terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Rolezinhos estão na moda. Vamos participar?


“Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa do que a falta de dinheiro” - John Kenneth Galbraith

“O que não é visto não é cobiçado” - (sabedoria popular)

             A primeira frase, antológica, do famoso economista me fez lembrar, em relação aos rolezinhos, aquela outra da sabedoria popular mais antiga e bem real. Mas, antes de falar sobre o “Rolezinho” gostaria de registrar que tenho receio de ser taxado de preconceituoso. Não sou! Como a todo brasileiro, causou-me surpresa esses movimentos de protestos dirigidos aos shoppings mais sofisticados. Quero apenas entender, compreender e, se possível ajudar naquilo que estiver ao meu alcance. Procurei ler bastante sobre esse fenômeno, artigos de profissionais psicólogos, especialistas em segurança, jornalistas, religiosos e quem mais se dignou a emitir opinião a respeito. Vi pesquisas realizadas por institutos especializados e até mesmo pelo IBGE e enquetes de jornalistas que se infiltraram em algumas manifestações e conseguiram sacar declarações dos jovens envolvidos nas manifestações. Os movimentos partem de jovens moradores de zonas mais afastadas dos centros das grandes cidades, que reclamam, em princípio, pela falta de opções de lazer nos locais onde moram.

             Em Brasília foi programado um rolezinho no Iguatemi Shopping, situado no Lago Norte, ao lado da antiga invasão (favela) e depois regularizada como bairro, o Varjão. Segundo censo do PNAD o Lago Norte ostenta apenas 0,9% de negros, enquanto que no Varjão são apenas 23,7% de brancos. No bairro chique de Brasília a renda familiar média é de 14.000 (catorze mil reais) e no Varjão de dois a quatro salários mínimos. O shopping não abriu as portas no dia aprazado para o rolezinho dos jovens. Não é difícil encontrar pessoas cercadas de riquezas sem fim e que consideram adolescência, negritude e pobreza como sinais de perigo. Assim, quanto mais sofisticado e caro, melhor o shopping. Lógico que isso é segregação odiosa, condenável.

  Antes de entrar nas discussões sociológicas da questão vamos falar de direitos e deveres. Será que os pais dessa garotada de 12/17 anos conseguirão, hoje, conter seus filhos? Esses pais são os nossos filhos de ontem, das décadas passadas, do consumismo desenfreado e que obrigou a todos – os pais e as mães – a irem para o mercado de trabalho para aumentar a renda familiar. Deixaram os filhos nas creches especializadas, aqueles que podiam pagar mais, ou nas mãos de babás despreparadas ou pior, aos cuidados dos filhinhos mais velhos de apenas sete ou oito anos... e nas ruas. Acompanhei isso na periferia de Brasília. Era previsível o que aconteceria. Jovens sujeitos ao assédio dos aliciadores e traficantes de drogas, escolas insuficientes e despreparadas e pior, sob constante e insuportável bombardeio da mídia incentivando, instigando o consumo fácil de tudo quanto a indústria produz, das roupas de grife ao tablet, smartphone, tv de última geração (para a Copa...), sem contar o carro zero km que hoje se compra em prestações de apenas 400 (quatrocentos reais) ou uma moto por 200 reais por mês. É claro que esses pais cuja renda de dois a quatro salários mínimos, não dão conta de fornecer todo o “status” almejado pelos jovens “consumistas” que acabam formando a geração “nem-nem”. Nem estuda, nem trabalha, mas querem ostentar o tênis de marca, de mil reais.

 Se os pais não dão conta de seus filhos e estes começam a protestar nos shoppings, é necessário que entendamos o que eles realmente reivindicam, pois, o que se teme não são as manifestações em si, justas se olhadas pelo lado social e dos direitos humanos, mas, sim, os desvios e prejuízos que elas podem provocar à maior parte da população. Ainda ontem vimos imagens de um jovem baleado pela polícia paulista em plena Avenida Paulista. Só que o tal jovem, segundo informações veiculadas, integrava os temíveis Black Blocs, baderneiros que se infiltram em qualquer manifestação pacífica. Esses baderneiros oportunistas depredaram, ontem, lojas e incendiaram um fusca, cuja família, felizmente, conseguiu sair do interior do veículo em chamas sem sofrer ferimentos. Mas os prejuízos não ficam restritos aos Black blocs. A ação dos rolezinhos, mesmo sem esses baderneiros de ocasião, causaram prejuízos à população. Em Brasília um shopping não abriu as portas no sábado para evitar um rolezinho programado. Em outros, também em Brasília, os clientes saíram em correia com medo de confusão ao menor sinal de aglomeração de rolezeiros. Isto Sem contar as famílias que deixaram de ir aos shoppings temendo pela segurança. Refiro-me à classe média, trabalhadora, frequentadora desses lugares, pois também não podemos ignorar que há alguns mais abonados que discriminam camadas sociais inferiores às suas. Isto sim é discriminação, segregação e não estamos nos referindo a esse tipo abominável de comportamento.

Mas voltemos aos direitos e deveres. É justo provocar fechamento de lojas, prejuízos, fugas de famílias, e às vezes depredações?  É lógico que não e não há “direitos humanos” que justifiquem o cerceamento do direito de outros cidadãos. Se de um lado criticaram-se as decisões judiciais que concederam liminares a alguns shoppings para proibirem a entrada de jovens e a realização de rolezinhos, que agora, pelo menos, apoiemos a Justiça na condenação dos organizadores desses atos. Um shopping da capital os identificou e está processando-os, cobrando os prejuízos. Seria muito bom que a Justiça e principalmente a OAB, ciosa em defender “os direitos” dessas manifestações, considerassem o direito do cidadão de ir e vir nesses locais sem medo e com garantias de sua integridade física.

 Bem, deixemos agora a questão dos direitos e deveres e passemos à defesa dos jovens, assumindo o mea culpa. Muitos especialistas esmiuçaram o perfil desses jovens que se organizam pelas redes sociais e programam suas atividades nos shoppings mais sofisticados. Algumas das conclusões já divulgadas:

- O rolezinho, reunião de jovens e adolescentes em shoppings do centro das cidades, nasceu na periferia de São Paulo, espalhou-se e tem como objetivo reivindicar mais espaço e diversão onde eles moram. Entretanto ninguém sabe ao certo o que eles pensam, mas sabem o que eles deveriam fazer da vida.
             - Os rolezinhos não têm faixas nem bandeiras. Não criticam o consumo. Ao contrário elogiam as marcas (tênis de mil reais, por exemplo). Só querem diversão, buscar as meninas, curtir muito.
          
            - Os jovens do mundo inteiro vão sempre desafiar os pais, os adultos, quem quer que seja. Não há quem não goste de ostentar, mostrar que é superior aos “diferenciados”, seja pelo carrão, tênis caríssimo ou até pela música que ouve.  A classe C, cresceu, progrediu, conforme comprovam as estatísticas do IBGE. Nas classes menos favorecidas há milhões de afiliados em programas sociais do governo (bolsas) que garantem um mínimo para a alimentação e habitação. Há quem afirme que quanto mais dependente dos programas de governo maior é a tendência em votar na situação. Por outro lado, muitos dessas classes mais baixas têm verdadeira obsessão pelo diploma de nível superior e preferem economizar dinheiro para investir na faculdade ou na escola particular dos filhos. Acreditam na educação como alavanca para o progresso econômico e social. E é isto é bem verdade, uma ideia que deve ser elogiada e incentivada.
          
            - A “periferia” não é, ainda, inteiramente conhecida. Um jornalista que passou boa parte de sua vida num bairro pobre de São Paulo disse que os jovens da periferia não prosseguiam nos estudos porque só pensavam em conseguir um emprego mais cedo possível. Assim poderiam comprar roupas, tênis, o primeiro carro, telhas para a casa, blocos para o muro alto, geladeira... Tinham duas únicas preocupações: mostrar que tinham melhorado de vida e proteger as casas contra a violência. Mas, aos finais de semana, eles e seus carros com som bem alto, ocupavam o centro da cidade tocando rap no último volume (declaração de um jornalista que viveu na periferia até se matricular numa universidade, no centro da cidade).

              - Finalmente, a única certeza é que não se pode simplificar a análise sobre os rolezinhos e o perfil dos jovens da periferia. É certo que eles não precisam marcar espaço nos shoppings da periferia. Já tem seus espaços por lá, ainda que em grupos menores. Não há espaços culturais na periferia e nisso eles tem razão em reivindicar, pois os shoppings são verdadeiros bunkers, palácios da segurança para as famílias que ali vão dispostas a gastarem e muito. Quanto mais luxuosos são, mais seguros se tornam.

Para mim ficou uma lição insofismável. Os rolezinhos vieram confirmar o apartheid social que vivemos em nosso país.  De um lado as classes mais favorecidas economicamente e de outro os moradores da periferia, de menor poder aquisitivo e que se ressentem da falta de opções de lazer (e de trabalho, supostamente, pois eles não disseram isto, mas está implícito) e que agora resolveram invadir “os bunkers” dos primeiros. Estes estão para lá de assustados. Mas, entendo que o alvo (shoppings) está equivocado. Melhor seria se fossem dirigidos aos poderes constituídos como o Congresso Nacional, Câmara Legislativa, Ministérios, Judiciário e Executivo em todos os níveis. Garanto que há muita coisa errada para se protestar nesses locais como a não aprovação de leis mais justas, combate à corrupção, etc,etc. Até mesmo a reivindicação principal, o objetivo-mor  proclamado pelos rolezinhos, a falta de opção de lazer para a juventude nas periferias, seria mais acertadamente encaminhada a esses locais. Seria mais justo! Eu mesmo participei das manifestações estudantis, de junho passado, na Esplanada dos Ministérios. É justo que os jovens se manifestem. O perigo está naqueles bagunceiros oportunistas que se infiltram e promovem a baderna.   
              E o governo, e os políticos? Fingem que  a questão não é com eles. Ah..., em ano de eleição nem vale a pena falar disso. Tomara que aquela minoria radical petista (26% dos afiliados do PT condenam e alguns até protestam há mais de 70 dias acampados em frente ao STF, por este ter condenado lideres do partido envolvidos no mensalão) não se infiltre nos rolezinhos e proponham a estatização dos shoppings ou crie a bolsa rolé, as duas grandes especialidades de pseudo-socialistas  brasileiros que não trabalham e vivem à custa do erário. Seria mais um ônus para quem trabalha e produz. Oh, my God! Vamos participar dos rolezinhos como sugerido no título desse artigo. Porém de forma diferente: vamos trabalhar, e muito, para que se criem oportunidades de empregos e salários justos para os nossos jovens ou seus pais. É disso que eles precisam para quebrar a maldita verdade, nua e cruel sobre o dinheiro, o vil metal que tudo governa em nossas vidas, segundo a afirmação um papa da economia:

Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa do que a falta de dinheiro”.

 
Brasília, 28 de janeiro de 2014
                   Paulo das Lavras.

Por que não um rolezinho assim?
 
 
       Rolezinho e repressão num shopping  
 
                                 
 
                                                                                 

 

 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Mais inteligente do que você pensa: O uso das redes sociais, o Facebook, Google...

                                                           


Em 13 de junho publiquei um artigo com o título: “O Facebook é antiestressante?”. Nesse artigo afirmamos que sim, que essa rede social é antiestressante e proporciona uma série de vantagens para seus usuários. Destacamos, dentre uma dúzia de vantagens, o fato de que as curtidas e comentários equivalem a elogios ou atitudes manifestadas nas interações com amigos. As palavras de apoio fazem as pessoas se sentirem bem. Por outro lado, pessoas que gostam de si mesmas, que estão de bem com a vida, tem tendência a serem positivas, provocando resposta melhor ainda dos outros. Já os mal humorados são frequentemente eliminados, bloqueados da lista de amigos. Isso comprova que a grande maioria está nas redes sociais por prazer e não gostam de atitudes negativas.

 
Alguns meses depois tomei conhecimento de um novo livro, de autoria de Clive Thompson. É um escritor especializado em tecnologias digitais e seus impactos sociais e culturais. Além de livros escreve artigos para jornais e revistas, incluindo o New York Times. Em setembro de 2013 lançou o livro “Smarter than you think: How technology is changing our minds for the better” (Mais inteligente do que você pensa: Como a tecnologia digital está mudando as nossas mentes para melhor. Tradução livre). O livro ainda não ganhou tradução no Brasil, mas seu lançamento nos EUA foi noticiado pelo jornal Folha de São Paulo, ainda que dois meses depois, em novembro de 2013. Trata-se de um livro instigante que procura derrubar alguns mitos como a suposição de que o uso constante das redes sociais e de buscadores como o Google torna a nossa memória mais preguiçosa. Seria inteligente usar esses mecanismos virtuais?

 
Educadores, psicólogos, cientistas sociais e outros profissionais tem se dedicado à questão, mas até agora poucos são os que defendem o uso generalizado dessas ferramentas digitais. Pessoalmente defendo que devemos, sim, usar e abusar dos recursos digitais e suas redes virtuais para nos auxiliar na busca de respostas para nossas dúvidas. Não considero, em hipótese alguma, que o seu uso torne as pessoas “menos inteligentes, com mentes preguiçosas”.  Como professor universitário sempre defendi e frequentemente aplicava provas (exames mensais) com consultas a livros ou redes virtuais (internet). Nunca cobrei dos alunos, por exemplo, qual o artigo da lei tal que enquadraria o engenheiro em tal ou tais infrações profissionais. Ou então, o que diz o artigo tal, da lei tal, sobre defesa do meio ambiente? Nada disso, pois a “decoreba” sempre foi criticada como desnecessária no processo de ensino/aprendizagem. Desconfio que os nossos professores de antigamente exigiam que decorássemos a física, a química, a matemática, as datas das guerras Púnicas e a queda de Constantinopla e tudo mais, simplesmente porque não podíamos carregar várias enciclopédias de três ou cinco quilos cada uma sobre nossas cabeças (hoje um smartphone pesa 100g e acessa tudo quanto há no mundo). Sempre pensei que seria mais importante que o aluno, futuro profissional, soubesse manusear um compêndio ou sites da internet e neles localizar a resposta e mais importante ainda, saber distinguir opiniões e suas particularidades, aumentando assim a habilidade/capacidade crítica (para o CtrC + CtrV eu dava zero na nota). Ora, se os mecanismos de buscas da redes digitais aí estão para oferecer tais respostas, porque exigir que o aluno decore aquela informação? Melhor deixar o cérebro para armazenar informações mais importantes ou então livre para pensar. Ademais, parti de duas assertivas da própria experiência de mais de 40 anos de vida profissional. Jamais um empregador, chefe ou superior chamou-me para responder: “certo, errado não sei” sobre determinada questão. Óbvio, se ele já sabe a resposta é porque alguém já estudou a questão e a resolveu antes e nesse caso, eu seria dispensável, não haveria lugar para mim ali naquela empresa. Sempre me confiaram tarefas/problemas a serem resolvidos. Estudos de casos, na verdade e então, que se aplique a metodologia correta: muitas consultas com referências bibliográficas e trabalhos em pareceria, em equipes multidisciplinares. Aí está a segunda experiência de vida que procurei repassar aos alunos: Trabalho em equipe, presencial ou virtual. Qualquer consulta ou pergunta que você faça a um colega já é considerado uma ação, um trabalho em equipe. Seja a consulta por escrito, oral ou virtual, não importa, você constituiu uma equipe para ajuda-lo na tarefa. Ora, se assim é na vida real onde você só conclui uma tarefa, um relatório, um estudo depois de tantas consultas e até citações de outros autores, por que eu, professor, deveria agir diferente com meus alunos? Por que não permitir a eles a consulta e mais, fazer o trabalho em grupos? Assim procedi durante anos, mesmo contra a vontade de alguns colegas professores menos dispostos a assistir a seus alunos e a ler/corrigir/comentar os trabalhos. Para eles era mais simples corrigir/conferir as respostas “certo, errado, não sei”. Nada mais fora de moda. Precisamos formar profissionais líderes, questionadores que conheçam a metodologia científica e tenham habilidade/capacidade para pensar criativamente e empreender.

 
Sobre a defesa do uso das redes sociais e a “terceirização” da nossa memória para a agenda do celular ou o Google, fiquei contente em encontrar no autor, Clive Thompson, a seguinte afirmativa:

“... é só uma maneira mais eficiente de dar prosseguimento a esse atalho que sempre usamos. O que assusta é que hoje substituímos pessoas e livros pelo Google e o smartphone (grifo meu), e como temos sempre eles à mão (ao contrário dos suportes de memória “analógicos”), deixamos um bocado da parte pesada de lembrança para a nuvem”.

 
Não abrir mão dos livros e das informações orais presenciais me parece um pouco saudosista. E nesse caso o citado autor tem razão, chega a assustar as pessoas, pois sempre predominou esse caráter colaborativo do conhecimento entre todos. É comum lembrarmos que um colega é “mestre” no assunto tal ou que fulano sabe todos os resultados dos jogos de futebol. É inegável que a substituição desses amigos e dos livros pelos smartphones e tablets de bolso tem lá suas vantagens, pois são muito mais rápidos e não nos negam respostas, qualquer que seja a hora. Estão sempre à mão e nos atendem com exclusividade. Saudosismo puro de quem combate as novas tecnologias. Ou seria elitismo? É retrocesso, antes de tudo! E mais, os sites de busca e as redes sociais não nos isolam. Ao contrário elas nos agregam e nos tornam mais sociais. Exemplo? Temos centenas de “amigos” virtuais e isso nos obriga a pensar coletivamente, pois a toda hora estamos a responder, reagir, dividir e compartilhar ideias. E quanto mais dividimos, mais agregamos conhecimento. Pergunto, se não fossem as redes sociais com quantos amigos você contataria, de imediato, ou saberia noticias e veria as fotos? Tenho observado que alguns amigos que nunca escreveram nada, carta, e-mail ou relatos, estão agora respondendo, emitindo opiniões e participando de debates nessas redes. Grande progresso. Certamente e em sentido oposto, as redes de TV aberta, que vivem da propaganda e programas de baixo nível cultural, devem estar se ressentindo da fuga desses espectadores passivos que, agora, empurrados pelos familiares mais jovens, aderiram ao facebook e outras redes sociais, trocando a passividade na sala de TV pela pro-atividade virtual. Nesse sentido, o citado autor chega a dizer que:

“Antes de a Internet surgir, a maioria das pessoas raramente escrevia alguma coisa

por prazer ou satisfação intelectual depois de se formar no ensino médio ou na faculdade. Isso é algo particularmente difícil de entender por parte dos profissionais cujos empregos exigem redações constantes, como acadêmicos, jornalistas, advogados e comerciantes”. Progresso pessoal e social. As pessoas ficam mais felizes com isso, repito.

  
Mais contente fiquei, ainda, ao ler no livro do citado autor:

            “.... mais importante do que saber alguma informação é a chamada metamemória: a capacidade de lembrar onde podemos encontrar algo que não sabemos, ou não lembramos os detalhes. A metamemória sempre foi uma habilidade importante, antes até do aparecimento da escrita....”.

Isso mesmo, antes da escrita. Fico admirado como os netinhos de apenas cinco anos, sem ainda serem alfabetizados, já sabem navegar na internet e até baixar joguinhos. São rápidos e impacientes quando a nossa visão, já um pouco cansada, demora alguns segundos para encontrar o ícone na tela. Eles sabem onde buscar a informação que precisam. Assim, a opinião do citado autor, sobre a metamemória, coincide com aquela que tenho praticado há mais de 12 anos com os alunos universitários. Treinar a mente para saber aonde encontrar a informação correta, por meio de provas com consultas bibliográficas e virtuais. Saber o que, onde e como procurar é importante. Não seria esta a forma mais inteligente de usarmos a nossa memória? Os cientistas descobriram que o desafio dos tempos modernos é ter a habilidade e a capacidade de gerenciar o acesso à memória externa. Assim, devemos deixar as “decorebas” e detalhes armazenados nas redes virtuais.  Não saber a data de um aniversário ou número de um telefone ou ainda o nome da capital da Namíbia não pode ser considerado falta de inteligência. Assim como há 40 anos o bibliotecário era a pessoa mais importante que poderia nos ajudar a encontrar um determinados assunto técnico, indicando qual livro ou Abstract a ser consultado, hoje as redes virtuais fazem isto a um simples toque. Nem mesmo em casa dou-me ao trabalho de relembrar em qual dos livros da estante poder-se-ia encontrar determinado assunto e depois em qual pagina estaria descrito. Vou direto aos buscadores das redes virtuais e em fração de segundos tenho à disposição uma série de indicações precisas. Resultado ágil, eficaz e ultra rápido que proporciona conforto mental para quem busca. Assim como o livro chegou para ficar e meteu inveja nos detentores do saber que se viram obrigados a dividir o conhecimento com outros que se dispusessem a ler os escritos, a internet, o Google e outros mecanismos de buscar digitais vieram também para ficar e desbancar os supostos inteligentes, o “sabe tudo”. Ninguém é capaz de se lembrar de todos os detalhes de um assunto e por isso, é preciso recorrer aos “registros”. Libere sua mente, use a inteligência artificial, digital. Entretanto, é preciso também entender quando devemos buscar conhecimento. Hoje, é fácil saber mais coisas, pois tudo está disponível, rapidamente e com intenso bombardeio de ofertas consumistas. Porém, mais do que nunca, a atitude “mais inteligente”, é saber escolher e descartar o que não é importante. Gerenciar as informações é a palavra chave para não nos perdemos nesse mar de informações que são colocadas à nossa disposição.

 
O uso das redes sociais, o Facebook, Google e outras... é, sim, mais inteligente do que você pensa, pois quando falamos ou escrevemos nos esforçamos mais, pensamos mais e isto contribui para o desenvolvimento intelectual, tornando-nos mais sábios.

 

Brasília, 22 de janeiro de 2014

 
Paulo das Lavras 

 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

De Volta à França (3) - Meu Natal em Paris

             Não, meu Natal deste ano não será em Paris. Embora lá estivesse às vésperas e me deleitado com as vitrines das lojas mais sofisticadas do mundo e a linda decoração das avenidas, praças e monumentos, meu pensamento estava voltado para as festas no aconchego do lar. Alguém me perguntou pela rede social, vais passar o natal aí em Paris? Não! Passagem de retorno devidamente marcada, algumas comprinhas e só! Natal é família.... Não tenho coragem, ou melhor, estrutura emocional sequer para pensar o Natal longe de casa, seja na glamorosa Paris ou na cintilante e atrativa Nova York. Nunca o passei fora de casa. Nada substitui a união e a reunião da família. Os preparativos começam muito antes, com as compras de presentes longe dos congestionamentos de trânsito e de clientes nas lojas. Depois vem o planejamento da festa, a decoração do ambiente incluindo a montagem da árvore que, obrigatoriamente, conta com a participação das crianças que adoram dependurar os enfeites e ver as luzinhas brilharem. Tem também a escolha dos pratos e sobremesas para a ceia. Tudo decidido em família. Os filhos casados se encarregam de preparar um prato surpresa, ficando o principal com o anfitrião.

Essa tradição vem da infância, quando o avô fazia questão que todos os netos colocassem seus sapatinhos na sala de sua grande casa. Dia seguinte levantávamos bem cedo e corríamos na esperança de ver o Papai Noel ainda por lá. Nunca o vimos nessa tarefa, mas os presentinhos lá estavam em cada sapatinho. Esse era o costume na década de 1950. Até me lembro de uma musica, cantada por Jamelão nos programas dominicais da Rádio Nacional, que dizia: “coloquei o sapatinho na janela do quintal...”. Dia de Natal era só alegria para a criançada, isto sem contar as festividades religiosas que incluíam missa e visita aos presépios montados na igreja Matriz de Sant´Ana e nas casas de amigos da família.

 
           Desde que chegaram os netos resolvemos inovar as comemorações do Natal. Abrimos as portas das casas vizinhas e um Papai Noel, de verdade, chega à meia noite tocando uma sineta, gritando Hooo...Hooo...Hoo e carregando um enorme saco abarrotado de presentes destinados a, pelo menos, umas dez crianças. Foi ideia de uma antiga vizinha, carioca festeira que só. É uma algazarra geral na hora do abraço e distribuição dos presentes, pura adrenalina da criançada, de dois aos oito ou dez anos de idade. Todos querendo abraçar o Papai Noel e receber seu presente. Naturalmente ele pega o presente, devidamente identificado, chama a criança pelo nome e em seguida pergunta se ela “se comportou bem” durante o ano e só então faz a entrega. Interessante foi notar a argúcia dos pequenos de apenas dois anos de idade. Antes mesmo da pergunta já chegavam anunciando: “ Papai Noel, eu “se comportei”... Assim mesmo “se comportei”... rsrs. Criança é joia, não há nada nesse mundo que se compare à sua pureza e amor.

 
Esse ritual tem sido um sucesso que se repete a cada ano. Mas, há uns três anos, tivemos um probleminha... um dos garotos já com seis anos gritou: ah.. o Papai Noel é o tio Mário Augusto... Pronto, suspense geral e a vó emendou dizendo o contrário. Não adiantou, embora com todos os disfarces do vestuário, barbas postiças, óculos à caráter, luvas e até mesmo uma entonação de voz bem característica de Papai Noel, o garoto retrucou: é sim, olha o relógio dele, do tio Guto...rsrsr. O jeito foi chama-lo para outro local, confirmar a verdade e pedir segredo. Criança adora um “segredo” ... e a festa continuou sem que mais ninguém duvidasse que ali estava o verdadeiro Papai Noel que veio trazer os presentes para eles. Depois dessa os cuidados na roupagem, maquiagem e voz do Papai Noel foram redobrados. Tomara que hoje à noite não se repita essa “descoberta” por parte da meninada.

 
           Bem, neste ano uma das filhas sugeriu que fizéssemos o natal em sua nova casa, no bairro de Águas Claras. Embora tivéssemos achado uma boa ideia, os dois netos, de cinco e seis anos de idade perguntaram: Mas como o Papai Noel, que passa aqui na casa do vovô e da vovó vai saber? Eu já coloquei minha cartinha de pedido do presente lá na árvore de natal. Ele passará lá na outra casa também? Ofereci a alternativa de pegar os presentes que o Papai Noel traria e os levaria para a casa dela onde faríamos a ceia. De bate pronto, ela olhou para a vó buscando aprovação e respondeu: Que coisa mais sem graça, vovó! Entendemos e cancelamos o plano de mudança do local das comemorações. O espírito familiar está arraigado entre os vizinhos e não mais se restringe aos laços sanguíneos. Que bom que haja esse sentimento de amizade e união entre famílias, sobretudo numa cidade grande, especialmente Brasília, onde todos somos “estrangeiros” vindos de diferentes estados desse imenso e diversificado país.

 
            Natal é assim, alegria sem fim na família. Não quero saber de passar essa festa em outro lugar, nem mesmo em Paris ou Nova York, a menos que fossemos todos, esposa, filhos, netos, agregados, vizinhos e amigos que eventualmente estão por perto. Aliás, amigos por perto..., já tivemos oportunidade de acolher, na noite de Natal, duas moças, médicas-residentes de um hospital e que em razão de plantões médicos não puderam passar o natal com a família na distante Salvador, Bahia. Naquela noite o telefone da casa ficou ligado por mais de uma hora, pois não havia celular na década de 1980. Choro constante, de cá e de lá. Compreendi a emoção do pai, do outro lado da linha. Depois de algum tempo pedi para falar com ele, meu xará, Sr. Paulo. Aumentei um pouquinho o som da música ambiente, a 9ª Sinfonia de Beethoven – o Hino à Alegria e o tranquilizei dizendo-lhe do prazer de receber sua filha para a ceia em família. Que Alegria, tal qual se expressa no Hino de Beethoven que o senhor pode ouvir ao fundo, disse a ele. Menos de um mês depois ele veio à minha casa agradecer e entregar-me uma lembrancinha, não sem antes dar-me um abraço emocionado, quase às lágrimas. Desnecessário dizer que mantemos relações cordiais desde então.

 
             Natal é isso, compartilhar o amor! Não custa nada e cria laços para sempre. Ainda hoje me lembro dos presentinhos que Papai Noel deixava no sapatinho, na sala da casa de meu avô. Quero que meus netos se lembrem desse imaginário Papai Noel com carinho e amor, na infância e sempre, mesmo que seja muito, mas muito tempo depois como agora o fiz.

Um bom Natal para todos, com muito amor e saúde.
 

Brasília, 24 de dezembro de 2013


Paulo das Lavras.
 
 
Paris- decoração de Natal 2013
 
 
                                            Natal em casa...                                             

                                                               
... com os três netinhos
 
 
 
                                                        
                                                     Na árvore de Natal                                           


                                                              
                                   Esperando o Papai Noel na porta. Sarah com sua cartinha de
                                                                    boas vindas ao Papai Noel

                                                                
                                                E põe ansiedade na espera....
                                          
                                                               
e finalmente... à meia noite o Papai Noel chegou
 
                                                              
Sarah, o abraço e o esperado presente      
 
  
                                       A alegria e felicidade no sorriso de Pedro Henrique
                                                             
                                               Sarah com os avós, alegria sem fim...                  
                                                               
Pedro Henrique e os cobiçados presentes
 

MMA é um Esporte?



Não há quem não tenha ficado feliz com a imagem publicada hoje (03/01/2014) mostrando Anderson Silva sorridente ao lado da família. Tomara que ele ouça em definitivo a família e não volte a praticar esse esporte (esporte?) que o vitimou. A indignação contra essa barbárie é geral. Foi um choque emocional o episódio da fratura da perna de Anderson. Repórteres esportivos correram em condenar, não a selvageria, mas a opinião pública que se insurgia nas redes sociais contra tal violência e pediam a proibição do violento “esporte”. É compreensível, pois defendem o próprio mercado midiático que fatura alto com esses eventos. Prefiro os cronistas mais sensatos que condenaram essa prática selvagem e se não pedem a sua extinção, pelo menos a criação de regras mais civilizadas.

 O MMA se “justifica” sob o argumento de trazer as brigas de rua para os ringues. Ora, ora, o efeito é justamente o contrário. O grito da torcida brasileira presente à luta de Anderson e Cris Weidman: “Uh, vai morrer!” é bem sintomático. Depois ainda reclamamos do vandalismo dos Black Blocs. Proibição de exibição nas TVs já seria um bom começo, vide a propaganda de cigarros. Efeito espetacular teve a sua proibição de veiculação na mídia, com redução de mais de 50% no consumo dessa droga no Brasil.

Paulo das Lavras

Brasília, 03 de janeiro de 2014
O lutador Anderson Silva, sorridente com sua família, recuperando-se
de  fratura da perna provocada por acidente na luta de MMA

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Bom dia..., bem-vindo 2014: O tempo passa ou os tempos mudam?


 
As pessoas só fazem o que querem, quando querem e pelos motivos que lhes convém. Só enxergam o que lhes interessam e pior, só entendem o que lhes convém. O filósofo Rubem Alves muito bem expressou essa questão quando escreveu sobre a arte de escutar. Em seu artigo, “Escutatória”, ele afirma que não sabemos ouvir. Quando alguém fala a gente comete o pecado de interrompê-lo para mostrar que já sabemos ou sabemos mais. Isso é muito desrespeitoso. Mostra que não paramos para refletir sobre o que o outro disse e isto é uma manifestação sutil de nossa arrogância, de vaidade, querendo sempre ser o melhor.

Não adianta, é da natureza humana agir assim, ou seja, ver, escutar, entender e agir apenas quando interessa ou é conveniente. Por isso é mais fácil afirmar que o tempo passa e não muda. Ou melhor, as pessoas, em sua grande maioria, não mudam seus costumes, hábitos e (pre)conceitos. O passar dos anos apenas as tornam mais velhas.

O certo é que, depois de muitos embates na vida, a gente acaba aprendendo a ser mais humilde, a escutar mais e dar mais valor à vida, à família e aos amigos, compreender os encantos ocultos que nos cercam, escondidos que estão pela nossa arrogância e vaidade. Mais uma vez recorro ao filósofo Rubem Alves para dizer: “Deus é isto, a beleza que se ouve no silêncio”. Daí a importância de saber ouvir os outros. Devemos escutar com a intenção de compreender e não apenas com a intenção de responder. A beleza também mora no silêncio, na escuta e a comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. Repito: Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam. Esse é o verdadeiro amor, que brota da arte de saber escutar, do silêncio da alma.

 
Mudemos, pois, o ano novo de 2014 que acaba de chegar. Não esperemos que “os outros e o mundo mudem”. Mudemos nós mesmos, para melhor!

Brasília, 01 de janeiro de 2014

Paulo das Lavras