terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Rolezinhos estão na moda. Vamos participar?


“Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa do que a falta de dinheiro” - John Kenneth Galbraith

“O que não é visto não é cobiçado” - (sabedoria popular)

             A primeira frase, antológica, do famoso economista me fez lembrar, em relação aos rolezinhos, aquela outra da sabedoria popular mais antiga e bem real. Mas, antes de falar sobre o “Rolezinho” gostaria de registrar que tenho receio de ser taxado de preconceituoso. Não sou! Como a todo brasileiro, causou-me surpresa esses movimentos de protestos dirigidos aos shoppings mais sofisticados. Quero apenas entender, compreender e, se possível ajudar naquilo que estiver ao meu alcance. Procurei ler bastante sobre esse fenômeno, artigos de profissionais psicólogos, especialistas em segurança, jornalistas, religiosos e quem mais se dignou a emitir opinião a respeito. Vi pesquisas realizadas por institutos especializados e até mesmo pelo IBGE e enquetes de jornalistas que se infiltraram em algumas manifestações e conseguiram sacar declarações dos jovens envolvidos nas manifestações. Os movimentos partem de jovens moradores de zonas mais afastadas dos centros das grandes cidades, que reclamam, em princípio, pela falta de opções de lazer nos locais onde moram.

             Em Brasília foi programado um rolezinho no Iguatemi Shopping, situado no Lago Norte, ao lado da antiga invasão (favela) e depois regularizada como bairro, o Varjão. Segundo censo do PNAD o Lago Norte ostenta apenas 0,9% de negros, enquanto que no Varjão são apenas 23,7% de brancos. No bairro chique de Brasília a renda familiar média é de 14.000 (catorze mil reais) e no Varjão de dois a quatro salários mínimos. O shopping não abriu as portas no dia aprazado para o rolezinho dos jovens. Não é difícil encontrar pessoas cercadas de riquezas sem fim e que consideram adolescência, negritude e pobreza como sinais de perigo. Assim, quanto mais sofisticado e caro, melhor o shopping. Lógico que isso é segregação odiosa, condenável.

  Antes de entrar nas discussões sociológicas da questão vamos falar de direitos e deveres. Será que os pais dessa garotada de 12/17 anos conseguirão, hoje, conter seus filhos? Esses pais são os nossos filhos de ontem, das décadas passadas, do consumismo desenfreado e que obrigou a todos – os pais e as mães – a irem para o mercado de trabalho para aumentar a renda familiar. Deixaram os filhos nas creches especializadas, aqueles que podiam pagar mais, ou nas mãos de babás despreparadas ou pior, aos cuidados dos filhinhos mais velhos de apenas sete ou oito anos... e nas ruas. Acompanhei isso na periferia de Brasília. Era previsível o que aconteceria. Jovens sujeitos ao assédio dos aliciadores e traficantes de drogas, escolas insuficientes e despreparadas e pior, sob constante e insuportável bombardeio da mídia incentivando, instigando o consumo fácil de tudo quanto a indústria produz, das roupas de grife ao tablet, smartphone, tv de última geração (para a Copa...), sem contar o carro zero km que hoje se compra em prestações de apenas 400 (quatrocentos reais) ou uma moto por 200 reais por mês. É claro que esses pais cuja renda de dois a quatro salários mínimos, não dão conta de fornecer todo o “status” almejado pelos jovens “consumistas” que acabam formando a geração “nem-nem”. Nem estuda, nem trabalha, mas querem ostentar o tênis de marca, de mil reais.

 Se os pais não dão conta de seus filhos e estes começam a protestar nos shoppings, é necessário que entendamos o que eles realmente reivindicam, pois, o que se teme não são as manifestações em si, justas se olhadas pelo lado social e dos direitos humanos, mas, sim, os desvios e prejuízos que elas podem provocar à maior parte da população. Ainda ontem vimos imagens de um jovem baleado pela polícia paulista em plena Avenida Paulista. Só que o tal jovem, segundo informações veiculadas, integrava os temíveis Black Blocs, baderneiros que se infiltram em qualquer manifestação pacífica. Esses baderneiros oportunistas depredaram, ontem, lojas e incendiaram um fusca, cuja família, felizmente, conseguiu sair do interior do veículo em chamas sem sofrer ferimentos. Mas os prejuízos não ficam restritos aos Black blocs. A ação dos rolezinhos, mesmo sem esses baderneiros de ocasião, causaram prejuízos à população. Em Brasília um shopping não abriu as portas no sábado para evitar um rolezinho programado. Em outros, também em Brasília, os clientes saíram em correia com medo de confusão ao menor sinal de aglomeração de rolezeiros. Isto Sem contar as famílias que deixaram de ir aos shoppings temendo pela segurança. Refiro-me à classe média, trabalhadora, frequentadora desses lugares, pois também não podemos ignorar que há alguns mais abonados que discriminam camadas sociais inferiores às suas. Isto sim é discriminação, segregação e não estamos nos referindo a esse tipo abominável de comportamento.

Mas voltemos aos direitos e deveres. É justo provocar fechamento de lojas, prejuízos, fugas de famílias, e às vezes depredações?  É lógico que não e não há “direitos humanos” que justifiquem o cerceamento do direito de outros cidadãos. Se de um lado criticaram-se as decisões judiciais que concederam liminares a alguns shoppings para proibirem a entrada de jovens e a realização de rolezinhos, que agora, pelo menos, apoiemos a Justiça na condenação dos organizadores desses atos. Um shopping da capital os identificou e está processando-os, cobrando os prejuízos. Seria muito bom que a Justiça e principalmente a OAB, ciosa em defender “os direitos” dessas manifestações, considerassem o direito do cidadão de ir e vir nesses locais sem medo e com garantias de sua integridade física.

 Bem, deixemos agora a questão dos direitos e deveres e passemos à defesa dos jovens, assumindo o mea culpa. Muitos especialistas esmiuçaram o perfil desses jovens que se organizam pelas redes sociais e programam suas atividades nos shoppings mais sofisticados. Algumas das conclusões já divulgadas:

- O rolezinho, reunião de jovens e adolescentes em shoppings do centro das cidades, nasceu na periferia de São Paulo, espalhou-se e tem como objetivo reivindicar mais espaço e diversão onde eles moram. Entretanto ninguém sabe ao certo o que eles pensam, mas sabem o que eles deveriam fazer da vida.
             - Os rolezinhos não têm faixas nem bandeiras. Não criticam o consumo. Ao contrário elogiam as marcas (tênis de mil reais, por exemplo). Só querem diversão, buscar as meninas, curtir muito.
          
            - Os jovens do mundo inteiro vão sempre desafiar os pais, os adultos, quem quer que seja. Não há quem não goste de ostentar, mostrar que é superior aos “diferenciados”, seja pelo carrão, tênis caríssimo ou até pela música que ouve.  A classe C, cresceu, progrediu, conforme comprovam as estatísticas do IBGE. Nas classes menos favorecidas há milhões de afiliados em programas sociais do governo (bolsas) que garantem um mínimo para a alimentação e habitação. Há quem afirme que quanto mais dependente dos programas de governo maior é a tendência em votar na situação. Por outro lado, muitos dessas classes mais baixas têm verdadeira obsessão pelo diploma de nível superior e preferem economizar dinheiro para investir na faculdade ou na escola particular dos filhos. Acreditam na educação como alavanca para o progresso econômico e social. E é isto é bem verdade, uma ideia que deve ser elogiada e incentivada.
          
            - A “periferia” não é, ainda, inteiramente conhecida. Um jornalista que passou boa parte de sua vida num bairro pobre de São Paulo disse que os jovens da periferia não prosseguiam nos estudos porque só pensavam em conseguir um emprego mais cedo possível. Assim poderiam comprar roupas, tênis, o primeiro carro, telhas para a casa, blocos para o muro alto, geladeira... Tinham duas únicas preocupações: mostrar que tinham melhorado de vida e proteger as casas contra a violência. Mas, aos finais de semana, eles e seus carros com som bem alto, ocupavam o centro da cidade tocando rap no último volume (declaração de um jornalista que viveu na periferia até se matricular numa universidade, no centro da cidade).

              - Finalmente, a única certeza é que não se pode simplificar a análise sobre os rolezinhos e o perfil dos jovens da periferia. É certo que eles não precisam marcar espaço nos shoppings da periferia. Já tem seus espaços por lá, ainda que em grupos menores. Não há espaços culturais na periferia e nisso eles tem razão em reivindicar, pois os shoppings são verdadeiros bunkers, palácios da segurança para as famílias que ali vão dispostas a gastarem e muito. Quanto mais luxuosos são, mais seguros se tornam.

Para mim ficou uma lição insofismável. Os rolezinhos vieram confirmar o apartheid social que vivemos em nosso país.  De um lado as classes mais favorecidas economicamente e de outro os moradores da periferia, de menor poder aquisitivo e que se ressentem da falta de opções de lazer (e de trabalho, supostamente, pois eles não disseram isto, mas está implícito) e que agora resolveram invadir “os bunkers” dos primeiros. Estes estão para lá de assustados. Mas, entendo que o alvo (shoppings) está equivocado. Melhor seria se fossem dirigidos aos poderes constituídos como o Congresso Nacional, Câmara Legislativa, Ministérios, Judiciário e Executivo em todos os níveis. Garanto que há muita coisa errada para se protestar nesses locais como a não aprovação de leis mais justas, combate à corrupção, etc,etc. Até mesmo a reivindicação principal, o objetivo-mor  proclamado pelos rolezinhos, a falta de opção de lazer para a juventude nas periferias, seria mais acertadamente encaminhada a esses locais. Seria mais justo! Eu mesmo participei das manifestações estudantis, de junho passado, na Esplanada dos Ministérios. É justo que os jovens se manifestem. O perigo está naqueles bagunceiros oportunistas que se infiltram e promovem a baderna.   
              E o governo, e os políticos? Fingem que  a questão não é com eles. Ah..., em ano de eleição nem vale a pena falar disso. Tomara que aquela minoria radical petista (26% dos afiliados do PT condenam e alguns até protestam há mais de 70 dias acampados em frente ao STF, por este ter condenado lideres do partido envolvidos no mensalão) não se infiltre nos rolezinhos e proponham a estatização dos shoppings ou crie a bolsa rolé, as duas grandes especialidades de pseudo-socialistas  brasileiros que não trabalham e vivem à custa do erário. Seria mais um ônus para quem trabalha e produz. Oh, my God! Vamos participar dos rolezinhos como sugerido no título desse artigo. Porém de forma diferente: vamos trabalhar, e muito, para que se criem oportunidades de empregos e salários justos para os nossos jovens ou seus pais. É disso que eles precisam para quebrar a maldita verdade, nua e cruel sobre o dinheiro, o vil metal que tudo governa em nossas vidas, segundo a afirmação um papa da economia:

Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa do que a falta de dinheiro”.

 
Brasília, 28 de janeiro de 2014
                   Paulo das Lavras.

Por que não um rolezinho assim?
 
 
       Rolezinho e repressão num shopping  
 
                                 
 
                                                                                 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário