segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O mar e as montanhas




Há os que gostam do mar e até  declaram que seriam incapazes de viver sem ele. Não, não falo de pescadores, daqueles que se aventuram em precárias e frágeis jangadas ou grandes barcos pesqueiros que avançam sem medo mar adentro. Compreensível que esses não saibam mesmo viver sem ele. Falo das pessoas comuns que desenvolvem um amor, quase que platônico, pelo azul de suas aguas, a imensidão que convida à reflexão. Muitos ficam extasiados pela arrebentação das ondas ou o barulho do vento que as levantam ou faz caminhos na areia. O barulho da água da maré chega a ser calmante para muitos. O mar com certeza leva para longe suas preocupações e relaxa a alma. Há até aqueles que acreditam numa deusa das águas e para ela leva as oferendas de flores. Mas, parece que não dá muito certo, pois sempre são devolvidas à areia das praias. De qualquer maneira o mar exerce um fascínio em quem está diante dele. Todos nós nos lembramos da sensação, da grande emoção ao vê-lo pela primeira vez.

Dizem também que ninguém se cansa de namorar o mar, mas o que dizer do arrebatamento que as montanhas nos proporcionam? Levam-nos para o alto, enlevam a alma que, naquele vazio próprio do êxtase, nos remete ao amor, à alegria de viver e sonhar, literalmente! Assim, sem demérito para as qualidades emocionais proporcionadas para os que o cultuam, prefiro as montanhas ao mar. Até porque nunca ouvi dizer que alguém se retirou mar adentro para meditar ou orar. Os que assim querem e desejam a paz de espírito, sempre procuram o alto das montanhas. Parece que nelas nos aproximamos mais de Deus. Também é sabido que os mineiros não têm mar e aprendem a contemplar as montanhas desde a tenra idade. E ali, na terra das alterosas, as montanhas, por encurtarem o horizonte físico, despertavam uma imensa curiosidade no menino. Logo pela manhã, durante o café, ali estava aquela enorme montanha à frente, a uns dois quilômetros apenas, e as perguntas sempre se repetiam: O que será que há do outro lado? Rios, cidades, plantações, vales? Aquelas pedras são grandes? Há bichos ferozes naquelas matas das serras? Do lado sem florestas seria fácil escalar, imaginava o menino. Já onde havia a floresta..., ah... nem pensar, pois estaria cheia de bichos ferozes, onças, lobos, cobras e tudo mais que os adultos “sabiam” existir para amedrontar os pequenos mestres arteiros e mantê-los ao redor da casa, sem grandes aventuras em locais mais distantes.

Então, deve ser por isso, pela familiaridade com as linhas sinuosas do horizonte, que o menino aprendeu e sabe, ainda hoje, medir as montanhas com os olhos e o faz melhor que as planuras do planalto central, a despeito de nelas ter passado a maior parte de sua vida. A montanha, como disse o poeta, tem como pano de fundo o desfile de nuvens e os raios cristalinos da luz dourada do sol. O seu limite é o encontro com o céu. Mas, nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Uma visita ao mar, de vez em quando, faz bem. Uma semana é suficiente para se reconciliar com as ondas e a areia da praia. Mas, visitar Minas, terra das montanhas, é melhor ainda, pois é o mesmo que estar de volta ao berço. Momento ímpar, verdadeiramente uma ocasião especial, passear entre montanhas.

As montanhas de Minas são obras sublimes do Criador, nos fascinam e inspiram a cada momento. Ao deixar o aeroporto de Belo Horizonte elas já nos cercam e despertam a curiosidade de menino que nunca cessa..., o que haverá do outro lado...? Um pouco adiante, logo à saída do aeroporto, já se descortina a Serra do Curral que cerca a capital das Alterosas e a seguir, em direção à Fernão Dias, a Serra de Ibirité, de Igarapé, Itatiaiuçu e Itaguara, que fazem parte do quadrilátero ferrífero da rica Minas Gerais.  Serra da Bocaina, de Lavras..., estou chegando e sua escalada será certa, porém desta vez sobrevoando seu dorso de pedra. Momentos especiais, escalando-as à pé, à cavalo, de jeep, de trem ou até mesmo de ultraleve,  como já vividos inúmeras vezes na terra natal de Lavras, em BH com sua Serra do Curral, por entre córregos e a mata do Jambreiro  rumando para Nova Lima. Ou também em Ouro Preto, Mariana, Caraça e até na Guatemala escalando montanhas em busca de pequenas aldeias indígenas dos Maias. Também na cidade do México já escalei montanhas em busca das ruinas de aldeias dos Astecas. Ah.., montanhas, montanhas minhas, que me viram nascer, crescer e por muito tempo despertaram a curiosidade do menino que, hoje, já do outro lado da serra bem distante, as relembram com carinho..., as montanhas de Minas e das Lavras do Funil.

Brasília, 18 de julho de 2018

Paulo das Lavras 

A belíssima Serra da Bocaina que emoldura a cidade de Lavras

Foto: Ronaldo Renoir


Acordar pela manhã e saborear o café contemplando a majestosa Serra da Bocaina
 foi a rotina do menino, por toda a infância e juventude, na espaçosa casa da chácara,
 onde hoje situa-se a Vila Cruzeiro do Sul, bairro da cidade de Lavras



Saindo de BH rumo ao sul de Minas... por entre montanhas



O menino, jovem engenheiro, desbravou muitas serras em Ouro Preto,
 Mariana e Caraça, plantando florestas para as siderúrgicas.


Pintura de Rugendas -  tropa de negociantes a caminho do Tijuco,
nas montanhas de ouro e diamante das Minas Geraes (1824)


Um saudoso passeio entre Mariana e Ouro Preto, escalando a montanha
Foto do autor, 2012


Outro passeio, de maria fumaça, por entre montanhas deTiradentes e São João del Rei
Foto: internet


O menino conhecendo a cultura indígena nas montanhas da Guatemala


 “Escalando” a Serra da Bocaina, em Lavras, pelo alto, num Aero-Boero argentino.
 Proa alinhada ao dorso de pedra da bela serra que emoldura a cidade de Lavras.
Foto do autor - 2014


Até mesmo nas planuras do Planalto Central, o menino encontrou
um recanto em meio à serras. Saudade da terra natal, como ensinou
 o poeta Mário Quintana: "a gente continua morando na velha casa em que nasceu”
Foto do autor – Brasília, 2004 


Meu sonho de Ícaro


O cantor e compositor Biafra expressou muito bem o sentimento de voar que povoa a mente humana. Voar é um sonho que cultivamos desde criança!

O menino que habitava o campo mudou para a cidade, passando a morar próximo ao aeroporto. Desde então passou a admirar os grandes aviões da época, os DC-3 das empresas aéreas Nacional e Real Aerovias, que pousavam na cidade de Lavras todas as manhãs com destino ao Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Era mesmo fascinante ver e sentir aquelas enormes aeronaves passando a pouco mais de 200 metros de altura e a menos de dois km da cabeceira do campo de aviação, rugindo seus motores e zunindo as hélices. O menino parava o futebol ou qualquer outra brincadeira e ficava extasiado, de queixo caído a contemplar os pousos daqueles enormes pássaros prateados. Em dias de neblina matinal o prazer da contemplação era maior, pois os aviões eram obrigados a sobrevoar (ciscar) as imediações do aeroporto por muito tempo até que a cerração se dissipasse. Como podem voar? Que tamanho teria ele? E o piloto? Quantas pessoas caberiam lá dentro? Como seria voar nele? Eram perguntas que aguçavam a imaginação do menino sonhador, tal qual o mitológico Ícaro.

            Contemplar as aves de rapina que habitavam os altos da Serra da Bocaina e de lá vinham planando nas correntes ascendentes dos ventos sudeste e depois em mergulhos rodopiantes e certeiros sobre as presas incautas, era também outra forma de apreciar e invejar os voos nas alturas. Aliás, o sonho das alturas foi anterior aos aviões, pois o menino contemplava, desde tenra infância, as montanhas que circundam sua casa na fazenda. Pela janela da cozinha, especialmente durante o café da manhã, ao lado do fogão à lenha, ficava a imaginar, desejando uma escalada àquela enorme montanha que se antepunha, ali bem perto. Queria satisfazer sua curiosidade e fértil imaginação, buscando respostas para: que teria lá, do outro lado? Que se poderia ver lá de cima? A vista alcançaria muito longe? Haveria um rio? Uma cidade ou somente matas cheias de bichos? Tudo intrigava o menino e todos os dias ao ver as aves de rapina descerem em voos, planando suavemente, imaginava que ele também pudesse fazer o mesmo se conseguisse atingir o topo daquela enorme montanha rochosa e com algumas árvores, isoladas, majestosas que se despontavam contra o céu azul. A montanha era um desafio, uma cortina para o horizonte do garoto inquieto, ansioso e desejoso de “ver o outro lado” do seu mundo e arriscar um voo com as asas de sua imaginação como no sonho de Ícaro.

Mas a vontade e o desejo incontido de voar permaneceram guardados no seu imaginário por muito tempo, numa longa espera. Somente muito mais tarde experimentou o seu primeiro voo, e para sua satisfação, num belo e prateado DC-3 da Varig, igualzinho àqueles que tanto cobiçara quando criança. Quanta emoção para o jovem recém-formado engenheiro, decolando da cidade de Montes Claros, onde fora a trabalho, para Belo Horizonte, sua base e residência. Uma hora de pleno êxtase a observar o interior da aeronave, as aeromoças bonitas, bem maquiadas e com uniformes impecáveis. Chamava a atenção o rugido ensurdecedor dos motores na decolagem, velho conhecido desde a infância e então, pela primeira vez, a sensação de flutuar, a ascensão, a paisagem que se tornava cada vez menor em seus detalhes e ao mesmo tempo gigantesca na distancia alcançada pela vista. O fascínio da navegação ao identificar rios, montanhas e cidades conhecidas, agora vistos do alto em voo de cruzeiro, a aproximação do aeroporto da Pampulha em Belo Horizonte e o pouso suave, perfeito, para completar aquela experiência tão sonhada e cultivada na infância foram realmente marcantes.

            Logo em seguida o jovem engenheiro, professor e executivo universitário e gestor público da área da educação superior, passou a realizar trabalhos e missões em todo o território nacional e boa parte do mundo, América do Norte, Europa, América Central e do Sul. E tome aviões Douglas - DC 3, Convair, Electra, Viscount, Avro, Focker 27 Focker 50, Samurai, Navajo, Cessna King Air, Cessna 172, Cv 580 Allegheny/USA,  Sikorsky Helicopter S 69,  , Caravelle, BAC- One Eleven, Focker 100, DC-8,  DC-9, DC-10, C-95 FAB- EMB-20 Bandeirante, FAB- EMB 120- Brasília, ERJ 145 e 170-Jet Class, Boeings 707, 727, 737, 757, 767, 747-Jumbo de 400 passageiros ( o must dos top line), Tristar/British Airways, Airbus A-300, A-319, A-320, A-321,  FAB – Jet BAC- HS 111, Lear Jet, ATR-40, LET–410, Bombadier, Fairchild, Piper Paulistinha - PA-18 Piper Cherokee, Beechcraft-Baron, Aeroboero e tantos outros em viagens cruzando continentes e oceanos, ou apenas fazendo piruetas nos céus de Lavras, São Carlos ou Brasília. E hoje... são quase de 2.500 horas de voos ... o bastante para satisfazer os sonhos do menino fascinado pelos pássaros de prata que passavam sobre sua casa pousando no campo de aviação logo adiante.
           
Freud tem razão... os sonhos da infância, quando realizados mais tarde, têm um significado especial para a alma. A compulsão de realizar os sonhos acalentados todos os dias da infância não teve limites. Além dos voos comerciais e fretados, o esporte de aeromodelismo foi praticado em pistas de Lavras, no campo de futebol do Colégio Aparecida, em frente ao Tiro de Guerra e em Brasília, no parque da cidade e no centro esportivo ao lado da torre de TV e na pista do final da Asa Sul. Visitas foram realizadas ao Museu Air and Space em Washington, com fotos da cápsula do primeiro astronauta americano e ainda voos panorâmicos sobre a baía do rio Hudson, em Nova York e Nova Jersey, a bordo de enorme helicóptero Sikorsky S 69, de 20 passageiros. A fábrica de modernos jatos da EMBRAER, em São José dos Campos também mereceu visita, como também a Base Aérea de Anápolis com seus Super Mirage III, com direito à demonstração de manobras reais e fotos com o piloto herói que interceptou um Ilyushin cubano, intruso nos céus de nosso país em 1982, quando em voo clandestino para apoio ao governo argentino contra os britânicos na guerra das Malvinas. Nessa base aérea o jovem sonhador pôde pilotar o super Mirage III  no simulador com pouso acidentado no Galeão (faltou habilidade ao curioso aprendiz de piloto de caça). Não faltou também a foto com o astronauta brasileiro Marcos Pontes, ao lado de um protótipo do 14 BIS.

 Essa vazão dos sonhos era intensa e por isso a frequência aos aeroclubes de Lavras, São Carlos e Brasília era ilimitada. Ali se realizavam manobras radicais de loopings e “perdas” (stall) de tirarem o fôlego. Também não faltou uma visita ao Museu de Santos Dumont, na Fazenda Cabangu, entre Juiz de Fora e Barbacena. A satisfação de ver, sentir e o prazer de tornar realidade um sonho tão intenso, cultivado a vida toda, proporciona-nos a sensação de uma felicidade infinita, mais profunda e gratificante, enlevando nossa alma que, literalmente, flutua nas nuvens. É nos voos em cruzeiro dos modernos jatos, a 10 ou 11.000 metros de altura que, em completo estado de meditação a contemplar o espaço, usufruindo do silêncio a bordo, que tenho tido as melhores inspirações para escrever algo sobre a beleza e o valor da vida.
           
Sou grato a Deus por ter me proporcionado pequenos prazeres gestados na infância e que servem para valorizar a vida, tornando-me mais feliz, em harmonia com tudo e todos. Sobre isso, disse um poeta que “ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro de seu próprio ser. É também não ter medo de seus próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. Ser feliz é deixar agir a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós” (*). E literalmente é isso que faço quando estou nas nuvens a bordo de aviões, buscando inspiração no sonho daquela criança que fui, que não desgrudava os olhos dos céus, dos aviões que povoavam seus planos de um dia voar. Posso, portanto, dizer que entro em total estado de felicidade, até mesmo por estar ali, anonimamente entre tantos passageiros da mesma aeronave. Sim, ser feliz não é apenas ficar contente e orgulhoso pelos aplausos dos alunos ou das plateias lotadas de PhDs e top of minds em São Paulo, Paris ou Washington, no Departamento de Estado Norte-Americano, onde já ministrei palestras, mas é também encontrar a alegria no anonimato, sozinho, no silêncio reconfortante da alma. E na maioria das vezes isso acontece quando estou realizando o sonho do menino que queria voar como os pássaros e depois nos aviões.
           
 O cantor Biafra parece ter tido a mesma sensação quando compôs a letra de sua música “Sonho de Ícaro”, de quem plagiei o título desta crônica e que transcrevo a seguir:

Sonho de Ícaro (Música- performance de Biafra)

Voar, voar, subir, subir, ir por onde for.
Descer até o céu, cair ou mudar de cor
Anjos de gás, asas de ilusão
E um sonho audaz feito um balão
No ar no ar eu sou assim, brilho do farol
O que sai de mim vem do prazer
De querer sentir o que eu não posso ter
O que faz de mim ser o que sou
É gostar de ir por onde ninguém for.....

Do alto coração mais alto coração
Viver, viver e não fingir esconder no olhar

Faça o sinal cante uma canção
Sentimental em qualquer tom
Repetir o amor já satisfaz
Dentro do bombom há um licor a mais
Ir até que um dia chegue em fim
Em que o sol derreta a cera até o fim
Do alto coração mais alto coração
Viver viver e não fingir esconder no olhar


Brasília, 25/10/2009 a bordo do Gol 737-700, PR-GOU,  POA/BSB

Paulo das Lavras


_______________
(*) Diz a Bíblia que precisamos nos tornar crianças para ganhar o Céu. Hoje, na convivência maior com os netinhos, pude compreender melhor esse ensinamento bíblico. Elas, as crianças, são puras, inocentes e estão sempre a sorrir, estampando a felicidade e nos contagiando. Certamente é por isso que o poeta descreveu o que é “ser feliz”.



Santos Dumont, o sonho de voar (Ícaro) – Pintura de Yara Tupynambá


Janeiro 1951 – dois aviões da Nacional Transportes           
Aereos  no antigo aeroporto de Lavras.

Foto: arquivos de Eduardo Cicarelli - in Memórias de Lavras


1989 - Mirage III na Base Aérea de Anápolis em

Operação de carregamento de canhão e míssil 


Embarcando no Sikorsky S-69, no aerporto de Newark,NJ
New York Airways-N620PA, novembro de 1977

           


          Centenbário do 14 Bis, Maceió, outubro de 2006




Paulistinha  no Aeroclube de Lavras

                         Foto: arquivos de Renato Libeck


Voar...voar..., subir, subir, ir até o céu...., como no sonho de Ícaro da música







sábado, 29 de dezembro de 2018

O tempo passa.... Feliz Ano Novo!


Spending my time é o nome de uma bela canção interpretada pela cantora Roxette. Nela está expressa toda a angústia de alguém que perdeu algo na vida, um amor, uma paixão e vê os dias passarem, manhã após manhã, tarde após tarde e... nada, a vida continua igual. E ela passa o tempo todo a contemplar a parede de seu quarto ou até mesmo a TV ligada, mas é incapaz de ver ou assistir algo na tela, pois só enxerga a imagem da pessoa, do amor perdido e fica a imaginar... “será que ela também pensa em mim?”. Agradece a Deus por ele, a paixão de sua vida, não estar ali e vê-la naquela condição, na fossa, perdendo tempo, sentindo-se tão pequena, sem forças. Mas, os amigos dizem, a vida continua, acorda o tempo vai fazer com que você supere isso! Mas, não tem jeito, prossegue a cantora,"vejo as tardes passarem, a noite chegar, perdendo meu tempo e caio no sono ouvindo a música do Iron Maiden, Tears of a Clown” e então compreendi que, como na letra dessa música, algo havia morrido por dentro, pois estava sempre me sentindo para baixo, como se tivesse afogado no meu tormento, cabeça cansada reclinada para descansar. Essa era a verdade, verdadeira, embora tudo parecesse bem do lado de fora, tal qual a falsa lágrima de um palhaço de circo, tal qual mencionado nas canções de Roxette e Iron Maiden.


Há um ditado que diz: “quem canta, seus males espanta”. Em ambas as canções citadas, os autores expressam a dor da alma de alguém que perdeu algo, um amor uma paixão e luta contra si mesma. Em tudo que vê ou faz nada enxerga, nem na TV ligada à sua frente, a não ser aquela pessoa que ama e partiu. E mais, espera, ansiosamente, que a pessoa amada e perdida, esteja também pensando nela. Obsessão, inconformismo? Vai se saber, pois a alma humana é cheia de mistérios. É impressionante observar que, quando alguém assim está, perdido, encontra ressonância em situações que se aproximem, semelhantes. No caso citado, a suposta pessoa, na depressão amorosa, se agarra à outra história semelhante, retratada na musica que ouve e sob a qual adormece, como se reconfortada fosse pelas palavras de outrem na mesma situação. Assim é a vida, não há novidade alguma sobre a face da terra dos humanos. Somos todos iguais, dizia um amigo americano que, durante um jantar em restaurante no Rio de Janeiro, observava o comportamento de uma família, na mesa ao lado e disse: "pessoas são iguais, aqui ou nos EUA, mudam-se apenas os endereços".


Pura verdade e ao ver na TV uma recorrente propaganda, com fundo musical da canção magnificamente interpretada por Roxette, ouvi atentamente a letra e compreendi porque, todos os anos, abate-me certa nostalgia, sentimento de solidão, naquele período entre o natal e o ano novo, não importando a alegria familiar nos dias que antecedem e perduram por todo o natal. A festa dos preparativos, a compra dos presentes, a chegada do papai Noel para as crianças, a noite da ceia com os mais finos cuidados na decoração, das guloseimas e os pratos caprichosamente preparados, a distribuição dos presentes e a excitação dos pequenos... Ah..., sim, tudo isso é maravilhoso e damos graças a Deus, começando pela oração em que elevamos nossos corações ao Alto, irmanados num só objetivo: a vida. Nos dias seguintes seguem-se as reflexões, um balanço do ano que se passou e os planos para o ano novo. Desfilam-se, primeiramente, as vitórias, mas depois, como na canção citada, parece que há algo estranho, pois a vida passa, temos tudo que precisamos e ainda assim.... O que será? O que foi que perdi na vida? A infância, a juventude, os colegas de escola, os velhos amigos que ficaram para trás na distante cidade natal? Ou, quem sabe, talvez, a falta da intensa atividade do trabalho profissional? Afinal, deixar o terno e gravata depois de 50 anos de atividade ininterrupta, no frenético mundo dos negócios da educação superior no país e exterior, pode ser realmente um choque de difícil assimilação, mesmo que o tempo tenha chegado a meio século no batente, intenso...


Mas, tudo isso junto e misturado pode mesmo nos levar a pensar como aquela garota que canta, olha para a parede, olha a TV ligada, mas não a assiste e só pensa na paixão que perdeu.  O tempo passa, sabemos, mas às vezes nem sempre as lágrimas que caem por essa razão são como aquelas da canção. São verdadeiras, pois o homem está sempre em busca do tempo perdido, como bem descreveu o escritor Marcel Proust que, em vez de seguir uma forma literária contínua e linear da ação e dos personagens, reproduz a realidade como conteúdo da consciência. Ele busca o passado a partir de sensações casuais. É por isso, na mesma trilha de Proust, que busquei o passado na companhia da cantora Roxette, com sua bela canção que, aliás, recomendo. E nada mais justo que reconhecer em Proust o verdadeiro sentido da vida: "A verdadeira vida, a vida enfim descoberta e tornada clara, a única vida, por conseguinte, realmente vivida, é a literatura." E entendamos aqui, como “literatura” toda a experiência de vida, vivida por alguém, seja ela expressa em letra, música, arte ou simples exposição oral. Assim, nada melhor do que se reviver com essas experiências e delas tirar proveito para uma vida feliz.

Aproveite a vida. O tempo passa....

Feliz Ano Novo!

Brasília, 30 de dezembro de 2018

Paulo das Lavras. 



O tempo passa..., manhãs e tardes se vão..., cai a noite,
 dilema cantado por Roxette!

Veja o bonito clip da cantora Roxette: https://www.youtube.com/watch?v=eG0IYV6G0I0


terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O livro do vovô – o mais belo presente de Natal que já recebi



Neste Natal de 2018 recebi o mais inesperado e encantador presente de meu netinho, Pedro Henrique, que completou 10 anos há um mês. Todo contente foi até a árvore de natal, pegou o presente, finamente embrulhado, como manda a tradição dessa festa e entregou-o, todo feliz, ao vovô. Antes, porém, disse-me que era uma escolha pessoal, sua. Abri o pacote, com sua ajuda e seus olhinhos brilharam: veja vovô, aqui neste livro tem tudo que você faz para mim. “O Livro do Vovô”, esse era o título, de autor norte-americano, que vive em Berkeley, na Califórnia, terra da excelente universidade de mesmo nome, onde já estive.

Fez questão que eu o lesse ali mesmo, no ato da entrega. Na contracapa estava uma amorosa dedicatória que transcrevo: “Vovô, eu estava passeando com minha mãe e eu vi esse livro e comecei a ler. Tinha tudo a ver com você. Tudo está de acordo com o que você faz todos os dias comigo. Um beijo. Pedro Henrique. Feliz Natal”.

Lemos em conjunto e a cada página ele explicava: “você também faz isto comigo...” (tirar muitas fotos, ir ao parque, colocar dinheiro no cofrinho, contar histórias etc, etc.). Na página que falava “alguns vovôs colocam muito marshmallow no seu chocolate quente”, ele foi logo explicando: “vovô, esse caso aqui é o único que você não faz, pois não é tradição aqui no Brasil usar o marshmelo...”. Em cada página, cerca de 20, interrompíamos a leitura e comentávamos o evento, às vezes com sonoras gargalhadas por parecerem inusitadas as situações e até incomuns. Mas não eram, repetia eu: que bom que muitos outros vovôs também fazem o mesmo que faço com você. Passamos momentos felizes, ali, com seu presente nas mãos e rindo das histórias de relacionamento de vovôs com seus netinhos. E com seus olhinhos brilhando, leu para o vovô a última parte do livro: “Os vovôs são muito especiais, eles fazem você rir e ensinam coisas novas. Não esqueça de dizer a eles o quanto você os ama. Com amor no coração...”.

A mãe do menino contou, mais tarde, que ela não comprou de imediato o livro, ali na livraria, onde estavam e ele teve a oportunidade de lê-lo. Prometeu-lhe adquiri-lo num site de compras, juntamente com outros livros a serem encomendados. Durante toda a semana ele perguntava para a mãe se o livro do vovô havia chegado, ou quando chegaria e se chegaria antes do natal. Emocionei-me ainda mais, não bastasse ter presenciado a alegria do garoto, se deliciando com a leitura e confirmando a toda hora: “igualzinho a você, vovô”. Amor de criança..., não existe nada mais puro, mais inocente e verdadeiro! Eles simplesmente amam e têm um carinho muito verdadeiro. Eles tocam fundo nossa alma.

Mas, também é verdade que as crianças aprendem a amar sendo amadas. É uma via de mão dupla, onde nós, os adultos, devemos cuidar de ambas as faixas da via e com maior atenção a aquela onde estão os pequenos. Até imagino que o netinho, vendo o vovô, apaixonado por livros e pela escrita, tenha escolhido um livro com a melhor das intenções em presentear e retribuir amor. Interpretei aquele presente, o livro retratando nossa relação, como reconhecimento de que sempre estivemos presentes em sua vida e isto lhe proporcionou segurança, paz e muito amor no coração, dai sua vontade de mostrar ao vovô aquele livro que o alegrou. Crianças são como vasos vazios colocados em nossas mãos para que sejam cheios ao longo do tempo. E se o fizermos bem, elas nos retribuirão de imediato, pois basta olhar para elas para nos sentirmos felizes e acreditar mais na vida. Alguém é capaz de não dar um sorriso ao olhar para uma criança, mesmo estando em profunda tristeza? Costumo dizer que as crianças desarmam espíritos, levando-nos a pensar somente no amor, ao olharmos aquelas carinhas angelicais que exalam inocência e amor. O carinho e amor que dedicarmos às crianças serão, no futuro, a felicidade e o amor que os acompanharão por toda a vida.

Natal é a celebração do nascimento do menino Jesus. Deve ser por isso que elas, as crianças, sempre brilham nessa Festa e motivam-nos para a vida. Amém!

Feliz Natal

Brasília, 25 de dezembro de 2018

Paulo das Lavras


“Vovô... esse livro tem tudo que você faz para mim e por isso eu vou lhe presentear neste Natal”

Veja o que escrevi para você...



O hábito da leitura cultivado desde cedo...


Depois do trabalho, buscar o neto na escola... ah..., tem coisa mais prazerosa...? Além disso, estar presente é muito importante para a criança, pois lhe dá sensação de confiança e segurança.


Vamos dar cenoura fresquinha, arrancada na hora, para o cavalo, ali na cerca...?


... e o “reboque” barulhento, cheio de pedrinhas, que o vovô fez, serviu de brinquedo
 por muito tempo...


Enquanto se espera o show da Esquadrilha da Fumaça... vamos ler sobre a FAB...
Não basta o presente, ou ..., melhor que o presente é estar presente, ao lado das crianças



segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Prof. Nelson Wilibaldo Werlang - Réquiem 18-11-2018



A noticia do passamento, ontem 18/11/2018, de nosso querido Prof Nelson Werlang deixou-nos, a todos, muito tristes. É um pedaço de nós que se vai. Ficará em nossa alma a imagem daquele pai e professor amoroso que amava a todos e cuidava de nossa formação. Eu ainda era um garoto quando fui escolhido, por ele, para substitui-lo em uma de suas aulas de matemática para a classe do 2º ano do Curso de Normalistas, no Colégio de Lourdes. Emoção a mil, nunca esquecida e foi, assim, o  primeiro incentivo “oficial” que recebi para seguir sua trilha, de professor, embora, dias depois, soubesse por uma das alunas que “a aula até foi boa, mas o professorzinho, não era tão bonito quanto o titular...” . O professor riu demais quando soube da piada das alunas e eu lhe agradeci a oportunidade de estrear no magistério.

              Quis o destino que, depois de muito tempo, ele decidiu também ser professor na mesma universidade que eu, na nossa querida UFLA. Ali, demonstrou, uma vez mais, o seu brilho intelectual a ponto de provocar nos demais colegas da área de ciências exatas, a concessão, via Conselho Universitário, de título honoris causa, de Professor Emérito. Foi considerado o mais inteligente de toda a sua geração, ou simplesmente “Nelsão, O Mestre”. Poliglota, recebia alunos estrangeiros e os ensinava nos idiomas de origem, o inglês, francês, alemão (o preferido) espanhol (aprendi esse idioma com ele, no Manual de Espagnol, de Idel Becker/USP), e se ainda fosse necessário falava Latim e um pouco de Grego.

 Perdi um grande amigo, com o qual sempre me relacionava, ainda que à distância. “Der Lehrer” – assim, em alemão, eu sempre o chamava, carinhosamente. Nunca vamos esquecê-lo e tenho certeza que a profunda dor de hoje se transformará, em breve, em orgulho. Orgulho pelo que ele foi e fez para a família e milhares de ex-alunos como eu. Orgulho pelo que nós, todos, pudemos oferecer-lhe, o carinho e o reconhecimento, ainda em vida, por tudo que merecia.  E os familiares, especialmente os filhos, Érika e André, podem e devem se sentir duplamente recompensados e orgulhosos, pois  o levaram para perto, aí em BH e dele cuidaram com a maior atenção, carinho e amor.

E eu pude comprovar isso, ao visita-lo há uma ano, em sua casa, em BH, justamente ao lado do antigo endereço de minha sogra e, até nisso, minha alma se alegrou por ali estar. Por quase uma hora pude com ele conversar longamente, relembrar saudosas histórias e fatos acontecidos em Lavras. Mais do que isso, fiquei imensamente feliz por vê-lo ali, tranquilo e até se alegrar, descontraidamente, com a minha presença. Contou casos dos tempos de colégio e seus estudos na Alemanha, em 1962, os quais eu também os tinha bem presentes na memória, inclusive do primeiro dia de seu retorno da Europa, quando nós, seus alunos, o cercamos antes da primeira aula do ano letivo e o fizemos contar as novidades da Deustchland que, um dia, também sonhávamos conhecer. E seus relatos nos incentivaram ainda mais. Educador nato!

 Realizei o sonho, e de lá, em Carlsrhue, próximo à Baviera, para onde me dirigia, enviei-lhe um cartão postal (ainda não existia internet):  “Prezado professor, lhe prometi que um dia conheceria a “sua” Alemanha e aqui estou, ainda que tarde (1988), 25 anos depois. Você foi melhor que eu, pôde aqui estudar e eu somente vi a mais antiga das universidades, de Heidelberg, fundada em 1386 e hoje tenho 11 anos a mais que você quando aqui esteve...rsrs...”. E assim nossos laços iam se reforçando, apesar da distância, pois ele residia em Lavras e eu em Brasília. E nos deleitamos com as histórias mútuas de Brasil e Alemanha, naquela gostosa visita de setembro de 2017, ali em sua casa, na linda cidade de Belo Horizonte, onde trabalhei por um ano e frequentava o bairro e a mesma rua onde ele estava morando.

           Naquele dia que o visitei, tive a certeza de que, tão especial quanto ele, eram seus filhos que ali cuidavam de seu merecido bem estar. Não os encontrei, devido ao horário e escassez de tempo. Mas, pude imaginar o quão especiais vocês eram e certamente o são. Neste ano, liguei e falei com a cuidadora, que conheci antes e ela informou que ele estava repousando e passava relativamente bem. Postei a notícia nas redes sociais e muitos amigos curtiram e comentaram a satisfação pelas boas notícias. É por isso que lhes digo que, em breve, Deus removerá esse profundo e dolorido sentimento de perda e vocês se sentirão orgulhosos pelo que receberam e também pelo que retribuíram a esse valoroso e querido pai. Assim ele permanecerá para sempre em suas e nas nossas mentes.

Requiem aeternam dona eis, Domine, como recitávamos, acolitando o celebrante  nas missas do seminário e também do Colégio Aparecida, onde estudei e ele, o Prof Nelson Werlang, atuou por toda a vida. Descanso eterno dê-lhe, Senhor!

Que Deus nos conforte a todos.


Brasília, 19 de novembro de 2018

Paulo das Lavras

A Educação está em Luto, em Lavras e no Brasil. Perdemos, hoje, uma das mentes mais brilhantes, 
dos colégios (desde 1955), das faculdades e por último da Universidade Federal de Lavras, o 
 Prof. Nelson Wilibaldo Werlang.


O querido Mestre, Prof. Nelson, quando de minha visita, em setembro de 2017


domingo, 11 de novembro de 2018

Ser reconhecido ou reconhecer-se?


(para o Prof. Alfredo Scheid Lopes)


Certa vez o ministro Carlos Ayres Brito disse: “em tudo o que faço, não faço questão de ser reconhecido, mas em me reconhecer!”. Tal afirmação revela o profundo caráter da pessoa que sempre cumpriu sua missão sem esperar recompensas. Para essas, não importa agradar aos demais e sim, a correção o acerto de suas próprias atitudes, ainda que essas ações venham a afetar positiva ou negativamente a seus críticos. O importante é que a ação reflita aquilo que de mais essencial há em sua pessoa, a verdade, a ética e o respeito ao próximo.

Essa é mesmo uma verdade lapidar, própria de quem tem o controle sobre si e consciência de seus atos. Não existe maior recompensa que, ao chegar ao final da carreira profissional, ouvir ou receber homenagens pelo seu trabalho realizado. E essas homenagens são maiores, mais significativas, quando não esperadas. São as surpresas, mais que a ação propriamente dita, que mais tocam aqueles que bem cumpriram sua missão profissional.

Com esse preâmbulo, quero fazer um elogio, em cima de outros elogios, ao Professor Alfredo Scheid Lopes. Tenho acompanhado sua página nas redes sociais e ali sempre aparecem ex-alunos a elogiar seu competente trabalho, dedicação e zelo para com o futuro profissional de seus orientandos. Também faço parte desse coro de gratidão, e notem, fui aluno dele há exatos 54 anos. Sim cinquenta e quatro anos e ainda o tenho na memória e mais que isso com muita gratidão no coração. Agora, depois de tanto tempo, vejo que continua o mesmo. Ainda que aposentado, há bastante tempo, a universidade ofereceu-lhe uma sala, permanente, onde dá expediente, gratuitamente, para produção científica e de pesquisas e orientação de alunos de cursos de pós-graduação.

Parabéns, Prof. Alfredão, você foi o melhor não apenas na educação agrícola superior, mas também na profissão de especialista em Solos sob Cerrado, ajudando a desenvolver nossa agricultura nesse imenso cerradão nacional. Foi também, ao lado de extremo e positivo rigor nas exigências do aprendizado de seus alunos, o mais amigo, o maior incentivador profissional daqueles jovens rapazes e moças, seus alunos, até mesmo no esporte, onde você foi campeão sul americano. Sua humildade, simplicidade e ética no trato com todos, aliadas à capacidade e conhecimento técnico e extensa lista de publicações no país e no exterior, levou-nos à certeza de que ele nunca se preocupou em “ser reconhecido”, mas sim de transmitir a verdadeira formação aos seus alunos e trabalhar pelo desenvolvimento agrícola.

Isso é o que importa! E hoje (na verdade ao longo de toda sua vida profissional), você colhe os frutos de seu dedicado e competente trabalho. As palavras do ministro Ayres Brito estão certas, mas, no meu entendimento e em especial aplicado a você, faltou complementar: “... pois, o reconhecimento virá por acréscimo!”. E ele tem sido farto para você. Porque tudo que você fez veio direto do coração!
 

Que seus anos de vida se prolonguem e possa continuar a recompensadora colheita, por muito tempo ainda, além dos 80 já completados. Amém!

Brasília, 11 de novembro de 2018

Paulo das Lavras  



Professor Alfredo Scheid Lopes, recebendo uma homenagem internacional e em seu gabinete
 na Ufla, aos 80 anos de idade.

 "The state of mind which enables a man to do work of this kind … is akin to that of the religious worshipper or the lover; the daily effort comes from no deliberate intention or program,
but straight from the heart"
(Albert Einstein - From a Speech “Principles of Research”, 1918)

("O estado de espírito que permite que um homem faça um trabalho desse tipo é semelhante ao do adorador religioso ou do apaixonado; o esforço diário vem não de uma intenção ou um programa deliberado, mas direto do coração") 
 
Citação e tradução de Camilla Kovalsky, em homenagem ao Prof Alfredo S. Lopes)