quinta-feira, 12 de março de 2015

Reencontrei minha grande Mulher no MEC


A minha primeira visita a um prédio do MEC foi no Rio de Janeiro, bem ali no centro, na Avenida Graça Aranha, no Palácio da Cultura. Inaugurado em 1947, foi projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, conforme diretrizes do esboço elaborado pelo famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Quando o visitei pela primeira vez, em janeiro de 1968, o Ministério da Educação não mais funcionava ali e sim a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior. Não achei tanta novidade assim no famoso prédio apontado como um marco da arquitetura moderna no Brasil. Notei os pilotis vazados, no mesmo estilo que Niemeyer consagrou em Brasília. Também o paisagismo de Burle Marx era bastante notado, destacando-se ainda a bela escultura de autoria de Bruno Giorgio, o Monumento à Juventude. Também os andares do prédio eram vazados, sem paredes e com divisórias de madeira de pouco mais de 1,60 metros de altura. Bem mais tarde, quando já trabalhava no MEC, em Brasília, frequentava o prédio no Rio que, então, abrigava a Delegacia Regional do MEC. Atualmente funcionam ali alguns órgãos do Ministério da Cultura.

Mas, embora a escultura de autoria de Bruno Giorgio, ali plantada nos jardins do Palácio da Cultura, retratasse o vigor da juventude, não foi aquela jovem mulher que me atraiu. Encantei-me por outra mulher, no próprio MEC, em Brasília. Mais madura e inspirava mais confiança e ternura. Foi amor à primeira vista, encontrei-a bem ali no saguão do edifício na Esplanada dos Ministérios, o Bloco L. Estava de pé, um pouco curvada e segurava uma toalha nas mãos apoiada sobre a perna. Até parecia que tinha saído do banho e chamava a atenção não só por isso, mas também pela sua grande estatura. Era bastante alta. O menino ainda era bem jovem, 28 anos apenas, mas já ocupava o cargo pró-reitor de Pós-Graduação da UFLA que ainda era conhecida por ESAL e, assim, vinha frequentemente ao Ministério da Educação. E a mulher, grandona, sempre estava lá e a admiração foi crescendo até passar a pertencer-lhe, quando se mudou para Brasília e foi trabalhar justamente no MEC. Todos os dias a encontrava, no mesmo lugar e ninguém desconfiava da sua admiração por ela.

Chegar diariamente ao local de trabalho e adentrar o enorme saguão do MEC, com persianas verticais esverdeadas, cristal fumê revestindo de alto a baixo todas as colunas de sustentação e também as paredes laterais dos seis elevadores e ainda os espelhos de cristal no interior dos próprios elevadores, já era, por tudo isso, bastante prazeroso. A arquitetura interior era bem refinada. Imagine, ainda, ser recebido por aquela mesma mulher que cativou minha admiração desde a primeira vez que ali pisei como visitante. Prazer redobrado, diariamente. Há um ditado que diz que quem faz o que gosta..., não terá trabalhado um dia sequer, pois a atividade lhe causa prazer. Mas, não durou muito aquele amor no dia a dia, pois alguém, sem avisar, retirou aquela bela mulher que me encantara. Sumiu, desapareceu, nunca mais tive notícia dela. Lamentei, perguntei e... ninguém soube ou quis me dizer para onde ela foi. Imaginei que tivesse migrado para outro Ministério, coisa comum em Brasília, principalmente quando se troca de governo. Percorri vários Ministérios, ainda que em missões de trabalho, mas mesmo assim nunca mais a encontrei. Perdi minha musa, para sempre, imaginava.

Mas..., subitamente, num belo dia do início de janeiro do corrente ano, acompanhando meu irmão numa visita ao Palácio da Alvorada, eis que, não mais que de repente, dei de cara com ela, justamente na entrada do mais belo salão do majestoso Palácio onde reside a presidente da República. Ali estava ela, no enorme e belíssimo Salão Nobre do palácio, como o mesmo olhar. Não pude conter certo grito de surpresa, que chamou a atenção de todos que ali se encontravam. Exclamei diante dela, de alto e bom som: Ah! Então é assim, sumiu do saguão do Ministério da Educação para vir e ficar aqui, neste enorme e magnífico salão para receber reis, rainhas e dignitários do mundo inteiro? Está bem..., é compreensível que uma mulher dessa estatura e reputação escultural merecia mais, tinha mesmo que ser exibida aos mais ilustres visitantes do mundo. Admiradores não faltam e lógico, a preferencia é ficar no palácio. Mas, ainda assim a fotografei bastante e diante dela contei a todos sobre o nosso relacionamento. Até o mestre de cerimônia, daquele magnífico Salão Nobre do Palácio da Alvorada, parou e ouviu a história.

Meu irmão e sua esposa olharam-me incrédulos. Fotografei a outrora admirada e dei um tchauzinho carinhoso para aquela que foi minha musa por muito tempo, ali no MEC e que ficara desaparecida por mais de vinte anos. Acenei e disse: Gostei de te ver... está do mesmo jeitinho, bonita e ainda não se cansou segurar uma toalha... O escultor  Brecheret, seu pai, foi mestre na arte.

 Brasília, 12 de março de 2015

Paulo das Lavras
 
  Poucos dias depois de reencontrar o mulherão, fui a uma
                                   Exposição de esculturas do artista plástico Victor Brecheret,
                                   na Galeria do Museu dos Correios, em Brasília. Escultor
famoso, é autor da estátua de Duque de Caxias e Monumento
 aos Imigrantes/Ibirapuera, ambos em São Paulo
 

 
 
 
A minha querida mulherona, “Morena”, de Brecheret, ainda
 no saguão do MEC onde a conheci e admirava diariamente.
 

 
 
 
 
A bela “Morena”, escultura de Brecheret, agora no Salão Nobre
              do Palácio da Alvorada, reencontrada depois de 20 anos.
 
 

Morenas, de Brecheret, ornando a entrada do belíssimo Salão Nobre
do Palácio da Alvorada
 
 

 

 
Outra vista do Salão Nobre
 
 

 
Visitando o Alvorada. Surpresa ao reencontrar as esculturas de Brecheret
 em seu interior. A fundo da foto as “Iaras” de Alfredo Ceschiatti
 

 

O Monumento à Juventude, no prédio do MEC no Rio de Janeiro

 
 
 


 


 
 

domingo, 8 de março de 2015

Brasília florida (1)- Quaresmeiras


Brasília dá show de flores o ano inteiro. Agora, janeiro e fevereiro de 2015, é época das quaresmeiras floridas nas cores roxa e rosa. Fotografei algumas na chácara e no eixo rodoviário sul, próximo à minha casa.
        O festival de árvores floridas começou em julho/agosto com os ipês multicoloridos. Em setembro/outubro foi a vez dos flamboyants e novembro/dezembro os cambuís ou cana-fístula. Agora, as quaresmeiras, além das acácias amarelas (fedegoso) que já começaram a florescer. A série de árvores floridas promete...

 Brasília, de 18 de fevereiro de 2015

Paulo das Lavras
 
 
Exuberante quaresmeira roxa, na chácara- Brasília

 

 
Mais quaresmeira na chácara 

 
 
Ainda na chácara

 
No Eixinho Sul, de Brasília
 
 
No Eixão Sul

 
 
 
 
 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Mulher..., escrava?


Em 1977 a ONU instituiu o oito de março como Dia Internacional da Mulher. Nada mais justo, embora discorde, em tese, da escolha de dias especiais para se celebrar ou homenagear alguém. Dia das mães, dos pais, dos negros, dos índios, da fraternidade..., por que isso se tais pessoas ou ações deveriam ser celebradas diariamente? Nada é à toa na escolha de um dia para tal. E o motivo é um só, faltam atenção, respeito, carinho e tudo mais que seria obrigação diária: reconhecer os méritos. Por isso, vivam as Mulheres nesse seu dia e sempre!


Mas, esse dia especial também nos convida à reflexão sobre alguns problemas que o gênero feminino enfrenta na sociedade. Portanto, vejamos alguns. Ano passado o IPEA divulgou informações incorretas afirmando que 65% dos homens entrevistados teriam respondido que as mulheres merecem ser estupradas. Chocou-nos a todos, ainda que o número verdadeiro fosse 26% e não 65%. Virou piada nacional a incompetência do outrora conceituado instituto de pesquisas, onde técnicos e dirigentes até pediram demissão por conta do grave erro. Também, quer o quê, quando a pesquisa coloca em suas perguntas o viés machista, induzindo-se à resposta desejada? Qualquer pesquisador social sabe que não se pode formular pergunta induzida. Se for para induzir, por que não se usou pergunta de forma inversa e justificada? Bastaria perguntar se a mulher que não tem condições financeiras para se manter e não deseja abandonar os filhos com companheiro violento, embora tenha vontade de abandonar a casa, mas ainda assim é obrigada a continuar ali, merece continuar sendo estuprada? Garanto que a resposta chegaria a quase 100%..., de “Não”, pois quase ninguém ignora que há a Lei Maria da Penha e tem consciência do respeito que se deve a ela.
 

No Brasil se tem notícia das injustiças que se praticavam contra as mulheres desde os tempos do Pe. Antônio Vieira. Em seus textos, dos anos 1600, escreveu: “A mulher só deve sair de casa três vezes: no batismo, no casamento e no próprio enterro”. Mulher escrava, como ilustra o título desta crônica que à primeira vista pode parecer incoerente, ou até mesmo grosseiro para uma data especial como o 8 de Março. Mas não é, embora já se tenham passado 400 anos. Passou da hora de se reconhecer os direitos iguais. Chega de machismo patriarcal. Elas são maioria da população, maioria nas universidades, maioria na qualificação em cursos superiores.... e então falta o que? Quer exemplos gritantes de injustiça? A mulher ainda não tem o direito de ir ao cartório e registrar seu filho. Só o homem pode fazer isso nos primeiros quinze dias após o nascimento do bebê. Ainda sobre a maternidade, não se concede a licença de seis meses às mães que trabalhem em micro e pequenas empresas. Somente aquelas de grandes empresas têm esse direito. Nesse caso o legislador (machista, patriarcal?) ignorou a cláusula pétrea da Constituição que garante a igualdade dos direitos, para atender, exclusivamente, a interesses econômicos. Cientificamente está comprovado que os primeiros meses de vida são os mais importantes para a vida da criança e do futuro adulto. É nesse período que o cérebro humano exige condições adequadas do ponto de vista da nutrição, afetivas e psicológicas para o seu desenvolvimento. Somente assim a criança terá condições de consolidar seu crescimento de modo a sustentar, mais adiante, a maturação da personalidade. A mãe ao amamentar nutre a criança e cria nela a percepção da identidade, a alma do bebê. Nãos se pode discriminar a mulher que trabalha na micro e pequena empresa. Por que só as que estão nas grandes empresas têm esse direito? O impacto social negativo dessa discriminação traz efeitos danosos, pois o nível intelectual da sociedade sofre grandes perdas, com prejuízos injustificáveis em favor do poder econômico.

Mas, não nos alongaremos tanto neste dia especial. Deixaremos para outra oportunidade a discussão de questões como a injustiça da tripla carga horária de trabalho, a má vontade de boa parte dos homens para a compatibilização das atividades profissionais com as de casa e até mesmo na educação dos filhos, recaindo sobre ela a maior responsabilidade doméstica. Cerca de 65% das mulheres trabalham fora e são as provedoras do lar. Pesquisas no DF mostraram que elas estão mais bem preparadas, tecnicamente, com mais tempo de estudos que os homens e.... ganham 30% menos que eles. Enquanto isso, o pensamento machista patriarcal ainda acha que o trabalho no lar não tem valor econômico. O PNAD 2011 revelou que a mulher que trabalha fora ainda acumula 22,3 horas semanais de serviço doméstico, enquanto que os homens apenas 10,2 horas. Grande equívoco, pois o lar é imprescindível para o crescimento da sociedade, da nação. Assim, continuam reforçando a discriminação da mulher, relegando-a a papel subserviente, subalterno como nos tempos da escravidão. Deveriam, sim, os homens e os políticos, trabalhar para reforçar as ações em prol da família, quer por meio da construção de creches, escolas em tempo integral e serviços de cuidados com idosos. Talvez assim agindo, em nome de uma política socialmente justa, possa a mulher, em futuro que espero seja bem próximo, ter a liberdade e a igualdade de direitos na busca de seu futuro de acordo, exclusivamente, com a sua consciência e sem ser ou se sentir vítima da discriminação, injustiças e violência.

Que nesse Dia Internacional da Mulher possamos todos refletir e desejar com todas as nossas forças “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.

Mulher não é escrava..., embora o título acima sugira a pergunta. Costumo dizer que nós somos aquilo que elas, as mulheres, nos fizeram, do nascimento à paternidade. Simples assim!

Meu abraço de respeito, consideração e amor a todas elas. Sempre serão Flores em qualquer estação da vida!  E quanto mais o tempo passa mais aprendemos a admirar as flores.

 

Brasília, 08 de março de 2015

 
Paulo das Lavras