segunda-feira, 25 de maio de 2020

Professor Alfredo Scheid Lopes, Alfredão carinhosamente no coração


Sejamos gratos ao Solo, ele nos alimenta
 na vida e nos acolhe na morte.

A frase acima, de autor desconhecido, cabe muito bem a aquele que dá título a esta crônica, pois sempre amou, estudou, conservou e melhorou o solo, tornando-o mais produtivo e beneficiando a toda a humanidade. Hoje, esse mesmo solo acolheu, para sempre, aquele que mais o amou e fez progredir a Ciência do Solo em nosso país. Luto! Como a dor de um filho que perde o pai. O seu amor para com seus alunos era tão grande que todos eles têm uma foto, abraçados a ele. Nelas, todos esbanjam largos sorrisos, de contentamento, de orgulho por estarem ao lado de quem tem orgulho, gratidão.  Todos nós, seus alunos, colegas, amigos fazíamos questão de levar para casa uma foto assim. Pude ver isso em quase todas as postagens de pesar, hoje, em seu perfil em rede social. E não vou falar aqui, neste dia de seu passamento, sobre a sua brilhante trajetória, de jovem atleta, aluno, professor universitário, pesquisador, orientador de numerosas teses de mestrado e doutorado e por que não dizer, além de orientador foi constante incentivador de mais de dez mil alunos (9.200 na graduação e cerca de 1.200 na pós-graduação, segundo cálculos com base nas matrículas, somente na ESAL e UFLA, em seus 59 anos de magistério superior).

Sem me alongar na sua brilhante carreira profissional quero apenas dizer que, graduou-se em 1961 e logo em seguida ingressou nos quadros docentes da velha ESAL/UFLA. Acompanhou-o no ingresso do quadro de docentes, o colega João Márcio de Carvalho Rios e pouco depois também Sylvio Nogueira de Souza e Hélio Correa. Alfredão dinamizou o ensino de Fertilidade e Conservação de Solos.  Assinou convenio com o antigo IBC, montando moderníssimo laboratório de análises de solo. Seus alunos, inclusive eu próprio, pudemos então ver e sentir a diferença do tratamento e cuidados ao solo, até mesmo por meio de seus experimentos em lavouras de café, tanto no campus da Escola como em fazendas assistidas. Revolucionou as técnicas de manejo do solo, sem contar suas pesquisas avançadas nos solos de cerrado, que proporcionaram a conquista do cerrado brasileiro, colocando o país nos primeiros lugares do ranking mundial de produção de alimentos. Seu exemplo, competência e dedicação eram notados e seguidos por seus pupilos. A mim, emprestou teodolitos e aparelhos de medição de nível dos terrenos para o entusiasmado estudante de agronomia marcar, na fazenda de meu pai, os famosos terraceamentos em curvas de nível. Ainda estão lá, desde o ano de 1965, quando cursamos a cadeira (disciplina) de Solos, com o super exigente Professor Alfredo, carinhosamente chamado de Alfredão.

Naqueles idos de 1965, o prof. Alfredo era temido pelos alunos que não gostavam de estudar muito. Para os mais dedicados e, sobretudo conscientes da importância do aprendizado de Geologia e Solos para a profissão de agrônomo, ele era o mais respeitado de todos. Gozador, irônico em tudo que soasse estranho à seriedade das coisas, ele não perdoava ninguém, sempre fazia piadas. A mim, chamava solenemente de Paulo Bagaço, apelido de batismo de calouro recebido um ano antes, ali mesmo na ESAL. Mas, quando percebia que a gozação estava ultrapassando os limites do razoável, junto aos meus colegas de classe, emendava: É..., o Bagaço é magrelo, esquelético, mas é bom de estudos, melhor que muito malandro por aí... A emenda soava pior que o soneto, pois além de elogiar-me, ainda chamava a muitos de malandros o que aumentava o ruído das gargalhas.  Ele nunca foi um sisudo, no sentido de fechado. Receptivo, também aceitava as brincadeiras de alunos, pois sempre foi um desportista acostumado às disputas de igual para igual. Eu mesmo olhava para o alto de sua cabeça, a mais de 1,90 metros de altura e perguntava como estava a temperatura ali em cima. Ele sempre tinha uma resposta bem humorada. Outra gozação que todos faziam era o “baile” que ele, como o famoso e altão beque do Fabril Esporte Clube, tomou de ninguém menos que Pelé, no seu primeiro jogo pelo Santos em Minas Gerais. O time do Santos Futebol Clube veio completo e venceu de 7x2. Pelé marcou quatro, passando pelo Alfredão. Bastava a gente perguntar, bem sério: Prof Alfredo..., e ele logo se antenava pensando tratar-se de uma pergunta sobre a aula recém terminada, mas não era. Pura gozação, nossa, constrangendo-o: “O senhor viu o Pelé por aí...?” Caramba... ele se arrepiava e dizia... “mas você, seu bobão, não viu os dois gols que marquei no Santos, do Pelé...? 

           O professor Alfredão era diferente. Levava muito a sério seu trabalho, dedicado e exigente para com seus alunos, mas, em contrapartida era amigo, de igual para igual onde quer que estivéssemos. Tratava a todos indistintamente com carinho e consideração. Passados mais de 50 anos de minha formatura e mais de 45 fora de Lavras, sempre que visitava a cidade o encontrava, ora em seu gabinete de honra, de professor emérito, na UFLA ou mais frequentemente nos bancos da praça da cidade. De longe eu gritava para ele: “Talco, gesso, calcita, fluorita, phosforita, quartzo, topázio, coríndon e diamante”, declinando assim a escala de dureza dos minerais, isto é, a resistência que uma determinada rocha oferece ao risco. E junto aos seus velhos amigos aposentados que ali batem ponto diariamente de 10 às 11 horas, o Alfredão rebatia-me: “Lá vem o Bagaço, velho, que até hoje ainda se lembra de minhas aulas do ano de 1965...”. Com um largo sorriso, deixava sua bengala e dava-me um forte abraço. E para continuar a gozação eu ainda acrescentava, para que seus amigos ouvissem...: “amigos, não pensem que ele foi bom professor, como ele quer dar a entender que ensinou muito bem a seus alunos”. Não! Não foi nada disso, eu é que sou excepcional....”, e todos caíamos na gargalhada. Lógico que a seguir eu remendava, explicando a seus amigos ali presentes, que excepcional era mesmo o Alfredão que criava frases mnemônicas para seus alunos memorizarem os conhecimentos de geologia e solos. E eu me lembrava perfeitamente da frase que ele criou para decorarmos aquela tal escala de dureza dos minerais, pois a inicial de cada palavra era a inicial do mineral, em ordem crescente: “Tia Gertrudes, caso fores passear, queira trazer coisas doces”.

Assim era o Alfredão, um professor excepcional, um amigo sincero, ético acima de tudo. Por ter sido um dos melhores alunos das disciplinas de Geologia e de Solos, ambas ministradas por ele nos dois primeiros anos do curso, indicou-me para um estágio na Cia Paulista de Adubos- COPAS. Durante um mês em São Paulo pude aperfeiçoar meus conhecimentos agronômicos, com visitas às indústrias de fertilizantes, cinturão verde da cidade, regiões cafeeiras da Mogiana e de Ribeirão Preto e imensas plantações de citrus, cana, algodão, milho e outras que abasteciam o Ceasa-SP. Aliás, ainda me lembro da sopa de cebola ali tomada às quatro da matina, enquanto assistíamos ao ritual de chegada dos caminhões dos agricultores com sua produção fresquinha, recém colhida e entregue na balança. E o interesse e entusiasmo transmitido pelo Professor Alfredo a seus alunos não parava por aí. Terminado o curso, não quis seguir a carreira de extensionista, o maior mercado para os agrônomos nos anos 60 e 70. Preferi optar pela atividade de planejamento e execução de projetos agroflorestais. Recusei a vaga na recém criada empresa Ultrafértil, aprovado em concurso. Lá já se encontravam outros esalianos, como Lázaro Guimarães Filho, também recém-concursado. Poucos dias após a formatura, um empresário de Belo Horizonte ligou para o Prof Alfredo e pediu-lhe a indicação de um ex-aluno que tivesse interesse nessa área. De pronto, Alfredão indicou meu nome e lá fui para BH, trabalhar em projetos agroflorestais e paisagismo. A ele me socorri alguns meses depois quando deparei-me com o problema do gramado do Mineirão, cuja manutenção estava à cargo da empresa. Levei amostras de solo para análises químicas e um bloco de terra, intacta, sem quebrar a sua estrutura para testes de percolação. Alfredão fez todas as análises químicas, físicas e teste de percolação, diagnosticando salinização, vitrificação do solo. Ali estava a razão de inundações do gramado sob qualquer pequena chuva, interrompendo as partidas de futebol, naquele ano em que o Cruzeirão foi pentacampeão com Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Zé Carlos e o goleirão Raul camisa amarela. Convidei o mestre para juntos assistirmos a um clássico Cruzeiro x Atlético, até mesmo para fazer valer meu passe livre para os jogos e que raramente utilizava, mas ele nunca pôde comparecer naquele ano de 1968.

Esse foi o Alfredão que conheci e convivi dos oito aos trinta anos. Vizinhos, seu pai, o Sr Lopes, então chefe da Estação Costa Pinto, era o nosso protetor, das crianças que ali jogavam bola no campinho anexo à estação. Certa vez derrubei, com uma bolada, a bandeja cheia de pasteis do vendedor que aguardava o trem noturno, procedente de Cruzeiro-SP, com destino a BH, passando por ali por volta das 17:00hs, quando venderia toda a sua produção. Confusão para cima deste menino de oito anos, dono da bola. O dono dos pasteis, bem maior, já com seus 14 anos, tomou-me a bola e queria receber o dinheiro equivalente à bandeja de pasteis. Sr Lopes, mais que depressa levou os dois contendedores para dentro de seu escritório e mandou chamar os pais. Ao lado, em sua casa estava o jovem Alfredão, altão, com seus 15 ou 16 anos de idade, treinando bola ao cesto, ali no seu quintal. Em outros dias ficávamos a ver quantas cestas ele era capaz de acertar, sem errar uma sequer. Às vezes, também o encontrávamos caminhando ao lado da linha do trem, lendo um livro, uma apostila, estudando e se exercitando. Exatos dez anos depois o encontrei na ESAL, ele como professor e renomado atleta internacional e eu como calouro de agronomia. E nosso reencontro foi justamente na aguda crise de federalização da ESAL e ele fazia parte daquele heroico corpo docente que manteve a Escola funcionando, por dois anos inteiros, sem receber um centavo de salários. Verdadeiros heróis.  Se antes a admiração era apenas pelo atletismo, a partir de então conhecemos o lado profissional do professor e entusiasta dos estudos e pesquisas sobre a qualidade dos solos agrícolas. Tornei-me seu colega de magistério na Esal/Ufla e depois de 1975, quando me transferi para Brasília, nossos contatos diminuíram. Às vezes nos encontrávamos em Lavras ou aqui no Ministério da Educação quando ele vinha tratar de questões relacionadas ao ensino e pesquisa. Nosso último encontro foi em novembro do ano passado, ali no banco do jardim da cidade e pela ultima vez gritei-lhe de longe a escala de dureza dos minerais. Era a nossa senha para abrir o abraço e as gargalhadas. Saudades!

Como disse antes, o Professor Alfredo Scheid Lopes, tratava-nos, a todos, indistintamente, com carinho e consideração. Em novembro de 2018 dediquei-lhe uma crônica, em justa homenagem pelo seu trabalho, de pessoa íntegra, de profundo caráter e que sempre cumpriu sua missão sem esperar recompensas. Para ele não importava agradar aos demais e sim, a correção o acerto de suas próprias atitudes. Suas ações sempre refletiam aquilo que de mais essencial há nas pessoas, a verdade, a ética e o respeito ao próximo (http://contosdaslavras.blogspot.com/2018/11/ser-reconhecido-ou-reconhecer-se.html). Seu coração era assim, tanto que uma sua ex-aluna e também pesquisadora, Camilla Kovalsky, elogiou-o com uma frase de Albert Einstein:
 "O estado de espírito que permite que um homem faça um trabalho desse tipo é semelhante ao do adorador religioso ou do apaixonado; o esforço diário vem não de uma intenção ou um programa deliberado, mas direto do coração". 
(Albert Einstein - From a Speech “Principles of Research”, 1918)


Seu maior interesse era a ciência e o progresso de seus alunos e colegas de trabalho. Reconfortou-me a alma ler as mensagens carinhosas de tantos que se manifestaram pelo seu passamento. Casos e casos, fotos e fotos, presentes de seus trabalhos de artesanato (que infelizmente não conheci), revelando o quão ele foi importante para cada um de seus milhares de ex-alunos e amigos.  E importante é aquilo que importamos para dentro de nós. Por isso o temos no coração, para sempre, pois agora ele foi contar casos e ensinar suas especialidades em outros campus que não o de Lavras ou da Carolina do Norte, onde cursou o doutorado e sempre ali retornava.

Que Deus o tenha e nos conforte a todos nós, especialmente sua família. Como dito na abertura desta crônica, ele foi como um pai para todos nós, seus alunos. Ensinava, brincava, caçoava, encaminhava na vida profissional e sempre cultivava a amizade o carinho, gritando a gente pelo apelido aonde nos encontrasse, até mesmo ao lado de meu chefe, o Ministro da Educação, no dia da sessão solene da transformação da ESAL em Universidade e posse do primeiro Reitor, em Lavras. E antes que o constrangimento tomasse conta do ambiente, por conta do engraçado apelido, foi logo explicando ao ministro: “ele era muito magro, esquelético, igual a um bagaço de cana que sai da moenda..., mas aguentou, foi um bom estudante e hoje está ajudando o Senhor Ministro, lá em Brasília”. E haja gargalhadas....   Alfredão era assim, brincalhão, contador de casos engraçados, até dava gargalhadas dos casos que ele mesmo contava sobre si próprio, como aquele dos estonteantes dribles que ele, o grandão de quase dois metros de altura, levou do Pelé. Era, sim, despojado de qualquer vaidade pessoal e extremamente dedicado à família e seus mais de dez mil afilhados estudantes conquistados em sua longa e profícua carreira docente. Deve estar contando seus casos e encantando as pessoas em outros campos. Seu corpo descansou hoje no solo, o mesmo solo que ele amou, estudou, conservou e o melhorou para a produção de mais alimentos para todo o mundo. Deus o tenha. Amém!

Brasília, 24 de maio de 2020

Paulo das Lavras



Uma das últimas vezes que estive com Alfredão, tendo ao meio Dan Gammon, neto de Samuel Rhea Gammon, fundador do Instituto Presbiteriano Gammon- IPG.
Foto do autor- Sesquicentenário do IPG, Lavras 24/08/2019, em rampa retilínea com 1,75m, 1,85m e 1,95m


Na solenidade de criação da UFLA, em dez de 1994, em Lavras.
Alfredão chegou próximo à comitiva do Ministro da Educação e gritou “Paulo Bagaço”..., porém, antes de mais nada, foi logo explicando a razão de apelido. Na foto, o primeiro 
Reitor Silas Costa Pereira, o Ministro Murilo Hingel, o Vice- reitor Gui Alvarenga,
 Alysson Paolinelli e Paulo Roberto, o “bagaço”, afilhado do Alfredão.
Foto: Ascom-Ufla   



Alfredo e Alysson, na solenidade dos 50 anos do
 Departamento de Engenharia,  UFLA, maio de 2016
Foto do autor




A Estação Costa Pinto, em Lavras, palco da infância e juventude de Alfredo Scheid Lopes
Foto: Arquivos de Renato Libeck


 A casa do Alfredão, ao lado da Estação Costa Pinto, onde seu pai era o chefe e protegia os meninos quando os marmanjos lhes tomavam a bola de futebol. À direita existia apenas uma cerca de taquaras de bambu, trançadas e havia uma cesta de basquete, onde ele trinava arremesso ao cesto. Mais atrás havia imensa horta de couve, alface e verduras que, ele mesmo, relatou em depoimento
à imprensa , cuidava, colhia e saía às ruas, de bicicleta e uma cesta, vendendo as hortaliças aos vizinhos. E ele ia longe, em sua bicicleta de verdureiro ambulante. Ao passar pelo jardim , pedalando, despertou a atenção do treinador José Lima, que ofereceu-lhe uma bolsa de estudos no Instituto Gammon e ali se tornou atleta de renome internacional.
Foto: Arquivos de Renato Libeck


 
A Estação Costa Pinto, o campinho, o barranco de onde escorregou o rapaz com a bandeja com       
mais de 50 pasteis, por conta de uma bolada forte. Em baixo, à esquerda, a casa do chefe da                     
Estação, Sr Lopes, pai de Alfredão.
Foto: Brasil Visto de Cima – Maria TV


O atleta campeão brasileiro e internacional nas modalidades de
salto de altura e salto com vara. Mais de 180 medalhas.
Foto: arquivos de Renato Libeck


Time de basquete, anos 50, equipe campeã em Minas Gerais.
Foto: arquivos de Renato Libeck



Esse garoto de 17 anos, dava dribles estonteantes. Passou algumas bolas entre as pernas do becão de 1,90m e marcou quatro dos sete gols contra o Fabril Esporte Clube, de Lavras. A gente exagerava nas gozações ao Alfredão, o becão, perguntando se era verdade que o garoto Pelé passou entre suas pernas..., ou se foi só a bola...  Brabo, ele respondia: oh,  bobão, você não sabe que eu marquei os dois gols do Fabril contra a defesa e o goleirão do Santos? E tomem cuidado vou ferrar vocês todos na prova de Geologia... Pura brincadeira,,., de ambas as partes e às vezes até mostrávamos a ele uma foto, como essa do garoto Pelé , rindo... Só alegria naquelas caçoadas mútuas.
Foto: internet


Os heróis que mantiveram a ESAL em 1963 e 64, sem receber salário algum. Ao centro, na fila de trás, de terno escuro, o emissário do MEC que foi a Lavras para fechar, encerrar as atividades da ESAL. Esses heróis e a comunidade lavrense não permitiram e convenceram o emissário ministerial. Alfredão à esquerda, o mais alto. Naquele mesmo ano de 1963, em 23 de dezembro, a cidade ganhou o maior presente de natal, a federalização da ESAL. Honra se feita a esses heróis acima.
Foto: Arquivos de Renato Libeck



Alfredo formou-se em 1961. De sua turma, além dele próprio, os seguintes colegas ingressaram na ESAL como professores: João Marcio de Carvalho Rios e Sylvio Nogueira de Souza, seguindo-se mais tarde, Hélio Correa. Boa safra, quatro novos docentes.


Em 07/09/2012, nas festividades da Semana da UFLA, reinauguração do Campus Histórico totalmente repaginado em seu paisagismo. Lá estávamos, Alfredão (sentado) e eu (camisa preta, calça branca, palestrando com duas professoras). Alfredão estava sempre prestigiando a ESAL/UFLA e o próprio Instituto Gammon que lhe acolheram e o tornaram um atleta e profissional das ciências agrárias
Foto: Ascom Ufla





O atleta, professor, cientista, artista plástico e pianista,
executando, em sua casa, a canção preferida: My way
foto: arquivos da família Scheid Lopes
My Way
E agora o fim está próximo
E portanto encaro o desafio final
Meu amigo, direi claramente
Irei expor o meu caso do qual estou certo
Eu tenho vivido uma vida completa
Viajei por cada e todas as rodovias
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito
Arrependimentos, eu tive alguns
Mas aí, novamente, pouquíssimos para mencionar
Eu fiz o que eu devia ter feito
E passei por tudo consciente, sem exceção
Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
E mais, muito mais que isso
Eu o fiz do meu jeito
Sim, em certos momentos, tenho certeza que tu sabias
Que eu mordia mais do que eu podia mastigar
Todavia fora tudo apenas quando restavam dúvidas
Eu engolia e cuspia fora
Eu enfrentei a tudo e de pé firme continuei
E fiz tudo do meu jeito
Eu já amei, ri e chorei
Cometi minhas falhas, tive a minha parte nas derrotas
E agora conforme as lágrimas escorrem
Eu acho tudo tão divertido
E pensar que eu fiz tudo isto
E devo dizer, sem muita timidez
Ah não, ah não, não eu
Eu fiz tudo do meu jeito
E para que serve um homem, o que ele possui?
Senão ele mesmo, então ele não tem nada
Para dizer as coisas que ele sente de verdade
E não as palavras de alguém de joelhos
Os registros mostram, eu recebi as pancadas
E fiz tudo do meu jeito


O pianista - My way
arquivos da família Scheid Lopes





quinta-feira, 21 de maio de 2020

Vovô, você é importante?

(Serie quarentena – 8)


O netinho e a foto do vovô ao pé da página da revista ELLITE: Vovô, você é importante?


Pedro Henrique, com cinco anos de idade, passou uma tarde após o carnaval na casa dos avós e uma de suas atividades foi recortar figuras em revistas. Pegou qualquer uma no porta-revistas da sala de estar e pediu autorização à vovó para recorta-la. Na verdade era uma revista que continha um artigo que escrevi sobre a história da educação em Lavras e as razões do porque de seu lema: Terra dos Ipês e das Escolas. Vovó, matreiramente, disse a ele para perguntar-me. Adentrou meu escritório e foi logo perguntando: Vovô posso recortar essa revista? Antes de qualquer resposta pedi a revista e a abri na pagina 18, mostrando-lhe as fotos da cidade de Lavras, bem antigas e a do próprio autor do artigo, seu avô. O menino arregalou os olhinhos e surpreso exclamou:

Vovô..., você é importante?

Sim....! O vovô já foi importante, olhe aí quanta gente bonita aparece nas fotos da revista, a começar pela capa e eu estava lá entre todos eles, contando histórias..... Veja aí a história que contei para eles. Você acredita? Ah..., então eu não posso cortar sua foto na revista. Escolheu outras figuras e autorizei os recortes.

Instantes depois fui à sala verificar o seu “trabalhinho”. Um mosaico de variedades  com figuras recortadas, começando por duas malas de viagem bem vermelhas,  moedas, bolo, tênis, roupas, tablet, telefone celular e outras. Perguntei a que se destinariam os recortes e ele disse: É para a minha viagem, já tem mala, comida, tênis... e agora só falta o dinheiro. Você me dá um real? E para onde será a sua viagem? Para Nova York, vovô, mas é de mentirinha...., respondeu o sorridente garoto.

Criança é joia. É preciso que as tratemos assim, com muito amor. Uma benção de Deus! São capazes de nos arrebatar em sentimentos puros. E naquele dia fui refletir sobre o valor da vida, a começar por “ser importante”, como perguntado pelo garoto de apenas cinco anos de idade. Afinal o que é ser importante? Fui buscara explicação e o filósofo Mario Sergio Cortela explica: “O que vale na vida é ser importante e não necessariamente famoso. Importante é aquela pessoa que é importada pela outra. Isso é que a pessoa leva para dentro. Isso significa importar. Tem muita gente na tua vida que é importante, mas não é famosa. A pessoa importante faz falta”.

Todos devemos viver de forma a que todos sintam nossa falta. Isto é ser importante. O ter algo ou muitos bens só tem valor se eles nos levam ao ser. E o ser significa a alma aberta, o amor ao próximo, especialmente aos pequenos e mais ainda aos nossos netos. E o netinho, ao perguntar se o vovô é importante, imaginou apenas com base no que viu na revista ilustrada com fotos de muita gente bonita e sorridentes em festas e ambientes requintados. Lógico, não pensou na importância do vovô dentro de si próprio, pois sua capacidade não atingia ainda esse limiar. Mas, mais do que isso, a importância é recíproca, pois as crianças alegram nossa alma, são a própria alegria. Outro filósofo, Rubem Alves, compara os velhos às crianças ao dizer: “As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!

Que bom, o netinho tem o vovô como alguém importante na sua vida. A recíproca é verdadeira. Criança é joia!

Brasília, 06 de março de 2014


Paulo das Lavras


Perguntei a que se destinariam os recortes. É para a minha viagem a Nova York, vovô.
Tem malas de viagem bem vermelhas, moedas, bolo, tênis, roupas, tablet,
telefone celular... Só falta o dinheiro, você me dá um real, vovô?


.    Edição nº 25 (outubro 2013) - Revista ELITTE, com o artigo escrito pelo vovô:
 Lavras- 300 Anos de História


Revista ELLITE, nº 25 – outubro de 2013,  pag18


Revista ELLITE nº 25, outubro de 2013,  pag 19 – Surpreso, o netinho
viu a foto do autor e logo perguntou: Vovô, você é importante?...


Revista ELLITE nº 25, outubro de 2013, pag 20 – Além da foto anterior , o garoto
reconheceu a grande torre da Igreja Matriz que já conhecia de visitas anteriores à cidade.


Revista ELLITE nº 25, pag 21


            

domingo, 17 de maio de 2020

Covardia, sim..., e daí?

(Série quarentena - 7)





Suspender o afastamento social e abrir geral o comercio, liberando as pessoas para saírem às ruas, não é razoável. Vai na contramão da ciência e da experiência de outros países que passaram ou ainda passam pela pandemia do coronavírus.  Desde quando as academias, salões de manicures, depilações e barbearias são consideradas atividades essenciais em meio a uma pandemia?

         Por outro lado, o recomendado isolamento vertical a que se destina? Liberar os jovens para irem às ruas, adquirirem o vírus e trazê-lo para dentro de casa, matando seus pais, avós e outros idosos? Ah..., senhores, autoridades do momento, façam-me o favor..., respeitem a vida. A falência de empresa até é possível se recuperar, recria-la, mas a vida não, não tem volta! Aliás, vida não tem preço e calem-se os pseudos-economistas defensores cegos da “deusa” Economia.

        Com o coronavírus estamos enterrando os idosos que sustentavam suas famílias e jovens que teriam todo o futuro pela frente. Neste caso, dos jovens, a força produtiva, como gostam de se referir os coveiros da vida que adoram citada deusa Economia.
Pura covardia para com a vida e especialmente às famílias e seus idosos. Duvido que meus filhos e netos sairão às ruas para trabalhar ou ir à escola. Não querem servir de vetores desse terrível Covid-19 e, por consequência, matarem os avós ou todos os demais sob o mesmo teto.

        Debochar de centenas de milhares de cidadãos já infectados (233.142) e mais de 15.000 mortos (15.633) é, sim, COVARDIA insana! E daí...? Se os jovens têm a vida produtiva $$$ inteira pela frente, conforme  defendido pelos pseudo-economistas, eu contra-argumento e respondo na mesma moeda e diapasão: Com mais de 50 anos de vida profissional ativa, já contribui com tudo que me foi imposto e até mesmo por gratidão, na construção do nosso país, incluindo escolas, quarteis e até faculdades de Medicina por onde passaram, estudaram ou trabalharam à custas do imposto que paguei, esses mesmos que hoje desprezam os idosos. E daí? Devolvo a pergunta. Querem que concordemos com essa atitude indecorosa? Ah..., respeito é bom, especialmente para com os idosos. Quem teve educação de berço sabe disso. Quem não respeita idoso, acredita que não terá futuro! Ademais, o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003) dispõe em seu artigo 9.º, que é obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde.

 Para que servem as leis? Pena que a deusa Economia valha mais que a vida para pavimentar caminhos rumo a 2022. 

Paulo das Lavras

Brasília, 17 de maio de 2020



O desrespeito de governantes para com quem já contribuiu para a construção da Nação, por longos períodos, alguns por mais de 50 anos..., é um desrespeito total.
Foto: internet


sábado, 9 de maio de 2020

Dia das Mães em tempos de coronavírus


(Série quarentena - 6)

Desculpem-me os amigos, mas, sempre combati a instituição “dia das mães”. Puro interesse comercial.  A imprensa também faz esse jogo, pois tem interesse, seja pela propaganda de ocasião, paga, veiculada por ela, ou pelo fato de que o jornal, o rádio, a TV, as mídias em geral têm nas empresas comerciais a sua fonte de sustentação e renda. Por isso, é importante relembrar que em1914 foi instituído o Dia das Mães, como  homenagem a quem sempre lutou em favor dos filhos e em tempo integral. Aliás, a preocupação que gerou a ideia de se criar o dia das mães foi o objetivo de se diminuir a mortalidade das crianças em famílias de trabalhadores. Mais tarde se preocuparan em melhorar as condições dos feridos na Guerra de Secessão, nos Estados Unidos e depois, paz e desarmamento. Gosto de lembrar que na minha cidade natal, foi fundado, já em 1941, um hospital de assistência à infância e maternidade, por doação de um empresário de origem portuguesa, Antônio Vaz Monteiro. Ali, este menino foi submetido a delicada cirurgia torácica, cuja decisão de autorizá-la, diante do grande risco de vida da criança, foi tomada pela própria mãe, que ali ficou vigilante o tempo todo e durante longo tempo na convalescência, conforme contava ela, com lágrimas nos olhos e sempre grata a Deus pela vida do menino. Lá se vão 73 anos daquela grande luta pela vida e 57 que ela nos deixou, mas nem por isso esquecida. Ao contrário, sempre mais lembrada com imensa gratidão e amor.

Agora, em tempos de quarentena do coronavírus, o comercio amarga prejuízos e a imprensa parece querer romper os preceitos da medicina e propagandeia manchetes como “Prejuízo nunca visto antes” , “Dia das mães sem presentes e comércio vai a falência”. Ora, ora, até parece que a preocupação do mundo é exclusivamente o dinheiro $$$, o l´argent contant sur la table e, no caso do dia das mães, a comercialização veio logo em seguida à sua criação, transformando-a na segunda melhor data do comércio, depois do Natal. Para a Economia, parece que a vida não conta, nada vale. A figura da mãe, deveria ser o foco, objetivo e meta. Mas, não é! Mundo insano, esquece de homenagear as Mães para focar no dinheiro. Não é de se admirar que governantes enfatizem o foco na economia, a deusa sacrossanta que governa o mundo, em detrimento dos cuidados com a vida. A vida pouco vale, o dinheiro vale mais para o mundo. A vida inteira a Mãe se dedica ao filho, gera-o, amamenta-o, educa-o, formando-lhe a personalidade, o caráter. A vida inteira o filho se lembra da própria Mãe, mesmo que ela já tenha partido. Mãe merece ser celebrada e lembrada não apenas um dia, o segundo domingo de do mês de maio, mas todos os dias de nossa vida.

Lamentável que nesses últimos dias não vi um artigo sequer focado no papel da Mãe. Só lembranças comerciais ou lamúrias pelas lojas fechadas e que não poderão lhe vender o “presente” da querida mamãe. Somente assim eles lhe lembram a  “querida mamãe”, como num ato de chantagem emocional, no qual você precisa retribuí-la com presentes materiais, joias, viagens, roupas ou seja lá o que for e quiserem lhe vender. Não importa o quê, pois o que vale é vender. Ah..., como eu gostaria de ver uma manchete assim:

“O MAIOR PRESENTE PARA UMA MÃE É VER SEU FILHO A SALVO
 DO CORONAVÍRUS, COM SAÚDE E ALEGRIA”

            Lógico que a recíproca é mais que verdadeira. Dê o melhor presente à sua Mãe. Diga-lhe, hoje, em vídeo-chamada,  que a ama muito, agradeça a educação e o amor dela recebidos e quando acabar a quarentena corra até ela, leve-lhe uma rosa, uma orquídea (mães adoram orquídeas) dê-lhe um forte abraço e diga-lhe doces palavras brotadas do coração, de puro amor! Afinal, o Dia das Mães é todo dia! E para nós, aqueles que não mais desfrutamos de sua presença, elevemos nossa alma à sua memória e nos alegremos por tudo que dela recebemos, a começar pela vida que nela foi gerada. A Vida..., lembre-se, pois você nem eu estaríamos aqui não fosse ela que nos gerou e com muito amor nos criou.

Um abraço a todas as Mães, guerreiras, semeadoras da vida e do amor! Sábias por natureza, tal qual a mãe de Thomas Alva Edison, o inventor da lâmpada elétrica, e cuja história, por oportuna, reproduzo abaixo, na integra. E elas são mesmo, repito, sábias, por natureza ou intuição, quando se trata de defender e educar os filhos. Por isso são eternas em nossos corações, não importa se estão aqui ou se já partiram. Sempre presentes! E para aquelas que aqui estão cuidando de seus filhos e netos,
Saúde para todas elas!

Brasília, 10 de maio de 2020

Paulo das Lavras



                        Minha mãe e o filho caçula no colo, Anísio,                      
     maio de 1948


,        O Menino das Lavras na mesma foto de família   




Uma história verdadeira:    Sabedoria e amor de mãe
In : anp - nov 2019



Thomas Alva Edison – 1847-1931


                                                     O garoto que foi recusado na escola, mas acolhido/educado em casa,                                            da  maneira mais sábia, por sua própria mãe. Tornou-se um
                                                                  dos grandes gênios da humanidade

                                                                 
                                                                                                
Certo dia, Thomas Edison chegou em casa com um bilhete para sua mãe. Ele disse, "meu professor me deu este papel para entregar apenas a você”.  Os olhos da mãe lacrimejavam ao ler a carta e resolveu ler em voz alta para seu filho: "Seu filho é um gênio. Esta escola é muito pequena para ele e não tem suficiente professores ao seu nível para treiná-lo. Por favor, ensine-o você mesmo!!"
Depois de muitos anos, Edison veio a se tornar um dos maiores inventores do século. 
Após o falecimento de sua mãe, resolveu arrumar a casa quando viu um papel dobrado no canto de uma gaveta. Ele pegou e abriu. Para sua surpresa era a antiga carta que seu professor havia mandado a sua mãe porém o conteúdo era outro que sua mãe leu anos atrás.
"Seu filho é confuso e tem problemas mentais. Não vamos deixá-lo vir mais à escola!!"
Edison chorou durante horas e então escreveu em seu diário: "Thomas Edison era uma criança confusa, mas graças a uma mãe heroína e dedicada, tornou-se o gênio do século."

Existem certos momentos da vida onde é necessário mudar o "conteúdo da carta" para que o objetivo seja alcançado...

Li e amei... simplesmente  uma lição..., uma super mãe..., um filho mais que especial...


Thomas Edison e sua maior invenção, a lâmpada elétrica. Ele simplesmente patenteou 2.332 inventos. Isso mesmo, dois mil, trezentos e trinta e dois inventos. Verdadeiro gênio, recusado e expulso da escola, porque o professor o julgou “confuso e teria problemas mentais”. Sua mãe não lhe revelou o conteúdo maldoso e equivocado daquela carta do professor, ao contrário, elogiou o filho e o educou em casa.
Mãe, sempre a mãe!
Fotos: internet