segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Netos, temporada na chácara e o regime da presidente



Enfim de volta à cidade depois de uma temporada de 25 dias na chácara. Férias de caseiro sempre é um transtorno. Substitutos não há e se aparecem são oportunistas, nada sabem e não fazem nada a não ser cuidar de seu próprio interesse e maltratar os animais e as plantas. Geralmente são migrantes que vieram para o Distrito Federal e não deram certo e ficam atrás de um emprego de 30 dias. O suficiente bastante para juntar o dinheiro da passagem para retorno à terra natal. Quando levam só as suas coisas, que se resumem num saco levado às costas, ainda vá lá...., mas o pior é quando contratam um caminhão e levam tudo na calada da noite, desde geladeira, móveis, roupas de cama, mesa e pessoais, além dos demais eletrodomésticos. Uma limpa geral, muito comum aqui em Brasília, praticada por migrantes, turistas travestidos de caseiros de chácara. Melhor mesmo é planejar uma temporada na própria chácara e cuidar dos afazeres rotineiros como tratar dos animais, colher ovos, frutas e verduras, podar o gramado, rastelar as mangas caídas (175 de cada vez, no carrinho) cuidar da irrigação dos jardins, da horta e dos piquetes do cavalo. Sim, embora seja verão, tempo próprio das chuvas, enfrentamos um veranico que já conta, hoje, 23 dias sem uma única gota de chuva. E tome água para as hortaliças e as viçosas e belas flores que compõem o paisagismo.

Além dessa rotina surgem os imprevistos como trocar uma lâmpada num poste de mais de quatro metros de altura, substituir disjuntor avariado no quadro geral de eletricidade, consertar cerca do galinheiro, adubar plantas, banhar e casquear o cavalo, desembaraçar sua crina e a ponta da cauda (especialidade de meu irmão, Anízio, que me ajudou por 15 dias), cortar, à machado, galhos de árvore derrubados pelo vento, encabar enxada, trocar o óleo do microtrator, aspirar a piscina, varrer os arredores das casas... e um sem fim de pequenas tarefas. Ufa.., haja fôlego e disposição, pois nunca se entra para a casa antes das oito da noite, justamente quando começa a escurecer e se tem a certeza de que nenhuma galinha ficou de fora do galinheiro e pode-se trancá-lo. É a última tarefa e muito importante, pois tem a finalidade de evitar os visitantes noturnos, o gambá e o saruê – uma espécie de gambá, menor e todo branco, que adoram degolar as aves. Interessante é que esses predadores não as comem e nem as levam embora para a suas tocas. Mais parecem um vampiro que só chupa o sangue da jugular. 

Mas, essa trabalheira toda tem lá suas vantagens. Adeus computador, poltrona, filmes na tv até tarde..., hábitos urbanos que não têm vez na lida de uma chácara, ainda que apenas de lazer, mas com muitos afazeres. Além disso, contamos com as visitas dos amigos e desta vez para uma temporada de duas semanas do mano e esposa que vieram nos ajudar na lida. Nos fins de semana vêm os netos, que movimentam a todos, contagiando-nos com alegria e brincadeiras sem fim. Afora a piscina que exerce igual fascínio, são incríveis as diferenças entre as preferências do menino e da menina. Esta, mais acomodada, arrisca-se a pegar no colo um pintinho recém-nascido, uma pescaria de anzol ou quando muito uma voltinha no cavalo. Já o garoto é espevitado. Além de fazer do tio-visitante um escravo de suas brincadeiras malandras, quer ver e fazer de tudo na natureza. Calça as botas e anda por todos os lados, dirige trator, pilota helimodelo, joga futebol, colhe frutas, especialmente peras, goiabas, cajus, ameixas amarelas e mangas aos montes, além de acompanhar os trabalhos na horta. Ali fica admirado com o sistema de irrigação com água corrente e o desenvolvimento das hortaliças. A colheita é sua atividade predileta..., couve, alface, cebolinha pimentão, jiló, beterraba, brócolis, maracujá, chuchu e quiabo são as verduras disponíveis neste janeiro. Ah..., havia também abóboras de várias formas e cores. Muitas..., um montão, como relatou em casa. Queria colhê-las, todas de uma só vez, sem pensar na logística de como levar aquele peso enorme e quem iria consumi-las.... Como é interessante observar o comportamento dos pequenos. Os tratados de psicologia infantil nos garantem que para eles não há o ontem e nem o amanhã, mas apenas o presente, o momento atual e quase sempre só alegria e travessuras. E o momento era de “colheita”, nada importando quem iria recolher, armazenar ou consumir aquela montanha de abóboras... O convenci a deixar essa para outro dia, com o trator e carreta, quando sairíamos, com ele dirigindo e distribuindo as abóboras para a vizinhança. Adorou a ideia, mas tomara que não se lembre dela tão cedo.

Logo depois, dois dias apenas e já na cidade, sentou-se à mesa para o almoço no lugar do vovô que ainda se encontrava na chácara. Ao ver o quiabo em seu prato, apontou para um pedacinho maior e disse: “olhe, vovó, esse é aquele quiabinho tortinho que eu colhi”. E comeu todos os verdinhos com mais prazer ainda. Em outra ocasião disse à cozinheira, Dice, sua eterna amiga: “Seria muito bom se cada família tivesse uma porta para entrar na horta do vovô e colher as verduras. Assim não precisariam ir ao supermercado”. Doce inocência infantil que só pensa no bem. Não presenciei a cena mas posso imaginar que, certamente lembrou-se que tivemos que destrancar e abrir o portão da horta para levar algumas cenouras para o cavalo que pastava ao lado. Assim, na sua imaginação, para evitar o transtorno de trancar e destrancar o portãozinho, que passa pelo piquete da baia do cavalo, seria melhor fazer várias portas com acesso direto à rua lateral.... Criança é joia preciosa que Deus nos colocou nas mãos. Resta-nos lapidá-la, dar forma e faze-la brilhar.

Bem, mas e o regime da presidente que faz parte do título acima? Embora os jornais se acumulassem sem que fossem lidos, ainda assim vi uma notícia que a presidente fez um regime para aparecer esbelta na posse. Perdeu 4 kg em 10 dias com o tal regime argentino, Ravenna. Restrição calórica e exercício físico é a receita. Outras amigas de trabalho também aderiram, como Katia Abreu e a lavrense Eleonora Menicucci. Mas, por mais sucesso que elas façam com o tal regime importado, tenho o meu próprio: exercício físico o dia todo, bastante frutas e água aos toneis (o mano fez a proeza de “encontrar” na chácara um pé de pera que produziu maçãs, mangas, peras e tomates...rsrs... Foi o café da manhã mais divertido, ao pé da inusitada multifruteira...) Assim sobra pouco espaço para arroz, pães, bolos, biscoitos (e como rolam essas guloseimas na chácara). Ah... quando digo exercício o dia todo é literalmente isso mesmo. Muito trabalho, caminhadas forçadas e vale até mesmo a piscina e a sauna. Nada de tv, computador de 3 a 7 horas por dia nem pensar. À noite, lanche rápido, banho demorado com hidromassagem e bumba na cama, às nove horas, sem jornal de tv e assim  acordar e levantar antes das sete. Os galos, galinhas, cavalo e outros bichos, especialmente a passarinhada, não esperam para avisar que o dia começou e querem liberdade.... Outro mundo, acreditem. Valeu o spa forçado de três semanas. Perdi três quilos e adeus pança. Nem mesmo o netinho me chama mais de vovô pançudo...

Brasília, 19 de janeiro de 2015

Paulo das Lavras

P.S- dedico essa crônica à aniversariante Neusa Diniz, ao amigo e médico Ivan Sebastião de Castro, que aniversaria nesse dia 20, na mesma data que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e aos aniversariantes da semana.


                                                     De volta à cidade, caminhada logo pela manhã para  não perder
                                                     o embalo de três semanas de exercício  contínuo na chácara.
 




Os visitantes, Anízio e Neusa, Pedro Henrique e Sarah



O fascínio das crianças pela piscina




Cuidando do pintinho carijó



                                                              Corajoso..., adestrando Tobi, o filhote de Fila




                                                                                 Montando o Ciclone, sem medo
 




Aparando grama....



                                                    Vamos pescar?




                                                                                    Colhendo cenouras
                     




Vamos alimentar o cavalo, lá do outro lado da cerca?



                                                                       Vovô..., que tal um suflê de chuchu?
 




Acordar e ser convidado pelo irmão para colher pera, maçã, manga caju
 e tomate no mesmo pé de frutas.... só mesmo por obra do contador de
 causos, Anízio, importado de Lavras. Nem a UFLA faz milagre assim...
De qualquer modo, frutas compõem a dieta da chácara e adeus pança...





Anizio e Neusa se despedindo. Retorno à Lavras com escala de três dias
em Uberlândia. Afinal para que pressa?