terça-feira, 31 de março de 2020

O mouse e a tramela, a tela e a janela nos tempos do coronavírus


Havia uma moça debruçada na janela de uma casa antiga. Era uma moça branca e gorda, os seus cabelos desciam pelos ombros. E era feia. Diziam que enfraqueceu do juízo, que ficara assim depois de uma desilusão. Nunca falei com ela. Passava pela sua calçada e a via debruçada,
olhando a rua com olhar distante. A casa era a  última  da rua que ainda servia de morada.
Todas as demais foram transformadas em lojas e farmácias. Era uma casa de dois pavimentos. A moça ficava na janela do chão, bem perto da rua. Até que um dia ela sumiu.
A janela foi fechada. A casa também fechou as portas. Mais tarde deixou de ser casa, virou loja de sapatos. E a moça misteriosa nunca mais foi vista.
Foto e autoria: Tião Lucena - 2019


A janela  foi até recentemente e desde imemoráveis épocas, a primeira e mais fidedigna fonte de informações. Dali as pessoas espreitavam o movimento das ruas, de dia, de noite e de madrugada. Não importava a hora, pois de dia a cortina ou a própria folha da janela escondia o curioso. De noite, a mesma escuridão que impedia a total visão da identidade dos transeuntes, protegia também a do bisbilhoteiro por detrás da janela, a olhar pelas frestas. Aliás, nessa arte de bisbilhotar a vida alheia, a literatura é farta e nos relembra que o hábito era tão usual e frequente que se tornava fácil identificar as pessoas mesmo nas mal iluminadas ruas, pelo simples fato de que já se conheciam os hábitos do andarilho. Sua silhueta, o modo de andar e o som das botinas e tamancos, ainda que o caminhar fosse furtivo, pé ante pé, tudo contribuía para a sua identificação. Dia seguinte todos sabiam o que se passou nas ruas. Era quase uma profissão, a de fofoqueiros e fofoqueiras que tudo sabiam sobre a vida alheia, principalmente das escapadas amorosas de cônjuges infiéis ou infelizes. Os pais, muitas vezes, trancavam e amarravam as tramelas das janelas, principalmente à noite, não apenas por medo de ladrões, mas também para resguardar a privacidade  de sua casa e prole, ou mesmo para esconder da família suas próprias escapadelas para o bar ou o clube noturno, como faziam aqueles contumazes frequentadores do Bar Vesúvio, cantado e decantado por Jorge Amado, em Gabriela Cravo e Canela  em terras baianas cacaueiras de Ilhéus dos anos de 1920. Coisas de antanho, diriam alguns sobre essa curiosidade na vizinhança ao lado de casa.  
Um mouse e a tramela. Ambos travam e destravam janelas, a convencional e a virtual. 
    A maior janela de bisbilhotice já vista, no casario de Ilhéus- Ba, no romance de Jorge Amado
                                     Fotos: 1 e 3 internet .  Tramela, casa da fazenda Retiro dos Ipês, foto do autor -2019
      

As janelas de hoje
            Adeus bisbilhoteiras das janelas dos tempos das vovós e de Ilhéus de Jorge Amado, que ficavam à espreita nos vãos das janelas, por detrás de cortinas ou pelas frestas entreabertas. Porém, nem tanto esse adeus, pois ainda hoje tem-se o hábito de se olhar pelo “olho mágico” da porta da sala.  Olhou..., não gostou da visita, não se abre a porta. Mas, atualmente os métodos da bisbilhotice evoluíram, tudo se fazendo confortavelmente assentado em casa, pela internet, a moderna janela planetária. Assim, a bisbilhotice que antigamente se restringia à vizinhança imediata, agora se ampliou para a esfera global, planetária. E pior, não bastassem os mecanismos eletrônicos disponibilizados para isso, contamos, infelizmente com novos tipos de gatunos e piratas, os hackers ou ciberpiratas, especialistas em invadir redes da internet.  Por seis vezes em menos de um ano nossas redes sociais foram invadidas. Um hackers localizado em Nova Mutum- MT, dois em Valparizo de Goiás e Brasília e outras três mais recentemente. Esses bisbilhoteiros de hoje são exponencialmente mais perigosos que as fofoqueiras de antanho, das janelas que espreitavam as ruas dia e noite. Invadem sua pagina, seu perfil  nas redes sociais, compilam dados sobre sua vida, família, amigos e montam versões fantasiosas, espalhando calúnias e difamações em escala. Há notícias de que muitos chegam a praticar até extorsão, pedindo dinheiro aos amigos da vítima que teve sua identidade usada para tal. Pior que nem precisam ser ciberpiratas, basta lhe enganar e pedir aceitação de amizade, ou nem isso, pois na maioria das vezes se vale da conivência de amigo comum, geralmente um parente próximo que  conste como amigo na lista da vítima, alvo da má ação.

Uma janela convencional à esquerda, com vistas para o jardim e um smartfone
 que se transformou   na grande “janela” planetária, abrangente, com a 
internet querealiza  vídeo chamadas e teleconferências
Foto: internet

Este é o risco que se corre quando se aceita um estranho para amigo nas redes sociais, ou seja, mal comparado é o mesmo que dormir com o inimigo. Isto porque os membros de nossas listas de amigos não são mais pessoas que conhecíamos ou víamos pela vizinhança, colégio ou onde quer que estivéssemos, mas, sim, multidões de desconhecidos e as vezes travestidos, exibindo um perfil previamente maquiado. Maquiagem de dados e qualidades pessoais e imagens são comuns,  pois os aplicativos de Photoshop  as deixam 20 ou 30 anos mais jovens... Ah..., que dificuldade temos para reconhecer certas pessoas ao vivo, presencialmente. Estão sempre a maquiar o visual e não raras vezes nos assustamos quando encontramos pela primeira vez alguém na rua e ouvimos: “oi, sou a fulana, sua amiga no Face, não se lembra de mim? Dá vontade de responder..., ah, sim, desculpe-me mas tenho a impressão que nosso encontro “foi há 30 anos” e só me recordava daquela imagem visual... Lógico que ninguém fará isso, até porque a pessoa, na maioria das vezes é e quer demonstrar gentileza.

Voltando à janela de hoje, a  Internet, ela  já teve outros nomes, televisão  (há 70 anos) e mais antigamente o telefone que foi inventado por Graham Bell em 1876 e imediatamente trazido para o Brasil, pelo Imperador D. Pedro II, em 1877, após se extasiar com o invento na Exposição de Filadélfia, nos EUA. Mas isso já passado quase que remoto, de 150 anos.

                                                                                                        
O telefone antigo da fazenda Criminoso, pertencente a meu avô, usado até o final da década de 1950. O segundo, de cor preta e muto pesado, representava o grande avanço para os anos 60, come discagem direta.        
                                     Foto do autor – Londrina-PR - 2013

       
A Telefonista dos anos de 1940, em Lavras. Era o mais perigoso dos vírus (ou software?), pois fazia todas as conexões das ligações. Girávamos a manivela do telefone, a campainha tocava em sua mesa. Atendia e bastava dizer-lhe o número desejado. Ela podia escutar todas as conversas.  Discrição a toda prova. Valia ouro, espiã potencial...!!!  

TV Telefunken, importada -1957. A novíssima janela que as crianças  adoravam .  
                                                 Foto:   arquivos de Renato Libeck   

Hoje a internet revolucionou as relações interpessoais com suas redes sociais, blogs, sites especializados em buscas, lazer, fofocas e tudo mais, acessados a um simples toque no mouse ou no teclado do telefone. E melhor, tudo ao vivo e a cores em tempo real, a um clique no aparelhinho de bolso, o smartfone.  Hoje não há pergunta que fique sem resposta e até as crianças nos desafiam. A tramela que segura essa grande janela é apenas um teclado ou um mouse. Aliás, este último até se parece fisicamente com as antigas tramelas das janelas. Movimentando-se essas modernas tramelas, tudo se abre com velocidade ultrassônica. Ao mesmo tempo que podemos adentrar o Museu do Louvre ou o Smithsonian e contemplar os maiores e mais belos tesouros artísticos, ou assistir a uma ópera com grandes e famosas orquestras e tenores, podemos também entrar na redação dos grandes jornais e ler as notícias em primeira mão. Da mesma forma e em tempo real, com as vídeo-chamadas entramos na casa de amigos e familiares, ou onde quer que estejam as câmeras, por mais indiscretas que sejam. Há porém, segundo narra a bibliografia, um problema com as vídeos chamadas. Algumas moças e senhoras mais recatadas só aceitam as videochamadas com hora marcada e ainda assim depois de passarem pelo salão de beleza. Até certo ponto é compreensível, pois o gênero sempre foi mais cuidadoso com o visual, o look. Mas, chega ser engraçado algumas delas se apresentarem com as microcâmeras dos aparelhos celulares veladas, lacradas.

            Mas, se as janelas das casas foram, durante séculos, a vitrine, o local de contemplação e dali partiam as impressões e os comentários sobre os passantes da rua, hoje são muito diferentes. Houve mudanças e em menos de 20 anos depois da chegada do Orkut (2004 a 2014- extinto), Facebook (criado em 2004 por M. Zuckerberg para que as pessoas pudessem se encontrar e trocar ideias e fotos – encontrei amigos de infância depois de mais de 60 anos sem contato algum) e por último o Instagram criado em 2010. Mudou-se completamente o panorama, a começar pela velocidade de propagação da notícia e, principalmente pela quantidade de pessoas alcançadas instantaneamente. Enquanto que da janela se avistavam um número limitadíssimo de pessoas, a internet tem alcance planetário. Portanto a eficiência e a eficácia das novas “janelas” são indiscutíveis.

Janelas..., ah, as janelas, para que servem as janelas? Se a porta da casa é o limiar pelo qual passamos e ganhamos o mundo lá fora, a janela sempre foi um espaço de interiorização e por ela, mais que olhar, espiamos o mundo, passando a ser nosso espaço de exteriorização como metáfora de esperança para todos nós. As janelas, convencionais ou virtuais, servem para o bem e para o mal, pois é por elas que também espalha-se o vírus oportunista das fake news, especialmente em tempos de guerra. Cuidado, busque a verdade, sempre!

Quarentena
Se antes a população já vinha se valendo dessas novas “janelas eletrônicas”, o que dizer agora em épocas de quarentena obrigatória, imposta a todos pela pandemia do coronavírus? Nem mesmo os ladrões saem às ruas para trabalhar ou roubar, diz a crônica policial nos jornais e TV. Em minha cidade natal foi aprovada uma lei que proíbe a colocação de arame concertina sobre os muros (aqueles arames espiralados e com lâminas pontiagudas, contra os ladrões), pois estavam matando os gatos que visitavam as gatas preferidas em outros telhados da vizinhança. Coitados dos bichanos, chegavam aleijados junto Às namoradas e se esvaim. Virou piada na cidade: Protegem-se gatos e liberam a passagem furtiva dos gatunos. Mas, a tranquilidade nas ruas e por consequência a extinção do prazer de ficar à janela olhando a vida passar, gerou outro tipo de problema. Em apenas três dias de quarentena foi o bastante para a surgirem reclamações nas redes sociais. Amigos da cidade natal ficaram indignados com a quantidade de “espiões” nas redes sóciais e nas ruas. Protestaram e tomaram medidas drásticas. A bisbilhotice pela internet, com invasão de privacidade de pessoas e familiares, seguida por disseminação de fofocas e fake news, tem atingido níveis insuportáveis, beirando mesmo ao crime cibernético. Alguns amigos já avisaram em suas redes sociais que vão eliminar, deletar ou bloquear  “supostos amigos” que, na prática só fazem bisbilhotar a pessoas, sua casa, os familiares e seus costumes para, em seguida, inventar e espalhar boatos prejudiciais à imagem e honra das pessoas. Outros , um pouco mais indiretos, conclamam: “Não abra a porta da sua casa para estranhos, nem a janela para ver o estranhos fazem na rua. Cuide de você  de sua casa”. O mesmo amigo ainda disse: “cada um faça a sua parte, não devemos ficar vigiando a vida dos outros. Será que até na pandemia não desistem? Aff, tenha dó!”  Uma amiga foi direta à questão: “Vou aproveitar a quarentena e diminuir os “amigos” do facebook.  Já foram quase 1.000, ontem”  e continuou no dia seguinte: “Para 5.000 “amigos”, estou nos 3.000 e poucos...rsrs... glória!”. Outra, anuncia em tom profético: “ hoje é o dia de separar o joio do trigo no meu facebook”. Chega a ser assustador, pois em apenas quatro dias de quarentena , muitos já se deram conta que é necessário colocar um freio na situação, primeiramente limitando-se o numero de amigos no perfil, selecionar criteriosamente  e expurgar aqueles que teimam em praticar o crime da difamação.

Posts diversos, em redes sociais

Enxugar as redes sociais
 É compreensível, portanto, que alguns já falem abertamente em eliminar milhares de amigos, depurar o ambiente que de certa forma acaba sendo hostil, devido à impossibilidade real de se relacionar e conhecer a todos. Antigamente as pessoas não tinham mais que cinco amigos aos quais se podiam recorrer e confiar informações pessoais. Havia laços de verdadeira amizade, compadrio em defesa da família. Tínhamos cerca de trinta ou um pouco mais de colegas de escola, aos quais chamávamos de “conhecidos” e mantínhamos apenas relações estudantis. Some-se a esses os conhecidos da vizinhança, com os quais trocávamos apenas cumprimentos e chegaremos a um total de, no máximo, meia centena de pessoas, entre “conhecidos” e amigos. Hoje, com as redes sociais, são milhares. Há os que mantem dois perfis distintos nas redes, Fulano 1 e Fulano 2, pois há limite de até 5.000  “amigos” para cada perfil. Quantidades exageradas, pois, estudos realizados em universidades e centros de pesquisas sociais indicam que não se deve ter mais que 200 amigos numa rede social. Com o tempo chegamos à conclusão que a rede social só tem valor para manter contato com grupo reduzido de pessoas, até porque é impossível e improvável tanta gente se interessar por alguém, dizem os especialistas.

Há diversos métodos para essa “desintoxicação” de amigos, embora pareça dolorosa. Alguns anunciam a limpeza por absoluta falta de condições de administrar a situação, ou pelo desinteresse de muitos, que não acompanham, não curtem nem comentam. Representam apenas número, quantidade, como se isto fosse importante. Não é! A qualidade deve prevalecer nas relações interpessoais. Outros anunciam de forma mais polida que irão realizar um enxugamento de amigos e que só ficarão os que clicarem em “curtir” ou fizerem um comentário naquele post.  Ambas as formas funcionam como um primeiro filtro de seleção, mas, é logico que precisamos analisar cuidadosamente cada nome antes de se eliminá-lo ou bloquear um “suposto amigo”, suspeito de ser um amigo da onça que captura informações para produzir intrigas. Outra alternativa é criar um segundo perfil, com numero mais reduzido e pessoas selecionadas para assuntos mais pessoais. Entretanto, se já é problema administrar um perfil imagine dois, portanto não seria recomendável.

 O enxugamento faz parte da evolução natural das redes sociais e o Facebook, por exemplo, se antecipou a isso, pois deixou de distribuir seus posts para todos os amigos da lista. Apenas 25 dos seus amigos recebem os comunicados, e só. Mas, na hora do enxugamento é comum a gente se assustar, pois não gostamos de assim agir. Mas, infelizmente, isto se torna necessário, pois assim evitam-se problemas como a perda de tempo na qual se transformou a rede social para muitos, especialmente para os exagerados em quantidade de “amigos”. Dê preferência aos que realmente contribuam e deixe de fora aqueles do tipo classificado pelo filósofo Umberto Eco, citado mais adiante. Por outro lado, deve se considerar que o fato de você ter reencontrado, muito tempo depois, um amigo de infância ou de colégio não significa que tenha muitas coisas em comum com ele e por isso, muitas vezes, nem é conveniente mantê-lo em sua lista. Bastou postar uma opinião contrária a um post de um amigo dos tempos de colégio, sumido havia quase 60 anos e recém encontrado e..., estrilou. Logo a seguir postou em seu perfil, como post do dia: “não aceito que venham à minha página contrariar aquilo que publiquei. Se quiser publique suas opiniões em sua própria página”. Evidente que a carapuça foi sob medida e restou, então, ir à sua pagina e excluir todos nossos comentários em diversos de seus posts, geralmente político-partidário e em seguida o “amigo” foi definitivamente bloqueado. Nem mesmo a prometida visita à sua cidade ou simples alô foram realizados. Imagine, um professor da maior e mais reputada universidade brasileira, culto, mas radical e ególatra que queria apenas expor e impor a suas opiniões. Distância de gente assim é o mínimo que se pode fazer, pois as redes sociais são para o congraçamento, cultivar vínculos com o devido respeito.

Ação e reação contra bisbilhotices
            As razões para a publicação de um post especial, anunciando a exclusão de mil ou dois mil amigos de sua rede social, certamente tem como fundamento possíveis  ataques difamatórios à pessoas ou a seus familiares próximos. Não chegamos a tamanha quantidade de pessoas nas listas de “amigos” e por isso os expurgos tem acontecido em escala mais reduzida, mesmo depois de vários ataques de hackers e amadores. Estes, pedem a amizade ou simplesmente “passeiam” diariamente pelo perfil das vítimas nas redes sociais. Esses piratas amadores são mais fáceis de serem identificados, pois a própria rede social informa quem andou passeando por ali. Foram identificados os propagadores de intrigas, beneficiários diretos. Alguns estavam na lista de “amigos” e outros se valiam de parentes para entrar no perfil alheio. Assim, mesmo não constando da  lista da vítima eles conseguem, via terceiros, todas as informações constantes do perfil nas redes sociais. Com esses dados em mãos e também a relação de todos os amigos da vítima,  o inimigo monta as fake News,  fofocas fantasiosas, sempre com o objetivo de denegrir o titular da conta e eventuais amigos. O passo seguinte para a identificação dos hackers ou de piratas amadores é montar a rede de contatos entre eles e assim facilmente chega-se ao espião ou espiões disfarçados de amigos na sua rede social. Passo final, o expurgo sumário daqueles que integravam a rede de intrigas. A propagação das intrigas sempre ocorre por meios virtuais e em encontros de amigos  em clubes e bares. As vítimas não têm como combater diretamente a rede de intrigas. Só mesmo uma solução drástica, cirúrgica, cortando o mal pela origem,  no nascedouro com bloqueios sumários desses inimigos nas redes sociais.

Uma pena que pessoas sofram com essas ações de invasores. Antigamente os ladrões ou bisbilhoteiros eram facilmente identificáveis e segregados do convívio social sadio, amigo, ético e solidário. Mas, as técnicas e ferramentas de rastreamento cibernético, cruzadas e cotejadas com informações diretas de amigos receptores das fake news, permitem a identificação de piratas criminosos. O bloqueio a essa gente de má índole, bisbilhoteira, tornou-se inevitável e lá se foram mais de uma dúzia na cidade natal, na capital e outro em uma cidade do interior paulista, todos conterrâneos das vítimas e contemporâneos dos tempos de estudantes. Estão certos, portanto, os amigos que reclamam nesse período de quarentena do coronavírus. Essa gente maldosa se comporta como verdadeiros  voyeurs que não têm coragem de realizar suas próprias fantasias e assim, busca satisfazê-las projetando-se nas outras pessoas. Precisam mesmo de expurgo, bloqueios sumários. Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, não obstante e ainda assim..., para dizer a verdade, nem acho que o principal problema seja o hacker ou o simples bisbilhoteiro que vive a passear pelos perfis alheios das redes sociais. Estes são de fácil identificação, pois falam e propagam demais suas fantasiosas mentiras sem se darem conta que há pessoas sérias, éticas e que imediatamente se reportam às vítimas. Ainda há verdadeiros amigos e quanto aos invasores e caluniadores, é fácil aplicar a regra, identificar, checar, confirmar e em seguida o bloqueio total e imediato nas redes sociais e, se for o caso, cabe até processo judicial, dependendo da extensão e gravidade das ofensas. Há leis que regulam os crimes cibernéticos com punições severas. Sobre eles, informam os peritos judiciais, quase sempre são pessoas frustradas, de mal com a vida, que procuram descarregar suas decepções e derrotas em outros. Freud para eles! Afinal não passam de coitados doentes mentais. O problema maior e de difícil combate, são os tolos, idiotas, como bem definiu o escritor e filósofo Umberto Eco (1932-2016. Autor do livro “O Pêndulo de Foucault”, de 1998), que não apenas escrevia romances. Foi um filósofo e professor, contemporâneo falecido recentemente. No caso dos ignorantes/idiotas que frequentam a internet, ele explica que “a internet empoderou os ignorantes, pois no passado o idiota de aldeia permanecia humilde na consciência de suas limitações, mas, com a internet, um Premio Nobel tem o mesmo espaço de fala do que um tolo”.

   


A igreja onde se realizou o experimento e a mesa do Pêndulo de Foucault
Fotos do autor: Musée des Arts et Métiers - Paris      -  dezembro de 2013
                          Église Saint Martin des Champs
                         

  O livro escrito por Umberto Eco, em 1988,  “ O Pêndulo de Foucault”, inspirou-nos a visitar o Musée des Arts et Métiers, em Paris, onde se passa boa parte da trama do romance. Alí, no Museu, pudemos assistir a mais bela, simples, didática e clara demonstração do cientista Léon Foucault, que em 1851 comprovou, ali no adro da igreja Saint Martin des Champs, a teoria de que a terra gira em todo de seu eixo, o chamado movimento de rotação, que dura  24 horas diante do sol, dividindo o tempo em dia e a noite. No livro de Umberto Eco aquele museu serviu de esconderijo para um dos principais protagonistas do enredo que, com sua teoria conspiratória, pesquisava os planos secretos dos Templários para dominarem o mundo.
Foi uma das mais emocionantes visitas que fizemos a museus e palácios da França. Ali está a demonstração cabal da ciência dos combatidos, excomungados e perseguidos pela igreja, como Nicolau Copérnico (ousou desafiar a “ciencia” da doutrina da igreja, com a teoria do heliocentrismo)                                                                                                              
Veja detalhes da visita no site internacional- Trip Adviser: https://www.tripadvisor.com.br/ShowUserReviews-g187147-d265615-r212521831-Musee_des_Arts_et_Metiers-Paris_Ile_de_France.html#   (Clique na foto que aparece em baixo, no site e veja a sequencia de outras fotos do museu)


Mas, afinal, o que leva uma pessoa a inventar uma história que sabe que vai prejudicar alguém ou várias outras? Antes mesmo da definição do filósofo italiano, sobre a imbecilidade de certas pessoas, Nelson Rodrigues, escritor e contista dos costumes brasileiros (1912-1980 – autor da série de contos “A vida como ela é”), escreveu que “os idiotas iam dominar o mundo, simplesmente pelo fato de serem muitos”. Portanto, não é de se estranhar que haja pessoas (desocupadas e de mentes vazias) imbuídas desse espirito de maledicências pelas redes sociais e pelos bares e botequins de frequentadores inveterados, onde prevalece a pós-verdade. Sim, disseminam factoides onde os fatos objetivos e verdadeiros são ignorados na argumentação, expondo apenas a sua visão estritamente particular e descompromissada com qualquer realidade. Uma falsa verdade, divulgada com rapidez astronômica de fatos desconectados do contexto e versões acerca de tudo, com ou sem relação com a realidade ou possibilidade de comprovação. Assim, se constroem a calunia e a difamação, longe das vítimas, sem chances de se defenderem. Alegria doentia dos idiotas descritos pelo filósofo italiano e pelo escritor brasileiro.

Mas, a toda ação corresponde igual reação em sentido contrário, diz a lei da física que aprendemos no colégio. Não à toa a Unisys, gigante mundial da tecnologia de informática, calcula que haverá um aumento de 400% (quatrocentos por cento) nos ataques de hackers desde o inicio da quarentena do Covid-19. Afirma seu diretor no Brasil que é preciso entender que a proteção dos dados e do computador não é diferente da proteção da saúde. Um bom antivírus  ajuda, mas os cuidados em acessar sites e abrir arquivos suspeitos devem ser redobrados. Todos em casa... é a ordem quarentenária e consequentemente o fluxo de bytes cresce em proporções exponenciais.

Janelas, para que servem?
         Janelas..., ah, as janelas, para que servem as janelas? Se a porta da casa é o limiar, a soleira pela qual passamos e ganhamos o mundo lá fora, a janela sempre foi um espaço de interiorização e por ela, mais que  olhar, espiamos o mundo, passando a ser nosso espaço de exteriorização como metáfora de esperança para todos nós. As janelas, convencionais ou virtuais, servem para o bem e para o mal, pois é por elas que também espalha-se o vírus oportunista das fake news, especialmente em tempos de guerra.

            Embora estejamos sujeitos a toda sorte de invasões pelas “janelas” virtuais, as redes sociais são ferramentas importantes para a comunicação e aproximação de amigos.  Pena que alguns idiotas, usando o termo empregado pelo filósofo italiano, teimam em não entender isto, interpretam à sua moda e saem espalhando boatos. De nossa parte, continuaremos  a escrever produzindo crônicas para os poucos e seletos amigos e os cerca de 300 mil leitores, sim trezentos mil, com acessos ao blog do Menino das Lavras. Ler e principalmente escrever são a melhor terapia para a alma. Aproveitemos, pois, a quarentena do coronavírus, com o distanciamento social necessário e recomendado, aproveitando o tempo para fazer agir um outro vírus benigno, o vírus compulsivo da leitura e da escrita. Estes, sim, a leitura e a escrita, nos enlevam, curam e nos aproximam dos amigos e proporcionam a felicidade da alma.

            Mas, afinal para que servem as janelas, título figurado desta crônica? Na atualidade não valem mais? Ah, sim, valem muito desde que usadas para iluminar, arejar o ambiente, contemplar a natureza e relaxar a alma. Já se foi o tempo em que a única diversão era ficar à espreita nas janelas. Certamente era um hábito muito cultuado. E há provas ainda hoje, pois se observamos as fotos antigas veremos que as casas pareciam ter mais janelas que paredes. Pudera, não existiam ainda a internet, televisão e sequer o telefone. A comunicação era visual e direta e para isso nada melhor que a janela. No conforto de sua casa, observava e saudava os passantes, alguns eram convidados para um dedo de prosa e cafezinho, ali mesmo na varanda. Costume português, cujo senhor, o coronel vivia na fazenda e nos finais de semana vinha para a cidade, assistir missa e festas religiosas. Repare as fotos a seguir:
                                

          

    

                               
Mas..., são muitas janelas... e varandas..., mais janelas que paredes. Os fazendeiros e coroneis, que viviam nas fazendas e só passavam fins de semana na cidade. Faziam questão das janelas e varandas para apreciarem o  movimento das ruas. Até mesmo as igrejas eram fartas de janelas.
Fotos: Lavras-MG, anos de 1960 - 1ª e 2ª, da coleção de Renato Libeck. A terceira do autor (2019). Ultima Catarina Júlia (2018)


O menino, de origem rural, não negou a tradição dos ancestrais portugueses. Conviveu e apreciou todos os tipos de janelas em sua vida de mais de sete décadas, da casa onde nasceu, toda florida de ipês amarelos, do internato, do bonde,  a janela do quarto onde estudei  para o vestibular e com vista privilegiada para o jardim da cidade, ou ainda a janela panorâmica, de trabalho  no Rio de Janeiro com vista para a praia de Botafogo e o Pão de Açucar.  Isto sem contar a janela do saber, que é a universidade, as janelas do trem,  do carro, as janelas do avião por sobre a belíssima Serra da 

    
A janela florida da Fazenda Sítio do Retiro dos Ipês, exatamente no quarto onde nasceu o menino, há sete décadas. Tempos depois,  matando  saudades na mesma janela. Janelas têm um simbolismo marcante
                  Fotos do autor: agosto de 2013 e 2019

 Bocaina, plantações, mar, cidades e, por que não a janela da cozinha? Como se vê, nada temos contra as janelas. Ao contrario sempre as apreciamos, a começar pelas antigas tradicionais. Se elas, antes, silenciosamente eram utilizadas para espionar a vida alheia nas ruas, ao contrário, sempre as utilizava para contemplar a natureza ou valer-me de sua luz para a leitura, estudos e aprimoramento. Mas, à parte os saudosismos das janelas, é interessante notar que em tempos de quarentena a janela voltou a ter o seu protagonismo, pois muitos de nós sequer chegávamos  a ela. Agora virou a nova rua com a moderna e grande janela, a Internet com câmeras espalhadas por toda parte em verdadeiro Big Brother a vigiar ruas e praças. Mas essa grande e planetária janela nos serve, principalmente, para o nosso trabalho e comunicação com o mundo, visitas virtuais a amigos e outros locais, conhecendo pessoas sem sair de casa.
                                 
    
Da janela da cabine de comando de um Aeroboero,  aproximando-se da Serra da Bocaina, em Lavras, para contemplar a beleza da natureza...

De  outra janela, num computador, planejando e executando atividades da área da engenharia em todo o país, graças à Internet.
Fotos do autor: Lavras 2013 e Brasília 2009
                     

              Mas, resta ainda uma dúvida, será que as janelas convencionais só foram construídas e apreciadas dessa maneira no passado? Nas casas, nos trens, automóveis e nos aviões? Não! Não podemos nos esquecer das janelas dos navios. Ali, são importantíssimas, pois os passageiros passam dias em suas cabines enquanto a nave singra os mares em busca de novos portos. Navios de turismo que o digam. Se as casas antigas pareciam ter mais janelas que paredes, os navios têm mais janelas que tudo. São milhares e nelas o viajante fica a contemplar o horizonte dos mares, em busca de um sinal da terra que se aproxima, do porto acolhedor que lhe espera. Ou antes, ainda, para o aceno final, o adeus ao ente querido que fica em terra. E as janelas, ali nas cabinas, são o consolo. O consolo de um acenar de mãos para quem fica, até mesmo para um desconhecido barqueiro que passa ao lado do navio, enquanto no horizonte vão desaparecendo as silhuetas das montanhas. Terra que fica, janela que descortina horizontes e faz a alma flutuar em doces lembranças da terra e dos entes queridos que ficaram.  Quem nunca experimentou a dor gostosa do adeus enquanto o apito característico do navio ecoa melancolicamente numa despedida que parece eterna e faz brotar as lágrimas? Certa vez, em minhas longas permanências de trabalho no exterior, fui ao porto de Nova York só para ver a bandeira brasileira tremular no mastro de um navio cargueiro da Petrobras. De longe acenei para alguns marujos no convés, justamente na hora de sua partida, fazendo ecoar de seu apito. Numa época em que não existiam celulares, e-mails e tampouco vídeo-chamadas, entrar na loja da Varig para ler o Jornal do Brasil e falar português ou ver um navio de bandeira brasileira atracado no porto, já era um bálsamo para alma saudosa, de quatro a seis semanas longe da pátria.

  
 Um belíssimo navio de turismo zarpando do porto de Santos. Milhares de janelas e em cada uma há   um passageiro dando adeus para a terra, a um ente     querido  ou simplesmente para o  barqueiro desconhecido que passa ao lado.                 Uma janela de avião sobre outro avião, a cidade de Brasília a 1.200 metros de altura. Assim como o passageiro do navio contempla a terra que fica distante na linha do horizonte,  o menino sempre buscou a janela do avião para admirar, em pura e bela contemplação, o azul do céu, os rios, o verde... ou, ainda,  a mais bela visão de “outro avião”, dourado  e pousado em meio escuridão da noite, como uma foto da sua própria cidade- Brasília. 
  Fotos : internet            

Cruzeiros turísticos em modernos e luxuosos transatlânticos são a oitava maravilha do mundo, desde que você navegue, aporte e zarpe a toda hora para destinos previamente escolhidos. Mas, não se pode esquecer que há quem goste de quarentenas em navios e ali ficar trancado até 40 dias, isolado na cabine. Foi o que nos contou, em belíssima história de amor, o grande escritor e romancista colombiano Gabriel Garcia Marques, em: “O amor nos tempos do cólera”. Inspirada na verdadeira história de seus pais (século XIX) e ambientada nos mares do Caribe (século XX), o autor narra o romance de dois setentões apaixonados, Florentino Ariza, que esperou 50 anos a sua amada da juventude. Ela, Fermina Daza, havia se casado com um médico, por imposição de seu pai que não aceitava Ariza, um simples telegrafista. Depois que o médico morreu a viúva Daza reencontrou, casualmente a bordo de um navio turístico, com o antigo amor, Ariza. Ele com 72 anos e ela um ou dois a menos, viveram um encontro idílico enquanto o navio ficou de quarentena, distante do porto, por conta de uma epidemia – a peste do cólera. Prometeram, ali, se casar e assim o fizeram logo que desembarcaram. Entretanto, na lua de mel, ele, todo empolgado subiu numa escada para apanhar, numa enorme laranjeira, algumas frutas para sua amada. Caiu da escada e morreu. Nenhum dos dois, ele e nem ela comeram da cobiçada fruta da lua de mel.... Triste fim para um reencontro apaixonado de meio século de espera. Não acreditei que pudesse ter sido uma história baseada em fatos reais e lá fui a Cartagena de Las Indias, terra do autor citado, visitar museus e sua casa naquela cidade caribenha de 500 anos. Concluí que Fermina Daza e Florentino Ariza tiveram de fato um cenário paradisíaco  a partir da janela do navio ancorado, um pouco distante do porto e aguardando o tempo da quarentena da peste do cólera. Entusiasmado com os achados históricos em Cartagena, perdi o voo de volta para o Brasil.

           
     
          Capa do livro, a laranjeira e a escada da qual Ariza se estatelou no chão, durinho e morto, ficando sem lua de mel, depois de 50 anos de espera. à direita a casa de Gabriel Garcia Marquez, em Cartagena de las Indias



  
o menino em visita à museus e ao centro a casa de Gabriel Garcia Marquez, o Gabo, em Cartagena, no caribe.
Por conta dessas visitas perdeu o voo de volta para o Brasil. Na falta de celular e internet.., só mesmo um cartão postal.


Ao chegar em casa, impressionado com a queda e morte de Ariza em plena lua de mel,
não quiz saber de subir na escadas. Deixou a limpesa e pintura do telhado para um mais jovem...


Linda história de amor contada pelo famoso escritor, Gabo.  Tomara que hoje, a quarentena do coronavírus, de duração incerta, nos traga também “janelas” com belos cenários para a alma. Saibamos aproveitá-la. E pensar que há pessoas que não sabem usá-las. Ora, pois..., janelas. Para que servem as janelas? Não custa repetir, janelas têm grande utilidade para o corpo e a alma. Nelas buscamos o ar e a luz e na contemplação da natureza encontramos paz. Nas janelas virtuais da internet também encontramos grande utilidade, especialmente em tempos de quarentena. E deveriam ser utilizadas apenas para o bem. São lamentáveis as queixas de amigos que têm sido vítimas de bisbilhotices e maledicências. Mas nem por isso vamos condenar as janelas, quaisquer que sejam. Em todas e de todas devemos sempre buscar o saber e o engrandecimento da alma. Janelas deveriam servir tão somente para isso, sobretudo para a solidariedade e o amor. Não deveriam ser, jamais, r usadas  para a espreita do mal e a difusão da calunia, a difamação. Saibamos explorar e usar as moderna janelas, as redes sociais e seus mecanismos de busca na internet para praticar apenas o bem, aprender, crescer, se alegrar e sobretudo fazer e cultivar amigos. E agora, justamente nos momentos de quarentena, façamos o melhor uso delas e principalmente, sejamos solidários. Muito bom cultivar amigos, presenciais e virtuais. E que das mesmas antigas janelas, de onde antes partiam olhares silenciosos que espreitavam furtivamente pessoas, saiam agora apenas olhares de contemplações que engrandeçam a alma.   

Até mesmo as autoridades estão a nos incentivar a ficar em casa e consequentemente, fazer uso das janelas. Usemos e abusemos delas, tanto das tradicionais como das virtuais, mas sempre com o olhar voltado para o bem, para o amor ao próximo, até porque atualmente lá fora está o coronavírus. Portanto, “Fique em casa”, dizem os outdoors de governadores e prefeitos municipais engajados nas campanhas anti-coronavírus.  Este, o vírus maligno, não quer saber sua cor, condição socioeconômica, se tem ou não dinheiro $$$, orientação sexual, preferencia politica ou seu time de futebol e religião, embora o governo até ache que quem se reúne numa igreja está imune ao vírus.... Também não quer saber quem matou a vereadora do Rio, o prefeito de Campinas e onde estão o queiroz, alguns ex-presidiários de Curitiba, ou ainda em quem você votou e o que faz aquela pessoa na rua. Ataca indistintamente. Aproveite a quarentena, fique em casa mesmo, é mais seguro e leia, leia muito, escreva, assista filmes, faça faxinas na casa envolvendo as crianças nas tarefas, cozinhe, lave pratos e talheres até mesmo para aprender a valorizar o trabalho de quem os faz, ou mesmo para cobrir a falta dos empregados domésticos. Que arrumem os armários e despensas (tem amigos armazenando comida para um ano..., e não são poucos). Faxine também as listas de amigos das redes sociais, como aqui citado. Mas, acima de tudo, reflitamos bastante e reavaliemos nossas posições de modo a sempre preservar o respeito ao próximo e os princípios éticos. Seja solidário! Fique em casa! Não custa repetir, essa é a coisa certa a fazer enquanto dure a tempestade. Por que desafiar a ciência e as autoridades sanitárias mundiais? Recomendamos isso até mesmo para aqueles que em apenas uma semana já se cansaram da faina domestica. Um amigo, professor universitário, chegou a postar nas redes sociais uma foto, trabalhando em home office, alegando que seu notebook estaria infectado e por isso estaria usando a máscara facial. Esqueceu-se que o cenário da foto era a sua cozinha e ao fundo, sobre a bancada da pia, uma montanha de louças e talheres recém lavados e secando sobre o escorredor. Lógico, estava louco para sair às ruas e trabalhar em seu gabinete na universidade. Restou-nos perguntar-lhe o que fazia, instalado com sua estação de trabalho na mesa da cozinha, usando o notebook e tendo a louça já lavada. Certamente estaria esperando o bolo assar, para servir à família no lanche da tarde e, portanto, era compreensível a vontade de sair às ruas. Não há mal nenhum na cozinha. Apenas se tornou, em tempos de quarentena domiciliar, o lugar mais policiado da casa. Qualquer um que ali entre é policiado, monitorado por todos. Ao abrir a geladeira, torna-se alvo de toda sorte de reprimendas coletivas, como se criminoso fosse..., já vai comer de novo? Olhe a balança...!!! Mas, afora esse período excepcional, os homens deveriam frequentá-la mais vezes. Fazer um beef ancho é muito fácil. 

À parte as brincadeiras, fiquemos, pois, em casa. Sair às ruas significa risco desnecessário de levar o vírus para dentro de casa e matar seu pai, sua mãe, seus avós, seu filho, seu vizinho ou amigo querido. Infelizmente o número de idiotas tem sido maior que o de infectados com o vírus letal, pois são eles que infectam nossas redes sociais com fakenews e outras falsidades. Faça diferença, fique em casa. Use as “janelas” disponíveis e somente para o bem! Com certeza, passado esse período de reclusão, com distanciamento social e que esperamos seja breve, não seremos mais os mesmos. Teremos mudado nossa maneira de encarar a vida e, com certeza, seremos melhores. 

Janelas..., ah, as janelas, para que servem as janelas?

Brasília, 31 de março de 2020

Paulo das Lavras




 


 
E até no internato do Seminário, onde estudou menino, profusão de janelas


Na janela do bonde..., esperando alguém que apareceu algum tempo depois
Foto: arquivos de Renato Libeck


O menino passou todas as tardes, de um ano inteiro, no quarto cuja janela fica à direita, no segundo andar, do prédio do antigo Banco de Crédito Real, em frente à Casa Juca Procópio. Vista completa, panorâmica, inclusive para o jardim.
Agora pergunte o que eu via daquela janela... Nada! Não sobrava tempo, pois eu e o amigo Santa Cecilia estudávamos o tempo todo e resultou que passamos nos primeiros lugares do vestibular da recém federalizada, Esal, hoje Ufla ...  Janelas..., ora, as janelas... para que servem?
Foto: arquivos de Renato Libeck



Janela panorâmica na sede da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária- ABMES
 10º andar, ao lado do Aeroporto Santos Dumont- Rio de Janeiro, com vista para o Pão de Açucar
Foto do autor – Rio 2011


Uma janela para o saber, a Universidade
Foto do autor – UniLavras, cortesia J.Argenta - 2019



O menino maquinista na janela da Maria Fumaça, paisagens dos tempos
de infância, fumaça, barulhão das caldeira e o saudoso apito.
Tudo muda, tudo passa nesse mundo de ilusão,
 vai para o céu a fumaça, fica na terra o carvão! (Guilherme de Almeida)
 e ali tinha carvão! E era colorida a janela de minha infância.
Foto do autor- São Lourenço-MG - maio de 2014



...da janela do trem turístico, Mariana/Ouro Preto, contemplei essa maravilha
Foto do autor – 05/09/2009


... da janela do carro, que emoldura a bela arquitetura de Brasília, mostrada até mesmo no retrovisor
Foto do autor – 2014



Os jornais mostram os efeitos da quarentena – ruas desertas, medo do coronavírus
Foto: Correio Braziliense – 20/03/2020


Anúncios em todas as cidades... isolamento rigoroso
Foto: Jornal de Lavras -  www.facebook.com/jornaldelavras 






Um professor, seu notebook- a janela para os alunos e o mundo, com máscara protetora, em home-office com estação de trabalho na cozinha. Provavelmente já cansado da jornada dupla...(ao fundo a louça e talheres lavados) e certamente, almejando que a quarentena termine em breve.
Foto:  Facebook, cortesia de J.A – Brasília, 03/2020



...janela que ilumina a cozinha..., para quem já está acostumado a ficar em casa. Passando um beef ancho e aperitivo vinho do Porto.
Foto do autor - 2017