sexta-feira, 31 de maio de 2019

A arte de fazer só o que der vontade


A crônica escrita pelo paisagista e editor da Revista Natureza, Roberto Araújo, na edição de abril de 2019, e da qual plagiei o título, enaltece a nova fase de nossa vida, de aposentado e geralmente depois dos sessenta anos. Diz ele que, merecemos ter um refúgio, quando então pode brotar uma nova fase da vida. Completa, o autor, afirmando que “num momento só seu podem renascer o entusiasmo infantil e a crença de que, sim, o futuro pode ser muito interessante de ser vivido. E você voltará à luta renovado e feliz”.  Pura verdade e só mesmo quem já se aposentou e tem todo o tempo do mundo para si, é capaz de entender e praticar isso. E nem é preciso apelar para a sabedoria bíblica nos ensinando que é preciso se tornar uma criança para ganhar o reino dos céus. E entenda-se como reino dos céus, a felicidade a alegria, próprias das crianças.

 Sou assim, ou melhor, estou assim! Acabaram-se os compromissos profissionais, as cobranças, os horários, a cara de paisagem ainda que o interlocutor tenha sido grosseiro ou injusto, os erros, as faltas, invejas e ambições profissionais.  No âmbito familiar, os filhos já seguiram seu rumo e conduzem as próprias vidas. Enfim, chegou a calmaria, tempo de se tornar criança, com elas brincar e entender o que o filósofo Rubens Alves quis dizer: “Os velhos...... no mesmo tempo a vida é alegria....

Assim, temos tempo para tudo, ou melhor, para fazer só o que der vontade...! E eu já estou nessa há tempo. Mergulhar nas reminiscências da infância e da juventude e transformar os casos em crônicas é uma das atividades que mais gosto. Buscar os netos no colégio ou lá participar de suas atividades extracurriculares, como competições, exposições de trabalhos manuais, artísticos e culturais nos dão um prazer enorme, como também leva-los às atividades de lazer, tomar um sorvete e tudo mais. Tudo isso nos proporciona enorme satisfação.

Fazer só o que der vontade é, sim, mais que uma terapia. É colher os frutos daquilo que plantamos. Nesse sentido, tenho ainda outra enorme paixão, o paisagismo. Planejar, plantar e cuidar do jardins e sua fauna e ainda dos equipamentos dos parques, é outra atividade que nos engrandece. O trabalho voluntário, de cuidar da quadra-parque onde moramos, é sem dúvida dos mais gratificantes. Encontrar ali as mães, cuidadoras e as crianças, usufruindo do ambiente acolhedor é, sem dúvida, a mais gratificante das recompensas. Há mães que se deslocam de outras quadras e vêm, com seus filhinhos, para o nosso espaço publico, pois aqui há cuidados. Não tem preço ouvir isto de uma mãe.

            Fazer só o que der vontade é fazer aquilo que gostamos. E nem precisa ser aposentado. Meus finais de semana em Brasília, quando não em viagem com a família, quase todos são passados na chácara, meu paraíso. Ali, durante quase trinta anos construí tudo, pessoalmente, da casa ao paisagismo e com profundo gosto pela natureza, amor à terra, às plantas, jardins  e aos animais domésticos e silvestres. Estes, os animais silvestres, aprendi a tê-los por perto oferecendo-lhes farta alimentação natural e proteção. Não faltam para eles as fruteiras, lagos e florestas que ali plantei, especialmente para isso. Nos lagos há peixinhos que servem para a pescaria das crianças que, ao final, os devolvem ao seu habitat natural. Ali, na chácara, há de tudo para o lazer das crianças e mais, grande variedade de fruteiras, das mais comuns às mais exóticas como a pera, maçã, côco, lixia, caqui, noni, noz-macadâmia, castanha portuguesa e tudo mais que um agrônomo sabe cultivar. Dizem que certas fruteiras você planta para que os filhos e netos colham os frutos e devido ao longo tempo de espera da frutificação, talvez você próprio não alcance a colheita. Mas, felizmente, tenho colhido de todas as que plantei e assim a satisfação é dobrada, ver os netos colherem e ainda lhe oferecer, às vezes lá do alto da árvore.
Assim é, então, a arte de fazer só o que der vontade.... Pura felicidade!

Brasília, 31 de maio de 2019

Paulo das Lavras



Grelhar um beef ancho, alto, macio e delicioso, em casa... e saborear um aperitivo
 de vinho do Porto, é a pura arte de fazer só o que der vontade...rsrs



.... ou descansar na rede e apreciar a beleza do Manacá Serra,

todo florido nesse mês de maio...



quarta-feira, 1 de maio de 2019

Felicidade não tem idade


Albert Camus, escritor, filósofo e jornalista francês (1913- 1960) escreveu poemas, peças de teatro, novelas e filmes, desenvolvendo um humanismo baseado na consciência do absurdo da condição humana e na revolta como uma resposta a esse absurdo. A revolta leva à ação e dá sentido ao mundo e à vida, nascendo em nós a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer, disse o filósofo. Dentre tantos conceitos sobre a vida, deixados por esse grande humanista, que viveu na primeira metade do século passado e enfrentou a onda do existencialismo e do marxismo, destacamos:

“Sempre há um menino em todos os homens. A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente. Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice. Paradoxalmente, todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado”.

            Vê-se, portanto que a felicidade cabe em qualquer fase da vida e, de certo modo, não podemos afirmar que a vida é mais feliz na infância, ou na juventude ou ainda na velhice. Mas, podemos afirmar, com certeza, que é na velhice que descobrimos o quão fomos e somos felizes. E a primeira prova é aquele velho ditado que sempre lançamos mão quando nos referimos à infância ou juventude. “éramos felizes e não sabíamos”. Sim, não sabíamos, pois quando crianças ou jovens, não nos preocupávamos muito com a reflexão sobre os valores da vida. Era tudo “alegria”, valia apenas o presente, o hoje, o agora como convém às crianças e jovens. Hoje, ao contrário, quando o tempo já se foi, encontramo-nos com o passado, voltamos à infância e à juventude e delas podemos extrair, enxergar o quão fôramos felizes. Ora, o simples fato de nos vermos felizes naquele passado já nos torna felizes. E foi por isso que outro filósofo, querido na minha terra, onde passou parte de sua vida como professor, Rubem Alves, disse que:
... quando velhos, nos tornamos crianças e junto com elas reaprendemos que a vida é brinquedo, é alegria. E assim se expressou: As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo. As crianças ainda sabem aquilo que os velhos esqueceram e têm de aprender de novo: que a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria!  Tem coisa melhor do que ver e acompanhar as descobertas das crianças? Querem descobrir e aprender sobre tudo ao redor, aquilo que nós, naquela idade, também queríamos. Não há nada melhor do que ver e acompanhar as descobertas deles. Juntar-se a eles..., é a glória para os avós... Por isso, confirma-se o dito por Rubem Alves: “Nos tornamos crianças e com elas reaprendemos que a vida é brinquedo, é alegria”.

            Deve ser exatamente por isso que, quando chegamos à chamada terceira idade, buscamos refletir um pouco mais sobre os valores da vida. E tudo nos remete ao passado “feliz”, como a confirmar aquele velho ditado do “éramos felizes e não sabíamos”. E hoje, então, descobrimos, também, que a escrita é das melhores terapias para a alma. O ato de escrever é solitário e por isso permite uma profunda imersão no passado e ali encontramos as melhores reminiscências. Camus está certíssimo, ao afirmar que “Sempre há um menino em todos os homens. A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente. Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós”. Mas, eu acrescento: sim, os velhos andam sós, mas bem acompanhados de livros e suas próprias reminiscências.

Sim, brindemos a alegria de viver. Albert Camus, o humanista e o não menos igual, Rubem Alves nos ensinam que a felicidade mora em nós, em qualquer fase da vida.
Felicidade não tem idade!

Brasília, 01 de maio de 2019

Paulo das Lavras





Montando álbum da Copa Mundial de Futebol de 2014 com os netinhos.
É como se você estivesse “fazendo o seu próprio álbum”, na infância, tal qual afirmado
por Rubem Alves: “ As almas dos velhos e das crianças brincam no mesmo tempo”

Felicidade não tem idade!
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