortejo que levava o corpo do nosso querido e eterno Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Aquele mesmo que, exatamente a um ano atrás, cumprimentara a mim e a meu irmão quando de seu desembarque no aeroporto de Brasília. Estava absolutamente só, sem segurança ou sequer algum acompanhante. Ali estávamos à espera de minha família que desembarcaria minutos depois para fixar residencia definitiva na capital. Ainda me lembro que, um tanto surpreso com  a inesperada saudação que nos dirigiu, ainda tive tempo de dizer-lhe: Aí , Presidente, veio visitar sua filha ..., Brasília. Obrigado por nos ter dado essa bela cidade. E ele, já próximo ao veículo que o aguardava, virou-se, deu um largo sorriso, agradeceu, acenou e embarcou no carro que arrancou apressadamente. Agora, ali estava ele, de novo, passando em frente a nós, carregado nos braços do povo em direção à sua última morada. Usamos sim, Dr Carlos Murilo e meus amigos, aqueles lenços brancos que o Sr viu. Além de acená-los serviram para enxugar as nossas doloridas lágrimas.

Finalizando...., Dr. Carlos Murilo e meus amigos...

Se Jk foi em vida aquele que obstinadamente lutou contra as forças que sempre conspiraram contra a democracia, o desenvolvimento nacional, o progresso do nosso povo e o fortalecimento da nossa nação..., temos aqui, hoje, um continuador dessa luta, pois vemos no livro que ora recebemos, que Jk não lutou em vão. Ele nos deixou um legado indelével e o, senhor, Dr. Carlos Murilo, com essa primorosa obra de resgate dessa memória, é, sem dúvida, um continuador dessa luta e assim se insere, definitivamente, na história deste País como um dos principais protagonistas da era JK, ...... parceiro, companheiro desde a primeira hora. Amigo leal que soube retratar com fidedignidade os....

 Momentos Decisivos de JK contra o golpismo no Brasil

E, assim, o senhor também faz história.

 Parabéns e muito obrigado, por sua obra e ... sobretudo pela sua presença, juntamente com a digníssima família, aqui nesta Casa que os acolhe com muito carinho e gratidão!

Lavras, 30 de agosto de 2013

Paulo das Lavras