quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A Arte em Lavras - ɛrətoʊ - e τέρπ-εω - τέρπομαι – e o mais emocionante show no deserto do Arizona

 

As nove Musas, deusas da Arte e Ciências com o deus Apolo no Monte Olimpo – jovens e belas eternamente e com ele aprenderam a cantar. Tinham também o dom de banir todas as tristezas e dores, com suas vozes  agradáveis e 
melódicas e frequentemente cantavam em coro. Aliás, música significa “arte das musas”.        
Foto: Internet

Alguém disse certa vez sobre a cidade de Lavras, possivelmente Assis Chateaubriand, e a imprensa repercutiu: “Aqui se respira um ar de cultura”. Não sei precisar a data da citação, mas, certamente foi na primeira metade do século 20. Mas, falemos a partir da década de 1950 quando, então, o menino já usufruía da arte, da educação e cultura na cidade. Os colégios eram os melhores e mais afamados, para onde afluíam estudantes das regiões vizinhas e até de estados do nordeste e centro-oeste do país. Desde 1908 havia a Escola Superior de Agricultura, criada nos moldes dos Land Grant Colleges americanos. No âmbito das atividades culturais destacavam-se associações como a SOLCA- Sociedade Lavrense de Cultura e Arte, Academias de Balet, Escolas de Música, especialmente de piano, Orquestras e Corais, Clubes Literários de recitais e a Academia Lavrense de Letras, além de inúmeros clubes esportivos. Uma das joias da cultura em Lavras foi o Teatro Municipal, inaugurado em 1862 e reconstruído em 1917 em réplica do Scalla de Milão. Foi reinaugurado com a ópera " AÍDA" encenada pela Companhia Lírica " ROTOLLI - BILLORO", a primeira a se apresentar em Minas Gerais, naquele 17 de fevereiro de 1917, segundo informa o historiador Geovani Nemeth-Torres (http://historiadelavras.blogspot.com.br/) que batizou o teatro como “a joia da cidade” e ainda completou: “No Teatro Municipal se apresentaram grandes nomes como: Procópio Ferreira, Bibi Ferreira e Nelson Freire. Foi ali que Wanderléia se apresentou ao público, pela primeira vez, aos 5 anos de idade”. Nos anos de 1950 ali funcionou o Cine Municipal, frequentado pelo menino nas sessões de matinês dominicais. Não há, pois, dúvida alguma, ali na cidade de Lavras respirava-se um ar de cultura, conforme palavras de ilustre visitante. Até mesmo o jornal “O Estado De Minas” chegou a publicar que a ópera começou em Minas na cidade de Lavras, com seu belo Teatro Municipal em 1917, encenando a peça Aída, de Verdi, com uma companhia italiana.

 
 Fachada do Theatro Municipal de Lavras, de 1862 e reinaugurado em 1917. No alto, as efigies da Musas das Artes: da Poesia, Erató, da Música, Euterpe e da Dança, Terpsícore, as famosas ɛrətoʊ, e-τέρπ-εω, e τέρπομαι, que o menino não conseguia entender a grafia. 
Foto: Coleção de Renato Libeck


A Arte nasce do coração, da inspiração que dá o início ao seu processo criativo. Mas, ninguém até hoje soube explicar essa tal inspiração, o que é e de onde vem. Deve ser por isso que os gregos criaram, de forma mítica,  as suas musas, as deusas da Arte. E em Lavras elas, essas deusas, musas da arte, estavam esculpidas no alto da fachada do suntuoso prédio do Theatro Municipal. Ali estavam as três musas, com seus rostos esculpidos em concreto, bem alvos, sorridentes a nos saudar dali do alto do edifício de linda fachada sobre a principal rua da cidade, a Rua Santana:  a deusa da poesia lírica –Erató, cujo nome estava escrito em grego, ɛrətoʊ, a da música, Euterpe - e τέρπ-εω  e a última, a musa da dança, Terpsícore - τέρπομαι. Seus nomes estavam também reproduzidos no alto do pórtico do palco do teatro. Curioso, intrigado, o menino lia e relia aquelas letras grafadas no alfabeto grego e nunca entendia, nada, as letras e tampouco o significado de cada palavra em grego. Para ele, eram simplesmente aportuguesados OAVEIA, EITEPITI e ESQUION, até que um dia, lá pelos anos 70, o museólogo e cronista lavrense Bi-Moreira, que emprestou seu nome ao Museu de Lavras, publicou um artigo no suplemento “Acrópole”, do jornal Tribuna de Lavras. Ali, em seu artigo, lamentava a demolição do belíssimo teatro da cidade e citou as três esculturas do alto da fachada do prédio. Só então, o menino, já adulto pôde encontrar a explicação que o intrigou por tanto tempo e que ninguém soubera lhe explicar. Estava revelado o mistério. As esculturas eram das três deusas da mitologia grega e melhor, agora, com seus nomes em português, pôde deduzir a tradução daquelas esquisitas grafias, em grego e que ficaram gravadas para sempre em sua memória. Também pudera, por anos a fio, ia ao teatro semanalmente, pois ali funcionava o mais famoso cinema da cidade. Desde os oito anos de idade, tão logo aprendeu a leitura,  começou a frequentar aquele belíssimo prédio do Teatro Municipal, que acolhia também o Cine Municipal e em cujo salão de entrada funcionava o chiquíssimo Bar Municipal (nos lembrava a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro), bem ao lado da entrada do cinema. Programa imperdível, nas matinês de domingo com filmes de far-west e seriados como o Capitão Marvel, Zorro, Sombra e o indefectível filme de Sexta Feira Santa, a Paixão de Cristo, quando as crianças saíam chorando ao final da sessão, por conta das torturas e morte de Cristo. Lembranças indeléveis!

            A cidade de Lavras sempre se interessou pela cultura, desde a construção de seu teatro em 1862 e depois reformado e reinaugurado em 1917 pelo mecenas Francisco Pizzolanti. Nos anos 50/70 esteve magnificamente representada pelos discípulos de Erató, a musa dos versos líricos, poesias amorosas, interpretadas pela professora Carol Brasileiro, cujos recitais no Auditório Martha Roberts empolgavam o menino de 15 anos e tantos outros que apreciavam as letras e a arte da declamação. Havia, ainda, em Lavras, inúmeros discípulos de Eitepiti, a Euterpe, musa da música, o som melodioso que dá prazer à alma, destacando-se entre outros o maestro Irio Inácio de Jesus com sua Orquestra e Coro, a Orquestra Sinfônica do 8º B.I., os professores de piano Edgar Novais, Cecília Azevedo, Inah Penido, Maria Eunice Figueiredo, Martha Frasson, Azená de Oliveira, Jovita Campos, Cecilia Veiga e Leda Modesto.  Na área da dança, protegida pela musa– Terpsícore, ninguém melhor para representa-la que a professora Inah Penido com sua escola de ballet. Lavras foi, portanto, digna daquela frase “aqui se respira um ar de cultura, pois seus cidadãos amavam de fato a Educação, a Arte e a Cultura em todos seus ambientes, além de cuidar da formação atlética de seus meninos e meninas que tantos títulos nacionais e mundiais conquistaram. Ninguém saía de Lavras, crescido e pronto para a vida, sem ter sido contaminado por tudo aquilo que se passava na cidade, numa comunidade que de fato prezava os valores da Educação e Cultura.

E mais tarde, ah..., que alegria para o menino descobrir o enigma das efigies, seus nomes traduzidos do grego para o português e ainda receber uma aula de mitologia, ministrada pelo museólogo e cronista Bi-Moreira. Mas, alegria maior foi descobrir, mais recentemente e depois de mais de 60 anos, pelo site do Instituto Histórico e Geográfico de Lavras, em artigos de Geovani Nemeth-Torres e outro estudioso da História de Lavras, Bertolucci Junior, que duas dessas esculturas alegóricas às artes estão em poder do Museu Bi-Moreira. Também o blog http://historiadelavras.blogspot.com.br/, do  historiador Nemeth-Torres, tem abordado vários assuntos do patrimônio cultural lavrense, incluindo o famoso teatro.

 
 Acima, o belíssimo interior do Teatro, réplica do Scalla de Milão e logo abaixo o salão do Bar Municipal, cuja decoração lembrava a Confeitaria Colombo, do Rio d Janeiro. 
Foto: arquivos de Renato Libeck

Mas, e o show no deserto do Arizona, estampado no título da crônica? Pois bem, passar a infância e a juventude em ambiente rico com as mais diversas manifestações artísticas e culturais, trouxe inquestionável influência sobre o menino, moldando-lhe o gosto pela leitura, línguas, musica, cinema (frequentou cursos de extensão sobre cinema, no colégio). Naquele contexto, a frequência semanal ao Teatro Municipal, com seu cinema, era a principal atração da criançada. Nas matinês de domingo podiam ser assistidos filmes de guerra, muito comuns naquela década de 1950, ainda com as lembranças e traumas da Segunda Grande Guerra Mundial, terminada havia menos de dez anos. Era ali, no Cine Municipal, que nos divertíamos não somente com os filmes e os preferidos eram os de bang-bang, assim chamados os far-west americanos, até mesmo com seriados de Zorro, O Sombra, Roy Roger e tantos outros que inspiravam os meninos de 8 ou 10 anos a ganharem seus Colts ou Smith & Wesson municiados com espoletas, barulhentas a ponto de assustar o “inimigo”. Eram comuns também os rifles, réplicas daquelas Winchesters douradas, municiadas com balas de rolha. Ah..., e a influência se estendia ao idioma inglês e suas expressões usadas pelos cowboys: Coming on, boy..., up your hands (falávamos: camaniboy, apiu- rends ou simplesmente camon boy). Era o máximo para os meninos, portando seus enormes Colts pretos ou Wessons prateados de cabo de madrepérola, tais quais os de Roy Rogers ou outro mocinho e tomem tiros com espoletas barulhentas.

            Houve, portanto, um passado, desde o início dos anos de 1950, totalmente influenciado pelo cinema norte-americano, que dominava o Brasil no pós guerra, pois os americanos se tornaram os donos do mundo depois da grande guerra mundial. Eliminou-se, no ginásio e no colegial, por exemplo, o ensino de francês até então predominante e assim a cultura afrancesada foi desaparecendo em nosso país. Com todo esse background cheguei aos Estados Unidos em 1977 para trabalhar em projeto educacional do governo brasileiro. Não foi difícil para os gringos da terra do Tio Sam descobrirem a influencia da cultura e das artes do cinema americano e seus filmes de far-west, na formação do menino. Além disso, havia na cidade natal, de Lavras, o Instituto Presbiteriano Gammon, colégio de missionários norte-americanos que também muito influenciou na formação cultural do menino que ali, além das apresentações artísticas no Lane-Morton e no auditório Martha Roberts com lindos shows de Carol Brasileiro, Inah Penido, Azenah de Oliveira e tantos outros artistas, aprendera facilmente o idioma inglês e o exercitava fluentemente com o missionário do Peace Corps, Bob, nos anos de 1961 e 62.

  Assim, em minha primeira visita de serviço ao Arizona (State University of Arizona), prepararam duas surpresas para o visitante brasileiro amante de churrascos e apreciador de filmes far-west.  A primeira foi um jantar especial..., numa churrascaria, coisa rara lá pelos estados do norte, como Michigan, onde eu tinha escritório fixo, mas bastante comum nos estados sulinos mais próximos do México (até mesmo feijoada era possível se fazer em casa, naqueles estados do sul, pois todos os ingredientes podiam ser adquiridos na fronteira com o México). Ah..., mas havia uma condição para se ir à tal churrascaria.... Deveria estar trajado com terno e gravata. Desconfiei,  pois jantar em churrascaria trajando terno e gravata, às 20 horas, fora do horário de expediente e sem nenhum compromisso formal? Eram, sim, comuns compromissos formais para jantares, em que apresentávamos palestras aos gringos sobre a educação agrícola superior em nosso país. Mas ali,  na região desértica, um simples jantar de cortesia, incluindo todos os brasileiros que estudavam naquela universidade, em Tucson, capital do estado...? Ah, havia algo de diferente, que não se coadunava... Decidi contrariar todas as recomendações, que mais pareciam apelos e então não coloquei a gravata, porém me apresentei com paletó. De cara o Dean da Faculdade de Agronomia “estranhou”, logo à saída do hotel em direção ao restaurante, perguntando... “no necktie, Mr, Da Silva?”.  Respondi, não, quero relaxar, tivemos um dia pesado e afinal é um jantar de confraternização entre brasileiros e americanos. Ao chegar, encontrei um verdadeiro corredor polonês à espera bem no enorme hall do restaurante. Semblantes decepcionados, pois quebrei a tradição. Era um restaurante-churrascaria onde era proibido, sim proibido, entrar de gravata. Qualquer um que ali chegasse usando gravata era imediatamente parado à segunda porta, no hall da chapelaria e tinha sua gravata cortada à tesoura, sem exceção. Era uma festa, todos caíam na gargalhada e tao mais intensa e estridente seria quanto maior fosse o grau da autoridade que ali estivesse. E o ato litúrgico seguia, retirando-se do pescoço da vítima o que restou da gravata, dependurando, em seguida, aquele “escalpo nos varais a um metro acima da cabeça, e que ocupavam todo o hall de entrada. Aliviado, rimos bastante e me desculpei por não ter contribuído para a decoração do ambiente com o restos de uma gravata brasileira... O gerente, muito atencioso fez me prometer lá voltar com uma gravata brasileira, ao tempo em que mostrava algumas etiquetas com nomes personalidade que ali deixaram os cotós de suas gravatas... Nunca mais voltei lá, nem mesmo na capital do estado do Arizona, a aprazível  cidade de Tucson, embora eu ande diariamente num veículo com esse nome, o que me traz boas recordações como essa da churrascaria, onde ao final do jantar, ainda fui presenteado com uma gravata, nova. Uma gravata nova, sim, era o presente da casa, mesmo não tendo deixado a minha por lá, como era o costume. Aliás, um ótimo marketing.  Mas, ainda havia outra surpresa para o dia seguinte.

             A outra surpresa foi a visita, dia seguinte, à cidade cenário de OldTucson, a uns 20 km do centro da capital e a caminho do aeroporto. Ali, a indústria cinematográfica construiu, em meio ao inóspito deserto cheio de cactos, um dos maiores e mais lindos cenários para filmagens de produções de far-west. Incrível a perfeição dos detalhes, a começar pela estação da ferrovia, com um pachorrento índio Navajo sentado no banco da estação, à espera de alguém para fotografar. Os índios daquela tribo ocupavam a maior parte do território do Arizona, desde o estado do Novo México até os Grand Canyons. Não faltaram, naquela bela cidade-cenário, o trem maria-fumaça, o curral de embarque de gado, as ruas poeirentas, o banco, a igrejinha em estilo mexicano (espanhol), os bares, saloons e a indefectível cadeia para os bandidos. Havia também, carroções de carga puxados por cavalos e uma belíssima diligência que era facultada a passeios e dirigida por cowboys à caráter.  O ponto alto da vista era o espetáculo, encenado ao vivo, com hora marcada, o show de cenas de far-west com assalto à agência bancária, os bandidos chegando, atirando, invadindo a agencia, e tentando fugir com o dinheiro e o ouro ali depositados. Tentando fugir...? Sim, tentando, pois o Xerife chega à galope, acompanhado do delegado federal, o temido Marshal, com dois ou três homens e inicia-se o tiroteio, Rifles e enormes revolveres Colt e Smith & Wesson cupiam fogo sem parar.  Realismo fantástico, sobretudo quando um bandido, em cima do telhado no segundo andar, leva um tiro e cai sobre o telhado da varanda, rola telha abaixo até cair de uma altura de uns três metros, estatelando-se no chão poeirento e ainda leva outro tiro de misericórdia. Nunca tinha visto cena, ao vivo, com tanta realidade, só mesmo nos filmes de OK Corral, Yuma ou O Velho Oeste, com atores famosos do naipe de John Wayne.


 
 ...saindo dos far-west do Cine Teatro Municipal de Lavras para 
o cenário no deserto do Arizona ... (ah... o terno e gravata, alí, eram incidentais, pois estava a caminho do aeroporto, de volta para o escritório em Michigan.
Foto: do autor, 1977

 A realidade do espetáculo foi tanta que, logo a seguir, fui conversar com o jovem ator-bandido, se não havia se machucado no tombo de quase três metros de altura. Foi então que um “mocinho” do show que acabara de ser encenado, aproximou-se, sacou um enorme Smith & Wesson de seu coldre e gritou: up your hands, brazilian boy, and giv´me all you´ve. Só restou-me gargalhar, levantar as mãos e posar para a foto apressada de minha assistente americana que nos acompanhava, enquanto o “bandido” metia a mão no bolso interno de meu paletó e  tomou-me, sorridente, o passaporte. Certamente fora ela quem encomendou o susto ao visitante. Soube depois que esse espetáculo e o episódio do restaurante com/sem gravata, foi uma homengaem do diretor da escola de agronomia da Universidade do Arizona, juntamente com os brasleiros, bolsistas, que ali estudavam. Pena que na pressa, a foto ficou prejudicada com cortes de parte do cenário, mas ainda assim guardo aquela foto como lembrança da reminiscências dos tempos do Cine Teatro Municipal com seus encantadores filmes de far-west a fazerem a cabeça e a cultura dos lavrenses.

  Pois bem, o menino só havia representado em palco uma única vez, no Salão Paroquial, sob comando do Frei Albino Arezzi, que hipnotizando-me, fez-me cantar o sucesso de então: Oh, Carol, de Neil Sedaka...Emocionante? Sim, dia seguinte fui a estrela no colégio, mas, a mais emocionante representação foi mesmo aquela de vítima do bandido de bang-bang do far west americano, ali na cidade-cenário de Old Tucson. Nada demais, se tomado apenas como um show corriqueiro, destinado a turistas que apreciam a sétima arte. Além de ter recebido o presente como homenagem, a emoção que ali aflorou, foi mesmo aquela da alma do menino de oito a dez anos, dos idos de 1953/55, no cinema-teatro de sua cidade natal. Não pude, naquele dia, já à bordo do voo que me levaria de volta à Michigan, conter emoção de contentamento, pois nunca imaginara que um dia presenciaria um show daqueles, ao vivo, no local dos set de produção dos filmes vistos na infância. Daí a razão do título, um misto de arte, cultura e gratidão à terra onde nasci e fui educado. Conforme disse antes, ninguém saía de Lavras, crescido e pronto para a vida, sem ter sido contaminado por tudo aquilo que ali passou e nos impregnou com a arte e a cultura. A visita ao set de filmagens de Old Tucson Studios, tinha mesmo que ser classificada como o mais emocionante show artístico no deserto do Arizona. Tempos depois, criei uma história fantasiosa para o filho de sete anos. Mostrei-lhe a enorme cicatriz nas costas, sequela de cirurgia torácica aos dois anos de idade, e disse-lhe que aquilo foi o resultado do assalto de bandidos dos filmes de far-west, já com a foto do assalto em mãos. Acreditou piamente e ainda contou no colégio. Dia seguinte queria a tal foto para mostrar aos incrédulos coleguinhas... rsrs.

  O poeta tem razão e os filósofos mais ainda, pois o caminho da felicidade e da alegria do viver deve ser buscado trabalhando a “separação” e a “saudade” a seu favor. Sempre procurei e abusei das boas companhias, aprendidas e assimiladas na infância e juventude, ou sejam, as leituras selecionadas, shows artísticos e a leveza das músicas clássicas que enlevam a alma em perfeita comunhão e harmonia (às vezes o menino se assentava no banco do praça-jardim, em frente ao sobrado do Capitão Evaristo, apenas para ouvir os acordes do piano Pleyel da professora Cecília Azevedo, ensinando suas alunas). E a comunhão e a harmonia da alma não acontecem em reuniões, festas regadas a bebidas e muito riso, mas, paradoxalmente, na ausência do outro, como dizia Nietzsche, que tinha a solidão como sua companheira. Assim devemos tratar a “separação”, a saudade, como bem expressou o poeta:

"Eu carrego comigo uma caixa mágica onde eu guardo meus tesouros mais bonitos. Tudo aquilo que eu aprendi com a vida, tudo aquilo que eu ganhei com o tempo e que vento nenhum leva. Guardo as memórias que me trazem riso, as pessoas que tocaram a minha alma e que, de alguma forma, me mudaram para melhor. Guardo também a infância toda tingida de giz. Tinha jeito de arco-íris a minha. O pouco é muito para mim. O simples é tudo que cabe nos meus dias. Eu vivo de muitas saudades. E quem se arrebenta de tanto existir, vive para esbanjar sorrisos e flashes de eternidade – ( Caio Fernando de Abreu)

A saudade, a solidão, são apenas companheiras de viagem. Obrigado Lavras, a Terra dos Ipês e das Escolas, onde se respira um ar de Educação e Cultura. Respirei muito ali e por isso resisto e existo com alma nutrida, agradecida a tudo e a todos. O Saber e a Cultura nos alimentam eternamente!

Brasília, 31 de dezembro de 2020

Paulo das Lavras



 
 Belíssimo Auditório Martha Roberts, no Colégio Carlota Kemper, em estilo virginiano, construído pelos missionários norte-americanos que vieram da Virgínia-EUA. Ali, além de se assistir recitais de música, poesia e dança, o menino pôde praticar o aprendizado de inglês  com
 os Voluntários do Peace Corps, o que muito lhe valeu nas atividades profissionais na terra do Tio Sam. 
Foto: arquivos de Renato Libeck


 
 Um Ford 48 e o bonde, inaugurado em 1911, ambos barulhentos, às vezes perturbavam a “audição” de piano ao ar livre, ali no banco do jardim. Profª Cecília Azevedo e suas alunas de piano, não se cansavam de executar, o dia inteiro, Litz, Mozart, Chopin e outros clássicos, para deleite do menino ali sentado na praça, a ouvi-las, a partir da última janela à esquerda do 2º andar do suntuoso sobrado do capitão Evaristo Alves de Azevedo. Interessante notar que nesse sobrado morou (1960/61) o escritor, poeta, professor e filósofo, Rubem Alves,  neto do Capitão Evaristo Alves. 
Foto: anos 50 - coleção de Renato Libeck



 
Esse era o piano de dona Cecília Azevedo, um Pleyel, importado da França e sempre afinado por outo pianista, Paulo dos Pianos. Ouvir seus acordes era uma das preferências do menino. 
Foto: internet


 ... das reminiscências da infância, para os estúdios cinematográficos de Hollywood, em Tucson, pleno deserto do estado do Arizona. 
Foto: Old Tucson Studios


 ... em pleno deserto de verdade, de areia, pedras, montanhas rochosas e muitos cactos. 
Foto: Old Tucson Studios




 
 Cenas de filmes western, gravadas na memória, com assaltos a bancos numa das capitais do ouro, no oeste americano do século XIX... 
Foto: arquivos do autor, postcard 1977


 
 ... e também com diligências e trem maria-fumaça, disponíveis para passeios turísticos em meio ao deserto. Show completo, com direito a emboscada de bandidos mascarados, montados em velozes cavalos, disparando seus Colt, Smith & Wesson e carabinas Winchester em direção ao maquinista ou ao cocheiro. 
Foto: Old Tucson Studios




 
 ... e começa o show em Old Tucson, encenado no horário marcado e com registro fotográfico amador feito pelo menino. Cena 1- os dois bandidos assaltantes rondam o famoso e maior banco do oeste americano. Sondam o ambiente, mas... 
Foto: do autor- novembro/1977


 O delegado federal (U.S Marshal), chamado pelo Xerife chegou rápido e gritou logo: up your hands, boys. O de chapéu preto, mais próximo do grosso calibre do revolver Colt, medroso nem se mexeu. O de calça branca fugiu para trás do consultório médico, à esquerda. 
Foto: do autor- novembro/1977


 O xerife chegou, algemou o primeiro e o Marshal correu atrás do outro, que subiu pelos fundos e tentou pular do alto da fachada do consultório médico. Ali mesmo levou o primeiro tiro do delegado federal. Foi tiro e queda, despencando sobre o telhado da varanda... e ainda consegui a proeza de registrar o primeiro tombo. 
Foto: do autor - 1977 


 ... e o bandido, mesmo baleado, contorcendo-se de dor, levantou e quando ia mirar sua arma contra o Marshal, levou o segundo tiro, dessa vez de carabina ..., no way, boy..., sem chance, rolou telhado abaixo, estatelando-se no chão. 
Foto: do autor, 1977


 ... caindo definitivamente ao solo. Me lembrei das aulas de cinema no colégio, ação rápida e não se podia perder a cena, pois não haveria repetição. O bandido, baleado mais uma vez cambaleou lentamente (parecia buscar a melhor posição para a queda ao chão duro).  E ainda consegui capturar aquele tombo espetacular com a minha Kodak, com filme de 24 poses... (maquinas digitais..., não existiam ainda e celular, inimaginável naquele ano). 
Foto: do autor- novembro/1977

 


o Marshal correu, vitorioso, pegou o revolver, do bandido, que escorregara primeiro que ele, e desferiu o tiro de misericórdia. Acabou a tentativa de assalto.
Foto: do autor- 1977


 ... e era uma vez um bandido que tentou fazer um refém no Boticário do Médico, ao lado do banco que almejava roubar. Serviço para os agentes funerários não faltavam no velho oeste. 
Foto: do autor - 1977


 ...e o Xerife mandou recolher o corpo numa carroça como essa. O outro bandido foi levado para a cadeia, nos fundos dessa rua, próximo à montanha rochosa. 
Foto: Old Tucson Studios




 ... passado o tiroteio e poeira assentada, dei um giro pela cidade, passando pelo Armazem Geral. 
Foto: do autor - 1977


 Com a área do assalto já livre, fui conferir o Banco e os atores, mas, fui surpreendido por uma encenação inusitada... Um deles levantou-se e dirigindo-se a mim, gritou: “Hi, boy come on...” 
Foto: do autor - 1977


... sacou a arma e me assaltou, nas barbas do Xerife que se encontrava atrás de mim... Levaram-me a carteira e o passaporte que estavam no bolso interno do paletó. 
Foto: do autor - 1977


 ... sem documento e os travellers checks (ainda não existiam cartões de credito internacional...) e mesmo se quisesse pedir socorro ao consulado brasileiro em Houston, por meio de telegrama da Western Union, teria sido em vão, pois o tranquilo telegrafista, um índio 
da tribo Navajo, estava dormindo ... 
Foto: do autor - 1977

 



 ... restou, então, ir ao Quartel General dos Rangers 
Foto: do autor - 1977

 


 ... também não daria para voltar na diligência do Velho Oeste. Cavalos da raça Percheron, de enormes patas, são muito lentos, disse-me o cocheiro e ademais o passageio não aguentaria o sol escaldante do deserto até a próxima cidade, Yuma. 
Foto: do autor - 1977


 ... talvez o trem rendesse mais, pois a maria-fumaça chegava a desenvolver 50 km/h. Mas, como ia demorar muito, não passeamos nem de diligência e tampouco no trem maria-fumaça da Western Pacific, pois nosso voo de volta para Michigan partiria em duas horas... 
Foto: do autor - 1977

 



 ... e o filhão de sete anos tomou gosto por carabinas, mas ainda acreditava que a grande cicatriz que tenho nas costas foi mesmo decorrente de um balaço recebido naquele “assalto” à mão armada, em frente ao Banco da WellsFargo, em Tucson, no deserto do Arizona, cinco anos antes. Os “bandidos” do far-west também usavam carabinas, conhecidas por winchester. Qual o menino que não gosta de um filme de mocinhos e bandidos?

Foto: do autor -1982

 

Parece mesmo que as artes em Lavras, incluindo cursos de cinema, influenciaram gerações e gerações. Roteiros e criatividade não faltaram ao menino dos anos 50


fachada do Teatro Municipal, colorizada por Rogério Salgado.
Destaque no alto as três efígies das musas da Poesia, Musica e Dança


 













 



 


 



 




 





 





 











 



 



sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Meus começos e meu fim – uma vida secreta

 

Natal, época de congraçamento e oportunidade para presentear os entes queridos. E tome livros..., presentes não faltaram e a estante está abastecida por um bom tempo. Mas, o que tem a ver isso com o título desta crônica? Com esse título acima, o jornalista e escritor Nirlando Beirão, falecido em abril deste ano de 2020, aos 71 anos, vitimado por doença degenerativa, a Esclerose Lateral Amiotrófica- ELA, escreveu parte de sua própria história. Mês seguinte a imprensa divulgou seus livros. Em tempos de pandemia e quarentena de reclusão em casa, a leitura é o melhor remédio. Logo adquiri esse livro recomendado, e tão bom, o reli nessa semana. Nele, o autor conta a saga de seu avô, um jovem ex-padre português, Antônio Beirão, que veio para o interior de Minas Gerais, cuidar das almas na pacata cidade de Oliveira, bem próximo à minha cidade natal. Nem tanto cuidou das almas, pois logo se apaixonou por uma bela donzela, cuja casa frequentava para almoços dominicais. A jovem, Esméria Miranda, futura avó do autor do livro, “se encantou pelo padre de batina preta e trocou o amor divino pela paixão terrena”, desafiando a própria fé, conforme descrito no livro de seu neto, curioso que pesquisou toda a sua vida. Belíssima história de amor que venceu preconceitos, mas custou elevado preço social a toda a família. O casal fugiu para o Rio Grande Sul, deixando para trás sua história, um segredo que pairaria como uma sombra sobre as futuras gerações informa-nos o prefaciador da obra. Assim, o autor já nos últimos anos de sua vida com finitude já determinada pela cruel doença degenerativa, nos conta com detalhes aquela bela história com incursões sobre o próprio passado, suas dúvidas e o pesado silêncio imposto pela família em relação aos avós. Contou também de sua relação com a doença e suas percepções sobre a vida, ainda que num momento muito doloroso do estágio degenerativo do insidioso mal que minou sua saúde e o colheu prematuramente. De fato, uma bela história para ser lida e relida, o que, aliás, fiz agora, apenas seis meses depois da primeira leitura do livro “Meus começos e meu fim”.

Se por um lado a história dos avós é bonita e emocionante, por ter sido vivida no início do século passado, refletindo muita coragem resiliência e imenso amor, não menos interessantes são as conclusões do autor em meio a tantos conflitos sobre o segredo de família. Termina o livro com um capítulo intitulado “Uma última mentira” e o abre com as palavras de Clarice Lispector:

“Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.”

Nirlando Beirão explica que as palavras acima contêm um silêncio. Ele próprio buscou frases que fizessem sentido à narrativa de fatos que aconteceram com seus avós, mas foram apenas sussurrados em murmúrios de mistérios, porém foram reais e ainda há testemunhas. Prossegue o autor..., “contei mentiras ao longo da vida...”, e mais adiante explica que essas mentiras encobrem, entre o trapaceiro e o trapaceado, uma coisa chamada Amor! E continua: “Mentiras, eu disse, mas, assim como vovó e vovô se preveniram, escondendo a verdade de seus atos, também me alberguei no abismo dos silêncios e no labirinto do subentendido”. Às vezes pensamos que enganamos os amigos, ainda que em nome do amor, na ânsia de preservar-lhes um dissabor ou decepção, mas, não, eles nos conhecem. Os amigos do Beirão lhe disseram: “ah..., você não vai revelar nada de sua vida (no livro), você vai é se esconder atrás da história de seus avós”. Humildemente ele reconhece que seus silêncios foram premeditados, lacunas de covardia, omissões às vezes ignominiosas, mas, por outro lado e com magnanimidade na alma, atribui às mentiras de seus avós, que chamou de silêncio ardiloso, o aval das circunstâncias. E num gesto de plena e amorosa reconciliação consigo mesmo, explica que eles, os seus avós, acuados pela verdade criada pelos outros, criaram, portanto, a sua própria verdade – íntima, segredada, com certeza doída, difícil de compartilhar, impossível de explicar, pois infringia os costumes, “as verdades da época”, pois foi construída ao calor de cada dia no improviso do amor.

             E como a responder aos amigos que lhe criticaram, dizendo-lhe que esconderia as verdades de sua vida atrás da bela história de seus avós, ele respondeu que iniciou o livro com a euforia de deslindar o mistério de sua família, mas terminou-o com a frustração cabisbaixa de quem encontrou, na angústia de um grito seco, seu limite humano e existencial. “Sou o que está aqui (escrito e vivido), nada além disso. Romper com a asfixia do silêncio foi o que tentei. Era o máximo que conseguiria fazer”. Mas, Beirão fez muito mais. Foi um guerreiro que lutou contra a E.L.A por quatro anos e nos últimos dois anos escreveu e legou-nos o livro com essa maravilhosa história de amor. Acho, sinceramente, que os amigos que o interpelaram a respeito das verdades sobre sua vida, devem estar encantados com a reposta que ele nos deixou.  

            Lendo uma história assim, com profundas imersões nos conceitos filosóficos da vida e crueza no tratamento literário de sua insidiosa doença, o autor nos leva a acreditar que quando estamos acuados pelas “verdades dos outros”, resta-nos agir com a mesma arma. Criar a nossa própria verdade que, nas pessoas de bem, está sempre estribada no amor. Desde muito aprendi que o homem é produto do meio – frase do filósofo Jean-Jacques Rousseau, um dos maiores expoentes do iluminismo, que se baseou no princípio de que a natureza humana é boa.  Sim, nascemos puros, mas nos tornamos escravos do nosso tempo, de seus costumes e circunstâncias, cheios de hipocrisias, onde nem sempre as versões daqueles costumes de época refletem a verdade, mas apenas uma convenção local. 

Certamente deve ser por isso que há tantos segredos de família, como esse do casamento de um padre, verdadeiro tabu, sobretudo entre os imigrados de Portugal, último reduto europeu da associação entre a Igreja e o Estado. Assuntos constrangedores, os ditos “Segredos de Estado”, por exemplo, têm sua divulgação proibida por cinquenta anos, tempo suficiente para que se sucedam gerações e os protagonistas já tenham nos deixado para sempre. No âmbito familiar a demora pode ser um pouco maior. Eu mesmo só vim a descobrir pequenos segredos de família aos 70 anos, quando iniciei pesquisas genealógicas, chequei datas e entrevistei anciãos de mais de noventa anos de idade. E com que prazer nos contaram histórias cabeludas, como a desatar um nó atravessado na garganta, um segredo guardado consigo mesmo até as quase finitude de seus dias. Mas não só os nonagenários gostam de nos contar os causos e causos, pois os amigos de infância e juventude, também já calejados pelo status quo que insiste em viver na hipocrisia, sabedores de nosso projeto de escrever sobre as figuras e fatos de nossa terra, enchem nos ouvidos com as mais estranhas e inesperadas histórias de até então insuspeitos cidadãos e cidadãs. Parentes ou simples conhecidos com inúmeras histórias de amor, disputas por heranças e até mesmo, nesse campo, com pequenas trapaças de quem mais tarde passou a impressão de cidadão mais probo do mundo. Pura hipocrisia. É compreensível, pois faz parte da natureza humana.

O autor Nirlando Beirão acertou ao dizer que o melhor caminho, quando se está acuado pelas “verdades dos outros”, é agir com a mesma arma, criando a sua própria verdade que, nas pessoas de bem, está sempre estribada no amor. Assim são os segredos de família. E devem ser respeitados. Dar tempo ao tempo ainda é o melhor remédio nesses casos. Mas, há um limite e no caso da história dos avós, descoberta e pesquisada com afinco pelo autor do livro e já passados cem anos ele se viu premido pelas circunstâncias de seu precário estado de saúde. Assim que recebeu o terrível diagnostico da insidiosa doença, tratou logo de escrever a “sua” história, sua versão para publicá-la, desvendando de vez o tão guardado segredo familiar – filhos e netos de padre. Ainda pôde ver seu livro sair do prelo e receber a crítica elogiosa do publico e colegas das letras. Atitude corajosa, pois a maioria prefere deixar recomendação expressa aos parentes para só publicarem suas memórias post mortem. E quando alguém mais afoito se atreve a publicar uma biografia não autorizada, principalmente quando o protagonista ainda em pleno gozo da vida, o processo judicial é certeiro, seja por parte do protagonista principal ou mesmo de alguém citado no enredo, nem sempre muito santo, ou melhor, quase sempre. Pois bem, este Menino das Lavras tem registros de sobra, desde criança, nas mãos do Dr Jacintho Scorza, que o operou e salvou de uma gravíssima pleurite, aos dois anos de idade. Até os anos atuais de 2020, lá se vão mais de setenta anos contados em crônicas (umas 200 já publicadas em blog e outras 300 aguardando a vez..., e quem sabe, talvez esperar mais uns 20 anos após o post mortem, especialmente os casos de espionagens estrangeiras na área de recursos da fauna e flora amazônica, quando expulsamos de nosso país um espião travestido de executivo universitário).

À parte os casos pitorescos, quanto mais recentes, mais interessante se torna a história, pois, à moda de Rubem Alves e do próprio Beirão, muitas delas incluem em cada etapa da vida, reflexões que derivam de ligeiros ensaios sobre literatura, filosofia e história, sempre com o foco na Vida. É interessante notar que muitos autores e em especial o filósofo Rubem Alves, nos levam a concluir que a alma dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria! Não à toa, quando distantes de sua terra, dos doces anos da infância, todo velho almeja voltar para lá, ainda que em forma de cinzas a serem semeadas sobre o solo natal. Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, cantou em prosa e versos o poeta Gonçalves Dias, em sua belíssima Canção do Exílio. É a vida, e escrever sobre o delicioso passado é o elixir que nutre nossa alma.

Assim você poderá ir longe na vida, muito além do horizonte, batalhar, conquistar seu espaço, mesmo que em algum desses lugares o céu não brilhe tanto para você e pareça escuro. Mas, diz a sabedoria que às vezes a ausência de luz é necessária para que a valorizemos. É na escuridão, no vazio do pensamento, que residem as melhores reflexões que nos conduzem à valorização do amor, das amizades às pessoas. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isto, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. O certo é que nunca estamos sós.  Embora distantes, sabemos que podemos voltar para a casa. E sempre podemos voltar de onde quer que estejamos, para junto dos entes queridos que, embora ausentes fisicamente, estão permanentemente em nossos corações. Não há solidão quando se tem família e amigos. A boa companhia de um livro também faz bem à alma. E agora, Natal, é época de celebrações e em meio à atual pandemia, nada melhor que o seio da família, com os filhos, netos e agregados. Tim-tim... à vida. Saúde..., e bons livros para enlevar a alma.

Um abraço para os amigos e...

Feliz Natal!

 

Brasília, 25 de dezembro de 2020

Paulo das Lavras


 
Boa leitura..., recomendo aos amigos que gostem e apreciam uma boa história de vida. 


 
Em época de quarentena obrigatória, por conta do Covid-19, nada melhor que a leitura de bons livros. Devorei 21, sendo que dois foram relidos, incluindo este descrito na crônica. Apenas um desses deixou a desejar em matéria de conteúdo.


 Aonde tiver lançamento de livros..., vale a pena ir, conversar e atualizar-se na literatura. Aqui, nesta foto, por ocasião do lançamento do livro “JK – Momentos decisivos”, em Brasília, com a presença de outro lavrense, Paulo Octavio, patrocinador da obra.


 
Uma escritora, de Perdões, aos 96 anos (2017), Prof.ª Alba de Rezende Bastos, contando sua história de educadora e da sua cidade. Em breve (março de 2021) ela estará completando 100 anos de vida. 
Foto: arquivo da família Rezende Bastos


 Assim como há escritoras aos 100 anos, há também escritores-mirins, de apenas 10 anos de idade, escrevendo, em inglês, sobre a pobreza nas ruas.


 ... incentivados que foram a revelar suas habilidades desde os seis anos de idade. O homem é produto do meio... e o menino seguirá no caminho que lhe for ensinado..., diz o Provérbio bíblico

 ... da mesma forma, a netinha de sete anos, adora a leitura e agora, aos 13 a leitura em inglês


 
... e o avô foi, voando..., a 1.000km de casa, assistir ao lançamento de um livro no Hotel Vitória, em Lavras, sua terra natal.


 
 ...outro lançamento, de coleção de livros infantis, da escritora Miriam Leitão, no Ministério da Educação e Cultura. Ali trabalhei por 35 anos em meio a livros e mais livros e seus autores. Um grande privilégio participar de lançamentos e discutir, presencialmente com os autores, em todas as áreas do conhecimento, da literatura, medicina, engenharias e demais áreas do saber. 


 
 O escritor Augusto Curi fez palestra e autografou seus livros, em Brasília.  Livros riquíssimos em conteúdos humanísticos. Sim, com certeza os livros são nossos companheiros inseparáveis, especialmente em tempos de reclusão com distanciamento social obrigatório.


 Em meio a tantos livros,  minha terra, a Terra dos Ipês e das Escolas, também tem vários sobre a sua própria história. 


 
Com a grande escritora gaúcha, Martha Medeiros e seu livro “Feliz por nada”. Bienal do Livro, em Brasília.

Vamos embora, lá, pegar um livro...? Aproveite o isolamento em casa, o melhor lugar para se ler. Não tem ainda o livro desejado? As compras on line estão bastante ágeis, com entregas em até três dias.