quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Dia Nacional do Livro - Adultite e chá de infância

“Para se curar da adultite é preciso tomar chá de infância, virar criança de novo”.

Com a frase acima, de autoria do poeta, escritor, filósofo e professor, Rubem Alves, homenageamos o Dia Nacional do Livro. Nada melhor do que invocar a presença das crianças para propagandear a importância do livro e da leitura. O dia 29 de outubro é o Dia Nacional do Livro. E por que esse dia? Foi nesse dia, do ano de 1810, que se criou a Imprensa Régia em nosso país. Veio no rastro da chegada da Corte Portuguesa que fugia da invasão de Portugal pelo Imperador Napoleão Bonaparte. D. João VI trouxe para o Brasil milhares de peças da Real Biblioteca Portuguesa, formando o princípio da Biblioteca Nacional do Brasil. O primeiro livro publicado foi Marília de Dirceu, do poeta Tomás Antônio Gonzaga que, por ironia tinha sido condenado pela mesma Corte por participar ativamente da Inconfidência Mineira de 1789.

Aqui em Brasília, estamos comemorando esse dia especial com a realização da III Bienal Brasil do Livro e da Leitura, iniciada dia 21 do corrente mês de novembro. Dez dias de festa com lançamentos de livros, palestras e sessões de autógrafos, além de milhares de exemplares à venda com preços bastante acessíveis. E para celebrar o livro e a leitura vamos falar um pouco sobre um dos melhores escritores, Rubem Alves, falecido em julho de 2014. Considero como uma de suas melhores produções, o livro “O amor que acende a lua”, que já se encontra em sua 15ª edição (2011).

Nesse livro ele dá um passeio pelos ensinamentos dos filósofos Nietzsche, Bachelard e outros, além de citar os poetas Cecília Meireles, Drummond e Fernando Pessoa. Uma das descrições que mais gostei foi sobre a diferenciação entre paixão e saudade. Ele ensina que paixão só existe na ausência do objeto amado. É um desejo de posse que se satisfeito deixa de existir, tal qual a fome que desaparece depois da refeição. Mais precisamente, a paixão vive da ausência do objeto amado (a vontade de ter). O apaixonado cria o objeto da paixão, a vontade de possui-lo, mesmo estando presente.

Não é a ausência física, é o olhar do apaixonado que torna o objeto amado encantado. A dor da ausência física tem nome: Saudade. E esta é curada quando o objeto amado volta. Paixão não tem cura, disse Rubem Alves. Interessante, ainda, é a explicação dele para provar que poetas são eternos apaixonados pela vida. “Para eles a vida aparece sempre banhada por uma luz crepuscular”.

E sabe de uma coisa? Ele está certo ao definir o poeta como um “apaixonado pela vida”. Você já viu algum poeta deixar de cantar e exaltar a vida? Costumo dizer que o bom poeta, escritor, contista, ou seja, lá que gênero literário tenha, ele não representa, não inventa. Ele VIVE a história, o poema, o conto ou a crônica. Qualquer assunto é transformado, por palavras, em uma trama ou enredo agradável... Por quê? Porque ele está falando de sua paixão, a VIDA e quer compartilhar essa maravilha com seus leitores.

Surpresa nessa III Bienal do Livro e da Leitura. Assisti, presencialmente, a palestra de outro grande ícone da literatura infantil, Ziraldo. A sessão de autógrafos foi transformada em extensão da palestra, intitulada “Como ler para crianças”. Uma menina de dez anos perguntou-lhe como encontrava tanta inspiração para criar e escrever tantos livros (mais de 50). E a resposta foi a mesma de Rubem Alves, mas, com outras palavras. Explicou à criança que o poeta, escritor e contista é um apaixonado pela VIDA e está ligado, antenado em tudo ao seu redor. A simples queda de uma folha de árvore pode lhe render uma crônica, um conto, onde ele, o escritor, enfeita a situação com palavras, agrega outras lembranças e torna o enredo agradável ao leitor. É uma paixão, escrever é vida para o autor, completou Ziraldo.

Por conta dessa resposta de Ziraldo à criança-leitora, impressionada com a sua elevada produtividade literária, veio-me à mente as sábias palavras de Rubem Alves:
“Os poetas desejam voltar às suas origens. É lá que mora a verdade que os adultos esqueceram. Fogem da loucura da vida adulta. Buscam reencontrar a simplicidade da infância. Para se curar da adultite é preciso tomar chá de infância, virar criança de novo...”.
           
        Não à toa meus simples escritos, em forma de crônicas e contos, se referem em sua quase totalidade à simplicidade da infância, como se desejasse a ela retornar. Em sendo impossível, tomamos chá de infância, pois, como bem disse nosso poeta, “As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria! ”
           
           Celebrar esse dia de hoje, em meio à uma Exposição Bienal Dia do Livro e da Leitura, é sem dúvida um privilégio, sobretudo quando levamos as crianças e com ela compartilhamos a alegria da leitura e do convívio com escritores.

Brasília, 29 de outubro de 2016

Paulo das Lavras




 
III – BBLL -Brasília- 21 a 30 de outubro de 2016
Melhor lugar não há para se comemorar o Dia do Livro,
 em companhia dos leitores mirins, futuros escritores

 
Rubem Alves, alguns de seus livros entre outros autores





 
Ziraldo, autografando e respondendo como é capaz de criar e escrever tantos livros....


 
O melhor da vida é mesmo a leitura. Crianças são fascinadas pelas
historinhas, mesmo aqui, entre um voo rasante e outro da Esquadrilha
 da Fumaça, num dia do Aviador e da Força Aérea, à beira do lago de Brasília.