quinta-feira, 20 de junho de 2019

Corpus Christi – 2019


Hoje, 20 de junho, celebra-se na Igreja Católica Romana a liturgia de Corpus Christi, simbolizando a Eucaristia. Embora tenha deixado a igreja há mais de 50 anos, ainda guardo lembranças daquele tempo de Seminário (sim, amigos, o menino de 12 anos queria ser padre...) e de coroinha na Igreja Matriz de Santana das Lavras do Funil. Naquela principal paróquia da cidade, coordenados pelo saudoso padre Miguel Moretti, caridoso e querido por toda a comunidade católica, nós, os coroinhas, gostávamos de acolitar as missas, respondendo em |Latim todas as orações e homilias ... Incrível como ainda hoje as guardo de cor e posso recitá-las ou cantar os mais belos cânticos gregorianos de júbilo, como o belíssimo cântico que dificilmente o menino o concluía, no coral de seminaristas, sem derramar lágrimas de emoção. Ainda hoje a emoção ao ouvi-la é a mesma, pelo significado de sua mensagem e muito mais pela melodia que penetra fundo em nossa alma: Adeste fidelis - venite adoremus Dominum, Deum de Deo, lumen de lumine Deum verum, genitum non factum (veja, ouça, medite : https://www.youtube.com/watch?v=D5ONtCZUhZ0). Além dessas, de gaudio, que derretem nossos corações, havia também os cânticos de luto, para as cerimônias fúnebres e que também nos provocavam lágrimas, porém em sentido contrário, pois estavam ali para nos lembrar o dia do juízo final, como o Dies iræ, dies illa, solvet sæclum in favilla... Muitas são as lembranças daqueles cânticos que alimentavam a alma do menino, num internato bem distante da família. Marcas indeléveis, doces de se reviverem.

E hoje foi dia disso, de recordar, diante dos noticiários de TV, mostrando a beleza das decorações das ruas, preparadas para o ato litúrgico. Aqui em Brasília, como em muitas cidades de Minas Gerais, há a tradição de se confeccionar tapetes multicoloridos para a passagem da procissão de Corpus Christi. São verdadeiras obras de arte, exibindo variegados mosaicos com motivos religiosos. Em 2015 visitei os tapetes, na Esplanada dos Ministérios, quando ainda estavam sendo confeccionados. Lindos e mais bonito ainda a dedicação dos jovens, em grupos organizados, a executarem as tarefas de transformar um projeto, com esmerado lay out, em realidade colorida.

E nessas recordações o nosso subconsciente rola e nos mostra um filme completo das emoções religiosas. Os tapetes de serragens e corantes, os coroinhas com suas batinas vermelhas e sobrepelizes brancas, tudo enfim que vivemos e convivemos, mesmo depois de passados mais de 50 anos, aparecem com nitidez e emoção em dobro.

Um bom feriado para todos, cheio de meditações que reconfortem a alma.

Brasília. 20 de junho de 2019

Paulo das Lavras




Em 2016 participei da celebração da festa do Marmelo, na zona rural de Brasília.
Os coroinhas, Ronaldo e Taliene, fizeram-me recordar os tempos de coroinha
na Matriz de Santana, em Lavras, quase 60 anos atrás.
Ostentávamos essa batina com o maior orgulho. A impressão que tínhamos era que
 as cores vermelha e branca simbolizavam o sangue do cordeiro de Deus e a alvura de nossa alma
que iria para o Céu prometido.
 Como no decorrer da missa ficávamos, o celebrante e os coroinhas, de costas para os fiéis, sempre que podíamos, dávamos uma olhadela para trás, como a dizer para eles: aqui estamos, somos especiais, temos garantido um lugar nos céus. Santa inocência..., só não me lembro se, com esse pensamento de imunidade e garantia da Glória Celestial, nós os coroinhas podíamos pecar mais que os outros meninos...rsrs

Aqui, mesmo depois de 60 anos que usei aquela bonita batina vermelha e branca, e estando na simplicidade da zona rural, de onde também sou originário, a emoção falou mais alto e foi inevitável, não falar com os fervorosos meninos, tais quais um dia também fui.


Catedral de Brasília, ao lado da qual se realiza a celebração de Corpus Christi
Foto do autor


Jovens executando o lay out do tapete com serragem colorida


A alegria dos jovens, que vieram de longe para executar seu projeto alegórico,
 um dos vencedores de  2015 entre tantos concorrentes


Falando com a repórter Camila Guimarães do DF-TV,
sobre as emoções do passado, quando menino seminarista 


57 anos depois o “foragido” do Seminário reapareceu entre o
Bispo DomValdir e seminaristas de Brasília. Ficaram
surpresos com a história.... e caíram na gargalhada, mas, não sem antes
 me recomendarem que devo orar muito para ganhar o Céu... rsrs
Foto do autor – Catedral de Brasília, 2015





quinta-feira, 6 de junho de 2019

06 de junho – O “Dia D” do desembarque na Normandia


Neste 06 de Junho de 2019 comemora-se o Dia D da Segunda Guerra Mundial. São passados 75 anos da invasão da Normandia pelas tropas aliadas. Nenhum país do mundo fez tanto pela liberdade e democracia dos povos quanto a França. Em menos de 150 anos foi palco de dois eventos marcantes. A Revolução Francesa de 1789, que estabeleceu os princípios da democracia, com seu slogan, Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), incorporado nas Constituições nacionais de muitos países. Aqui também serviu de inspiração para nossos idealistas, que sonhavam com a independência do Brasil, liderados por Tiradentes. O segundo evento, na França, também marcante para a humanidade, foi a batalha do Dia D, realizada em 06 de junho de 1944, nas praias da Normandia. Aquela sangrenta batalha tinha como objetivo resgatar a liberdade, o bem mais precioso da humanidade, oprimida pelo nazismo de Adolf Hitler.

Visitamos aquele antigo teatro de guerra, na cidade de Caen e praias da Normandia. Ali ainda estão as marcas, guardadas como um memorial para conhecimento das gerações. Foram mortos mais de dez mil soldados das tropas aliadas, metralhados pela artilharia alemã, posicionada estrategicamente em casamatas superprotegidas no alto dos penhascos Foram as batalhas mais ferozes daquela 2ª Grande Guerra. Vinte e quatro mil cidadãos de Caen morreram e a cidade teve 70% de sua área destruída. Hoje, 75 anos depois, a memória ainda está viva.

As celebrações desses 75 anos do Dia D iniciaram-se ontem, na Inglaterra e se prolongam hoje na França. Chefes de Estado de vários países lá estão, rememorando a vitória e o heroísmo dos soldados combatentes, vivos e mortos, aos quais se prestam, hoje e sempre, a merecidas honras de toda a humanidade. Visitar aqueles locais e conhecer os campos de batalha, os museus e, sobretudo, o Cemitério Americano da Normandia, onde estão sepultados cerca de dez mil soldados, foi uma experiência extraordinariamente emocionante e de muita gratidão aos que ali tombaram em defesa da liberdade dos povos.

Naquele monumental Cemitério observei dois fatos interessantes. Registrei-os  em fotos: O primeiro é a Estrela de David, símbolo dos judeus que não aceitam a cruz, símbolo dos católicos. Em meio à quase dez mil cruzes brancas destacam-se em seus lugares, algumas estrelas. O segundo destaque e talvez o principal daquele monumento, é a enorme escultura em bronze, de 6,70m de altura, intitulada: “Spirit of American Youth Rising from the Waves” (Espírito da juventude americana ressurgindo das ondas). A escultura representa um jovem americano ressurgindo das ondas do mar, com os braços e mãos estendidos, olhando para os céus a contemplar a Glória da chegada do Senhor. Representa os soldados saindo das águas do mar, naquele trágico desembarque das tropas, e embora muitos tivessem sido feridos de morte, ainda conseguiram chegar ao alto daquela colina onde jazem seus corpos. E assim, gloriosos, emergem das ondas que ficaram abaixo e veem a Glória da chegada do Senhor que veio arrebatá-los. Belíssima alegoria, e mais emocionante ainda é saber que a estátua está voltada para o ocidente, mirando o caminho de volta que eles, os soldados, almejavam..., a sua casa, na distante América, do outro lado do Atlântico.

O Dia D foi o dia decisivo, pois a partir dele iniciou-se o fim da 2ª Guerra Mundial. Logo em seguida, em julho, a França foi libertada e em abril seguinte a Alemanha se rendeu. Em agosto de 1945, com as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, caiu a última resistência com a rendição japonesa. Por outro lado, a participação brasileira teve como palco os campos de batalha na Itália, com expressivas vitórias, mas também lá deixando mais de 400 soldados tombados em combate. Dentre eles estavam combatentes de Lavras, minha terra natal. A eles presto minhas homenagens, em crônica intitulada “A aviação de guerra em Lavras e o amigo alemão”, a ser publicada em breve.

Hoje, 06 de junho, nada mais justo do que se lembrar e reverenciar a memória daqueles que lutaram pelos ideais da liberdade de todos nós e muitos deles tombaram nos campos de batalha.

Brasília, 06 de junho de 2019

Paulo das Lavras



Visita emocionante – Cemitério Americano da Normandia
Mais de 10 mil combatentes ali repousam
Foto do autor – dezembro 2013




“Spirit of American Youth Rising From the Waves”, escultura simbolizando
a partida do soldado tombado em combate. Ressurgindo das ondas do mar,
onde desembarcaram e tombaram.  Braços estendidos e olhar para a Glória
da chegada do Senhor. A estátua está voltada para o ocidente, mirando o
caminho  de volta que eles, os soldados, almejavam... sua casa, na distante
América, do outro lado do Atlântico...  Comovente!
Foto do autor- dezembro de 2013



A Estrela de David substitui a cruz dos cristãos
Foto do autor: Cemitério Americano da Normandia – dez 2013


Chegando à praia de Omaha, na Normandia. Alvo fácil para a artilharia alemã,
posicionada nas casamatas, no alto dos penhascos
Foto: Internet



Conhecendo a casa mata com canhões e metralhadoras no alto dos
penhascos da praia de Omaha, na Normandia. Em um único dia os
 alemães dizimaram mais de 2.000 soldados das tropas aliadas
Foto do autor – dezembro 2013




Foto: Arquivos da FEB


Robert Reitzer, primeiro à direita, oficial francês em missão
em Berlim, onde foi resgatar o acervo de arte roubado do Museu do Louvre.
Essa foto pertence ao acervo familiar do amigo, Daniel Reitzer,
 filho daquele oficial, que nos hospedou e acompanhou-nos às
visitas dos campos de batalha e museus, na França e Alemanha.
Foto: Arquivos de Daniel Reltzer


Nas comemorações dos 70 anos do Dia D . Retornar à areia da praia,
onde foi recebido à bala pelos alemães e assistiu ao tombamento de milhares
 de combatentes, merece mesmo um ato de amor e agradecimento por ter se salvado
 e ajudado a libertar-nos  da tirania, medo e privação da liberdade.
Foto: internet 2014



Conhecendo o Museu do Desembarque- Normandia
Foto do autor- dez 2013


Comemorações dos 75 anos do Dia D. Chefes de Estado de vários países,
em  Portsmouth/Reino Unido, em 05/06/2019, juntamente com 300 veteranos
Foto: AFP 


Jovens ouvindo relatos de guerra, ali nas praias da Normandia
Foto: El País- 06/06/2019


Conversando com oTenente Vinicius Venus Gomes da Silva, Presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, lutou em Monte Castelo pelo 1 Grupo de Aviação de Caça,  o famoso do Esquadrão Senta Pua, bombardeando as tropas alemãs, tanto nas frentes de combate como na retaguarda, enfraquecendo-as e  facilitando  sobremaneira a ação da infantaria.  Ouvir dele a narrativa da vitória daquelas sangrentas batalhas e ao final,  tomar em definitivo o estratégico Monte Castelo, foi muito emocionante. Afinal, o
 destemido e corajoso piloto de guerra tinha apenas 19 anos.
Foto do autor: desfile 7 de Setembro 2014- Brasília-DF


Monumento aos Pracinhas – Lavras, MG
Foto do autor - 2018



Monumento aos Pracinhas - Lavras MG
Foto do autor - 2018


Três pracinhas lavrense nos campos de combate da Itália, em 1945. Ao centro, Coriolano Botelho
Foto: arquivos da família Botelho





Lavras tem história nas guerras. Esse avião de guerra, um Morane Saulnier – 130, prefixo K224,
 fez um pouso forçado na cidade de Lavras,  em 06/10/1930. O piloto, Sargento, Carlos Brunswick França, aparece em primeiro plano, com a bota sobre a roda do avião,. À esquerda o mecânico
 e co-piloto Dinarco Reis e ao fundo os mecânicos da cidade, que ajudaram a restaurar
 a aeronave que ficara bem danificada.  Mas, essa é outra história....
Foto: arquivos de Renato Libeck