sábado, 29 de fevereiro de 2020

No topo da carreira


Certa vez um amigo perguntou-me: “Chegar ao MEC e ali ocupar os mais altos cargos técnicos foi uma aspiração?”. Quando estudava agronomia, o máximo que eu aspirava era ser um técnico capaz de pegar uma propriedade rural de baixo rendimento e transformá-la em uma fazenda de alta produção, com elevados índices de produtividade, tal qual eu via e aprendia com os ensinamentos de meus mestres. Deus me deu muito mais do que imaginei. Tenho espirito de servidor publico no sentido mais puro e genuíno. Digo isso com orgulho de querer servir ao meu país, à população e à família. Convivi e aprendi a ver, notar, sentir e admirar a simplicidade, a honestidade do homem do campo, seus princípios de retidão, de respeito à natureza, solidariedade para com os vizinhos, também pequenos produtores rurais e, sobretudo, aquele espírito de fazer (o nome “fazenda” tem essa origem), produzir e olhar para o amanhã, ver os paióis cheios das colheitas no campo cultivado e ter a certeza de que o futuro dos filhos estava garantido. O maior prazer do homem do campo era receber a todos para um almoço ou festa (e como havia festas na zona rural, eram quase que semanais, sempre em diferentes casas) e ver a mesa farta, com os produtos colhidos com seu esforço. Orgulho genuíno de quem produz, contribui e compartilha, verdadeiro e puro espírito publico.

A carreira da agronomia foi primordial para o desenvolvimento do espírito de servidor publico. Não bastasse a vivência da infância e juventude no meio rural, dos anos de 1950/60, onde predominava o espírito colaborativo e de solidariedade entre os moradores afastados dos centros urbanos, o menino pôde, na faculdade, desenvolver trabalhos sociais na periferia da cidade de Lavras. Ali visitamos algumas comunidades de baixa ou quase nenhuma renda, dentre elas a da antiga estrada para a Ponte do Funil, bem acima da Estação Ferroviária, hoje bairros Jardim Europa e COHAB e, no outro extremo da cidade, a então rua carroçável, localizada depois do túnel e atrás da Paróquia de São Sebastião, hoje denominada Rua Donato Bauth. Entrevistamos dezenas de famílias que, no passado, tinham sido expulsas do campo, por conta da legislação, como a Lei Áurea e Reforma Agrária de 1964. Viviam em extrema penúria em barracos de adobe com portas e janelas muito rústicas. Nesse trabalho, coordenado e supervisionado pelo saudoso mestre de Economia Rural, Guaracy Vieira, concluímos um tanto chocados pela dureza da vida daquelas famílias, em sua grande maioria desempregada e analfabeta, que precisaríamos trabalhar muito, desenvolver nossa agricultura, educação e outros empregos para tão sofrida parcela da população. Assim, nosso ideal de espirito público se fortaleceu. E hoje não é muito diferente a situação, pois ainda há muita desigualdade social em nosso país. Basta ver a carência dos transportes públicos, dos serviços de saúde, segurança pública e, sobretudo na oferta de Educação. Minha experiência foi dura, pois de 250 meninos matriculados no colégio, chegamos apenas 30 no 3º científico, que corresponde ao segundo grau completo (ensino médio). Não tinham condições de pagar a educação e precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família, pois nos anos de 1950 e 60 não havia colégios públicos na cidade de 40.000 habitantes.

Mas, tudo isso serviu para embasar e reforçar nosso sentimento de servir ao público, buscar a melhoria das condições sociais de colegas, vizinhos, enfim nossa gente, nossa Pátria! Por isso sou grato ao berço e aos mestres que nos educaram no caminho do servir ao próximo. Fizeram com que enxergássemos que nosso trabalho só teria sentido se tivesse voltado para o legítimo interesse público, daquelas pessoas mais necessitadas. Então, meu único objetivo foi servir ao meu país, não importando onde e quando, mas sempre! E assim iniciei minha carreira profissional trabalhando, na capital mineira, numa empresa de planejamento agroflorestal e paisagismo. Um ano mais tarde aceitei convite do diretor da ESAL/UFLA, Alysson Paolinelli, para ingressar nos quadros de professores da Escola onde me formei. Não fiz planos para ser pró-reitor de Pós-graduação nem de representante da Escola no CREA, mas exerci aqueles cargos com dedicação. Assim, os horizontes se alargaram na medida em que conseguimos introduzir a Escola no restrito e seleto grupo de instituições que ofereciam cursos de pós-graduação, mestrado incialmente e doutorado mais tarde, pelas mãos de outros colegas que nos sucederam. A qualidade da oferta dos cursos de graduação e pós-graduação chegou ao topo dos rankings do MEC e por consequência, a Escola foi transformada em universidade, no ano de 1994. Deus me colocou ali, naquela Escola, e entendi que deveria pautar meu trabalho com o máximo empenho, oferecer educação de qualidade, voltada para o desenvolvimento da ciência em prol da melhoria das condições de vida das pessoas e do país. Na sequência surgiram novas oportunidades.

Não planejei trabalhar no Ministério da Educação. Não foi uma aspiração, respondi ao amigo questionador. De minhas inúmeras viagens ao MEC, no Rio e em Brasília, e ainda das constantes colaborações que prestei, elaborando estudos e visitas técnicas de assessoramento a diferentes universidades, a pedido do próprio MEC, adveio o convite para ali permanecer em tempo integral. O colegiado superior da Esal/Ufla aprovou a cessão ao Ministério e ali cheguei de mala e cuia, ou melhor, livros. Ali trabalhei por 34 anos seguidos, ininterruptos, sempre com a certeza de que estava fazendo o melhor e me sentia, sempre, realizado. Depois de tanto tempo, olho para trás e tenho a sensação de poder olhar para mim mesmo, para meus filhos e netos e ter a dignidade de compreender e dizer-lhes que fiz o máximo possível para termos um país melhor, naquilo que me competia como educador. Por isso digo que não aspirei chegar ao topo da carreira técnica no Ministério da Educação. Se tive o privilégio de ocupar os mais elevados cargos na hierarquia técnica, desde a minha chegada ali, isto se deveu unicamente aos resultados dos trabalhos com dedicação e sempre colocando o legítimo interesse público em primeiro lugar. A cada novo ministro que chegava (foram 18, em 34 anos) ou Secretário de Educação Superior (32 mudanças no mesmo período), órgão onde fui diretor ao longo do tempo, chamavam-me ao gabinete e diziam que, por recomendações de reitores, eu deveria permanecer nas funções que desempenhava. Assim, atravessei todos os governos, de diferentes correntes políticas, sempre planejando e executando importantes políticas para a educação superior em nosso país. Como corolário do legítimo interesse público também trabalhamos no projeto de criação das cotas universitárias para negros, como forma de mitigar a enorme dívida social de nosso país para com essa sofrida gente que, ao longo do tempo, foi discriminada e não teve acesso à universidade.

Ninguém precisa aspirar nada para se chegar ao topo de uma carreira profissional. Até mesmo quem veio da roça pode conquistar o mundo, literalmente, assentar-se em reuniões no Departamento de Estado norte-americano ou ministérios na Champs Élysées. Basta colocar os legítimos interesses públicos como prioridade de trabalho e, naturalmente, fazer diferença, dedicar-se e gostar do que faz. O sucesso não vem por acaso! Dizem que é preciso ter “sorte”. Eu tive..., trabalhei muito, me esforcei bastante e o reconhecimento foi certeiro. Isto sim foi a grande sorte: trabalho, dedicação e amor ao próximo. E não vai aqui nenhum espírito de vaidade, mas apenas o desejo, ou melhor, o velho hábito de professor de incentivar os jovens a alcançar o sucesso, fazendo diferença para que seu mundo seja conquistado. A eles sempre respondia que os pontos que eles pensavam serem os principais fatores para o sucesso, como ser inteligente, estudioso (curioso para aprender, disputar, competir para os primeiros lugares de desempenho na classe e receber atenção dos pais nos estudos) e autoconfiança, se constituíam apenas em pressupostos básicos. Esses fatores são admitidos como normais e imprescindíveis e já estão presentes em grande parte dos estudantes. Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim, é necessário que haja o fator diferencial que o colocará no topo da lista: “Fazer Diferença”, dedicar-se, gostar, amar o que se faz, a profissão.  Hoje nossos calos não são mais nas mãos, como antigamente, mas sim contados pelo tempo que dispendemos para a educação, dedicação e amor a aquilo que se faz na profissão e nas relações com a sociedade.

Não importa de onde você veio, se da roça ou da cidade, se foi bolsista, cotista ou frequentou a faculdade no seu carrão e modernos equipamentos eletrônicos. No mundo corporativo as habilidades pessoais acabam sendo o fiel da balança, pois os pré-requisitos são preenchidos pela grande maioria dos candidatos. Portanto, se quiser atingir o topo da carreira, qualquer que seja ela, é preciso fazer diferença. Quem busca o resultado e não a excelência corre o risco de ficar sem nada, disse o filósofo Aristóteles ao discorrer sobre o sucesso, que é fazer bem feito. Sucesso é, portanto, sinônimo de excelência. Faça diferença.

Sucesso!


Brasília, 29 de fevereiro de 2020

Paulo das Lavras  


Fazer diferença desde os tempos de estudante...
Foto: arquivos de Renato Libeck


Esplanada dos Ministérios - Vir trabalhar no Ministério da Educação nunca foi
 aspiração do menino. Foi consequência do trabalho com dedicação e amor.
 Fazer diferença é fundamental para o sucesso, a excelência do resultado.
Foto do autor


No MEC, com um dos 16 ministros com os quais trabalhou
Foto do autor 




domingo, 16 de fevereiro de 2020

Namorando a vida



Certa vez escrevi uma crônica com o título “Reflexões sobre a morte”, mas na verdade discorria mais sobre a vida que a morte propriamente. Hoje, embora o título faça referencia à vida, falarei mais sobre os perigos dela e das inesperadas visitas do fantasma da morte. O menino das Lavras recebeu pelo menos seis visitas daquela que se fantasia de velha, estilo caveira, vestida de preto e portando uma foice às costas. A primeira vez que “recebi” sua visita foi aos dois anos de idade. E foi bem demorada, pois a “velhinha da foice” ficou nove meses me namorando enquanto me recuperava de delicada e complexa cirurgia torácica. Livrei-me dela graças aos cuidados intensivos da família que, literalmente, carregou-me no colo 24 horas/dia/09 meses, quando em recuperação com sonda de dreno cravada nas costas.

Na segunda vez a convivência com a tal velhinha, que vem buscar as almas sem aviso prévio, foi bem mais curta. Apenas uns dez minutos, tempo suficiente para a retirada do menino de quatro anos do fundo de um reservatório d´água e os procedimentos de salvamento com massagens cardíacas e respiração forçada até a ressuscitação. Dez minutos são muitos, mas muito menos tempo do que aquele namoro de nove meses da primeira vez que a conheceu. Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim, “apenasmente”, como diria Odorico Paraguaçu, foi tempo bastante suficiente para que o menino travesso atravessasse a ponte do infinito para o outro mundo, abraçado à dona que carrega uma enorme foice nas costas... Porém, a rapidez com que a mãe o pescou do fundo do reservatório d´água e os imediatos procedimentos de salvamento em casos de afogamento, foram como um puxão para trás, pela ponta da longa saia preta, ou quem sabe pelo cabo daquela foice em arco, que ela carrega em seu voo em direção ao infinito. E foi um safanão enorme naquela bruxuleante figura, atrevida, que sempre nos espreita, ansiosa para nos levar para o além. Digo grande porque nada se compara à força do amor de mãe, ainda mais quando acompanhado do desespero, da luta pela volta à vida. Ao final da peleja, 2 x 0 do menino sobre a dona morte, graças ao infinito amor de mãe e seus clamores a Deus, sempre atendidos.

A terceira vez foi em BH, a capital mineira onde o jovem engenheiro trabalhava. Menino franzino, um workhaolic sem igual, morador das proximidades de grande centro hospitalar, bairro São Lucas, onde se situa a Santa Casa e vários outros hospitais, área de elevado índice de contaminação do ar. Plantava florestas pelas serras geladas de Ouro Preto Mariana, Caraça e também na Serra do Cipó, um pouco mais longe, pelas bandas de Diamantina. Nesses ambientes em que vivia, adquiriu grave doença pulmonar que quase o entregou à velha da cara de caveira e foice a tiracolo. O médico chegou a prognosticar para a pessoa da família que o acompanhava: “Leve-o para morrer em Lavras...”. Matei o prognóstico equivocado, enganei novamente a velhinha de preto e mandei-a esperar mais um pouco com a sua foice ceifadeira de vidas. E não é que ela, a velhinha da foice, com seu espírito vingativo armou outra contra mim? Foi à forra, pela quarta vez, ali mesmo em BH, de onde eu me mudara havia 20 anos. Ela não se esqueceu e talvez para se vingar dos 3 x 0, espreitou novamente o menino que chegava de Brasília a bordo de um Boeing 737-300, novinho em folha. Surpreendido por grande tempestade de chuva e vento, a aeronave foi derrubada ao se aproximar da pista de pouso em Confins. Com o choque direto no solo partiu a asa esquerda, trem de pouso e turbina, espalhando combustível, no qual todos caímos e nos encharcamos de querosene. Em segundos poderíamos ser transformados em “homem-tocha”. Por ironia, a própria tempestade d´água evitou o incêndio e explosão, pois turbina incandescente riscava a pista e soltava um turbilhão de fagulhas como se um esmeril fosse. A própria enxurrada por sobre o asfalto, com quase meio metro de altura, apagava as fagulhas antes que subissem à tona e encontrasse o mar de querosene, o combustível que flutuava por sobre a água.  Salvamo-nos todos, apenas com ligeiros ferimentos. 4 x 0 na caveira da foice ceifadeira de vidas. Outros dois acidentes aéreos, nos quais se encontrava o menino, aconteceram nos EUA, em Washington e Las Vegas, com pane hidráulica no primeiro e incêndio a bordo no segundo. Felizmente, em ambos, foi possível se desfazer do combustível e realizar pousos de emergência, sem vítimas.

É ou não é para se namorar a vida, com gosto, muito mais gostoso, com sabor de vitória? E no dia em que ela me vencer de nada adiantará o futuro escore de 4 x 1. Prevalecerá a única vitória dela e nem terei o direito de pedir revanche, lógico. O jogo da vida não é como nos esportes ou nas disputas humanas. Fosse assim eu seria sagrado campeão por ter vencido a maioria dos jogos, 4 x 1. Mas não é assim, pois terei perdido para sempre, mesmo com uma única derrota depois de quatro vitórias. Mas, levarei vitórias muito mais importantes que essas quatro, que impus à velha da foice, ao longo de sete décadas e meia. Primeiramente, e a maior delas, a lição aprendida com essas escaramuças que enfrentei. É preciso encarar a vida com alegria na alma, responsabilidade social, muito trabalho e sobretudo amor. Essa é a receita que penso ser essencial para, ao fim, colher os louros da vitória, o sucesso e poder dizer, na despedida: vivi a vida, de bem com ela e nada me deve. Mas o que é mesmo o sucesso?  O sucesso nada mais é do que viver com alegria. Então posso afirmar com convicção que sou muito bem sucedido, pois veja o que disse um filósofo:

 

Aquela lúgubre velha senhora de capa preta ainda não conseguiu levar-me, mas também não avisou quando virá e por isso trato logo de deixar registrada a minha última vontade nesta vida de sucesso: que minhas cinzas sejam dividas e a primeira parte semeada sob o belíssimo pé de ipê amarelo, defronte à janela do quarto em que nasci, na Fazenda Retiro dos Ipês, em Lavras, onde sempre viveram meus pais. Daquele solo retiraram o nosso sustento e ali crescemos felizes, crianças a brincar por toda parte. Sejamos, pois, também gratos ao solo, pois ele nos alimenta na vida e nos acolhe na morte, seja ele, o solo roxo, vermelho que produz alimentos ou o amarelo da bauxita (alumínio), marrom e azul dos minérios de ferro e manganês. É dele, do solo, que também brota a água que sacia nossa sede e faz fluir o sangue em nossas veias.

Outra parte das cinzas também deverá ser semeada sob o enorme ipê rosa que plantei nos jardins de minha casa, em Brasília. Cidade onde tenho vivido a maior parte de toda a minha vida, desde o ano de 1975, quando aqui cheguei para missão oficial no Ministério da Educação. Percorri meio mundo de Europa e todas as Américas em demoradas missões de trabalho e não encontrei cidade como a capital de nosso país. Planejada com amplos espaços setorizados, certinha e com belíssimos prédios públicos que mais parecem esculturas. Seus parques, jardins maravilhosos e mais de 120 quilômetros de alamedas arborizadas que circundam as residências, verdadeiros bosques recheados de árvores frutíferas. Neles pode-se caminhar à sombra, mesmo com sol a pino, por entre flores e pássaros que se deliciam com os frutos, se acasalam e nidificam. E caminhar, sentar-se à sombra de uma árvore para apreciar essa beleza natural é como estar num clube da vida. Não há solidão ali, nunca, pois as próprias plantas criam seu ambiente, se multiplicam, criam sombras, frutos e convidam os pássaros e também a nós para o seu derredor. É nesse silêncio, sob uma árvore e à vista dos jardins de flores, que somos convidados a meditar, a pensar nessas maravilhas e encontrar caminhos e agradecer pela vida, pelo solo, a natureza-mãe que nos sustenta e por último nos acolhe para sempre. Por isso, ao dar uma parada sob uma delas e tudo contemplar, ali, sozinho, não tenho medo de contrariar Aristóteles. Este, dizia há mais de 2.300 anos, na antiga Grécia, que aquele que encontra prazer na solidão ou é fera selvagem ou é deus. Nem um nem outro, apenas tomo a palavra “selvagem” para transforma-la em “natureza” e dizer que ela é o paraíso. Nela vivi em harmonia e assim quero que minhas cinzas repousem sob duas de suas imponentes árvores.

Namorei a vida com muito gosto e sucesso, mas com a humildade de reconhecer o valor da família, dos amigos e a maravilha da natureza que nos cerca com alimentos para o corpo e a alma, com seus campos cobertos de plantações, florestas, rios e jardins floridos, belos ipês, cássias e flamboyants, dentre tantas árvores que servem de descanso e repouso para a vista e a alma. Por isso a razão de minha última vontade, devolver as cinzas aos belíssimos cenários daqueles locais que me viram nascer e me acolheram por toda a vida, proporcionando-me a alegria do viver, com pleno e muito sucesso, na definição filosófica já citada. E quanto aos cenários, posso dizer que lhes tratei com muito carinho e amor, pois plantei por onde passei muitos jardins, literalmente, e neles minhas cinzas retribuirão o pó da terra que sempre fomos, conforme dito bíblico: tudo veio do pó e ao pó voltará.  

O sucesso, repito, nada mais é que viver a vida com alegria. Isto é o que faz a diferença e assim, os tais 4 ou 6 x 0 que supostamente representariam minhas vitórias, nada mais são do que uma forma de relevar e tratar os percalços de forma positiva e deles tirar proveito. Não importa, portanto, se a vida é ou será curta ou longa, pois o que vale mesmo é que ela “seja intensa, verdadeira, pura... enquanto durar”, como bem escreveu a poetisa Cora Coralina. Ninguém gosta de falar de morte, inclusive eu. Minhas crônicas são de puro louvor à vida, mas, quando chegar a hora nada de UTI para prolongar a sobrevivência por alguns dias. Quero apenas a medicina paliativa, ou seja, alivio da dor, mas que deixa o organismo agir por si próprio. A falência geral dos órgãos é natural, inevitável e devemos estar preparados para isso, aceitando a lei da vida. E nessa hora, estar rodeado pelos entes queridos, ou no aconchego do lar, é o mais importante para quem parte. Mas, vivamos a vida com intensidade e a compartilhemos com todos, pois só assim a felicidade é verdadeira.

Devemos viver cada dia como se fosse o último, alegre, feliz consigo, seu ambiente e com todos. E se eu partir logo e alguns amigos vierem contar algum fato a meu respeito, ou mesmo uma fake news, ouça e acrescente a sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero e se criticarem muito, defenda-me. E como disse o poeta, acho que não vou estranhar o céu, pois, ser seu amigo já é um pedaço dele.

Tim-tim, saúde! Namoremos, pois, a vida!


Brasília, 04 de fevereiro de 2017

Paulo das Lavras


Sob esse belo pé de ipê amarelo, minhas cinzas repousarão
bem em frente à janela do quarto onde nasci, na fazenda de meus pais,
há mais de sete décadas. Certamente ali  também foi enterrado
 o umbigo, como mandava a tradição.


Uma parte das cinzas será depositada aqui, sob o enorme ipê-rosa
que eu mesmo plantei em minha casa, ao lado de um rego d’água
 e um pé de pera portuguesa que, aliás, aparece carregado de frutas,
 atraindo pássaros e até o cavalo que gosta de aparar o gramado.
Apreciar esse tapete rosa das flores do ipê é a pura felicidade.



Venda do Zeca na Serra do Cipó. Tradição centenária. Naquela serra gelada,
em plantios florestais, contraí uma séria doença pulmonar, vencida em seguida.
Foto: Cida Barboza


Sejamos gratos ao solo, ele nos alimenta em vida e nos acolhe na morte.
Tomar um café super-selecionado, produzido e colhido com especial cuidado...
não tem preço. É como namorar a vida, só alegria, alma leve, em harmonia
com a natureza, na chácara que construí.


A harmonia de uma cidade-parque, com suas enormes áreas verdes e
belíssimos monumentos arquitetônicos, aqui presentes: o conjunto de prédios
 do Congresso Nacional, ao centro e o mais belo de todos, a Catedral,
que aparece no retrovisor da janela do carro, são convites para a contemplação
 e admiração, prazer repetido diariamente, por quase quatro décadas,
ao nos dirigirmos pra o trabalho, bem ali, na Esplanada dos Ministérios.



Nunca pensei que a goiabeira que plantei na quadra residencial, para
deleite das crianças, fosse também servir de atração para bandos de 
curicacas, enormes aves de bico longo, até então nunca
 vistas em pleno centro urbano. Vida pulsante, alegria sem fim
 no verde da cidade parque



Os frondosos bosques cercam as quadras residenciais. 120 km de
passarelas para pedestres e outro tanto para ciclistas.  Harmonia com a natureza nos traz felicidade Verdadeiro clube da vida.
Um “chega pra lá” naquela velha senhora, de preto e que vive a correr atrás
da gente com uma longa foice nas costas. Pistas para a gente correr não faltam por aqui...rsrs


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Iemanjá, as maledicências e o diabo sentado ao seu lado





Fevereiro..., e hoje, 02 de fevereiro, mais uma comemoração de sincretismos, o dia de Iemanjá, rainha do mar, mãe cujos filhos são como peixes, diz a historiografia. Para muitos, crédulos em tudo que se diz, a vida é assim, regida pelos fenômenos da natureza. Não é. Um artigo na imprensa disse que “Iemanjá é celebrada oficialmente em 2 de fevereiro e é um dia de suma importância porque há uma consciência nacional sobre os valores que a divindade africana Iemanjá nos estabelece. É um momento para todos que buscam uma identidade afro-religiosa concentrarem o pensamento na mesma energia que é Iemanjá”, explica uma Mãe de Santo, líder religiosa... Ainda bem que o pensamento acima se restringe aos que seguem a seita. E o que dizer das oferendas? O mar as devolve à praia, todas! Seria o caso de se dizer que não foram aceitas, sequer as flores brancas, jogadas sobre as águas para reverenciar a rainha das águas? 

Mas, enquanto o sincretismo religioso estiver a serviço do bem, como sabiamente se aproveitou a igreja católica ao associar os seus santos com as divindades de origem africana, a humanidade parece caminhar tranquila e a sociedade acolhe a todos indistintamente. Pior é a disseminação do mal. O mesmo jornal que fala sobre iemanjá e orixás aborda, também, na mesma edição, sobre a maléfica ação do diabo. Sim o diabo da maledicência dos canalhas que não tem fim. Atormentam a vida de pessoas do bem cultivando e semeando mentiras e deslavadas intrigas. As redes sociais, infelizmente, dão guarida a essa gente que prejudica famílias e relacionamentos. São maníacos da farsa, da dissimulação, do cinismo e da covardia. Pobres de espírito, recalcados e frustrados que já nasceram com a índole do mal cravada na alma, ou, na melhor das hipóteses, não tiveram berço, o afago e o carinho maternal e familiar.

 É preciso afastar-se dessa gente, o mais rápido possível, combate-la com firmeza, bloquear-lhe o acesso a qualquer informação pessoal e afastá-la do convívio. Pessoas assim destilam veneno. E veneno é incompatível com o amor que brota do coração das pessoas do bem. A jornalista Ana Dubeux soube expressar com maestria sobre esse mal que nos aflige:

  



Brasília, 02 de fevereiro de 2020

Paulo das Lavras