quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O pesadelo vai acabar – Eleições 2018


Em minhas sete décadas de vida, cinco das quais enfrentando eleições obrigatórias (não temos a mesma sorte que os cidadãos americanos, onde o ato de votar é opcional), nunca passei por eleição tão tensa como essa de 2018.  A polarização dos candidatos trouxe uma instabilidade emocional sem precedentes para o pacato cidadão brasileiro que, pela primeira vez, engajou-se de corpo e alma entre dois extremos. Assisti, ou melhor, acompanhei discussões homéricas entre amigos ou apenas conhecidos pelas redes sociais. Nem acreditei que dois deles romperam a amizade de longos anos. Deixaram as coisas comuns, que os aproximavam e os uniam desde os tempos de infância, como o gosto pelos estudos no colégio, a musica de rock dos  dos anos 60, incluindo Beatles e Rollings Stones ou mesmo dos mais modernos Maroon 5,  Bruno Mars, Adele ou Taylor Swift. Deixaram tudo mesmo, por causa de outra faceta que ambos não conheciam, mutuamente.

As acusações foram recíprocas aos respectivos políticos ou partidos de preferencia. Fascista e corrupto eram qualificativos mais suaves que, os até então amigos, apontavam direta ou indiretamente. Ora, ora..., que coisa mais idiota e estúpida. Colocar tudo a perder por causa de ideias de candidatos políticos, com acusações nem sempre diretamente imputadas aos protagonistas, mas a seus seguidores ou tutores, como no caso de corruptos da Lava-jato que disparam ordens de dentro do presídio? Ou de outro que elogia supostos torturadores?  Sandice! Seria também, o amigo, corrupto ou fascista? Por que não dar a ele, o amigo, uma chance, digamos, pós-eleições ou após seis meses ou um ano de governo daquele politico que vier a ser eleito?

Mas, há casos de sandices extremadas de alguns. Já faz um ano que um amigo replicou outro velho amigo, que veio com essa história de candidato ou juiz fascista, afirmando, ainda,  que aquele ex-presidente condenado pelo juiz Moro, não merecia ser preso. Assim,disparou virulenta campanha de fora Temer e numa de suas postagens protestava e desejava a morte do presidente em exercício e também a do juiz  Moro, “por ter condenado um inocente”.  Por um raciocínio torto, canhestro, ele afirmava que “havia crimes maiores e outros ladrões de colarinho branco, da elite da direita, que não são investigados nem julgados....”. Por isso, na sua ótica, não deveria, aquele corrupto, ser condenado. Ora, mas que raciocínio torto, totalmente equivocado, como se um crime justificasse outro.

Pois bem, confiado na antiga amizade, o incauto amigo postou um comentário bem suave, apoiando o fora temer, mas discordando da aura na cabeça daquele outro politico corrupto, condenado e seu preferido. E ainda, ao final, credulamente disse-lhe: “queira-me bem.” . Ele não imaginava que, com aquele leve comentário, pudesse despertar tanta fúria, ira do fanático admirador do condenado politico. Amizade? Direito de expressão em termos polidos? Ah..., a resposta foi fulminante e grosseira, antes de tudo: “ ... se você não gosta do meu politico preferido,  não escreva isso em minha time-line. Fique quieto. Recolha-se à sua ideologia. Deixe a minha em paz”. Foi difícil acreditar, confessou-me o amigo atingido.

Melhor se afastar de gente fanática, grosseira, que grita e dá ordens:... “fique quieto, recolha-se à sua ideologia”   (se o outro fosse também um ideológico poderia também lhe chamar de fascista, autoritário, egoísta?...rsrs). Talvez aquela ordem verbal,  vociferada pelo fanático da ideologia política, devesse ser revertida a si próprio. Ora, ora, ninguém gosta de receber ordens, ainda mais de presunçosos fanáticos de ideologias ultrapassadas e condenadas no mundo inteiro. Portanto, Fora (suposto) Amigo! Houve erro de avalição no grau de amizade e polidez (inexistente). O amigo se enganou, penitenciou-se consigo mesmo e corrigiu o erro imediatamente. Voltou à pagina do suposto e grosseiro amigo. Arrependido, deletou todos os seus comentários ao longo de todo o período em que foram amigos na rede social e em seguida o bloqueou para sempre.

Melhor acercar-se de quem se importa e que acrescente algo de verdadeiro à vida. Isto é mais que saudável. Basta ignorar, com arte e elegância aqueles que nos agridem. Não há porque dar importância a quem não merece. Sigamos em paz, longe de quem carrega e dissemina ódio. É a melhor solução! Principalmente em época de eleições polarizadas. E nessas eleições aprendemos algumas lições. A primeira e mais importante, foi a perda do protagonismo da mídia nas campanhas eleitorais. Não tem mais o jornal influente e rede de TV (aquele grande jornal, que falha em S. Paulo e a maior rede de TV p.ex.), pois,  de certa forma perderam credibilidade junto ao cidadão.
A segunda lição foi a redução dos custos de campanha. Agora as mobilizações de passeatas, comícios e outras, são feitas via redes sociais. Tudo é feito nelas. Mais barato e cômodo, tanto para o candidato que não precisa de se deslocar, gastar tanto dinheiro e também é superconfortável para o eleitor que tudo faz, tudo vê pelos smartfones ou computadores em casa, no trabalho ou no trânsito das  ruas. A terceira grande lição foi que o eleitor está mais antenado, ligado. Derrubou, mandou para casa, aqueles políticos antigos que faziam da política o seu balcão de negócios, onde a corrupção era o carro chefe.




Tomara que esse pesadelo eleitoral, com postagens hostis, termine de vez no próximo domingo! E essa hostilidade que se traduz em elevados índices de rejeição de ambos os candidatos (em tono de 45%), decorre desse ambiente polarizado, antagônico e até mesmo pela falta de propostas concretas de políticas em prol do povo. Este está cansado de tanta corrupção e violência contra o cidadão. E nesse contexto, é de se esperar que, passadas as eleições, possamos seguir em paz e as amizades voltem à normalidade. Odeio politicagem, mas reconheço que precisamos votar e escolher o “menos pior”!

Boa sorte no seu voto, com a esperança de que, até o próximo Natal, tenhamos a reaproximação dos amigos chamuscados que “se estranharam” nessas eleições. Faltam só quatro dias....

Brasília, 24 de outubro de 2018

Paulo das Lavras 



Nunca passei, nas últimas cinco décadas, por eleição tão tensa como essa de 2018.
 A polarização dos candidatos trouxe uma instabilidade emocional sem
precedentes para o pacato cidadão brasileiro
Foto: internet

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Um Fotógrafo de primeira viagem


 
Com uma câmera bem antiga, de marca Kapsa, produzida no Brasil pela D.F. Vasconcelos, na década de 1950 e emprestada por João Sampaio, proprietário de um estúdio fotográfico, o Foto Guimarães, situado à Rua Santana, em Lavras, o menino de 12 anos partiu para a fazenda do pai a fim de fazer algumas poses com cavalos e paisagens do bucólico Retiro dos Ipês. Garoto curioso e sem nenhum conhecimento sobre fotografia quis saber como era o interior da máquina. Abriu-a, verificou o filme ali colocado, enrolado nas bobinas, mostrou para a mãe, fechou-a novamente e partiu para a esperada ação.

Fotografias naquela década de 1950 eram raras, pois quase ninguém possuía uma máquina fotográfica, principalmente nas pequenas cidades do interior mineiro. Fotografar era um processo complicado e, por isso mesmo, as fotos se resumiam às tradicionais 3x4 para documentos ou então às de festas como 1ª comunhão, casamentos, bodas de ouro e as solenes formaturas desde o curso primário (sim, havia festa para essa formatura) à faculdade, com a mais pomposa das festas. Esta, sim, era o maior evento na vida de um garoto dos anos 1950/60. Nem mesmo aniversários ou batizados eram fotografados, pois isto implicava na contratação de um fotógrafo profissional. Assim, nada mais justo do que as pretensões do garoto que queria ter suas próprias fotos na bonita fazenda, para guarda-las de recordação ou, quem sabe, para exibir aos colegas de escola.

Inúmeras poses foram encenadas em frente à bonita casa da fazenda ou desfilando com a sua bela égua Mangalarga, totalmente negra e de elevado porte. Bonitas e diferentes paisagens também foram fotografadas com aquele filme de 24 poses em preto e branco. Um luxo para a época. Assim, retornou ao estúdio fotográfico para a revelação do filme. Empolgado, foi busca-las no dia aprazado. Decepção total. O filme fora inteiramente velado. Também...,  quem mandou abrir a câmera e escancarar o filme contra a luz? Coisa de fotógrafo de primeira viagem, ou melhor, de menino curioso que nada sabia sobre a sensibilidade dos filmes fotográficos.... Lição nunca mais esquecida e não revelada a ninguém, tamanha a decepção pelo erro cometido, nem mesmo ao incrédulo João Sampaio que não viu defeito algum na Kapsa e tampouco imaginara o que se passou.

Aliás, só estou rememorando esse episódio por causa do passamento desse fotógrafo que marcou época em Lavras. Esteve presente em todos os acontecimentos sociais da comunidade e ao comentar, numa rede social, sobre o ilustre fotógrafo e narrar esse episódio, uma amiga, da família Melo, contou toda contente que ainda possui uma Kapsa, que pertencera a seus pais. Reliquia que deve ser guardada com carinho.

Boas recordações da infância e juventude, naquele final da dácada de 1950, na cidade de Lavras, Terra dos Ipês e das Escolas. O amigo e fotógrafo, João Sampaio, deixou registradas não somente as milhares de fotos de nossa cidade e sua gente, mas também registros indeléveis em nossa memória. Um pedaço de nós que se vai, para sempre.


Brasília, 11 de dezembro de 2012

Paulo das Lavras

(Crônica escrita em 2012, dedicada à memória do fotógrafo João Sampaio, falecido naquele ano)



 
Rua Santana-Lavras: à esquerda Foto Guimarães (de João Sampaio) e onde trabalhou, mais tarde, o fotógrafo Antônio Oliveira. Logo acima, o Salão e Barbearia Planche, pai de José Alves de Andrade.
À direita , o casarão de Ângelo Alberto de Moura Delphim
Foto: Acervo de Renato Libeck


O fotógrafoJoão Sampaio,  em 1967
Foto: Acervo de Renato Libeck


O garoto Antônio Oliveira, que também trabalhava no foto Guimarães
e sua máquina de ponta, uma  Rolleiflex e flash Braun.
Eles só emprestavam aqueles caixotes, como eram chamadas as Kapsas.
Foto: arquivos de Antônio de Oliveira


Máquina fotográfica Kapsa, anos 1950, apelidada de “caixote”
Foto: Internet



João Sampaio, em 2012
Foto: Acervo de Renato Libeck





O menino (1967), em foto tomada pelo saudoso fotógrafo João Sampaio,
 na Praça do Colégio de Lourdes.  Ele também usava uma Vespa,  toda equipada, 
tal qual a  "pretinha" que o menino usava para ir à faculdade.
Ao fundo a casa de Miralda Bueno
Foto: João Sampaio – arquivo do autor