sábado, 19 de novembro de 2022

19 de Novembro - Dia da Bandeira

 

Foto: internet, postada por Bertolucci Jr  em 19/11/22 


Sim, hoje é o Dia da Bandeira - 19 de Novembro. Sempre tive uma em tamanho normal, daquelas que são hasteadas, tanto no escritório como em casa. Esta era estendida na janela no 7 de Setembro. A do escritório nos EUA, na Michigan State University, não me deixaram trazê-la de volta, mas em compensação me presentearam com uma linda Star Splangled Banner com todos os acessórios para hasteamento nas fachadas de casas, em 60º de inclinação (o americano tem mania de hastear sua bandeira nacional em todo lugar). Nunca vi povo igual para cultuar tanto a sua bandeira. Veja foto da Wall Street, bandeiras americanas de fora a fora.

 Da mesma forma na França, deixei a Verde Amarela no Ministère de l´Éducacion Nationale e ganhei uma Bleu Blanc Rouge. Quando recebia, em casa, colegas de trabalho daqueles dois países fazia questão de hastear as duas, a nossa e a dele, no deck da piscina ao lado da churrasqueira.

 Mais tarde apareceu outra, pois ganhei em BH, aquela querida e inconfundível branquinha, com um triangulo vermelho ao centro, com o Libertas Quae Sera Tamem. Os gringos sempre agradeciam e tomavam aquele gesto como uma homenagem especial. Alguns que aqui estavam por mais tempo (às vezes passavam dois anos como consultores no MEC) se emocionavam às lágrimas.

 Aprendi a amar e respeitar o Pavilhão Nacional desde os tempos de grupo escolar, aos 7 anos de idade. É sempre emocionante assistir ao seu hasteamento, cantando o Hino Nacional. Sempre gostei e por isso me emocionava muito, quando servia por temporadas no exterior, ver uma bandeira brasileira tremulando no mastro da embaixada brasileira ou num  navio deixando porto de Nova York ou Marseille, ou mesmo no alto do leme dos aviões da Varig nos aeroportos estrangeiros.... Ah, a emoção desaba em meio às lembranças da Pátria distante. Não à toa as duas primeiras estrofes que sabemos de cor, dizem:

Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Para que serve mesmo a bandeira? Ela é o símbolo da Nação, nos proporciona o sentimento de pertencimento à Pátria, nosso solo, berço onde nascemos e construímos nossa vida. Representa o amor, o afeto que se encerra em nosso peito e sempre nos lembra a Pátria-mãe. É puro amor à Pátria!

            Salve a nossa Bandeira Nacional!

 

Brasília, 19 de Novembro de 2022

Paulo das Lavras

 

 
Uruguaias trajando verde amarelo, mas sem esquecer a bandeira de seu país. 
Foto do autor: 2014- Brasília-DF

 


 Acabei segurando a bandeira com o uruguaio, ao lado de franceses. 
Solidariedade brasileira ao amor deles pela pátria distante. 
Foto do autor: 2014- Brasília-DF


 Portando a bandeira do Colégio Sant´Anna, em Itaúna, onde estudei, 55 anos atrás, em 1958. 
Foto do autor: 2013 




 Bandeira num escritório do Departamento de Estado 
Foto do autor: 1989- Washington-DC 


 Cerimônia de Troca da Bandeira – Brasília-DF, todo último domingo de cada mês. 
 Frequentei inúmeras vezes, quase sempre com os filhos ainda crianças.



 




quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Lavras, Rua Santana e a exportação de terno xadrez para os EUA

 

 Única foto disponível do “famoso” paletó xadrez vinho, camisa com enorme colarinho listrado. O autor, voltando de um sorvete com as filhinhas, recém-chegadas em Brasília. Setembro de 1975. 
Foto- do autor


 

Lavras fabricava brinquedos na Metalúrgica Matarazzo que os exportava para todo o mundo, pelo menos até os anos 70. Eram lindos e me lembro de um trenzinho movido à pilha, reluzente e com a logomarca “METALMA”. Mas, poucos sabem que a cidade exportou paletó xadrez para os Estados Unidos e eu próprio cuidei da exportação. Lembrei-me do fato porque o amigo Bertolucci Geraldo Júnior, postou uma crônica relembrando uma das mais famosas e movimentadas ruas de Lavras, minha cidade natal. Hoje, outro amigo colorizou a antiga foto e nela se destacou com mais nitidez o letreiro da fachada da loja Império das Casimiras e Alfaiataria Rajá Ferreira. Hoje, outro amigo, Rogério Salgado, também apaixonado por história e perito na arte de restauração de fotos antigas, retocou a foto e  realçou a loja e  e seu letreiro no alto da fachada. Foi como se eu tivesse voltado no tempo, pois vi em meu imaginário o balcão de corte dos ternos, que ficava bem à entrada. Ali, o talentoso alfaiate passava todo o tempo com suas tesouras, fita métrica, esquadros e giz, cortando os modelos e ao mesmo tempo cumprimentando os passantes. Entrar ali era a festa. Ele se desdobrava em gentilezas e contava causos e causos de gente da cidade e até mesmo de Brasília, onde tinha muitos amigos. Era um prazer imensurável ali passar, ainda que por poucos minutos.

Quando me transferi para Brasília, em 1975, o alfaiate Rajá confeccionou, sob medida, seis ternos completos – paletó com colete para os mais clássicos, e na linha mais casual ternos com camisas incrementadas e gravatas bem modernas, dali mesmo, de sua loja. Tudo combinado, havia “ton sur ton” bem discretos, riscados largos e riscadinhos, xadrez ultra discreto em cor cinza claro, chamado de Príncipe de Galles e até mesmo um em estilo jaquetão, embora não apreciasse muito aquele paletozão. Outros ternos nem eram tão discretos, mas, gostei e aprovei todos. De modo geral, a elegância dos esmerados cortes em casimiras importadas, fazia sucesso aqui no MEC, onde 80% dos funcionários 

 
Foto da Rua Santana publicada na crônica de Bertolucci e colorizada pelo amigo Rogério Salgado.


 

 
O alfaiate Rajá Ferreira da Silva em seu balcão de corte dos tecidos, situado logo á entrada da loja.  Sempre alegre e receptivo aos amigos, mesmo ali durante o trabalho. Veja a quantidade de peças xadrezes na prateleira ao fundo. 

Foto: acervo de Schirley Nogueira Cavalcanti


eram mulheres. Acuidade modal assim..., só mesmo entre as experts, pois elogiavam todos os conjuntos, menos um.  Mas, não deixavam de olhá-lo com certo ar de graça, porém discreto. Extremamente educadas as secretárias e subordinadas ou mesmo as colegas dos outros andares do Ministério da Educação, nunca deixavam escapar nada que pudesse desagradar, apenas elogiavam.

Mas, mesmo assim, cheguei à conclusão de que havia algo de espalhafatoso com aquele terno de paletó xadrez branco e vinho, de tecido mais encorpado. A calça, boca de sino, era inteiramente da cor vinho, combinando com o  xadrez do paletó. A camisa branca, de algodão egípcio trabalhado, de colarinho extremamente exagerado no comprimento e largura, ostentava duas riscas de cor vinho, Até mesmo a gola, supergrande, tinha uma risca  na cor vinho.  (lembrava aqueles colarinhos exagerados do cantor de rock, Elvis Presley). A gravata de seda, para completar o conjunto, também era na cor vinho, inteiramente lisa e um pouco brilhante, sapato marrom e meia também na cor vinho... Ah que beleza extravagante... rsrs. Essa extravagante elegância era comum, nos anos 70, em todo o país. Era moda! Tenho algumas fotos antigas de festas e bailes no Clube de Lavras e até em formaturas, onde se viam ternos xadrezes em quantidade.


 Uma formatura no UniLavras, com o paraninfo e diretor, Prof. Canísio Lunkes,
de terno xadrez e o formando de listrado..., moda dos anos 70. 
Foi motivo de comentários variados nas redes sociais, em 2015. 
Foto- coleção Renato Libeck 


Minhas suspeitas acabaram por se confirmar, pois não é que, certa vez, um gringo que trabalhava comigo, no MEC e recém-chegado dos Estados Unidos, nem português falava, ao ver-me trajado com aquele figurino xadrez, exclamou: Oooh..., very nice, you look like a Christmas tree..., ou seja:  uau, que elegância, você parece uma árvore de natal. Gargalhada geral dos assessores e secretárias que esperavam a minha chegada na sala de reunião. Pela intensidade da hilaridade da plateia deduzi que minhas suspeitas estavam certas. Era mesmo extravagante aquele terno de roupa, no mínimo bastante vistoso...rsrs. Refeito da surpresa e sempre com aquele lema na cabeça, de que a melhor defesa é o ataque, parti para cima do gringo ousado e gozador,  pois até então nenhuma brasileira ousou falar, criticar-me daquela maneira... rsrs. Por isso, não me fiz de rogado, respondi-lhe de pronto: yeah, mister..., it is like you do in U.S.A, tal qual vocês americanos, que usam até mesmo a calça xadrez com paletó de mesmo estilo. Aposto que muitos já viram  gringos trajando grossas calças ou paletós xadrezes de marrom, azul, amarelo abóbora, verde e vermelho, com todas essas cores juntas, embaralhando as vistas.

            O pior dessa história foi que, chegando em casa, contei-a à mesa e a reação foi de apoio à piada do ousado gringo. Nunca mais usei o espalhafatoso terno aqui no Brasil. Pensei numa vingança ao atrevido gringo e coloquei o terno na mala e o deixei no armário de meu escritório em Michigan, onde fazia questão de usá-lo e me igualar eles durante todas as temporadas anuais que lá passava por vários anos. Tornei-me  exportador de paletó xadrez, ainda que um único produzido na Rua Santana, em Lavras. Em 2015 uma longa discussão se travou nas redes sociais, sobre essa moda xadrez e listrados, tendo como fonte motivadora a foto acima ilustrada, do Prof. Canísio. Senti-me novamente vingado, pois a ex-colega de colégio, Maria Lucia Cunha Carneiro, foi a primeira a comentar a postagem de Renato Libeck, dizendo:Um de paletó listado, outro de xadrez, provavelmente, uma foto da década de 70”. Provocada por mim, que lamentava  o meu xadrezão de cor vinho , concordei que era moda naqueles anos , mas sempre fora motivo de piadas. Eram tantas as piadas que até cunharam, jocosamente, a expressão “boco-moco” (talvez a junção abreviada de bocó, bobo, com mocorongo, trapalhão), para  caracterizar aquele indivíduo, de propaganda na TV, que usava calça xadrez boca de sino, camisa colada ao corpo e com enorme gola, cabelo repartido ao meio e enormes costeletas e o indispensável bigode bem grande. As calças as vezes eram listradas, combinando com a camisa xadrez, em cores berrantes, chamativas em tons azul, abóbora, vermelho ou amarelo canário/ouro”, em cores caricatas de um personagem de propaganda comercial na TV, o Boco-moco.

 Tentando reanimar-me em relação à depreciativa crítica sobre aquela moda, a amiga prosseguiu: Pois o xadrez era o luxo da década de 70 e os tons de vinho, inclusive em tecidos brilhantes eram também o que havia de chique! A moda dos anos 70 era mesmo exagerada, feita para chamar atenção. As bocas de sino, ou pata de elefante... Assim, mais de 30 anos depois, reconciliei-me com aquele espalhafatoso terno xadrez vinho, batizado pelo gringo como árvore de natal. Mas já era tarde, pois a moda caíra em desuso. Restou-me lembrar com carinho do alfaiate Rajá, falecido precocemente em 2010, que era antenado a seu tempo e queria que o menino se apresentasse bem trajado na capital em suas andanças pelos palácios e ministérios... Aliás, ele próprio gostava de trajar o xadrez, como mostra a foto abaixo, quando foi nos receber no avião da FAB em visita à Lavras, acompanhando o Ministro Paolinelli, para  a inauguração de uma Cooperativa Agrícola e visita à EsaL/Ufla, em 1976.  

 
Rajá Ferreira da Silva, o alfaiate,  primeiro à direita com seu paletó xadrez jogado ao ombro. Em linha reta, da frente para o fundo: Rajá, Alysson Paolinelli e este autor, trajando o jaquetão. 
À esquerda, de perfil, bigode e óculos, o saudoso prof. Evandro Menicucci, com o prof. Joel Cesar. 
A seu lado o Prof.  Juventino de Souza,  de camisa xadrez, junto ao Alysson. 
Foto: arquivos Museu Ufla 


            Sempre que visitava Lavras, era obrigatório passar naquele endereço da Rua Santana  e provocávamos o amigo Rajá Ferreira. Invariavelmente eu lhe perguntava, mesmo mais de 20 anos depois: “Rajá, você faz um terno xadrez para mim? Bem espalhafatoso, igual aquele primeiro que já se acabou por lá...  Quero usá-lo somente nos Estados Unidos, pois lá eles adoram calças e paletós xadrezes...” . Era a senha de saudação seguida de gostosas gargalhadas e longas prosas. Rajá gargalhava sem parar, pois conhecia muito bem a primeira história que havia lhe contado, anos antes, sobre a gozação do gringo... you look like a Christmas tree.... Bons tempos, daquele querido e estimado alfaiate. Amigos que se foram, saudade que fica, chama de amor e amizade que ora desperta de nosso subconsciente. Saudosa Rua Santana, nosso caminho diário, por tanto tempo, em direção à Esal/Ufla, Gammon e tantos outros lugares da cidade.

Obrigado, amigo Bertolucci, por trazer-nos, em sua página, tão queridas recordações de nossa terra e sua gente. Tens razão, aquela rua é cheia de lembranças. Muitos outros causos povoam a nossa memória, como aquela que comentei em sua crônica, quando contei que o Deli Leão ganhava a nossa preferência na compra de material escolar em sua papelaria e livraria, simplesmente porque nos oferecia um brinde: o mata-borrão. Todo estudante tinha pelo menos uma meia dúzia dessa peça, importantíssima para minimizar os desastres com nossas canetas tinteiros dos anos 50/60, quando ainda não existiam as esferográficas.

A cada dia que passa mais me convenço daquela lição de Olavo Bilac:  “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!  Criança, não verás nenhum país como este!” Pura verdade, falar de Rua Santana e outros logradouros e principalmente de pessoas da terra natal, depois de quase 50 anos de ausência, é como destravar o subconsciente que derrama toda a saudade que, nada mais é  do que o amor que fica.  E esse amor é tão latente que até criei um pseudônimo - Menino das Lavras.  bem coerente para o meu blog de saudosas crônicas: 

Brasília, 03 de novembro de 2022

Paulo das Lavras


Rajá em seu carrão, Simca Chambord, em frente sua loja na Rua Santana. 
Foto: acervo de Schirley Nogueira Cavalcanti
  


Foto mais antiga da Rua Santana, talvez de 1959 ou 60. Ainda aparece o casarão bem ao fundo. 
Seria, o casarão do ex-prefeito João Modesto? 
Foto: coleção Renato Libeck