terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Peruano..., se Deus quiser

Não, não é o habitante andino, do Peru e sim a crença do homem do campo. A fé do homem do campo que move montanhas tem fundamento climático. Olhos para o céu, mãos firmes segurando a enxada inseparável, e a esperança renovada de um ano para o outro. Dezembro, mês das chuvas, as roças de milho, café, arroz e feijão estão viçosas e então a crença, na virada do ano, é que se a chuva continuar vai ser bom para a agricultura. Afinal, esforçou-se para lavrar a terra, semear, adubar, capinar e agora só resta esperar que “para o ano”, ou como diz o mineiro da zona rural “peruano” que vem que a chuva continue e a colheita seja boa!

O agricultor é um sábio que convive muito bem com a natureza e talvez por isso quase nunca falha a sua fé, a esperança de farta colheita. Na vida colhemos aquilo que plantamos e mais certo ainda é que só colhemos depois que plantamos. Colhemos apenas onde plantamos e melhor ainda, a colheita é infinitamente maior do que o número de grãos que semeamos. Uma semente de milho produz várias espigas com centenas e até milhares de grãos. Assim deve ser a nossa vida. Plantar sempre as sementes do amor, da esperança e da verdade. E onde? Em todos os ambientes, mas de preferencia naquele em se vive diariamente. Plantando o bem e a paz certamente colheremos felicidade, traduzida nos mesmos ingredientes, porém multiplicados como a semeadura do agricultor.

Aprendi com meu pai que, com os olhos para o céu, nos últimos dias de dezembro, exclamava: “Peruano”, se Deus quiser, a chuva vai continuar e a colheita vai ser boa! Ter feito a sua parte, a semeadura e os tratos culturais nas plantações dava-lhe a certeza de que Deus não falharia com as chuvas. Assim, restou-me a certeza de que devemos fazer a nossa parte e a colheita virá multiplicada. Esse é o segredo para se viver bem, fazer tudo a seu tempo..., viver cada dia, cada momento, como o agricultor que prepara a terra, planta a semente, cuida com extremo zelo para colher fartura. Por isso, fim de ano, enquanto muitos se preocupam em fazer longas listas de metas e objetivos para o ano que vem, lembro-me do “peruano” esperançoso do agricultor.

Portanto não planejo nada de especial que não seja para os próximos dias. Nada de longo prazo, pois a vida é curta e precisamos viver com intensidade o dia de hoje. Estar em harmonia com a família, a natureza e os amigos é importante. Tem problemas? Sim, todos os temos, mas porque não se desfazer das coisas velhas e dar lugar ao novo? Velhos hábitos pessoais, roupas velhas, arquivos de papeis ou do HD, tablet ou smartphone e até, quem sabe, uma faxina nas redes sociais, por que não? Quem teve a ideia de dividir o tempo em fatias, dando-lhe o nome de ano, fez certo, foi genial como disse Carlos Drummond de Andrade, pois o corpo humano cansa, chegando a quase exaustão ao seu final. Assim, com um brake para as festas natalinas e férias do trabalho cotidiano, as esperanças se renovam.

Que o Ano Novo, de número 2016, seja para você, como também para mim, de 365 dias vividos a cada dia, apreciado e degustado com muita alegria de se viver. Nada acontece por acaso. Desde que o mundo é mundo o ser humano sabe que tem que semear para colher. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre, disse o poeta Drummond. Olhe o Ano Novo com novo olhar. Mas, também não se esqueça de agradecer a Deus pela colheita do ano que se encerra, pois não há alegria maior que olhar para trás e sentir orgulho do dever cumprido, da vida vivida com alegria. Essa é a verdadeira felicidade, permanente.

Que a sua colheita seja farta, repleta de alegrias “peruano” que vem, 2016, que se inicia daqui a pouco.

Paulo das Lavras


Brasília, 30 de dezembro de 2015


 Um grão de milho semeado produz várias espigas com milhares de grãos.
Por isso semeie a bondade e terá farta colheita. O Ano Novo está em você

 
Sr Vico aos 84 anos. Voltando da capina para o almoço das 10:30h. Braços fortes,
mãos calejadas. Sorriso alegre..., tarefa cumprida! “Peruano” (para o ano) que vem
a chuva vai continuar e a colheita vai ser boa!
Viveu 101 anos em plena harmonia com a natureza e as pessoas ao seu redor


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Uma história de Natal, diferente e real

Não, não é um conto de ficção. É uma história real, acontecida em casa e cujos resultados engrandecem a alma, proporcionando-nos a alegria de compartilhar e apoiar aos mais necessitados. Dois episódios cujas ações e efeitos marcaram a família para sempre. Manhã de 15 de novembro de 1999, no feriado nacional que comemorava os 110 anos da Proclamação da República, desembarcou em nossa casa um tio de minha esposa que até então morava em São Paulo. Veio acompanhado por dois sobrinhos, um de Belo Horizonte e a outra de Penedo-RJ.  Os primos explicaram que havia uns três meses transferiram o tio Orlando, por motivos de saúde, para a bucólica e turística cidade de Penedo. Idoso, não se adaptou ao local e foi levado para a casa de sua irmã em Belo Horizonte. Não ficou uma semana sequer e declarou que queria ir para Brasília, para a casa de sua sobrinha querida. Aqui chegou nessas condições e sob cuidados dos sobrinhos, pois em São Paulo o porteiro reportara algumas vezes que o Sr Orlando, morador solitário, por mais de 50 anos no mesmo prédio, começava a apresentar, esporadicamente, lapsos de memória. Decidimos acolhê-lo em definitivo. Em poucos meses seu estado de saúde se agravou com o Alzheimer se instalando e debilitando suas funções vitais. Depois de muito tempo sob nossos cuidados o Senhor o levou para o descanso eterno. 

Ainda naquele ano de sua chegada, duas semanas depois, nos deparamos com uma matéria em jornal, de grande circulação da capital federal, dando conta que um missionário chegara do Piauí e trouxera uma menina de 10 anos, cega e com dificuldade de locomoção. Entramos em contato com o missionário e o convidamos para vir à nossa casa para que pudéssemos leva-la à clínica oftalmológica de um médico amigo e vizinho de longos anos. Dia seguinte ao chegar para o almoço encontrei a família em alvoroço e comoção com uma criança no colo. Embora tivesse estatura própria dos dez anos de idade, mas muito magra, deixando transparecer subnutrição, a ponto de não se sustentar de pé, se comportava como um bebê de apenas dois anos. No colo ficava a abraçar a gente, passando a mão pelo nosso rosto como se quisesse identificar a pessoa. Deliciava-se com as guloseimas, especialmente os chocolates. Verdadeiro bebezinho que diante da situação nos levava, a todos, às lágrimas. Um ser totalmente dependente, carente de amor, do simples toque, um abraço apenas. Tinha dificuldade na fala e além da total deficiência visual estava muito debilitada. Logo em seguida a levamos ao médico. Entretanto este nos disse que nada poderia ser feito para a recuperação de sua visão. Havia lesões internas irreparáveis, agravadas pelo extremo grau de subnutrição. Uma pena. Ficamos todos comovidos e esperançosos de que a superalimentação oferecida pelo pastor e os cuidados médicos pudessem recuperá-la e voltar para a sua casa.

O missionário arrecadava doações para celebrar o natal daquelas crianças paupérrimas, do distante município de Santa Luz, no estado do Piauí. Foi então que decidimos, toda a família, arrecadar fundos para a compra de brinquedos, roupas e artigos de primeira necessidade. Surpreendentemente, o Sr. Orlando sacou uma vultosa quantia de dinheiro e disse que também queria ajudar no natal daquelas crianças carentes, cuja coleguinha estivera em nossa casa e a todos comovera. Compramos muitos, mas muitos brinquedos, roupas, calçados e ainda arrecadamos mais. Embalamos cada pacote de presente contendo brinquedos, guloseimas, roupas e enfeites alusivos ao natal. Ao final o missionário alugou um caminhão baú e partiu para o sertão do Piauí alguns dias antes do natal, abarrotado de doações que conseguira. Deu-me uma vontade enorme de acompanha-lo, juntamente com os equipamentos de irrigação que faziam parte da carga natalina e orientar a produção agrícola que seria possível desenvolver a partir de então. Mas, as obrigações do trabalho no Ministério da Educação não me permitiam ausentar do trabalho e por aqui não temos o ano sabático, como nos EUA, onde os profissionais podem se ausentar para outras atividades.

Encomendamos ao missionário que nos trouxesse fotos das festas natalinas e o nome de uma família, da zona rural, à qual pudéssemos contribuir com uma bolsa alimentação. E assim o fizemos por mais de uma década. Mas, das fotos e dos casos contados pelo missionário que voltou à Brasília, o mais interessante, além do sucesso do caminhão do Papai Noel que chegou abarrotado de presentes à pequena comunidade e fez a alegria de todos, foi o caso de um menino que estava doente e não pode comparecer à distribuição dos presentes de natal. Os organizadores tiveram o cuidado de guardar um dos pacotes preparados em nossa casa. E eis que, logo que pode, correu em busca do prometido e tão esperado presente. Mas, ele veio acompanhado de um amiguinho, de longe, e que também não estivera ali no dia da festa.  O que fazer se só havia um pacotinho de resto? Por sorte, em cada pacotinho destinado aos meninos, minha família havia colocado dois lindos caminhõezinhos, além das guloseimas e outros mimos. Assim, as organizadoras locais não tiveram dúvidas. Abriram o pacote e o dividiram ao meio. Cada qual saiu todo alegre com seu bonito caminhãozinho... Essa foi a parte que mais nos tocou e muito nos gratificou. Lógico, durante os anos seguintes repetimos a ação. Mas, já no ano seguinte o Sr Orlando, grande colaborador dessa obra, não podia mais participar, indo às compras dos presentes para as crianças. Ele também se tornara uma criança que exigia 24 horas de cuidados. Viveu em nossa casa, cercado de atenção e carinho, por mais oito anos. E essa, a experiência de cuidar de um idoso, foi também a mais emocionante lição de vida que aprendemos. Encheu-nos de humildade e compreensão de que é preciso plantar para colher. Nada mais fizemos do que retribuir-lhe o amor que dedicara à sua sobrinha querida e mais tarde aos nossos filhos, crianças amadas por ele desde que nasceram em São Paulo, estado que ele adotara desde que foi admitido na Secretaria da Fazenda de MG, na representação do Escritório de Exportação de Café.

Criança é uma joia que Deus coloca em nossas mãos. E o idoso é como uma criança, disse o poeta e filósofo Rubem Alves. Nossos natais, desde então, nunca mais foram  os mesmos. Aquela criança, de apenas de 10 anos e profundamente carente em todos os sentidos e o idoso, solitário, tal qual uma criança carente e que buscou abrigo e aconchego em nossa casa, tocaram fundo nossos corações. Agora é época de ligar para o missionário, receber notícias e confirmar a chegada dos presentinhos. 

Façamos uma criança Feliz neste Natal. 

Boas Festas

Brasília, 22 de dezembro de 2015


Paulo das Lavras



Poinséttia, ou bico de papagaio, com suas cores vermelha e verde, símbolos do Natal 


 
De volta para o Piaui... Em 2008, Marta, uma dos sete filhos da família que
adotamos, veio nos visitar.  Foi muito bom recebe-la e ouvir os progressos da
humilde família da castigada zona rural do município de Santa Luz



sábado, 5 de dezembro de 2015

40 anos da Engenharia Agrícola e o velho brasão da ESAL-UFLA

          No dia 23 de novembro de 2015 foi celebrado em sessão solene do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras, os 40 anos do curso de graduação e 25 de pós-graduação da Engenharia Agrícola. Foram homenageados vários professores e dentre eles foi incluído o nosso nome, na categoria de “Idealizador do Curso de Engenharia Agrícola”. Assim escreveu o jornalista Mateus Lima, da Assessoria de Comunicação da Universidade:
“Comet: evento celebra 40 anos de graduação e 25 anos da pós-graduação em Engenharia Agrícola.
Uma significativa parte da história da Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi relembrada na noite de 23/11, na abertura da I Semana de Engenharia e do I Congresso Mineiro de Engenharia e Tecnologia. Os eventos prestaram homenagem aos 40 anos do curso de graduação e aos 25 anos do programa de pós-graduação em Engenharia Agrícola.
O presidente do evento, professor Ednilton Tavares de Andrade, fez o primeiro pronunciamento, trazendo números da I Semana de Engenharia: a programação será ministrada por mais de 80 profissionais; há 20 palestras; serão apresentados 180 artigos científicos; e há mais de 600 participantes inscritos. Ednilton também destacou a interdisciplinaridade da programação. Em seguida, a inspetora chefe do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), professora Andréa Aparecida Ribeiro Corrêa, falou sobre os recentes avanços do Conselho.
Os professores Paulo Roberto da Silva e Jair Vieira (diretor da ESAL, na época) integraram a mesa de abertura como idealizadores do curso de Engenharia Agrícola. Eles falaram sobre os desafios na implantação, mas também no pioneirismo da Universidade: como o curso de Agronomia se preocupa mais com a fitotecnia, era necessária uma graduação que abordasse a engenharia no campo, englobando aspectos como a mecanização e a eletrificação. E com essa preocupação o curso foi criado na UFLA, sendo o terceiro no Brasil.
O chefe do Departamento de Engenharia (DEG), professor Carlos Eduardo Silva Volpato, observou que o evento reuniu cinco gerações de professores e enalteceu o empenho de cada um deles para que a Instituição alcançasse reconhecimento nesta área. Também participaram da mesa de abertura o reitor em exercício, professor Alcides Moino Júnior, o professor Alysson Paulinelli, ex-diretor da ESAL e a professora Mirléia Aparecida de Carvalho, coordenadora do curso de Engenharia Agrícola.
Após a abertura, a professora Mirléia conduziu uma série de homenagens à primeira turma do curso, aos atuais e ex-coordenadores do DEG e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola e aos técnicos administrativos que participaram da consolidação dos cursos”.

Com muita honra recebemos, juntamente com o Prof. Jair Vieira, as homenagens como idealizadores do curso de graduação de Engenharia Agrícola, num trabalho que demandou esforços de toda a equipe do antigo Departamento de Engenharia Rural. O curso recém-criado pelo MEC e com apenas dois deles em funcionamento, em Pelotas-RS e Viçosa-MG, apenas um ano d funcionamento. Por se tratar de nova profissão no país, a sua criação, com projeto curricular e detalhamentos de laboratórios específicos para as diversas áreas como eletrificação rural, motores e máquinas, mecanização agrícola, irrigação e drenagem, construções rurais e armazenamento, foi bastante complexa e exigiu muitas consultas a centros especializados. Sobre o projeto do curso e as inúmeras reuniões no MEC escrevemos alguns artigos já publicados. Por isso falaremos hoje sobre novo assunto ligado às engenharias no âmbito agrícola.

 Durante o evento de abertura das comemorações dos 40 anos da Engenharia Agrícola da UFLA nos deparamos, ali no Salão de Convenções, com uma bandeira que ostenta um brasão, bem característico, criado em 1937. Fizemos questão de tomar uma foto ao lado do chefe do Departamento de Engenharia, empunhando a bandeira do histórico brasão com a inscrição “Ciência e Prática”. E coloquem história nesse brasão com o sugestivo e significativo lema. Vejam o que encontrei nos EUA, quando lá estava gerindo o acordo de cooperação na área de educação agrícola superior. Trata-se de uma história inédita sobre a origem do brasão:

O brasão oficial da ESAL/UFLA foi adotado em 1937, quando foi mudado o nome de Escola Agrícola para Escola Superior de Agricultura de Lavras. Dei-me ao trabalho de pesquisar o assunto, pois em 1978, quando trabalhava nos EUA, como gerente do Brazil/MEC- MSU Project, com a responsabilidade de gerenciar os 250 professores brasileiros da área de ciências agrárias em 32 universidades norte americanas que os acolheram para programas de doutorado, encontrei o mesmo brasão na Iowa State University, ou mais precisamente na fachada de um dos prédios do College of Agriculture and Mechanic Arts, onde alguns de nossos professores estavam cursando PhD. Não acreditei no que vi, pois nunca alguém escrevera sobre aquela semelhança. Fiquei admirado pela total semelhança entre ambos, o da ESAL e de Iowa. Ao retornar ao Brasil procurei pesquisar um pouco mais sobre a questão. Tudo começou com um dirigente da velha Escola Agrícola de Lavras, Mr. Wheelock.


John Henry Wheelock (1898/Colfax, Iowa – 1961/Campinas, SP) dirigiu a Escola pela primeira vez de 1927 a 1935. Reassumiu o cargo de diretor em 1945, seguindo-se ainda outros dois períodos, de 1953 a 1956 e 1958 a 1959. Wheelock cursou agronomia em seu estado natal, no Iowa State College of Agriculture and Mechanic Arts. Chegou a Lavras no ano de 1922, ainda jovem, com apenas 24 anos de idade. Inicialmente atuou como professor e mais tarde, como diretor. Neste cargo sucedeu a Benjamin Harris Hunnicut - o fundador. O estimado e respeitado Wheelock, ou Sô Mister, como era carinhosamente chamado, foi apelidado por Bi Moreira de “o Consolidador” (Gammon, o Idealizador; Hunnicut o Fundador; Wheelock o Consolidador e Alysson Paulinelli o Dinamizador).


Em 1936 sucedeu-lhe Benedito de Paiva na direção da então Escola Agrícola de Lavras e em 1937 houve a mudança do nome da instituição de ensino para Escola Superior de Agricultura de Lavras. Certamente, em suas inúmeras viagens aos EUA conseguira autorização da Iowa State College of Agriculture, onde se graduara, para usar o mesmo brasão-símbolo daquele College, para também usá-lo como emblema de sua querida Escola Agrícola de Lavras que tivera seu nome recém-modificado. Assim, logo que houve a mudança de nome para Escola Superior de Agricultura de Lavras, Mr Wheelock tratou de adaptar aquele belo brasão para as condições de um país tropical. Refiro-me a país tropical porque aqui não se produzia trigo e sim café. Portanto, Mr. Wheelock sabiamente trocou os dois ramos de trigo do brasão do State College of Agriculture de Iowa, estado norte americano produtor desse grão, por dois ramos de café entrelaçados e com seus grãos bem vermelhos. Se atentarem bem para o brasão de Iowa notarão que os dizeres Science With Practice, não foi traduzido com fidelidade, pois foi adaptado para Ciência e Prática no brasão da ESAL, conforme se vê nas reproduções fotográficas, de Iowa e da ESAL/UFLA, que ilustram esta crônica.


A propósito , o slogan “Science With Practice” representa a filosofia, o pensar e o objetivo principal do Morril Act de 1862 que criou os famosos Land Grant Colleges nos EUA. Por essa Lei o governo norte-americano financiava escolas, doando terras para o ensino prático de agricultura. O lema dessas escolas era exatamente aquele que justificou a criação da lei (Morril Act), o ensino das ciências associado à prática visando a melhor produção de alimentos. Para tanto o governo daquele país criou e associou às escolas as Estações Experimentais Agrícolas (1890). Um pouco mais tarde incluiu outra importantíssima linha de ação, a divulgação desses conhecimentos aos agricultores, ou seja, a Extensão Rural. Assim fechou-se a trilogia até hoje usada pelas universidades: Ensino, Pesquisa e Extensão.


A ESAL, segundo pesquisas que realizei, foi a primeira Escola do Brasil e da América do Sul a implantar um ensino nos moldes do Land Grant College, associando-se ao ensino propriamente dito a Pesquisa e a Extensão Rural. As outras três primeiras escolas de agronomia, a de Cruz das Almas (1877), hoje Universidade Federal do Recôncavo Baiano, a Elizeu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas (1883) e a Luiz de Queiroz, ESALQ-USP, de Piracicaba (1901) foram, todas elas, criadas no modelo francês que privilegia conhecimentos acadêmicos. Essas três primeiras escolas de agronomia tiveram os currículos de seus cursos importados e implantados por professores de Grignon, o hoje Institut Nationale Agonomique Paris-Grignon - INA-PG que visitei algumas vezes em missões do Ministério da Educação. Por outro lado, o modelo americano, dos Land Grant Colleges tinha como objetivo a Ciência com Prática e com os quais também trabalhei, na Michigan State University em convênio com o MEC para o desenvolvimento de nossas universidades e faculdades agrícolas. Em apenas cinco anos, de 1975 a 1980, treinamos 250 PhDs brasileiros nas universidades americanas. Estes, somados aos treinados no país e mais ainda, os da EMBRAPA, formavam, já no ano de 1980, uma massa crítica de cerca de 1200 (um mil e duzentos) doutores docentes e pesquisadores das ciências agrárias. Equipe sem similar no Brasil, tanto em qualidade como em quantidade. Nenhuma outra área da Ciência e Tecnologia se desenvolveu tanto no Brasil quanto as Ciências Agrárias. Não é a toa que lideramos rankings mundiais de produção e exportação de produtos agrícolas desde o final dos anos de 1980 e início de 90. Temos berço..., a filosofia dos Land Grant College com sua característica tríade Ensino-Pesquisa-Extensão, deu cero aqui na ESAL/UFLA desde o seu nascimento em 1908.


Mr. Wheelock, notável profissional que era, importou muitas novidades e tecnologias avançadas para a prática agrícola na ESAL. Sempre com a motivação de “Ciência e Prática”, não só naquele belo brasão aqui reproduzido, à imagem e total semelhança com o da escola onde se graduara nos EUA, mas, principalmente por criar e realizar a 1ª Exposição Agrícola do estado de Minas Gerais, em 1922, ali na praça central do Campus Histórico da UFLA. Também trouxe o primeiro trator agrícola para a região e estrategicamente importou raças suínas do tipo carne, como o Duroc-Jersey, Landrace, Large White e outras, para fomentar entre os agricultores a melhoria de seus rebanhos. Foi também o criador da primeira publicação oficial da ESAL, a revista "O Agricultor". No mesmo ano, o então diretor Hunnicut inaugurou o prédio "Álvaro Botelho", onde hoje está o Museu Bi Moreira.


Definitivamente, o brasão da ESAL/UFLA, aqui reproduzido, expressa a alma mater do sucesso da Agronomia, com a sua Ciência e Prática, que representa a filosofia do Land Grant College, hoje ainda cultuada com a trilogia Ensino, Pesquisa e Extensão.  Esse brasão foi criado, com muito amor e dedicação à causa, pelo admirado e respeitado Mr Wheelock, cultor e defensor da filosofia dos Land Grand College. Sua ação na ESAL como professor, extensionista pioneiro no Brasil e diretor por três vezes, representa o que foi de mais sagrado na consolidação dessa centenária instituição, que hoje é conhecida e reconhecida no Brasil e no exterior, por Universidade Federal de Lavras. Esse brasão da ESAL era a sua alma. Representava o amor da Pátria-mãe, onde se graduou e mais, ainda, o amor à terra e à Escola que escolheu para exercer sua profissão de educador e empreendedor da modernização da agricultura num país carente de técnicos qualificados para seu desenvolvimento. Prestemos, portanto, um tributo a esse cidadão de dupla nacionalidade – John Henry Wheelock e ao brasão, por ele estilizado, que simboliza a essência da trilogia consolidada na ESAL/UFLA: Ensino, Pesquisa e Extensão. O historiador Bi-Moreira estava certo ao atribuir-lhe a alcunha de “O Consolidador”. 

Conhecer a história é valorizar o presente para olharmos o futuro com otimismo e confiança.

Brasília, 05 de dezembro de 2015


Paulo das Lavras  


Encontrar a bandeira com o brasão criado em 1862, e adaptado em 1937
 para a ESAL, com o slogan – Ciência e Prática, que  encerra a filosofia do
 Land Grant College, com a tríade: Ensino, Pesquisa, Extensão, foi surpresa
 mais que agradável, emocionante, ao relembrar a figura de Mr Wheelock. 



Science whith Practice, created by the Morril Act/Land Grant College - USA 
Foi carinhosamente estilizado para as condições de país tropical...

  

Os ramos de café, com seus grãos vermelhos, do país
       tropical, substituíram os de trigo na versão original de Iowa 
                                                                                                       

 John Henry Wheelock, Ex-aluno
da Iowa State College of Agriculture.
Diretor e consolidador da ESAL. Sabiamente
adaptou o brasão da ISU para a sua Escola em Lavras

Sessão de abertura do Congresso de Engenharia- UFLA 40 anos da Engenharia Agrícola 


 
Recebendo a homenagem como idealizador do curso


 
 Palestrando e agradecendo a homenagem


 
Ex-ministro Paulinelli, Marcelo Alves e Ednilton Andrade,
no coquetel de abertura do evento 

 
 Carlos Volpato, Mirléia, Jair Vieira, Paulinelli, Paulo Roberto e Ednilton



 
Coquetel de abertura do Congresso de Engenharia da UFLA 


Encontrar ao lado do Departamento de Engenharia, o Avião Agrícola Ipanema,
doado pelo extinto CENEA, como prêmio pelo desempenho no ensino de Engenharia Agrícola
na Ufla, foi uma enorme satisfação para quem foi o idealizador do curso prontamente aprovado pelo MEC em 1975
















sábado, 21 de novembro de 2015

Breve História da Engenharia Agrícola na UFLA


A criação da profissão de engenheiro agrícola estava fadada a acontecer em razão das demandas ocorridas nos seus diferentes campos de atuação, notadamente na mecanização agrícola, armazenagem e irrigação, que experimentaram acelerado desenvolvimento. Ampliaram-se as áreas de cultivo com escassa mão de obra, o que naturalmente provocou uma corrida pela mecanização agrícola e outras técnicas que viessem facilitar e incrementar o processo produtivo agrícola. Por outro lado, o curso de agronomia sempre esteve mais voltado para os aspectos da biologia aplicada em detrimento das ciências físicas e matemáticas exigidas pela engenharia na agricultura. Assim, em 1908, coincidentemente com o ano de fundação da ESAL/UFLA, surgiu o primeiro curso de Engenharia Agrícola nos EUA, na Universidade de Iowa. Destinava-se o novo profissional a cuidar da mecânica na agricultura, construção de estradas vicinais, pontes, eletrificação rural, armazenagem, irrigação e drenagem, dentre outras.


No Brasil não foi diferente. Os motivos que levaram à criação da nova profissão foram os mesmos daqueles reclamados pelos produtores rurais norte-americanos. A Engenharia Agrícola foi a quarta profissão a se desmembrar da agronomia em nosso país. A primeira foi a Engenharia Florestal (1960), seguindo a Zootecnia (1966) e a Engenharia de Pesca (1972). Em 1973 foi a vez da engenharia agrícola com a criação do curso de graduação, com duração de cinco anos, na Universidade Federal de Pelotas.  Seguiu-se a criação do curso em Viçosa no ano de 1974. O curso de engenharia agrícola da Ufla foi o terceiro do país. Iniciou-se no segundo semestre de 1975, com 20 alunos apenas, cujas vagas foram retiradas da agronomia que, ainda assim, continuou com o ingresso de 150 alunos. Mas, foi longa a história dos estudos e a vontade de alguns especialistas em implantar essa profissão no Brasil. Em 1966 foi recomendado pelo Projeto IV/USAID-Brasil a criação de um centro nacional de pesquisa e ensino de Engenharia Agrícola no Brasil. Cinco anos depois, em 1971 decidiu-se que havia necessidade de se nomear uma comissão mista Brasil/EUA para elaborar estudo aprofundado com vistas à instalação do sugerido centro de ensino e de pesquisa em Engenharia Agrícola. Dois brasileiros, dois norte-americanos e um especialista da FAO visitaram as principais regiões do país, em 1972, constatando o atraso em que se encontrava a engenharia agrícola no Brasil, que era tratada superficialmente pelos agrônomos que se limitavam a descrever as máquinas e não analisá-las ou propor novos projetos.

O relatório da comissão não indicou nenhum local para a possível instalação de um centro de pesquisa e ensino para a área em face da precariedade da situação assim retratada:

            - debilidade do ensino de ciências da engenharia nos cursos de agronomia      - poucas pesquisas desenvolvidas nas áreas da engenharia agrícola

            - inexistência de currículo próprio e cursos de engenharia agrícola no país

            - falta de engenheiros agrícolas no país

            - disciplinas dos cursos agronomia voltadas para a área biológica e não da física

- falta de especialização docente na área

- falta de embasamento de candidatos brasileiros aos cursos de mestrado e     

    doutorado da área, nos EUA


            O MEC agiu imediatamente nomeando uma comissão nacional que propôs o currículo mínimo do curso, aprovado em 1974. Ainda naquele ano de 1974 convidou instituições de ensino interessadas nesse curso para uma reunião no MEC. Compareceram poucas instituições, dentre elas a Universidade Federal de Viçosa e a Escola Superior de Agricultura de Lavras/UFLA, representada por mim, que à época acumulava as funções correspondentes a Pró-reitor de Pós-graduação. Encampamos a proposta do MEC e rapidamente foi encaminhado o projeto com a aprovação do Departamento de Engenharia e da Congregação da ESAL/UFLA. O Departamento de Engenharia acalentava o sonho da criação desse curso desde 1973 quando se noticiou a criação de similar em Pelotas. Alguns meses depois veio a aprovação do MEC e os primeiro alunos se matricularam no semestre 1975/2. Em 1980 formou-se a primeira turma de Engenheiros Agrícolas da ESAL/UFLA. Dois anos antes, em 1978, tivemos o privilégio, na qualidade de conselheiro federal do CONFEA, assinar o parecer técnico que ensejou a aprovação da Resolução 256/78-Confea que discriminava as atribuições profissionais do Engenheiro Agrícola. Estava, portanto, criada definitivamente a profissão com direito a registro no CREA.


            O curso da UFLA passou por inúmeras atualizações. Nem bem completara um ano de existência recebeu, em julho de 1976, a visita de outra comissão mista do MSU-Brazil/MEC Project. Nessa ocasião já nos encontrávamos em Brasília, cedido pela ESAL/UFLA ao Ministério da Educação e coordenávamos justamente os programas de educação agrícola e seus programas internacionais (AID Loan Agreement – L 090-512). Assim, incluímos Lavras no roteiro daquela comissão, composta pelos professores especialistas D.W. Henderson/U.C. Davis/USA, F.L. Herum/Ohio State University, L.A. Balastreire/ESALQ-USP, M.L. Esmay/Michigan State University, M. C. S. Leão/UFCeará, P.J. Martin/UFViçosa e R.H. Wilkinson/Michigan State University. A comissão realizou um diagnóstico do curso em Lavras e deixou recomendações estratégicas que foram aproveitadas pela ESAL/UFLA, conforme “Report number 13 - Agricultural Engineering Survey Team”. É interessante notar que o Centro Nacional de Engenharia Agrícola- CENEA, vinculado ao Ministério da Agricultura e localizado em Sorocaba-SP, na Fazenda Ipanema, também foi visitado por aquela comissão mista, embora não fosse instituição de ensino e sim de pesquisas em engenharia agrícola. À época aquele centro de pesquisas desempenhava importante papel no cenário nacional. Lamentavelmente foi fechado definitivamente pelo Governo Collor de Mello, em 1990 e posteriormente a UFLA recebeu do espólio algumas aeronaves agrícolas modelo “Ipanema”.

            Prosseguindo com as reformas e atualizações o curso experimentou os novos currículos mínimos aprovados pelo MEC em 1984 e depois as diretrizes curriculares de 2006 que extinguiram os currículos mínimos obrigatórios. Iniciou a pós-graduação em 1990 com o curso de mestrado que recebeu conceito “A”, logo na primeira avaliação da CAPES. O doutorado na área de concentração em Irrigação e Drenagem foi aprovado pela CAPES em 2002. Hoje tem várias áreas de concentração na pós-graduação tanto no mestrado como no doutorado, contando com cerca de 50 docentes de elevada qualificação (92% com título de doutor e 8% de mestre). Tanto no âmbito do ensino de graduação como de pós-graduação o Departamento sempre foi destaque nas avaliações do MEC no que concerne à qualidade do ensino e de sua infraestrutura física e de pesquisas. Prova dessa elevada qualidade foi a recente aprovação de seis novos cursos, totalmente financiados pelo MEC: Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Materiais, Engenharia Química, Engenharia de Computação e Engenharia Física. Estes se juntaram aos já existentes: Engenharia Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Controle e Automação e a Engenharia Florestal. Serão ao todo doze cursos de Engenharia na UFLA, ainda nesse segundo semestre de 2014.

Grande progresso, parabéns UFLA. Parabéns Departamento de Engenharia!


Brasília, 3 de abril de 2014

Paulo das Lavras

            Ufla- aeronave agrícola Ipanema. Herança do extinto CENEA           
                                                                  Ao fundo o Departamento de  Engenharia, onde fui professor,
                                                              de 1969 a 1975, até o dia da primeira aula de Engenharia Agrícola                                         




              Relatório de 1976 - Brasil/EUA, projeto que coordenei, 
                            no MEC, de 1976 a 1989, incluindo a ESAL/UFLA                         



                                                            Primeira página do Relatório da Comissão mista Brasil/EUA

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O valor de uma Viagem

Viajar é mudar a roupa da alma, disse o poeta Mário Quintana. E é mesmo! Aliás, viajar muda tudo, a começar pelo olhar que passa a ser perscrutador, que enxerga coisas novas. Bate aquela curiosidade própria das crianças, de querer saber tudo, perguntar sobre tudo que se vê de diferente, a começar pelas palavras do idioma local e se extasiar com as histórias sobre lugares e pessoas. A viagem muda nossos hábitos, pois as coisas que eram normais passam a não ser mais, pelo simples fato de que as culturas são diferentes nos diversos locais de nosso imenso país ou mundo afora. O que é normal em sua terra nem sempre será em outra e vice-versa. Assim, a viagem mexe com o pensar das pessoas e tem forte impacto no comportamento. E essa influência é sempre positiva, pois nos impulsiona para novas idéias de como agir e sair da repetição monótona do fazer as coisas sempre do mesmo jeito. O olhar externo é sempre incentivador às inovações. Lógico, se você estiver aberto para ver, analisar, comparar e aproveitar o melhor em qualquer viagem seja a trabalho, lazer e mais ainda se for para um curso de especialização, quando o tempo e o convívio são maiores.

Não há dúvida que acontece significativa mudança no pensar, pois abrem-se novos horizontes e ninguém será o mesmo após uma viagem. Há até quem diga que o preço de uma viagem é caro. Isto porque voce nunca mais estará completamente em casa, pois uma parte de seu coração estará sempre em outro lugar. Esse é o preço que voce paga pela riquesa de amar e conhecer lugares e pessoas em mais de um lugar. Não foi a toa que o grande velejador, Amir Klink, que conheceu os mais belos lugares do mundo, a começar pela Antártida e o Polo Norte, escreveu:
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.

São profundas as palavras desse viajante solitário. É preciso “sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto”, disse ele. Sentir a solidão em locais muito distantes faz-nos pensar e amar mais aqueles que nos cercam e que são lembrados constantemente. Com certeza, nunca ninguém será mais a mesma pessoa depois de uma viagem e é bom que sejamos eternos alunos, aprendizes da vida.
Outro grande viajante e escritor, Saint Exupéry, também confirma isso. Ele sobreviveu a um desastre aéreo e passou longo tempo no deserto do norte da África. A solidão no deserto e ainda as constantes viagens, pilotando um avião do Correio Aéreo da França, fizeram-lhe brotar os mais puros sentimentos da alma. Disse ele:
“Sou um pouco de todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que deixei e sou muito das coisas que gostei”.

Belas palavras desse piloto francês, autor de O Pequeno Príncipe e que tantas vezes pernoitou no Campeche, em Florianópolis, na rota do Correio Aéreo Paris-Buenos Aires. Pura verdade que se soma as de Klink e Quintana, pois somos tudo aquilo que passamos na vida. E nesse contexto, as viagens deixam marcas indeléveis. Também sou assim e muito, muito mesmo, das coisas que gostei. Das viagens, quando menino à vida adulta, cheias de andanças pelo mundo. Sempre fui aluno nas minhas viagens, como bem recomenda o velejador. Apreciei as marcantes diferenças de sotaques do norte a sul de nosso país, o pragmatismo profissional dos americanos, a fleuma dos ingleses, a formalidade e objetividade dos alemães, o individualismo dos irrequietos franceses, a cordialidade dos portugueses e a irreverencia latina dos italianos, muito próxima à dos brasileiros. E muitas outras diferenças de hábitos e costumes pude experimentar. Senti o frio abaixo de zero grau do hemisfério norte e o calor de até 50 graus dos desertos do Arizona, nos EUA e de San Juan, na Argentina, como também a inúmeras belezas naturais da Amazônia, do Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras maravilhas de nosso país. Tudo isso faz parte do “acervo” armazenado no subconsciente e que de alguma forma exerce ou exerceu influencia na minha vida. Aliás, foi por causa das viagens à Brasília que me encantei com a belíssima arquitetura da cidade, a que mais área verde tem. A chamada cidade-parque, dos extensos verdes e jardins floridos. Qual a cidade que tem ¾ partes, ou seja, 75% de área verde? Não encontrei nenhuma igual ou que a superasse em todo o mundo. Não resisti a esse convite da natureza e aqui estou há 40 anos, desde aquele agosto de 1975, quando o reitor de minha universidade aprovou a cessão ao Ministério da Educação.

O valor da viagem não tem preço. Muda tudo! Muda a roupa da alma, como disse o poeta. Você nunca mais será o mesmo depois de uma viagem! E por falar em viagem, já estou de malas prontas para rever a cidade natal e atender a um honroso convite de minha universidade, a UFLA.

Brasília, 19 novembro de 2015 – Dia da Bandeira Nacional.


Paulo das Lavras 



 Numa gostosa visita à cidade natal. Nada melhor que rever
                                                   os amigos na praça central. Na foto os notáveis Luiz Teixeira
                                                   da Silva (no meio) e José Claret Mattioli à esquerda
                                                                                           foto de Catarina Júlia – 2013


O avião do Correio França-Buenos Aires, pilotado por Saint Exupéry, que fazia escalas com pernoites no Campeche, em Florianópolis. 

As viagens mudam as pessoas....

  
Amir Klink também disse o mesmo que Saint Exupéry


 
Conhecendo uma fábrica artesanal de carros típicos, na Costa Rica 


  

 
 Foto  tomada numa tarde de 2014, subindo a serra de
 Mariana para Ouro Preto, como a relembrar a primeira longa
 viagem, de 16 horas, de maria-fumaça, rumo ao Seminário de
 Itaúna, onde o menino, de 12 anos de idade, passara um ano.
Viagem marcante para a vida do menino. Tudo novo, diferente,
até mesmo a contínua saudade, doída, da casa, família e amigos.
Hoje, lamentavelmente, a região de Mariana está inundada de lama,
por conta de desastre com barragem de rejeitos de mineração.



 
 Ouro Preto..., como não ficar marcado pelas constantes
visitas do recém-formado engenheiro-agrônomo, que ali
 cuidava de reflorestamentos das mineradoras? Frio intenso
 julho de 1968, época de cuidar dos viveiros de eucaliptos



 
O gosto pelos jardins, adquirido nos trabalhos com as praças
de BH marcou-o para sempre nas viagens, como essa em
 Otawa, capital do Canadá - 1986 



 
No Cine Municipal e depois no Cine Brasil, o menino adorava
as cenas de bang-bang. Aqui, num intervalo de visita de trabalho
 à Universidade do Arizona, uma pausa para conhecer a cidade
cenário de 99,9% dos filmes far-west: Old Tucson – 1978




 
Decolando na região central de Washington, com vista
privilegiada do Capitólio e sua Esplanada (Mall), além das
marinas ao longo do histórico  rio Potomac.



 
Em 2001, dois grandes aviões comandados por terroristas explodiram
as Torres Gêmeas de Manhattan, que aparecem ao fundo, em foto de
1978. Se o enunciado de Saint Exupéry está certo, como não sentir a
sua perda? Marcas indeléveis em nossa mente.



 
A simplicidade de uma nativa das montanhas da Guatemala, trocando
 algumas palavras com o turista curioso por conhecer os costumes locais




A tranquilidade dos bosques e florestas que margeiam o azul,
 de águas límpidas, despoluído rio Sena, nos arredores de Paris.
Passeio  relaxante e surpreendente pela preservação ambiental,
 logo ali, onde o Rei Luiz XV mandou instalar as Machines de
Bougival que bombeavam água para o luxuoso Palácio de Versailhes



O romântico café de Flore, em Saint Germain des Prés, desde 1885. Ali o filósofo Jean Paul Sartre e a escritora Simone de Beauvoir se reuniam para suas produções intelectuais. Cachimbos sempre dão uma conotação diferente (ainda que emprestado para o menino), enquanto os jovens se deliciam com um café e fumam (e como fuma na França...), trocando juras de amor. Frio de 04ºC não espanta ninguém, nem mesmo nas mesas do lado de fora, na calçada, onde há campânulas de aquecimento elétrico (amareladas, ao alto da foto), entre as lâmpadas de iluminação e que refletem um calor especial sobre as mesas (dezembro, 2013).
Infelizmente, agora, dois anos depois, os cafés da cidade estão em pânico por conta de recentes ataques terroristas

  

O majestoso Castelo de Sintra, também conhecido por Castelo dos Mouros.
Arredores de Lisboa - 1986


Do alto da Catedral de São Pedro, Vaticano – 1986. Mais de
2000 anos de história ali se descortina


Conhecendo uma oca indígena. Mato Grosso - 1975



Viagens enriquecem a alma. Quanto mais cedo conhecer
 outros lugares, melhor proveito se pode tirar.