sábado, 31 de julho de 2021

A mentira e a calúnia nas redes sociais

 

 
As Redes Sociais na Internet 
Foto: internet

Um dos grandes pensadores do século XX e dos maiores influenciadores de sua época, o alemão Erich Fromm, contribuiu como poucos para o avanço da psicanálise, da psicologia da religião e da crítica social. Seus livros, A Arte de Amar (1956) e Ter ou Ser (1976) ficaram mundialmente conhecidos. Suas teses, algumas contrariando as de Freud, foram muito discutidas. Ele defendia um humanismo normativo, onde as pessoas têm enraizadas em sua existência não apenas necessidades básicas físicas, mas também necessidades básicas psíquicas. E a família, como se sabe é o primeiro estágio da formação do caráter da criança/adulto. Dali emanam as diretrizes para vida. Saber “administrar” os conflitos dentro de uma sociedade, na convivência entre conceitos antagônicos é a chave do sucesso pessoal, do equilíbrio emocional com pacífica convivência social. Mas nem sempre isso ocorre, famílias desestruturadas não são capazes de fornecer o mínimo necessário de amor e conhecimento no preparo da vida de seus filhos. Quando adultos, às vezes, são incapazes de conviver com os conflitos ou simples comparações com seus semelhantes bem sucedidos. Há pessoas que são incapazes de conviver com situações contrárias à sua natureza humana (condições sociais de sucesso, etc) e reagem de maneira negativa. Abandonam a razão e partem para o campo da imaginação doentia, com mentiras e calúnias sobre aqueles que acreditam ser superiores ou mais felizes que elas próprias.

Fromm se debruçou sobre essa temática, contrariando Freud em alguns pontos. Sobre as necessidades humanas, assim como é possível promover ou reprimir certas necessidades básicas, da mesma maneira é possível que algumas falhas sejam produzidas pela cultura. Neste caso, já a partir do berço, seguindo-se os costumes da sociedade em geral. Por outro lado, se a pessoa perde um pouco de sua riqueza interior e o sentimento real de felicidade, ela é compensada pela segurança do sentimento de pertinência ao restante da humanidade. Mas, Este sentimento de pertinência, segundo o autor, impede em nível decisivo o desenvolvimento da imperfeição em uma neurose. E hoje, a percepção desse sentimento de “pertinência” quase sempre é medida pelo número de “likes” em redes sociais. Por isso, as redes sociais têm se transformado em palco de shows bizarros, tamanha a insistência em “aparecer” a qualquer custo em busca do suposto reconhecimento de seus pares nas redes.

Nesse sentido, as teses do autor foram bastante claras. Há distúrbios de personalidade que fazem o ser humano viajar em realidades paralelas, levando outros em suas “viagens”. O espírito humano, quando empobrecido em suas funções, é impelido a desejar poder total sobre os outros e tem uma sede insaciável de fama e prestígio (hoje representados pela quantidade de likes nas redes sociais). Isso leva à perda do senso de dignidade própria e alheia, pois só lhe interessa o sucesso. Para tanto, a maneira mais fácil de conseguir o intento, nas redes sociais, tem sido por meio da mentira e da calunia. Espalhadas nas redes sociais são como penas ao vento e as vítimas nunca mais conseguirão eliminá-las totalmente. O filósofo italiano, Umberto Eco, pioneiro na análise da internet, afirmou que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Outro filósofo mais antigo, Sêneca, definiu que “a mentira é a pior das deformações do ser humano” e infelizmente, essas deformações têm sido mais constantes do que imaginamos hoje em dia, quando a internet deu voz e espaço a todos. Tanto é verdade que nos últimos anos foram aprovadas leis que visam à proteção do sigilo de dados e privacidade do cidadão nas redes sociais e bancos de dados eletrônicos.

Até então tínhamos visto apenas algumas queixas de amigos que foram vítimas de mentiras e calúnias nas redes sociais. Pelo menos duas amigas publicaram longos textos reclamando de perseguições e calunias. Em conversas com vítimas dessa natureza verificamos que a maior dor é a maldade, a indecência moral e a crueldade de pessoas querendo envolver inocentes, inventando mentiras fantasiosas. Nesses detratores reside toda a amargura, o seu fracasso econômico e social, frustrações amorosas que, de certa forma, tornam a vida do mentiroso, caluniador, insuportável para si próprio. Mas, ninguém espera que isso vá acontecer consigo próprio, se tornar vítima desses malucos da internet e quando acontece..., resta-nos a perplexidade e então, friamente analisar a situação, investigar a fundo, mapear a rede de maldosos, marcar, identificar os agentes e extirpa-los da nossa convivência. Faz mal à saúde mental das pessoas de bem o convívio com essa escória intelectual e moral. Pior mesmo é, após longo, demorado e doloroso trabalho, deparar-se com nomes de pessoas até então insuspeitas, não necessariamente integrantes de suas redes sociais, envolvidos em tramas que visem unicamente denegrir a imagem e a reputação alheia. Sêneca e Umberto Eco estão mais que certos em suas teses sobre o comportamento humano. Uma pena, pois, neste período de isolamento social as pessoas querem ver e ser vistas e esses canais se destinam exatamente à integração e interação social. Tivessem, essas pessoas, o saudável hábito da leitura certamente teriam conteúdo para falar, escrever e emitir opiniões abalizadas e sempre na busca do bem.

Uma pena que pessoas fracas, ociosas, sem estrutura emocional para enfrentar as próprias dificuldades, encontrem nas redes sociais seu caminho para descarregar as frustrações pessoais. Incapazes de conviver com situações contrárias à sua natureza humana, não aceitam o sucesso e a felicidade alheios e reagem de maneira negativa. Suas imaginações doentias, com mentiras e calúnias sobre outros, fazem-nas “diferentes”, sentindo-se vingadas em relação à sua própria incapacidade. Na verdade são apenas pessoas desprezíveis que não merecem estar ao seu lado, nem mesmo nas redes sociais. Merecem, sim, o descarte, bloqueio nas redes, que deveriam se destinar tão somente ao convívio sadio entre amigos, com alegria na alma. Não devemos permitir que esse nosso ambiente virtual seja utilizado apenas como meio de satisfazer as necessidades de egoístas, narcisistas. Nada melhor para a alegria da alma do que encontrar amigos verdadeiros nas redes sociais, ou mesmo nas ruas e deles ouvir referencias às amizades sadias e lembranças de boas ações praticadas em favor de terceiros, mesmo em distante passado. Foi assim em duas viagens que fiz à terra natal. Na primeira, ao lado do saudoso amigo Renato Libeck, encontrei Helô Costa que, surpreendentemente, agradeceu uma ação que havíamos feito muito tempo atrás, em favor de seu sobrinho, que sequer conhecíamos e agora é um profissional de sucesso na engenharia, em São Paulo. Outro encontro de gratidão, mais surpreendente ainda, e casualmente em um restaurante, também testemunhado por amigo comum, foi rever depois de mais de quarenta anos, o colega Prof. Geraldo Guedes e sua esposa Gracinha. Profissionais de sucesso relembraram os tempos de bolsista nos E.U.A., lá pelos longínquos anos de 1970/80, quando aprovamos sua bolsa de estudos para doutorado em Solos na Universidade da Flórida, em Gainesville. Naquela ocasião, sua esposa aproveitou a oportunidade e cursou mestrado em Línguas, tornando-se especialista no Inglês e mais tarde empresaria do ensino de idiomas em Lavras.  Como na parábola da cura dos dez leprosos, quando apenas um deles voltou para agradecer o milagre de sua cura (Lucas 17: 11-19), também aqui cabe a comparação. Se aqueles doentes de antigamente eram obrigados a gritar “impuro... impuro”, quando avistassem alguém, de modo a evitar-se a aproximação e contágio, a volta, ainda que de um único com gratidão, bem retrata a natureza humana. E aqui, com esses colegas que eventualmente beneficiei de alguma forma, não foi apenas um, mas vários colegas que mesmo tendo passado quase meio século sem nos encontrarmos, ao primeiro reencontro correram para o abraço de gratidão por um ato que praticamos e que, de tão simples e pelo longo tempo já decorrido, sequer nos lembrávamos.  Ainda que fosse um único amigo que retornasse e agradecesse a boa ação recebida, como aquele da parábola bíblica, já seria suficiente para fazer-nos esquecer das injustiças e tantas inverdades que às vezes nos perturbam.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca foi atingido por esse tipo de ação. Não deixe que pessoas maldosas usem as redes sociais para essa abominável prática. Delete, bloqueie, e conforme o nível de agressão denuncie com base nas leis de proteção ao internauta. Por aqui, numa pausa de pouco mais de um mês, prosseguimos mapeando os maliciosos, e os há em profusão. Há todo tipo de invasor, o hacker que invade seu perfil (fiquei impossibilitado de postar ou editar posts de meu próprio perfil, ainda que por que por poucas horas), outros que são apenas visitantes que não são amigos, mas amigos de seus amigos, pessoas com perfis falsos que solicitam amizade (geralmente um ex-amigo já bloqueado ou estelionatários). Enfim, os maldosos se valem de inúmeras formas para buscar, espionar ou mesmo adulterar suas postagens. Não é difícil desbaratar esses maldosos, camuflados de “amigos” dentro e fora das redes virtuais. Aliás, a mentira e calunia iniciadas nas redes virtuais têm capacidade excepcional de se espalhar entre pessoas da comunidade que sequer participam dessas redes sociais. Valem-se de amigos e parentes, com acesso a seu perfil, onde buscam informações. Assim, nem sempre o bloqueio único e exclusivo desses falsos amigos funciona. Mas, por outro lado, é fácil também deslindar essa rede paralela de amigos dos amigos e mesmo não sendo eles integrantes de suas redes sociais. Em um caso particular, alguns internautas de distantes cidades e dos quais nunca se ouvira falar, foram até as redes sociais da vítima para “buscar” informações. Com sobrenomes estrangeiros e de cidades distantes, em outros estados do país, a presença deles chamou a atenção da vítima. Os  investigadores logo descobriram que se tratavam de parentes  de uma das principais disseminadoras de fakes que já estava bloqueada havia tempo. Eles estavam, todos, em visita à casa da matriarca  no Dia das Mães. São ardilosas e perigosas essas pessoas desestruturadas emocionalmente.

Mapeados, identificadas a fontes disseminadoras das “fakes”, pode-se também bloqueá-los e isto é fácil, pois mesmo não sendo seus amigos nas redes sociais, eles vêm constantemente visitar seu perfil. Uma das redes sociais até informa quem visitou seu perfil. Ora se for pessoa amiga daquela disseminadora das “fakes” e que já esteja bloqueada na sua rede..., é óbvio que o visitante é um laranja daquela. Bloqueio nele também, assim recomendam os anti-hackers. Aliás, esta é uma nova profissão já em uso pelas policias de crimes digitais, especialmente em Brasília, capital das “fakes” políticas, principalmente às vésperas de ano eleitoral.

 

 Cuide bem de suas redes sociais, não permitindo que pessoas indesejadas contaminem o prazer de interagir com seus verdadeiros amigos. Denuncie se for caso de crime previsto em lei, pois o filósofo Umberto Eco está mais que certo ao afirmar que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.  E salvas para os verdadeiros amigos.

 

Brasília, 31 de julho de 2021

 

 Paulo das Lavras