quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Dia da Árvore, a recuperação do Meio Ambiente e o Papel do Engenheiro Agrônomo

 

 
Sejamos gratos ao Solo, pois ele nos alimenta na vida
 e nos acolhe na morte 

(autor desconhecido)

Seja ele, o Solo...,

roxo ou vermelho que produz alimento,

                                o amarelo da bauxita (alumínio), ou

                                           o marrom e azul dos minérios de ferro e manganês.

 

..... Mas, é dele também..., do Solo,

 que brota a Água que sacia a sede e faz fluir o Sangue em nossas veias  

          ... e a Seiva das Árvores que nos dão sombra e madeira.

Pergunta-se:

            Existe profissão mais bela e sublime que aquela que cuida do Solo?



Introdução

 

            Nesta data em que se celebra o Dia da Árvore, queremos lembrar também da importância do Solo. O Solo é a mãe da Natureza. É nele que germina e brota a semente que produz a árvore. Árvore que dá vida aos animais, alimentando-os com seus frutos e a água que brota de seu chão. Sejamos, pois, gratos a ele, tal qual nos convida a frase que abre esse artigo. E para comemorar tão importante data, o CREA-DF, o IBRAM e à Associação dos Engenheiros Agrônomos do DF, promoveram, nesta memorável data de 21 de Setembro, o Seminário: Gestão de Unidades de Conservação do Distrito Federal. Neste evento, coube-nos a honra de proferir palestra abordando o tema: “O Papel do Engenheiro Agrônomo na Recuperação de Áreas Degradas em Unidades de Conservação”.

            Unidades de Conservação são áreas territoriais naturais passíveis de proteção com fins de conservação da natureza com características relevantes, incluindo o solo, vegetação, nascentes, fauna e flora. O Cerrado, ou savana, é por exemplo, um bioma de grande importância em nosso país e nele estão inclusas várias Unidades de Conservação. Em 11 de Setembro comemoramos o Dia Nacional do Cerrado. A data foi instituída em 2003 para lembrar a importância do segundo maior bioma nacional, com cerca de 2 milhões de km². Nele estão inseridos três Aquíferos, o Bambuí, Urucuia e Guarani, o maior deles, que dão origem a oito das doze maiores bacias hidrográficas que formam a Bacia do Prata. O nosso cerrado é conhecido como berço das águas. Mas, ainda assim carece de políticas de Estado que assegurem sua proteção. Faltam regramentos para ocupação e uso racional. Pior, ainda, em pleno século XXI, vemos projetos de leis que pretendem reduzir em 40% a área da Floresta Nacional-Flona, aqui no Distrito Federal. Um crime defendido por agentes imobiliários e conivência política de agentes públicos que sempre fizeram vistas grossas às invasões ilegais nas áreas de conservação. Este é apenas um exemplo de incúria dos agentes políticos que ignoram, ao máximo, a importância de nossos biomas e o valor que eles representam para a conservação dos recursos hídricos, flora e fauna.  Por outro lado, a má utilização do solo do cerrado, com baixa produtividade agrícola, vem fazendo com que muitas dessas áreas sejam abandonadas depois de desmatada. Por conta de sua baixa capacidade regenerativa acabam se transformando em área degradadas. É nesse instante que precisamos do Engenheiro Agrônomo, profissional treinado para lidar com a engenharia do “Agro”. Somente este profissional está plenamente qualificado para lidar racionalmente e com tecnologias apropriadas à exploração do solo, água e planta, com inteligência e técnica, de modo a garantir produtividade, a conservação e a regeneração de áreas degradadas. Segundo estudos da UFG, a baixa produtividade do solo maltratado acaba estimulando o produtor rural a abandonar aquele trecho, tornando-o área degradada que somente será recuperada com a intervenção do profissional engenheiro agrônomo.

            A recuperação de áreas degradadas, dizem os especialistas, seria suficiente para a expansão da produção e evitar-se-iam novas áreas de desmatamentos do cerrado. Por outro lado, trechos que não teriam aptidão agrícola poderiam servir para a regeneração do cerrado que hoje só conta com 53% de sua área original ainda não devastada ou sendo usada para a exploração agrícola. Recuperar áreas degradadas não é simplesmente plantar árvores, construir diques ou tratar águas residuárias. É muito mais que isso e sua gênese está em seu principal elemento de apoio, o Solo que é a célula-mater de todo o trabalho de recuperação de áreas degradadas. Por isso merece destaque na Gestão das Unidades de Conservação ou de qualquer empreendimento na natureza, seja ele o agronegócio, o paisagismo de parques e jardins ou nas intervenções urbanas...

“... O solo é a alma-mater na conservação da Natureza e tem o principal papel na recuperação de áreas degradadas... Dele provem a fertilidade que faz crescer a vegetação que abriga a fauna, produz alimentos e a água que bebemos e ainda produz a madeira que nos abriga e aquece o corpo...”

            Poderíamos, então, afirmar que o primeiro passo na recuperação de áreas degradadas seria a Recuperação do Solo. Portanto, é preciso, antes de qualquer intervenção na natureza, seja na agricultura ou na recuperação ou manutenção de Áreas de Conservação, que se procedam estudos de geomorfologia, pedologia e fertilidade de modo a se determinara as classes de aptidões do solo, e com base na fisiologia vegetal proceder as alternativas de intervenção, começando pela recuperação da fertilidade,  indicações de espécies de vegetação adequadas à topografia, hidrologia, climatologia/meteorologia e vários outros fatores que devem ser considerados no planejamento de uma área de produção ou de regeneração e recuperação mais especializada. A integração com outras profissões é desejável, mas, a responsabilidade técnica desse serviço de engenharia de recuperação de áreas degradadas é exclusiva do Engenheiro Agrônomo, conforme perfil profissiográfico da graduação que se verá mais à frente. O avanço do desmatamento e a visível degradação de áreas do cerrado e de outros biomas, poderão afetar profundamente a economia agrícola e a qualidade de vida na região e até mesmo em outras localidades por onde passam os rios que nela nascem e são afluentes de bacias como a do Araguaia/Tocantins, do Rio São Francisco e a do Rio Paraná.

 

Recuperação de áreas degradadas e o Perfil Profissiográfico

            O termo “Agronomia” se refere à Ciência Agrária, reunindo conhecimentos, técnicas e procedimentos práticos que conduzem o exercício da agricultura. Nela estão inseridos os conhecimentos de ciências exatas, naturais (ambiental), sociais e econômicas. O profissional da área tem o título de Engenheiro Agrônomo, apto a atuar nos campos das ciências naturais, como a botânica e a zootecnia e outras áreas, como a engenharia, a economia e administração, de modo a garantir ou aumentar a qualidade e eficiência, sustentabilidade dos processos de produção agrícola e pecuária.

Para a atuação do Engenheiro Agrônomo na área específica da Recuperação de Áreas Degradadas em Unidades de Conservação, estão previstas atribuições nos dispositivos legais do Sistema CONFEA/CREA e para tanto, os Projetos Pedagógicos dos Cursos oficiais e registrados no CREA-DF preveem  a qualificação do futuro profissional em atividades  de vistorias, perícias, avaliações, arbitramentos, laudos e pareceres técnicos, com condutas, atitudes e responsabilidade técnica e social, respeitando a fauna e a flora e promovendo a conservação e/ou recuperação da qualidade do solo, do ar e da água, com uso de tecnologias integradas e sustentáveis do ambiente. A UnB, por exemplo garante a ministração de conteúdos no curso de Agronomia capazes de qualificar e habilitar os egressos com “conhecimentos através de técnicas, conceitos, ideias e compreensões, em torno de um objeto de estudo: a produção de alimentos e matérias primas a partir de recursos naturais, tais como o solo, a água, as plantas e os animais domésticos” com sustentabilidade ambiental

Continua, ainda o PPC/UNB:

“Mais recentemente, na base epistemológica da Agronomia e das Ciências Agrárias, as ideias e conceitos derivados da ecologia e das ciências ambientais têm ocupado um lugar de grande destaque, fazendo com que o enfoque holístico do agroecossistema como objeto de estudo venha apontando na direção de novos paradigmas de produção agropecuária em bases sustentáveis, desempenhando um papel cada vez mais decisivo nos processos/sistemas de produção no interior dos empreendimentos rurais.

A missão do profissional de Agronomia na atualidade apresenta um novo e apaixonante desafio, na medida em que a otimização dos sistemas de produção agropecuários tem que levar em consideração que a integração de princípios ecológicos e limites físicos no formalismo dos modelos da economia compreende muitas dificuldades suscitadas pela necessidade de abordagens multidisciplinares, transdisciplinares, holísticas e sistêmicas.

 

Por outro lado, o novo paradigma tecnológico-econômico, em um cenário de economia globalizada, vem sinalizando para padrões de competitividade em que a agregação de valor aos produtos agropecuários remete para “fora das porteiras” das unidades de produção rural não só a maior parte da geração da renda, deslocando os centros de decisão dos empreendimentos rurais, como também criando novos espaços de atuação dos profissionais de Agronomia, centrados na utilização intensiva de tecnologias de processos e produtos e, principalmente, da tecnologia da informação aplicada à gestão dos agronegócios. O ritmo da expansão do agronegócio brasileiro e sua crescente complexidade, decorrente de um relacionamento cada vez mais estreito com o setor industrial e o setor de serviços, não têm sido acompanhados pela oferta de profissionais qualificados para atender às novas demandas bem como manter a sua competitividade. Hoje, o mercado requer profissionais versáteis, multidisciplinares e com outras habilidades...”.

 

Nesse contexto, os mercados globais, como UEE, estão se alinhando no sentido de se alijar da pauta de suas importações, os produtos agropecuários que não atendam aos princípios de defesa ambiental, com produção sustentável. Assim, a produção no bioma do cerrado brasileiro, que já se apresenta com áreas de baixa produtividade e em alguns casos com áreas já degradadas, corre sérios riscos de ter seus produtos recusados, especialmente a soja e outros grãos. Então, fica óbvio que o papel e a presença do Engenheiro Agrônomo nas atividades de planejamento e execução de projetos de produção agropecuária SÃO IMPRESCINDÍVEIS, sobretudo na Recuperação de Áreas Degradadas em Unidades de Conservação. Somente ele, o Engenheiro Agrônomo está plenamente qualificado na graduação para planejar e explorar o Agro com visão holística, integrada, sistêmica, considerando todos os ramos da ciência, interligados em multi e interdisciplinaridade sistêmica, que somente os cursos de agronomia detêm. O Engenheiro Agrônomo, com seus múltiplos conhecimentos integrados, pode reverter situações em Áreas Degradadas, tornando seus solos mais férteis e assim aumentando a Produtividade do Cerrado, Sem a Necessidade de se Devastar novas áreas florestais ou nativas da savana.  Isto não quer dizer, no entanto, que ele não possa se valer da colaboração de outros profissionais, sejam eles das áreas biológicas ou das engenharias e tampouco que outros engenheiros não possam vir a se especializar nesse campo e requerer atribuições complementares, conforme é facultado na Resolução 1073/16-CONFEA.

 

 A UNB, por exemplo, tem o seu PPC-Agronomia aprovado pelo CREA-DF e nele são destacados:

 

- objetivos do curso de agronomia

 

“O curso de Agronomia tem como objetivo geral formar Engenheiros Agrônomos com capacidade técnico-científica e responsabilidade social, apto a promover, orientar e administrar a utilização e otimização dos diversos fatores que compõem os sistemas de produção agrícola e pecuário, transformação e comercialização, em consonância com os preceitos de proteção ambiental, além de planejar, pesquisar e aplicar técnicas, métodos e processos adequados à solução de problemas e à promoção do desenvolvimento sustentável”.

 

Não poderia haver melhor definição, que essa da UNB, acima transcrita de se projeto pedagógico para formação do Engenheiro Agrônomo para caracterizar o conteúdo da formação do Engenheiro Agrônomo, como o profissional ÚNICO, habilitado desde a graduação para planejar o Agros como um todo e não apenas partes. Ora, Recuperação de Áreas Degradadas em Unidades de Conservação é atividade agrícola complexa de grande e importante interdisciplinaridade. Há que se planejar o todo do empreendimento agrícola de modo a conservar, preservar e promover a sustentabilidade da produção no campo. É ali, com sua visão macro, que ele fará o uso dos conhecimentos e técnicas para a produção sustentável, nela incluídas a conservação do solo, água, planta, o bioma que também contempla a fauna.

 

A atividade de Recuperação de Áreas Degradadas não se resume a plantar árvores. É uma atividade de Engenharia Agronômica, complexa de grande interdisciplinaridade científica.

 

Os objetivos específicos do curso de Agronomia da UNB abrangem a formação de profissionais que possam, dentre várias atividades:

 

• Planejar e dirigir serviços relativos à engenharia rural, abrangendo, dentre    

    outros -

            ......  irrigação e drenagem

..... projetos que visem à implantação de métodos e práticas agrícolas com a         

     finalidade de explorar de modo sustentável os sistemas de produção vegetal,    

     abordando aspectos de... práticas culturais, experimentação, ecologia e      

     climatologia agrícolas;

• Planejar, coordenar e executar programas para o manejo e controle de pragas    

   (fitopatógenos, artrópodes-praga e plantas espontâneas) prejudiciais à   

    produção vegetal;

• Planejar, coordenar e executar programas referentes à ciência do solo, nas áreas de     

 

    gênese, morfologia, classificação, fertilidade, biologia, microbiologia, uso, manejo e      

    conservação;

 • Planejar, orientar, executar e supervisionar a implantação, produção e manejo de  

   Espécies florestais, nativas, exóticas, estabelecimento de viveiros florestais;

• Planejar, coordenar e executar projetos e ações de caráter socioeconômico, bem    

   como desenvolver a consciência e a responsabilidade social, utilizando-se dos    

   conhecimentos da sociologia, comunicação, política, economia, administração,    

   comercialização, legislação e educação, a fim de promover a organização e o bem-  

   estar da população;

• Planejar e desenvolver atividades de gestão ambiental relacionadas aos recursos      

  naturais renováveis e não renováveis;

• Gerar e difundir conhecimentos, métodos e técnicas de produção e administração,    

  envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão na área da agronomia;

• Atuar no âmbito da agricultura familiar buscando a sustentabilidade, com ênfase no   

  enfoque agroecológico e na proteção ambiental.

 

O curso de Agronomia estabelece ações pedagógicas com base no desenvolvimento de  

condutas e atitudes com responsabilidade técnica e social, tendo como princípios:

Respeito à fauna e à flora, com consciência de sua responsabilidade na       

  sustentabilidade do ambiente;

• Conservação e/ou recuperação da qualidade do solo, do ar e da água,

   a partir da compreensão dos processos agroecológico, agropecuário

   e agroindustrial para diagnosticar problemas e propor soluções dentro

   da realidade socioeconômica;

Uso tecnológico racional, integrado e sustentável do ambiente, com  

   capacidade de análise crítica e visão holística dos processos;

• Emprego de raciocínio reflexivo, crítico e criativo, com espírito empreendedor, senso    

  ético e capacidade de trabalhar em equipe;

• Atendimento às expectativas humanas e sociais no exercício de atividades       

  profissionais, a partir da compreensão da realidade    histórica, política e social, sendo   

 capaz de atuar como agente de modificação.

 

O currículo do curso de Agronomia dará condições a seus egressos de adquirirem competências e habilidades com o propósito de, dentre outras:

 -  realizar vistorias, perícias, avaliações, arbitramentos, laudos e pareceres técnicos, com condutas, atitudes e responsabilidade técnica e social, respeitando a fauna e a flora e promovendo a conservação e/ou recuperação da qualidade do solo, do ar e da água, com uso de tecnologias integradas e    sustentáveis do ambiente...

 

Conclusão

Assim é o perfil profissional do egresso do Curso de Agronomia. Eclético, abrangente, multi, inter e transdisciplinar, envolvendo conhecimentos necessários para o exercício pleno da atividade em tela: Recuperação de Áreas Degradadas.  Tal currículo, detalhado, foi aprovado pelo CREA-DF, tornando o Engenheiro Agrônomo o único profissional com plenos conhecimentos na graduação para o planejamento do Agro, nele incluso a recuperação de áreas degradadas que, aliás, não se restringe apenas ao plantio de árvores estejam elas em áreas particulares ou em Unidades de Conservação. Assim posto, torna-se desnecessário abordar os itens das atribuições profissionais aprovados pelo CREA, pois a Resolução 1.073/16, de 22 de abril de 2016, que regulamenta a atribuição de títulos, atividades, competências e campos de atuação profissionais, é bastante clara e suficiente. Cabe, portanto, ao CREA fiscalizar o exercício da profissão no âmbito da Engenharia e da Agronomia, a começar pela verificação dos currículos dos cursos (PPC) das Instituições de Ensino aprovados pelo MEC.

Equipe multi e interdisciplinar na Gestão de Unidades de Conservação? Sim, evidente. Poderão e deveriam participar especialistas em gestão pública, administradores, economistas, sociólogos, geógrafos, meteorologista, engenheiros de todas as modalidades e até mesmo engenheiros aeronáuticos, com projetos de drones especiais para monitoramento, semeadura aérea para cobertura vegetal em áreas de difícil acesso e outros fins.  Quaisquer outros engenheiros também poderão exercer atividades de Recuperação de Áreas Degradadas, desde que cumpram o disposto na Resolução 1.073 que contempla essa possibilidade a qualquer profissional da Engenharia e da Agronomia, que cursar conteúdos complementares, especializados ou não, em cursos REGULARES aprovados pelo MEC e registrados no CREA. Isto lhe dará direito à extensão de atribuições. Mas, nenhum outro profissional desempenharia o papel do Engenheiro Agrônomo que tem competência legal e qualificação desde o primeiro ano do curso de graduação para lidar com o Agros, o Solo, Água, Planta, a vida vegetal e animal que se valem da Mãe-Natureza. Protegê-la é a nossa obrigação, nosso compromisso social com o Meio Ambiente, a Vida, nos exatos termos do artigo 1º da Lei 5.194/66 que regula o exercício de nossa profissão: Engenheiro Agrônomo!

 

Brasília, 21 de setembro de 2022

 

Eng. Agr., Prof. Paulo Roberto da Silva

            telezap – 61- 98122 1523

           e-mail.  paulosilvadf@gmail.com



 

Seminário Gestão de Unidades de Conservação

21 de setembro de 2022


Também participamos do Encontro de Coordenadores de Cursos de Agronomia, de todo o país, reunidos na Mútua de Engenharia e Agronomia.

21 e 22 de setembro de 2022