quarta-feira, 30 de junho de 2021

Um amigo que se vai

 
Com o amigo Claret Matioli na Casa Rosada- Lavras 
Foto do autor – março 2013


 

Muitos afirmam que escrever sobre o passado é saudosismo, especialmente os mais jovens. E até costumam dizer...”ah, isso foi antes de eu nascer”, como se o mundo tivesse começado quando nasceram. Como professor universitário e com muitos anos à frente dos alunos, sentia vontade de escrever sobre o passado de modo a mostrar-lhes como eram as coisas “antes de eles terem nascido”. Bem verdade que às vezes nos deixamos levar pela nostalgia, aquela dorzinha, a saudade daquilo que se perdeu, como a infância e a juventude. Belos tempos, sonhos dourados para o futuro, o vigor, os hormônios em flor... Mas, nunca me deixo trair e achar que “aquele tempo” era melhor do que esse. Já disse e escrevi várias vezes, cultuar o passado não significa querer o seu retorno. Não seria capaz de atender aos surtos saudosistas e desejar que o tempo retornasse e que se voltassem às épocas dos arados de aiveca, dos carros de bois, dos cavalos como meio de transporte e a iluminação à lamparina, a pena e o tinteiro com o mata-borrão para escrever cartas a serem levadas por mensageiros ou, ainda, passear no duro e desconfortável Jeep Willys. Não há nada mesmo, com certeza, que eu desejasse hoje como era antigamente. A tecnologia e a modernidade aí estão para nos proporcionar maior conforto e bem estar. Melhor viajar num jato de seis ou 400 lugares, jantando em Nova York ou Paris e tomar o café da manhã no Rio de Janeiro, e fiz isso algumas vezes. Ou então, em vez de cavalo ou carro de boi, rodar num SUV importado, com ar condicionado, mídia e GPS, usar o celular ou a internet para se comunicar com o mundo inteiro por áudio, mensagem ou vídeo, ao vivo, instantaneamente. Muito melhor e mais confortável que esperar o mensageiro a pé, a cavalo ou de trem e barco, ou andar léguas para se encontrar o interlocutor.

Sim, gosto de escrever sobre o passado, falar de mestres que nos marcaram para sempre, pessoas especiais, enfim, gente que faz diferença. É sim coisa da idade, mas também porque é importante que os jovens de hoje conheçam um pouco do passado, pois se constitui em verdadeiro aprendizado que valoriza o progresso de hoje e nos impulsiona para o amanhã. Portanto, devemos ter os olhos sempre voltados para o futuro, mantendo-se no coração os sentimentos ligados ao passado. Mas, tirei uma folga da escrita, deixei de frequentar as redes sociais por algum tempo. Muita banalidade, superficialidade e transformação em vitrine quase que exclusiva para exibicionismos narcisistas, quando não de intrigas. “Dormi” por um tempo sem ali transitar, mas hoje, o chamado de um amigo trouxe-me a um passado de saudades. Saudades de amigos, distantes, e em especial de um deles que partiu para sempre. Foi no distante ano de 1974, quando professor da velha e centenária Escola Superior de Agricultura de Lavras – ESAL, que hoje é a Universidade Federal de Lavras- UFLA, conheci o jovem José Claret Matioli, aluno do último ano do curso de Agronomia. Líder estudantil, apaixonado por instrumentos musicais (dom herdado de seu pai, músico e regente de um conjunto musical), Claret se destacava entre os colegas. Comunicativo, com muita empatia conquistava a amizade de todos. Assim foi ele nos tempos de estudante e mais tarde o reencontrei à frente de uma organização cultural em Lavras, criando uma Escola de Musica para meninos carentes.

Assim era José Claret Matioli, amigo, abnegado e desprendido, sempre a pensar no próximo. Enquanto eu dormia, afastado dos noticiários das redes sociais, ele partiu silenciosamente, disse-me outro amigo. Não sou nostálgico, apenas tenho saudade dos amigos com os quais convivi e admiro. Este, Claret, ficará na memória da saudade. Grande perda.  Que Deus o tenha!

Brasília, 30 de junho de 2021

Paulo das Lavras

 

 

 

 

domingo, 27 de junho de 2021

História e Romance, minhas leituras

 
Conhecer a História é desvendar os segredos do mundo..., o seu mundo e nele viver melhor. 
Foto: do autor

          Outro dia, um amigo ao ver minha modesta biblioteca, perguntou por que minhas leituras se restringiam quase que exclusivamente às áreas de História e Literatura (romances) e não de Engenharia ou Agronomia, áreas nas quais atuei profissionalmente.  Ora.., respondi-lhe, a História é a mãe de toda a nossa experiência, a evolução social e tecnológica. Por meio dela somos capazes de entender o esforço, a vida e o progresso da humanidade através dos tempos. Não à toa, qualquer professor que se preze começa sua primeira aula com a história daquele ramo de conhecimento que ele, o professor, se propõe a ensinar a seus alunos. Sempre enfatizei esse lado na minha carreira docente. História da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia foram temas de livros que escrevi, focando as origens da formação superior nessas áreas, aqui e em países onde atuei em várias universidades. Também me embrenhei na produção livros e crônicas sobre a história e genealogia da família. Nestas, abordamos ainda nuances românticas contextualizadas a cada tempo, durante mais de 300 anos de sua história desde a imigração de terras lusas para se radicarem no território das “minas gerais de ouro”, nos primórdios do século XVIII.

 Há ainda um adágio que diz, “quem não conhece o passado está fadado a repetir os mesmos erros”. Assim, conhecer o passado é fundamental e, ademais, existe aquela curiosidade inata desde os tempos de menino no colégio. Por que pensavam, os antigos, que a terra era plana e o sol girava em torno da terra? Por que carregávamos a sina de um suposto pecado original e deveríamos pedir a intermediários, os santos, a nossa salvação de uma culpa que nem sabíamos existir? Ora, eram dúvidas demais e nem sempre a ciência tinha respostas convincentes, daí a necessidade de se conhecer a fundo a história. Estudar, conhecer o passado, as origens daquelas ideias, engenhos ou fatos, era fundamental e a tudo isso dá-se o nome de História. Portanto, para se conhecer algo em maior profundidade é preciso conhecer a História. Não há sequer há um livro de História, ou simples relatos de pesquisas, de fatos passados, nos quais não nos surpreendemos com detalhes antes desconhecidos. Mergulhar na História de um fato ou evento é a mais maravilhosa e intrigante viagem que nosso pensamento pode experimentar. Daí a minha paixão pela História. Ela nos prepara para a vida, pois nos leva a conhecer a lógica dos acontecimentos. Nada acontece por acaso em nossas vidas. O nosso “Hoje” é produto daquilo que fizemos ontem, ou deixamos de fazer no passado. Simples assim..., seremos amanhã, nosso futuro, aquilo para o qual nos preparamos hoje. Nada, mas nada mesmo, acontece por acaso em sua vida pessoal. Portanto, valorizemos a História.

Em relação ao gosto pela História até é fácil entender e aceitar, mas e o Romance? Como justificar essa predileção dentre tantas outras áreas de interesse humano? Nossa formação humanística passa também pelos clássicos da literatura, de romances, dos contatos com os semelhantes. Nossa vida é regida pelas relações sociais e se quisermos ter sucesso, até mesmo na vida profissional, precisamos conhecer a natureza humana e valorizar as relações interpessoais. Talvez estas, as relações sociais, sejam mais importantes que a formação técnica que cada um tenha. Na vida o primeiro contato é sempre social, daí aquele ditado: “a primeira impressão é a que fica”, quando se inicia um relacionamento entre pessoas. A importância de se ler romances reside exatamente no conceito das relações interpessoais, pois são nelas que vemos, experimentamos sentimentos, compreendemos e aprendemos sobre contato com os semelhantes. Num romance você passa a conhecer e adota os conflitos da trama, escolhe um lado e se “envolve”, até mesmo torcendo por um final feliz. 

 
E os Romances...? Ah..., suas leituras aguçam nossos sentimentos, ensinam a entender os conflitos humanos.
Foto: do autor

Ao final, arrematei para o curioso amigo sobre minhas preferencias de leitura: Leia, leia muito sobre História e Romances, pois na primeira você adquire experiência e na segunda, o romance, você aguça a sensibilidade, aprendendo sobre os conflitos humanos em qualquer relação seja ela de negócios ou amorosa. Aliás, esta última revela a essência da alma humana.  Interessante foi notar que um desses amigos olhou com mais interesse os títulos dos livros na prateleira e indagou se eu emprestaria alguns deles. Prontamente respondi-lhe: Sim, mediante uma caução de R$1.000,00 em dinheiro ou cheque (quando este ainda era usado...). Surpreso, encarou-me e expliquei-lhe: De tanto ler, aprendi que nessa história de se emprestar livros sempre há dois bobos. O primeiro é quem empresta e o segundo é quem devolve o livro.

Leia, leia muito sobre História e Romances. A vida agradece!

 

Brasília, 27 de junho de 2021

Paulo das Lavras


 Qualquer profissional precisa conhecer a história de sua área de atuação. Aqui, os primórdios da Educação Agrícola Superior nos E.U. A e na França, onde atuamos por algum tempo em convênios de governos
Foto: do autor