quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Lavras, 14 de Agosto de 1832. Um pouco de história

 
Embora a foto acima, copiada dos arquivos de Luiz Teixeira da Silva, retrate os anos de 1930 ou 1940, mostrando o Teatro Municipal e logo mais abaixo a antiga sede da Prefeitura e da Câmara Municipal da cidade de Lavras-MG, o título desta crônica está certo: 14 de agosto de um mil oitocentos e trinta e dois... . Lá se vão 181 anos de fundação da Câmara Municipal de Lavras. Esta foi a data de sua instalação: 14 de Agosto de 1832.
A Villa de Lavras do Funil pertencia à Comarca do Rio das Mortes, na Província de Minas Gerais., região de exploração do ouro e pedras preciosas naquele início do século XVIII. A primeira reunião da Câmara Municipal foi na casa do cidadão brasileiro Francisco José Teixeira e Souza. Reuniram-se José Antônio Diniz Junqueira (presidente eleito), Reverendo Vigário Francisco de Paula Diniz e os vereadores: Francisco José Teixeira e Souza, o Sargento Mor Thomaz de Aquino Alves de Azevedo, Antônio Caetano de Andrade, e Antônio Simoens de Souza. Manoel Thomaz de Carvalho e Domingos de Abreu Salgado se encontravam ausentes e, por isso, não puderam comparecer.
 Eram, portanto, oito vereadores, incluindo o presidente (in: Vilela, M.S - A Formação Histórica dos Campos de Sant´Ana das Lavras do Funil. Ed. Indi, 2007, 450p. :il. – pág. 57-58) e a partir de então a Villa começou a se movimentar. Levantou-se o Pelourinho – marco simbólico da existência de autoridade constituída e logo em seguida, em 1º de setembro de 1832, procedeu-se a eleição dos juízes. Havia cerca de 1.500 a 2.000 moradores na sede que contava com 245 prédios e nenhuma rua com calçamento. Evidente que a vila progrediu e em 1868 (20 de julho) foi elevada à categoria de “cidade”.
A data de criação do poder legislativo foi perpetuada como nome uma rua da cidade, situando-se transversalmente à Chagas Dória.
Abaixo pode ser vista a cópia da Ata de Instalação da Câmara Municipal da Vila de Lavras do Funil.
A propósito, neste ano de 2013, houve festa na cidade ou sessão comemorativa na Câmara Municipal?
 
Brasília, 14 de agosto de 2012
Paulo das Lavras
 
Acta de instalação da Câmara Municipal da Villa de Lavras do Funil:
 
 

sábado, 10 de agosto de 2013

Coisas de antanho..., menino mamparrento das Lavras. Uma crônica coletiva



            De vez em quando me vêm à mente uma palavra que era usada em casa, nos tempos de antanho, principalmente por minha mãe, lá pelos idos da década de 1950. Sempre que fazíamos corpo mole, queixando alguma dor inventada, para não fazer algo solicitado, ela olhava para a gente e dizia: “deixa de mamparra, menino”.
Hoje fui pesquisar na internet e encontrei uma definição que se encaixa exatamente naquele contexto:

"Mamparra - é substantivo. Termo usual no interior de Minas Gerais. Pode significar: Fingimento, corpo mole, preguiça. Fazer mamparra ou estar com mamparra é fingir-se de doente para fugir de um trabalho ou obrigação que demande esforço físico. (Venicio Gonçalves - Piracicaba – SP):
- Alguém precisa buscar lenha. - Eu não posso. Estou com dor nas costas. - Isso é mamparra sua (ou Você está com mamparra)"

Achei interessante que na definição do termo há uma nota informando que é um termo usado no interior de Minas. De fato, me lembro bem, esse termo só era falado em Lavras. Nunca o ouvi em outro lugar de nosso imenso território nacional. Coisas de Lavras. Alguém sabe a origem dessa palavra, mamparra? Gostaria de saber.


Maju Pinheiro Reis - ihhh.... já fui muito mamparrenta .
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Kilza Arbex - Essa não é do meu tempo ... Rsrs
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Paulo Roberto da Silva - sim, Kilza Arbex.... na década de 1950 eu já era menino "véio" de 10 anos e você nem tinha nascido....rsrs
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Paulo Roberto da Silva - Maju, qual seria a origem dessa palavra?
Quinta às 21:17 · Curtir

Kilza Arbex - É de origem africana (Moçambique), pejorativa. Provavelmemte mais usada em MG, devido à quantidade de escravos que trabalhavam nas lavouras de café da região.  Kilza Arbex tbem é cultura!
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Paulo Roberto da Silva - Ah, aí está, Obrigado, Kilza Arbex. Eu até imaginava que seria algo de origem tupi ou africana. Faz sentido, pois Lavras é região de origem mineradora e de cafeicultura escravocrata eles, os escravos trouxeram muita contribuição ao nosso idioma e sobretudo ao mineirêz. Os diminutivos vem das escravas, da amas de leite que em tudo punham o diminutivo para ninar ou falar com o sinhozinho desde o berço. Veja que o mineiro carrega isso até hoje...cafezinho, feijãozinho, leitinho... Quanto ao termo "mamparra", era muito usado nas fazendas. Está aí a explicação, mais que lógica , tks ...
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Paulo Roberto da Silva -  ueh, Kilza Arbex... coincidência, empatamos na explicação... por conseguinte... deve ser vero a sua e a minha que veio depois que você postou o site informando a origem africana.
Kilza Arbex - Se não for, acabamos de "inventar" uma! Rsrs ... Mas, faz sentido, ne?

Ângelo Alberto De Moura Delphim - Conheço certa pessoa que vive de mamparra. Quem será?

Valéria Castro - Já ouvi muitas vezes esse termo.  Principalmente de pessoas da zona rural.

Paulo Roberto da Silva - quem seria, hein, Ângelo Alberto De Moura Delphim...?




Paulo Roberto da Silva - Sim, Valéria Castro,  isso reforça a tese de que é uma palavra de origem africana, usada pelos escravos nas fazendas do sul de Minas.
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Ângelo Alberto De Moura Delphim - Garanto, Paulo Roberto, que no lugar em que ela está agora, não está fazendo mamparra nenhuma


J Galvão Guimarães - Ouvi muito quando criança, menino manhoso, na fazenda, fazia muita mamparra.
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Paulo Roberto da Silva - oh... nem vamos falar...., pois nessas alturas teria que ser em alemão, inglês, francês ou italiano..., não é Ângelo Alberto ?
Quinta às 22:20 · Editado · Curtir

Paulo Roberto da Silva - Oh, mais um que conviveu em fazendas e ouviu, não é J Galvão ? A tese de Kilza e minha está se consolidando.
Quinta às 22:19 · Editado · Curtir · 1

Paulo Roberto da Silva - Ôh, Marco  Antônio , desta vez não podemos fazer mamparra, não, pois o Chico Do Vale estará nos esperando na casa dele, em setembro...
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Chico Do Vale - é verdade... podem ir marcando a data... o vinho já está preparado...
Quinta às 23:31 · Curtir

Paulo Roberto da Silva - e você sabe o que é mamparra, Chico Do Vale? Garanto que o Sr Luiz Teixeira da Silva sabe...
Quinta às 23:33 · Editado · Curtir

Chico Do Vale - Mamparra, é fazer corpo mole...
Quinta às 23:34 · Curtir (desfazer) · 1

Chico Do Vale - é isso mesmo, Paulo Roberto ?
Quinta às 23:37 · Curtir

Paulo Roberto da Silva - sim, é isso mesmo, veja lá no texto que postei e, segundo outras postagens, é palavra de origem moçambicana, dos escravos das fazendas de Minas, estado aonde é usada essa palavra e só no interior, como Lavras e Itumirim, nossas terrinhas, Chico Do Vale.
Quinta às 23:41 · Curtir · 1

Rita Penoni - Nunca ouvi ninguém dizer esta palavra. Mas , os antigos tinham uns dizeres sábios. Mais uma para aprender...
Ontem às 07:14 · Curtir (desfazer) · 1

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Já encontrei, é de origem africana, Moçambique. Mais tarde posto para você uma foto do verbete do Novo Aurélio Século XXI.
Ontem às 09:09 · Curtir (desfazer) · 1

Luiz Teixeira da Silva - Paulo Roberto, lembro-me muito bem dessa palavra mamparra! Minha mãe falava muito! Esse seu comentário me fez lembrar de uma outra palavra que minha mãe sempre dizia: ÁTIMO! Tipo assim: "Fulano foi lá num átimo...!" Nunca mais ouvi outra pessoa falar essa palavra! Quando a encontrei na Bíblia, resolvi pesquisar na net e fiquei conhecendo a origem dela. Muito legal essas recordações.
Ontem às 09:17 · Curtir (desfazer) · 2

Antonio Aécio Pereira - Minha mãe dizia; "deixa de ser mamparreiro menino". Saudades dela e daquele tempo.
Ontem às 11:54 · Curtir (desfazer) · 2

Cida Pacheco - muito legal, minha mãe e meu pai sempre usavam essa palavra.
Ontem às 12:44 · Curtir (desfazer) · 2

Renato Libeck - Tem uma palavra que é dos meus tempos de criança : Fulano de tal hoje amanheceu MACAMBÚZIO !! Amanheceu desanimado, corpo mole, tristonho, etc. Não sei se alguém já ouviu a tal palavra.
Ontem às 12:48 · Curtir (desfazer) · 2

Paulo Roberto da Silva - Olha só, então era mais comum do que eu imaginava, não é, Maria  Lúcia Cunha Carneiro, Antônio Aécio Pereira, Cida Pacheco e Luiz Teixeira da Silva? Renato Libeck, essa palavra, macambuzio, era marca registrada do prof. Valdir Azevedo, principalmente nas aulas de matemática...
Ontem às 13:26 · Curtir · 3

Cida Pacheco - rsrsr, tambem ouvia muito essa palavra do meu avó
Ontem às 13:28 · Curtir (desfazer) · 2

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Meu pai adorava usar essa palavra: macambúzio! Em Lavras tivemos uns vizinhos, duas senhoras solteiras e o irmão (que se casou muito depois de eu haver me casado...) Eram pessoas boníssimas. Uma delas sempre dizia: "Nunca houve nada igual nos anais da história!" e gostavam também e usar a palavra "ojeriza" que eu sempre achei muito feia. Nunca me esquecerei disso!
Ontem às 16:00 · Curtir (desfazer) · 1

Maria Lúcia Cunha Carneiro Aí vai a origem de "mamparra", segundo o Novo Aurélio Século XXI.
Ontem às 16:36 · Curtir (desfazer) · 2

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Veja aqui, que curioso! http://tnb.art.br/rede/mamparra. Sabe que há uma cidade, no Estado de São Paulo, chamada Mamparra!
Mamparra | Toque no Brasil

A palavra Mamparra vem para o português brasileiro de um dos quimbundos de Angol...a. Significa lá um grupo reunido, uma festa. No Brasil, virou um bando de vagabundos ou ainda preguiça, trapaça, trambique, furto e por aí vai. (Procura no Google pra ver). A banda Mamparra carrega tudo isso, dos dois lados do Atlântico.
Ontem às 16:49 · Curtir (desfazer) · 2 · Remover visualização

Erlei Guimarães - Macambuzio erra muito usada pelo prof. Louzada... minha mãe usava TRIBUZANA para chuva muito forte...
Ontem às 17:24 via celular · Curtir (desfazer) · 3

Paulo Roberto da Silva - Então está comprovado, até mesmo pelo Novo Aurélio, que se trata de palavra da língua Ronga, da região de Maputo, capital de Moçambique, não é Maria Lúcia e Kilza Arbex.?
há 22 horas · Curtir · 2

Paulo Roberto da Silva - ôh Erlei Guimarães, macambuzio parece que era mesmo mais usual do que pensávamos, mas essa aí do tribuzana... nunca ouvi, não...rsrs
há 22 horas · Curtir · 1

Kilza Arbex - exactly ... Renato Libeck, minha filha participou do Soletrando e foi eliminada na etapa final justamente por conta dessa palavra (macambúzio) ... esqueceu-se de dizer acento agudo ... ô raiva!
há 22 horas via celular · Curtir (desfazer) · 2

Antonio Aécio Pereira - Eu tinha um amigo, mas que isto, acho que mais que irmão; Sebastião Anacleto Silva, "Dinho" morreu no incêndio do Edifício Joelma. Ele dizia hoje estou maçulebático, não procure em dicionário, pois não tem. Nunca procurei....
há 21 horas · Curtir · 1

Antonio Aécio Pereira - Tribuzana ouvi muito
há 21 horas · Curtir · 1

Antonio Aécio Pereira - Meu pai falava "está fazendo uma tribuzana no chuvisqueiro"!
há 21 horas · Curtir (desfazer) · 1

Paulo Roberto da Silva - O Anacleto era irmão do Antônio Marciano, professor da Ufla. Foram meus vizinhos e amigos de bola de gude, finca e pipas, além dos cavalos e caçadas na fazendinha da rua Progresso onde morei. Ele, Anacleto, era asmático e morreu sufocado pela fumaça, além de pisoteado nas escadaria do Joelma. Havia apenas um chamuscado de fogo na barra da calça. Tinha menos de 30 anos quando foi levado por aquela tragédia que ceifou quase 200 vidas. Saudades...
 há 21 horas · Curtir · 1

Antonio Aécio - Pois é, o Antônio Marciano tinha apelido de Chuca. Tinha também o Dedé e o Mauro, paro por aqui, pois isto me emociona muito.
há 21 horas · Curtir (desfazer) · 1

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Tudo aqui começou com uma mamparra, num átimo passou por uma tribuzana (também trabuzana) e acabou nos deixando muito macambúzios com esse evento no Joelma.
há 16 horas · Curtir (desfazer) · 1

Paulo Roberto da Silva - Olha só, eu não conhecia essa veia poética de nossa colega Maria Lúcia. Vejam aí, Nelson Cunha e Jussara Rodarte. Que surpresa, mostre-nos mais, pois garanto que você tem outras produções literárias por aí.

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Tenho muitas! Paulo Roberto! Os amigos gostam bastante! De vez em quando publico em umas coletâneas de Movimentos Literários. Vou lhe apresentar alguns trabalhos.
há 4 horas · Curtir (desfazer) · 1

Luiz Teixeira da Silva - Paulo Roberto gostei dos comentários de todos vocês. Muito divertido. E bem criativa e poética sua amiga Maria Lucia.
há 2 horas · Curtir (desfazer) · 2

Maria Lúcia Cunha Carneiro - Obrigada, Luiz Teixeira da Silva.
há 2 horas · Curtir (desfazer) · 2

Paulo Roberto da Silva - Olha só, viu, Sr. Luiz Teixeira? Acabamos de descobrir os pendores de Maria Lúcia . Só falta nos indicar o endereço para acessar a sua produção literária. Aguardamos.
há 2 minutos · Curtir

Paulo Roberto da Silva E aí, Dona Dilma Abreu e Anízio Pereira da Silva, se lembraram das reprimendas da Dona Liquinha?

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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dia dos Pais ou do comércio?


Incomoda-me bastante a celebração de certas datas comemorativas. Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados e Dia dos Pais se encaixam perfeitamente no modelo. Hoje em dia todas elas são movidas quase que exclusivamente pelos interesses econômicos. O lucro comercial fala mais alto. É impressionante o poder que o comércio tem de sequestrar as datas comemorativas, tomando-as unicamente para a promoção de seus negócios lucrativos. Se pesquisarmos a origem de cada um desses eventos vamos verificar que os mesmos foram criados com os mais nobres objetivos. O Dia dos Pais foi criado nos EUA para homenagear a memória de certo pai que, viúvo prematuramente, criou seus filhos com dificuldade e sem ajuda de ninguém. Tinha, portanto, o objetivo fortalecer os laços familiares e o respeito por aqueles que nos deram a vida. Na Itália, Portugal e Espanha é comemorado no dia 19 de março, dia de São José, o pai da Sagrada Família. No Brasil foi comemorado pela primeira vez em 14 de agosto de 1953, dia se São Joaquim, considerado o patriarca da família. Porém, foi mudada a data para o segundo domingo de agosto por pura motivação comercial, conforme atesta a literatura. Foi um verdadeiro “sequestro” da data por parte do comercio com a conivência da mídia que sobrevive às suas custas.

Observe que cada grande promoção do comercio está milimetricamente planejada e distribuída em meses estratégicos do ano. E mais, sempre no segundo domingo do mês. Sabe por que esse dia da semana? Para pegar o seu pagamento que normalmente sai até o 5º dia útil do mês. Ora, vai que no primeiro domingo ainda não tenha saído o pagamento e no terceiro você já terá pago todas as contas e carnês de prestações e... não sobrou nada para a festa.... Como comprar presentes, gastar em restaurantes e supermercados, viagens...? Bem pensado, não? Mas, voltando ao calendário superlanejado, primeiramente vem a festa mor, o Natal. Em seguida abate-se uma tremenda ressaca financeira familiar decorrente dos gastos astronômicos. Então espera-se um pouco mais, digamos três meses, para que a família reconstitua os gastos exorbitantes naquela festa máxima onde os presentes, obrigatórios, diga-se, começam pelo porteiro, passam pelos garis, empregados, flanelinhas, caixas de bares, restaurantes e supermercados, colegas de trabalho, atendentes de consultórios médicos e dentistas chegando, finalmente, à família. Nesta, não bastassem as viagens internacionais, troca do carro zero, ou o último modelo de celular com tela de cinco polegadas e tablets para as crianças recém desfraldadas, ou melhor de três anos, é obrigatório promover uma comilança pantagruélica que se inicia no dia 23, antevéspera do natal e se estende até a madrugada do dia 31 de dezembro, a virada do ano. Haja disposição para tanta comilança com bacalhau nas alturas e os precinhos “camaradas” de perús, tender, pernil e frutas secas da Turquia sem contar com vinhos e espumantes nacionais com precinhos em dobro dos congêneres importados. São três meses de pausa, uma espera estratégica para a reconstituição das finanças familiar e também o tempo necessário para a digestão de tamanha comilança (há que se perder os 2 kg que sempre ganho nessa época de festança. Sempre brinco com o dono da farmácia onde há uma balança. Digo que ele a desajusta em 2 kg, para mais, depois das festas de fim de ano e só a conserta em março, coincidentemente com a chegada das festas do chocolate pascoalinos).

Depois dessa pausa, de início de ano, vem a festa da Páscoa e... tome chocolate em embalagens especiais que custam o olho da cara, comprado no comercio local ou mesmo em Gramado, aproveitando-se a oportunidade para uma viagem de férias.... e como sempre o comercio faturando alto. Ah..., mas a venda de chocolate é muito limitada, com apenas esse produto? Sim, mas no mês seguinte vem o Dia das Mães. Esta sim o comercio adora, pois é a segunda em faturamento perdendo apenas para o natal. Satisfeito? Espere, ainda vem logo em seguida, no mês de junho, a terceira em faturamento, o Dia dos Namorados. Esta, além do glamour, é cercada de toda uma encenação com apelos românticos e não há quem não se renda diante de tanto bombardeio comercial nas mídias. Até as vovozinhas chamam seus maridos num canto e discretamente dizem que ainda são “sua namorada” e perguntam com lânguido e amoroso olhar: “amor... o que vou ganhar de você que é meu eterno namorado, hein?”

Assim vai o calendário comercial rodando a cada mês com suas “promoções”, chegando agora, em agosto..., no segundo domingo e com salário no bolso, o Dia dos Pais. Pois bem, me dei ao trabalho de consultar os principais meios de comunicação e nada encontrei de altruísta para esse “tão propagandeado” dia. Só oferta de presentes como viagens internacionais, sapatos, tênis, whiskies blue label a barbeador de 960 reais. Além disso, um restaurante sofisticado oferece sorteio de três imperdíveis prêmios, um vale viagem de cinco mil reais, duas diárias em hotel resort em estância de aguas termais, e um Ipad2 de 16GB Wi-Fi. A promoção vale para consumo durante todo o mês de agosto, o “mês dos pais”...

Por que a imprensa não procura valorizar os pais nesse seu dia festivo? Falar dos valores da família, o papel do pai, a influência na formação e educação dos filhos? Por que não falar das reminiscências da infância dos filhos e deles próprios, do papel dos avós - os segundos pais, a superação de desafios no seio da família? Os filhos brilhantes? Quer maior elogio aos pais do que falar do sucesso dos filhos? E das mães que desempenham o duplo papel “pai e mãe”. Como é ser pai nessas condições? Por que na maioria das vezes as mães são compelidas ao trabalho fora de casa e frequentemente são as únicas provedoras ou, no mínimo, ajudam o marido no reforço do orçamento? Lógico que nesse caso o comercio e a imprensa subserviente se calam. Falar dos prejuízos eventuais que isso poderia causar aos filhos e à sociedade? Não, melhor é deixar que ambos ganhem mais, aumentem a renda e assim comprem mais e mais... É a tal sociedade consumista onde a pessoa vale pelo que tem e pode ostentar e não pelo que é, pelos valores pessoais que possui. Valorizar os pais não significa apenas elogiar ou presentear e se quiser sair da mesmice por que não abordar temas sobre a relação pai-filho na atualidade? Pais exigentes, permissivos ou pai para toda obra... Temas empolgantes não faltam. Faltam sim, vontade e ética por parte desses mercadores dos sentimentos.

 Mas, esqueçamos o efeito danoso do consumismo moderno que incentiva a mercantilização das datas comemorativas e vamos aproveitar para celebrar o paterfamiliae, no sentido paterno que lembra o amor de pai, carinhoso e afetuoso. Assim, receberemos o maior presente que um pai pode esperar: o carinho dos filhos, reunidos à mesa para um solene almoço e não apenas os pacotes de finas estampas com presentes sofisticados. Aliás, me perguntaram que presente eu gostaria de receber e a resposta não poderia ter sido outra: sua presença e toda a família no almoço de domingo, pois o presentinho que eu desejo, um helimodelo Logo SX, que pode voar até a 300km/h está muito caro, seis mil reais e desisti... . Lógico que ganhar um livro, uma gravata ninguém está imune e esses mimos se prestam também para a educação dos netinhos. Tomara que o Dia dos Pais, das Mães, dos Namorados e outros tantos sejam lembrados na dimensão que merecem e não apenas como uma promoção comercial de compra/venda e entrega de presentes. O maior presente que os pais podem receber está no coração de cada um de nós. Amanhã, 11 de Agosto, é dia de mostra-lo..., o amor a eles, os pais, ainda que ausentes, com uma prece de gratidão!

Um Feliz dia dos Pais para todos.

 Brasília, 10 de agosto de 2013

Paulo das Lavras
 
Clovis Pereira da Silva
Homenagem ao pai do Menino das Lavras.
     Foto de 1935, aos 29 anos, vésperas do casamento.
Faleceu com 101 anos de vida, em 12/2007