quarta-feira, 17 de maio de 2023

Amigos presentes

 

Eu li hoje um conselho bem expressivo e de profundo conteúdo. Não sei quem é o autor, mas vale a pena ler, sentir e refletir:

“Gente precisa de gente para sentir cumplicidade, sentir amor, confiança, segurança e lealdade. Por isso, nesse caminho, quem quer caminhar sozinho não é  forte de verdade. Que o amor  seja presente, lhe fortaleça e que a vida lhe dê amigos, aos quais você sempre agradeça”

E nessas redes sociais a gente encontra de tudo, até mesmo amigos fiéis que sempre estão ali a lhe dizer algo, dando-nos a certeza de que não estamos sós. Diga aí, ou melhor, pense..., você tem seus amigos diletos dos quais sempre se lembra com alegria no coração. Por isso eles nos fazem “ricos”. Ricos de alegria na alma. E interessante, a maioria dos amigos vem das turmas da infância e dos tempos de estudantes. Nos conhecem e os conhecemos. Vida longa para os amigos... e como disse a cantora Rita Lee: Eu preciso de canções e amigos/ de amor, de flores, de abrigo... Literalmente!

 

Brasília, 17/05/2023

Paulo das Lavras


 Amigos nos fazem “ricos”. Ricos de alegria na alma. 
Foto: internet

 



segunda-feira, 8 de maio de 2023

Grupo Escolar Firmino Costa - anos de 1950

 

O querido grupo Escolar Firmino Costa, nos anos de 1950, o primeiro à direita. Do seu pátio o menino
 ouvia os acordes de piano da Ave Maria de Bach/Gounod, vindos do alto da torre da igreja matriz. 
 As três primeiras janelas da esquina eram da sala nº 02,  onde estudou o segundo ano primário
 com a professora Dona Margarida Massimo. 
Foto: Coleção Renato Libeck


Em fevereiro de 1953 o menino de sete anos (completaria oito dali exatos dois meses) foi matriculado no então Grupo Escolar Firmino Costa, tradicional educandário da cidade de Lavras. Dona Anita Carvalho foi minha primeira professora. Um doce de professora que se encarregou de alfabetizar os meninos que nunca antes haviam pegado num lápis. Hoje, as crianças já são matriculadas em creches, passando pelo maternal e jardim da infância, chegando às primeiras séries do ensino fundamental com bastante familiaridade com o lápis e o alfabeto. Mas, naquele tempo, não havia isso e o chamado primeiro ano do grupo escolar era mesmo onde e quando as crianças iriam pegar no lápis pela primeira vez. E que habilidade e sensibilidade aquela professora, D. Anita, tinha para lidar com os novatos em tudo, inclusive na disciplina em sala de aula por longas quatro horas.

Me lembro que fomos alfabetizados no livro de Lili, cuja primeira lição, num bonito cartaz dependurado acima do quadro negro e era assim:

 

 

Ah que saudade! Ela apontou para a gravura e perguntou: alguém sabe por que ela está com as mãos sobre a barriguinha? Ninguém soube responder. Na verdade, ela estava testando se algum aluno já saberia ler, mas ela mesma teve que responder: é porque ela comeu muito doce. Em uma semana aprendemos o bê-a-bá e pudemos ler a primeira historinha escrita para crianças em alfabetização. Dona Anita tinha uma didática fantástica, cuidava muito da pronúncia correta das palavras, por exemplo, o “de”, era dito como “dê” e não “di”, como era comumente pronunciado por todos. E ela caprichava na pronúncia e exigia o mesmo das crianças... “dê”...  Quando terminava o período daquela lição e era hora de se trocar o cartaz para a próxima e então escolhia dois alunos para levar à biblioteca o cartaz antigo e trazer o novo. Era uma festa. Um menino e uma menina chegavam à sala, cada um segurando a ponta do cartaz enrolado e entregava à professora. Curiosidade total da criançada, Como seria? Qual a ilustração que viria no cabeçalho do cartaz?  E este menino foi logo escolhido para a viagem do segundo cartaz. Dona Cate, a encarregada da secretaria/biblioteca procurou o novo cartaz, desenrolou-o, conferiu..., ali estava a segunda lição: O piano de Lili...  Ah, que lindo o cartaz, Lili ao piano, com sua cachorrinha em cima dele, ouvindo-a tocar. De imediato o menino se apaixonou pelo piano, cujos acordes apreciava, não somente da Ave Maria de Gounod/Bach que os alto-falantes da igreja Matriz tocavam três vezes ao dia, mas também pelo próprio do grupo escolar que sempre acompanhava os ensaios do hino nacional. E aquele piano de abertura da Ave Maria soava exatamente às 12:00h, todos os dias, quando estávamos em formação no pátio, para cantar o hino nacional e em seguida adentrar a sala de aula.  Tal qual a cachorrinha Suzete, ali em cima do piano, o menino tinha uma fascinação por esse instrumento, tanto assim que no internato do seminário, aos 12 anos, em sua hora de recreio procurava a sala de música para ouvir os colegas veteranos tocarem o Largo, de Haendel e ainda mais tarde, no jardim de Lavras, sentava-se no banco em frente ao sobrado do Capitão Evaristo para ouvir os acordes do famoso piano francês Pleyel, tocado constantemente pela professora Cecília Azevedo ensinando suas alunas. Ainda hoje, onde vejo um piano, peço alguém para tocar... e viajo no tempo da doce infância e da juventude passadas na culta Lavras do Funil.

 

Mas, voltando ao ritual das lições de Lili, chegávamos à sala de aula, com o cartaz enrolado e  Dona Anita interrompia a aula e solenemente o desenrolava e o  colocava, pelo barbante, na ponta da  varinha de apontar a matéria no quadro negro e o dependurava no alto, acima do quadro negro, onde permanecia por todo o tempo necessário. Já tínhamos sido alfabetizados na primeira lição e por isso conseguíamos, ainda que com certa dificuldade, ler aquela segunda lição:

Lili em seu piano.

 Lili toca piano

Lili toca assim dó, ré, mi, fá...

Suzete é a cachorrinha.

Suzete ouve Lili tocar.

“Toca Lili, toca dó ré mi, fá...

 

 

Não sei por que, mas, hoje, ao olhar os netos com seus notebooks estudando as lições ou pesquisando na internet, especialmente nesses dias de quarentena em que a educação tem migrado para o sistema de  EAD- Educação a Distância, bateu-me uma saudade danada daquela querida Escola onde aprendi a ler e gostar de ler. Lembrei-me de uma visita que ali fiz, em 2016, quando a Escola celebrava seu aniversário de 109 anos  e eu disse, ao microfone, às crianças que não me sentia envergonhado por ter sido flagrado com lágrimas nos olhos aos 71 anos de idade, pois aos 7 eu também chorara ao ser ali deixado pela primeira vez, naquele imenso pátio, em meio a centenas de crianças, a maioria desconhecida.  Agora sei, porque naquele dia não contive as lágrimas ali, diante de mais de 200 alunos perfilados no mesmo pátio onde eu corria, brincava de pique e jogava bolinha de gude, que à época chamávamos de bola de crique. Com certeza, a semente, chamada Amor, que ali plantaram no coração do menino, ainda está viva até hoje e não importa a minha idade de mais de 70 anos, pois a alegria registrada, marcada, armazenada nos escaninhos da alma é eterna.

Obrigado à Escola Estadual Firmino Costa, obrigado professoras Anita Carvalho e Margarida Pedrotti Massimo, diretora Neli Grego, dona Kátia, secretária e merendeira e a todos que nos marcaram para sempre, ali nesse mesmo lugar onde ainda se encontra até hoje. E para matar as saudades passei por ali exata e coincidentemente no dia de seu aniversário. A Escola estava em festa, e ao ouvir o Hino Nacional, cantado pelas crianças, atravessei a rua e para lá me dirigi, correndo, sem ser convidado, por puro instinto e adentrei aquele recinto tão caro à minha memória afetiva. Só alegria! Assisti a execução do hino e hasteamento da Bandeira. Fiquei de longe, tirando algumas fotos daquele pátio que tanto frequentei em 1953 e 54 (foto abaixo).   Ali, mesmo distante do palco, a Diretora Valéria Novaes do outro lado me avistou, correu ao meu encontro e literalmente arrastou-me para o palco. Passou-me o microfone e ordenou que falasse para as crianças. Emoção demais, lágrimas incontidas ao ver aquelas crianças ali perfiladas diante do Pavilhão Nacional e relembrar a minha infância de tanto tempo atrás.

 

Lavras deve muito a todos os que se dedicaram à essa Escola e aos que  hoje  cuidam para manter os ideais de seu fundador. É Patrimônio de Lavras. Sou aquilo que me moldaram, do berço às primeiras letras daqueles anos de 1953/54 e à educação completa, inclusive profissional, nessa Terra dos Ipês e das Escolas.

Obrigado, Lavras. Obrigado à diretora, Prof.ª Valéria Novaes,  obrigado às atuais professoras por valorizarem a Educação e pela afetuosa acolhida a este ex-aluno que pôde testemunhar o valor da semente do amor que todos vocês Educadores semearam e semeiam a cada dia.

 

Brasília-DF, 29 de junho de 2020

Paulo das Lavras


 Em 2018, visitando Lavras, contei ao netinho, que também reside em Brasília, 
 o orgulho de ali ter estudado. 
Foto do autor


 
Festa de aniversário da E E FC em 13/05/2016. Enquanto fotografava, fui avistado
 pela diretora...,  que me levou ao palco. 
Foto do autor


 
Depois de 63 anos de minha primeira matrícula na quela escola, voltei ao Firmino Costa, 
no dia de seu aniversário em 13/05/2016. 
Foto: arquivos da Escola Estadual Firmino Costa


 
  Ao lado da Diretora Valéria Novaes, um ex-aluno falando aos alunos. 
Foto: arquivos da Escola Estadual Firmino Costa


 ... e os meninos foram buscar a Bandeira Nacional, março de 2016, tal qual fui buscar o cartaz 
da lição de Lili e seu piano..., ali naquela mesma sala de 63 anos antes.


 


 Professores da E.E. Firmino Costa – 2016. 
Foto: arquivos da Escola 


 A Diretora Valéria Novaes, entregando premiaçãona festa de 13/05/2016. 
Foto: arquivos da E.E. Firmino Costa

 

 
Capa do Livro de Lili – anos 1950


 Livro de Lili - Lição: Burrinho Mimoso. Interessante que uma das próximas lições, 
Joãozinho cai do burrinho e cujo título ainda me recordo: Ai, ai..., Mimoso