segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Um certo “tarará-tarará, tan, tan-tan-tan” e o Sete de Setembro

 

Pela primeira vez em 75 anos deste menino o Sete de Setembro será diferente. Não haverá desfile cívico-militar pelas ruas das cidades. Desde criança, de três ou quatro anos de idade, sempre ouvia os distantes acordes do corneteiro anunciando a chegada do comandante militar e os ensaios de bandas e das fanfarras colegiais para os desfiles do Sete de Setembro. Esses ensaios eram frequentes a partir de uns quinze dias antes da data nacional. Nos tempos de colégio, a partir dos 12 anos, os desfiles do Dia da Pátria eram bastante esperados, a começar pelos ensaios dos desfiles. Eram realizados vários dias antes e representavam até mesmo a gostosa sensação de matar as aulas do último horário, chatas, todos os dias daquele período que antecedia a semana da Pátria. Mas essa não era a maior sensação. O gostoso mesmo era entrar no ritmo da bateria do tarol, surdos, bumbo, prato, lira, cornetas, tubas, bombardins e todos os demais instrumentos que compõem a banda marcial ou simplesmente fanfara, como dizíamos à época.

Ah..., os tarois, esses sim eram o ponto alto das fanfarras dos colégios em Lavras. Havia disputa entre os melhores instrumentistas dos dois principais colégios da cidade, o Aparecida (católico, de padres alemães) e o Gammon (presbiteriano, de missionários norte-americanos). Nunca se soube quem ganhava, pois cada qual a seu modo se declarava vencedor como a “melhor fanfarra” da cidade e o melhores tarolistas, aqueles dos estridentes e chamativos para a ação: tarará... tarará... tarará, seguindo-se o tan, tan-tan-tan... dos tambores que se posicionavam ao seu lado, em perfeita harmonia e cadências.  Para os meninos, os seus acordes de percussão, estridentes e vibrantes, eram um convite ao desfile com garbo no Dia da Pátria, especialmente diante do palanque das autoridades. Além do brilho das fanfarras, disputavam-se também os shows de lindas balizas que seus reluzentes e multicoloridos uniformes de cetim e lantejoulas, em perfeitas performances acrobáticas para delírio do público em geral e principalmente dos meninos que acompanhavam todo o desfile.

Com o passar do tempo e já com filhos grandinhos, passamos a frequentar os desfiles militares da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, sempre com eles a tiracolo e com direito a ver as tropas e equipamentos bélicos das três Forças e de quebra o Presidente da República em seu Rolls Royce doado pela rainha da Inglaterra. Para as crianças, no entanto, era mais empolgante empoleirar nos gigantes tanques de guerra ou adentrar as cabines de aviões e helicópteros ali expostos justamente para atraí-los.

 Hoje, 7 de Setembro de 2020, faltando apenas dois anos para o bicentenário de nossa Independência, não teremos desfiles, mas o simbolismo e o significado dessa celebração, não serão esquecidos, pois afinal são 198 anos de Nação Livre e independente. Deu saudade do tarará-tarará, tan... tan-tan-tan em marcha pelos paralelepípedos da tricentenária cidade natal

Salve o 7 de Setembro!

 

Brasília, 07 de Setembro de 2020

Paulo das Lavras

 

 
Quatro tarolistas e um ao tambor. Fanfara do Colégio Aparecida,  em desfile de 7 de Setembro dos anos de 1960 
Foto: arquivos de Renato Libeck


  
Minha turma em desfile, acompanhando o tarará, tan, tan, tan da fanfara, em 1957 
Foto: arquivos de Renato Libeck


A mesma turma em 1963, último ano do colégio. Na primeira fileira, à esquerda, Adelino Moreira de Carvalho e logo atrás o Menino das Lavras. Dirigindo seu próprio carro, o Promotor de Justiça, Dr Ernane Franco da Rosa
Foto: coleção do autor, cedida ao acervo de Renato Libeck 


 
Em pé à direita, Júlio Cesar Romeiro, quartanista  de agronomia da Esal, em desfile de 7 de Setembro de 1966.  Ele nos deixou para sempre, na semana passada. Um pedaço de nós que se vai. R.I.P. 
Foto: arquivos de Renato Libeck


 
A banda do Batalhão de Polícia Militar de Lavras que tanto  atraía a atenção do menino desde tenra idade. 
Foto do autor - 7 de Setembro de 2012


 
Em 2017 o menino assistiu ao desfile de 7 de Setembro do palanque oficial,   como convidado especial do Prefeito José Cherem e seu vice, Duti (tomando água) 
Foto: arquivos de Renato Libeck 


  
Em Brasília, todos os desfiles do Dia da Pátria têm shows da FAB. Começam a ensaiar cedo, logo à 08:00h e nos despertam com seus barulhos em esquadrilha. Hoje o céu está mudo... 
Foto: internet


 
Mirage III da Base Aérea de Anápolis, num 7 de setembro - anos 1980. Quando não eram os Mirages, eram os F5-E da Base Aérea de  Santa Cruz-RJ. Seus jatos sibilantes com ensurdecedores rasantes sobre a Esplanada dos Ministérios eram uma das partes mais aguardadas das celebrações do 7 de Setembro. Certa vez, a onda de som deixada por dois deles, quebrou todas as vidraças do STJ, bem ali em frene ao Palácio do Planalto.

Foto: Secomsaer



Um ipê amarelo saudando o 7 se Setembro de 2014. Não me contive, estacionei o carro e fui procurar o melhor ângulo para uma foto. Se o 7 de Setembro não tivesse acontecido, como hoje, devido à quarentena do coronavirus, teria valido apenas pelo belíssimoa cenário. Neste ano a florada se antecipou em uma semana.

Foto do autor – edifício da PGR- Brasília DF



 
No cenário da 2ª Grande Guerra Mundial – semana da Pátria – QGEx – 2014 
Foto do autor 


Os quatro filhos, às vésperas de um 7 e Setembro, em 1986. 
Foto do autor


 
No Dia da Pátria no QGEx, em 2002..., com uma das filhas que havia ingressado como Oficial do Exército Brasileiro. 
Foto do autor


 
Em 2014 somente o netinho, Pedro Henrique, acompanhou o vovô. Mas, logo fez amiguinhos no palanque da festa cívica. 
Foto do autor


e aplaudiu o rufar dos tarois e tambores da Guarda Presidencial. .. tarará, tarará.. tan, tan tan, tan                            Foto do autor