segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Prof. Nelson Wilibaldo Werlang - Réquiem 18-11-2018



A noticia do passamento, ontem 18/11/2018, de nosso querido Prof Nelson Werlang deixou-nos, a todos, muito tristes. É um pedaço de nós que se vai. Ficará em nossa alma a imagem daquele pai e professor amoroso que amava a todos e cuidava de nossa formação. Eu ainda era um garoto quando fui escolhido, por ele, para substitui-lo em uma de suas aulas de matemática para a classe do 2º ano do Curso de Normalistas, no Colégio de Lourdes. Emoção a mil, nunca esquecida e foi, assim, o  primeiro incentivo “oficial” que recebi para seguir sua trilha, de professor, embora, dias depois, soubesse por uma das alunas que “a aula até foi boa, mas o professorzinho, não era tão bonito quanto o titular...” . O professor riu demais quando soube da piada das alunas e eu lhe agradeci a oportunidade de estrear no magistério.

              Quis o destino que, depois de muito tempo, ele decidiu também ser professor na mesma universidade que eu, na nossa querida UFLA. Ali, demonstrou, uma vez mais, o seu brilho intelectual a ponto de provocar nos demais colegas da área de ciências exatas, a concessão, via Conselho Universitário, de título honoris causa, de Professor Emérito. Foi considerado o mais inteligente de toda a sua geração, ou simplesmente “Nelsão, O Mestre”. Poliglota, recebia alunos estrangeiros e os ensinava nos idiomas de origem, o inglês, francês, alemão (o preferido) espanhol (aprendi esse idioma com ele, no Manual de Espagnol, de Idel Becker/USP), e se ainda fosse necessário falava Latim e um pouco de Grego.

 Perdi um grande amigo, com o qual sempre me relacionava, ainda que à distância. “Der Lehrer” – assim, em alemão, eu sempre o chamava, carinhosamente. Nunca vamos esquecê-lo e tenho certeza que a profunda dor de hoje se transformará, em breve, em orgulho. Orgulho pelo que ele foi e fez para a família e milhares de ex-alunos como eu. Orgulho pelo que nós, todos, pudemos oferecer-lhe, o carinho e o reconhecimento, ainda em vida, por tudo que merecia.  E os familiares, especialmente os filhos, Érika e André, podem e devem se sentir duplamente recompensados e orgulhosos, pois  o levaram para perto, aí em BH e dele cuidaram com a maior atenção, carinho e amor.

E eu pude comprovar isso, ao visita-lo há uma ano, em sua casa, em BH, justamente ao lado do antigo endereço de minha sogra e, até nisso, minha alma se alegrou por ali estar. Por quase uma hora pude com ele conversar longamente, relembrar saudosas histórias e fatos acontecidos em Lavras. Mais do que isso, fiquei imensamente feliz por vê-lo ali, tranquilo e até se alegrar, descontraidamente, com a minha presença. Contou casos dos tempos de colégio e seus estudos na Alemanha, em 1962, os quais eu também os tinha bem presentes na memória, inclusive do primeiro dia de seu retorno da Europa, quando nós, seus alunos, o cercamos antes da primeira aula do ano letivo e o fizemos contar as novidades da Deustchland que, um dia, também sonhávamos conhecer. E seus relatos nos incentivaram ainda mais. Educador nato!

 Realizei o sonho, e de lá, em Carlsrhue, próximo à Baviera, para onde me dirigia, enviei-lhe um cartão postal (ainda não existia internet):  “Prezado professor, lhe prometi que um dia conheceria a “sua” Alemanha e aqui estou, ainda que tarde (1988), 25 anos depois. Você foi melhor que eu, pôde aqui estudar e eu somente vi a mais antiga das universidades, de Heidelberg, fundada em 1386 e hoje tenho 11 anos a mais que você quando aqui esteve...rsrs...”. E assim nossos laços iam se reforçando, apesar da distância, pois ele residia em Lavras e eu em Brasília. E nos deleitamos com as histórias mútuas de Brasil e Alemanha, naquela gostosa visita de setembro de 2017, ali em sua casa, na linda cidade de Belo Horizonte, onde trabalhei por um ano e frequentava o bairro e a mesma rua onde ele estava morando.

           Naquele dia que o visitei, tive a certeza de que, tão especial quanto ele, eram seus filhos que ali cuidavam de seu merecido bem estar. Não os encontrei, devido ao horário e escassez de tempo. Mas, pude imaginar o quão especiais vocês eram e certamente o são. Neste ano, liguei e falei com a cuidadora, que conheci antes e ela informou que ele estava repousando e passava relativamente bem. Postei a notícia nas redes sociais e muitos amigos curtiram e comentaram a satisfação pelas boas notícias. É por isso que lhes digo que, em breve, Deus removerá esse profundo e dolorido sentimento de perda e vocês se sentirão orgulhosos pelo que receberam e também pelo que retribuíram a esse valoroso e querido pai. Assim ele permanecerá para sempre em suas e nas nossas mentes.

Requiem aeternam dona eis, Domine, como recitávamos, acolitando o celebrante  nas missas do seminário e também do Colégio Aparecida, onde estudei e ele, o Prof Nelson Werlang, atuou por toda a vida. Descanso eterno dê-lhe, Senhor!

Que Deus nos conforte a todos.


Brasília, 19 de novembro de 2018

Paulo das Lavras

A Educação está em Luto, em Lavras e no Brasil. Perdemos, hoje, uma das mentes mais brilhantes, 
dos colégios (desde 1955), das faculdades e por último da Universidade Federal de Lavras, o 
 Prof. Nelson Wilibaldo Werlang.


O querido Mestre, Prof. Nelson, quando de minha visita, em setembro de 2017


domingo, 11 de novembro de 2018

Ser reconhecido ou reconhecer-se?


(para o Prof. Alfredo Scheid Lopes)


Certa vez o ministro Carlos Ayres Brito disse: “em tudo o que faço, não faço questão de ser reconhecido, mas em me reconhecer!”. Tal afirmação revela o profundo caráter da pessoa que sempre cumpriu sua missão sem esperar recompensas. Para essas, não importa agradar aos demais e sim, a correção o acerto de suas próprias atitudes, ainda que essas ações venham a afetar positiva ou negativamente a seus críticos. O importante é que a ação reflita aquilo que de mais essencial há em sua pessoa, a verdade, a ética e o respeito ao próximo.

Essa é mesmo uma verdade lapidar, própria de quem tem o controle sobre si e consciência de seus atos. Não existe maior recompensa que, ao chegar ao final da carreira profissional, ouvir ou receber homenagens pelo seu trabalho realizado. E essas homenagens são maiores, mais significativas, quando não esperadas. São as surpresas, mais que a ação propriamente dita, que mais tocam aqueles que bem cumpriram sua missão profissional.

Com esse preâmbulo, quero fazer um elogio, em cima de outros elogios, ao Professor Alfredo Scheid Lopes. Tenho acompanhado sua página nas redes sociais e ali sempre aparecem ex-alunos a elogiar seu competente trabalho, dedicação e zelo para com o futuro profissional de seus orientandos. Também faço parte desse coro de gratidão, e notem, fui aluno dele há exatos 54 anos. Sim cinquenta e quatro anos e ainda o tenho na memória e mais que isso com muita gratidão no coração. Agora, depois de tanto tempo, vejo que continua o mesmo. Ainda que aposentado, há bastante tempo, a universidade ofereceu-lhe uma sala, permanente, onde dá expediente, gratuitamente, para produção científica e de pesquisas e orientação de alunos de cursos de pós-graduação.

Parabéns, Prof. Alfredão, você foi o melhor não apenas na educação agrícola superior, mas também na profissão de especialista em Solos sob Cerrado, ajudando a desenvolver nossa agricultura nesse imenso cerradão nacional. Foi também, ao lado de extremo e positivo rigor nas exigências do aprendizado de seus alunos, o mais amigo, o maior incentivador profissional daqueles jovens rapazes e moças, seus alunos, até mesmo no esporte, onde você foi campeão sul americano. Sua humildade, simplicidade e ética no trato com todos, aliadas à capacidade e conhecimento técnico e extensa lista de publicações no país e no exterior, levou-nos à certeza de que ele nunca se preocupou em “ser reconhecido”, mas sim de transmitir a verdadeira formação aos seus alunos e trabalhar pelo desenvolvimento agrícola.

Isso é o que importa! E hoje (na verdade ao longo de toda sua vida profissional), você colhe os frutos de seu dedicado e competente trabalho. As palavras do ministro Ayres Brito estão certas, mas, no meu entendimento e em especial aplicado a você, faltou complementar: “... pois, o reconhecimento virá por acréscimo!”. E ele tem sido farto para você. Porque tudo que você fez veio direto do coração!
 

Que seus anos de vida se prolonguem e possa continuar a recompensadora colheita, por muito tempo ainda, além dos 80 já completados. Amém!

Brasília, 11 de novembro de 2018

Paulo das Lavras  



Professor Alfredo Scheid Lopes, recebendo uma homenagem internacional e em seu gabinete
 na Ufla, aos 80 anos de idade.

 "The state of mind which enables a man to do work of this kind … is akin to that of the religious worshipper or the lover; the daily effort comes from no deliberate intention or program,
but straight from the heart"
(Albert Einstein - From a Speech “Principles of Research”, 1918)

("O estado de espírito que permite que um homem faça um trabalho desse tipo é semelhante ao do adorador religioso ou do apaixonado; o esforço diário vem não de uma intenção ou um programa deliberado, mas direto do coração") 
 
Citação e tradução de Camilla Kovalsky, em homenagem ao Prof Alfredo S. Lopes)
 
 


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Por que não uma Ministra da Educação?


Uma amiga postou nas redes sociais um convite para “Mudar o Brasil”. Propõe que as mudanças sejam praticadas e implantadas por você próprio, o cidadão: “Não fure fila; não jogue lixo no chão; recolha seu lixo; siga as leis de trânsito; confira o troco e seja honesto; não pegue nada que não seja seu; respeite a todos; respeite as vagas dos deficientes e idosos; não ultrapasse na faixa dupla das vias; respeite quem estiver na faixa de pedestres; trabalhe fazendo o melhor e seja a mudança que você quer ver. Tais recomendações vieram a propósito da crise politica, social e econômica que atravessamos em nosso país. Também se insere nesse contexto o recente escândalo da prova anual do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Envergonhou a Nação, escreveu o jornalista Claudio Humberto, in verbis:
“O aparelhamento da prova do Enem causou mal-estar no Palácio do Planalto e irritação no Ministério da Educação, em razão das questões nitidamente “contaminadas” pelo clima eleitoral... Além de endossar conceitos da ideologia de gênero, a prova do Enem até fez propaganda de um dicionário gay sobre expressões “secretas”... A avaliação é que o tema da redação estimulou os alunos a atribuírem a derrota do PT a suposta manipulação de mensagens do WhatsApp... Aparelhadas” por grupos anti-Bolsonaro, as provas foram avaliadas como uma “provocação desnecessária”, na definição de um ministro, informou o jornalista”.


                Outro jornalista, Marco Antonio Villa, publicou no jornal Correio Braziliense, de 07/11/2018, um artigo intitulado: “Enem: o livro vermelho do PT”. Afirma que o panfletarismo petista continuou dominante. A cientificidade desapareceu. O conjunto do exame foi edificado para impor a visão do mundo petista e sem qualquer preocupação de uma avaliação do conhecimento obtido no ensino médio, completou o jornalista. E prossegue indagando por que dois textos de Eduardo Galeano? Um deles, inclusive em espanhol, mas, o importante era a crítica de Galeano ao capitalismo. A questão 31: Acuenda o Pajubá, sobre o dialeto secreto dos gays e travestis é ridícula ao afirmar que o dialeto é patrimônio linguístico. Ainda na esfera da ideologia de gênero, a questão 38 pede a interpretação de uma passagem do livro “Vó, a senhora é lésbica?”. Parece que a literatura brasileira está na prova do Enem apenas para legitimar uma determinada leitura das relações pessoais, disse o autor do artigo. Prossegue, com a questão 34 sobre a negritude e em seguida, cita a de número 45 que desqualifica Gilberto Freyre, disse Villa.

               Em sua extensa e competente análise sobre a malfadada prova do Enem-2018, o autor enumera outras questões sofríveis em relação à cientificidade e aferição de conhecimentos do ensino médio.  A de número 23, por exemplo, com conteúdo – O presentismo -, com negação do passado, publicado pela revista Carta Capital, órgão a serviço do projeto criminoso de poder (segundo classificação do STF, no processo do mensalão).  Também as questões 57 e 59 deturpam o conceito da Geografia e do papel do Estado, classificando-o de burguês. No campo da politica nacional, as questões 62 e 84 enaltecem o governo Goulart e atacam o regime militar sem mencionar a anistia, assinada poucos meses depois do artigo de Henfil, citado como base para as perguntas.  Como formar o aluno, com parcialidade e viés político?

            Vê-se, portanto, pelas análise dos dois jornalistas que o exame do Enem não buscou avaliar os conhecimentos do dos alunos adquiridos em três anos do ensino médio. Causou mal-estar no Palácio do Planalto e irritação no Ministério da Educação, com suas questões nitidamente “contaminadas” pelo clima eleitoral, além de endossar conceitos da ideologia de gênero, propagandear um dicionário gay sobre expressões “secretas” e induzir os alunos a acreditar que a derrota do PT se deveu à fake-news nas redes sociais. Finalizaram dizendo que as provas foram avaliadas como uma “provocação desnecessária”.
Mas, e agora? Bem, antigamente os professores do curso primário, que hoje corresponde às cinco séries iniciais do Ensino Fundamental (6 a 10 anos) eram quase todos do sexo feminino. Hoje representam 81,5%. No antigo curso ginasial, que corresponde às quatro séries finais do fundamental (6ª à 9ª série), dos 11 aos 14 anos, já aparecem em bom número os professores do sexo masculino, embora, ainda, a quantidade de professoras seja considerável. No ensino superior a relação de professoras/professores é mais equilibrada, quase meio a meio. A diminuição de mulheres no ensino médio e superior, em relação ao ensino primário, fica notória quando a educação vai se afastando do conceito de “cuidar” e as funções passam a ter características mais de ciência e tecnologias. Culturalmente, as mulheres sempre desempenharam o papel de educadora sensível e infinitamente melhor que o homem na educação das crianças e formação dos jovens. Mas, hoje, com a crescente emancipação, as mulheres já são maioria nas universidades e detém 52% dos títulos de qualificação superior. Ultrapassaram os homens nesse quesito.
 Assim, diante dessa nova realidade e considerando ainda suas qualificações, especialmente no magistério, a indicação de uma mulher para ocupar as elevadas funções de Ministra da Educação seria altamente desejável na atual conjuntura nacional. São talhadas para a formação humanística e como ninguém, sabem repassar os mais elevados princípios de respeito e moral para as gerações.
O Brasil precisa de um choque na Educação! Mais formação e menos politicagem nas escolas. Ninguém melhor que uma mulher para isso, sensível, vocacionada para a educação e formação de consciências humanitárias para a não-violência. Costumo dizer que, se antes, há mais de 50 anos a educação, os princípios morais e as regras de convivência social eram ensinadas em casa e tinham plena ressonância nas escolas, hoje está mudada a situação. As crianças são confiadas à escola desde os primeiros meses de vida, na creche e em seguida no jardim de infância, a pré-escola e por isso, é preciso que cuidemos mais da Educação e não simplesmente confia-las às cuidadoras, nem sempre instruídas ou qualificadas para tal. Talvez assim não vejamos tanto desrespeito aos professores, alvos frequentes de violências físicas e morais por parte de alunos.

Uma Mulher para Ministra da Educação, professora, educadora por vocação e sem filiação partidária, seria o melhor presente de Natal para este ano de 2018.

Brasília, 07 de novembro de 2018

Paulo das Lavras

 Esther de Figueiredo Ferraz – Ministra da Educação 1982/85

Foto: Internet