sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

De Volta à França (3) - Meu Natal em Paris

             Não, meu Natal deste ano não será em Paris. Embora lá estivesse às vésperas e me deleitado com as vitrines das lojas mais sofisticadas do mundo e a linda decoração das avenidas, praças e monumentos, meu pensamento estava voltado para as festas no aconchego do lar. Alguém me perguntou pela rede social, vais passar o natal aí em Paris? Não! Passagem de retorno devidamente marcada, algumas comprinhas e só! Natal é família.... Não tenho coragem, ou melhor, estrutura emocional sequer para pensar o Natal longe de casa, seja na glamorosa Paris ou na cintilante e atrativa Nova York. Nunca o passei fora de casa. Nada substitui a união e a reunião da família. Os preparativos começam muito antes, com as compras de presentes longe dos congestionamentos de trânsito e de clientes nas lojas. Depois vem o planejamento da festa, a decoração do ambiente incluindo a montagem da árvore que, obrigatoriamente, conta com a participação das crianças que adoram dependurar os enfeites e ver as luzinhas brilharem. Tem também a escolha dos pratos e sobremesas para a ceia. Tudo decidido em família. Os filhos casados se encarregam de preparar um prato surpresa, ficando o principal com o anfitrião.

Essa tradição vem da infância, quando o avô fazia questão que todos os netos colocassem seus sapatinhos na sala de sua grande casa. Dia seguinte levantávamos bem cedo e corríamos na esperança de ver o Papai Noel ainda por lá. Nunca o vimos nessa tarefa, mas os presentinhos lá estavam em cada sapatinho. Esse era o costume na década de 1950. Até me lembro de uma musica, cantada por Jamelão nos programas dominicais da Rádio Nacional, que dizia: “coloquei o sapatinho na janela do quintal...”. Dia de Natal era só alegria para a criançada, isto sem contar as festividades religiosas que incluíam missa e visita aos presépios montados na igreja Matriz de Sant´Ana e nas casas de amigos da família.

 
           Desde que chegaram os netos resolvemos inovar as comemorações do Natal. Abrimos as portas das casas vizinhas e um Papai Noel, de verdade, chega à meia noite tocando uma sineta, gritando Hooo...Hooo...Hoo e carregando um enorme saco abarrotado de presentes destinados a, pelo menos, umas dez crianças. Foi ideia de uma antiga vizinha, carioca festeira que só. É uma algazarra geral na hora do abraço e distribuição dos presentes, pura adrenalina da criançada, de dois aos oito ou dez anos de idade. Todos querendo abraçar o Papai Noel e receber seu presente. Naturalmente ele pega o presente, devidamente identificado, chama a criança pelo nome e em seguida pergunta se ela “se comportou bem” durante o ano e só então faz a entrega. Interessante foi notar a argúcia dos pequenos de apenas dois anos de idade. Antes mesmo da pergunta já chegavam anunciando: “ Papai Noel, eu “se comportei”... Assim mesmo “se comportei”... rsrs. Criança é joia, não há nada nesse mundo que se compare à sua pureza e amor.

 
Esse ritual tem sido um sucesso que se repete a cada ano. Mas, há uns três anos, tivemos um probleminha... um dos garotos já com seis anos gritou: ah.. o Papai Noel é o tio Mário Augusto... Pronto, suspense geral e a vó emendou dizendo o contrário. Não adiantou, embora com todos os disfarces do vestuário, barbas postiças, óculos à caráter, luvas e até mesmo uma entonação de voz bem característica de Papai Noel, o garoto retrucou: é sim, olha o relógio dele, do tio Guto...rsrsr. O jeito foi chama-lo para outro local, confirmar a verdade e pedir segredo. Criança adora um “segredo” ... e a festa continuou sem que mais ninguém duvidasse que ali estava o verdadeiro Papai Noel que veio trazer os presentes para eles. Depois dessa os cuidados na roupagem, maquiagem e voz do Papai Noel foram redobrados. Tomara que hoje à noite não se repita essa “descoberta” por parte da meninada.

 
           Bem, neste ano uma das filhas sugeriu que fizéssemos o natal em sua nova casa, no bairro de Águas Claras. Embora tivéssemos achado uma boa ideia, os dois netos, de cinco e seis anos de idade perguntaram: Mas como o Papai Noel, que passa aqui na casa do vovô e da vovó vai saber? Eu já coloquei minha cartinha de pedido do presente lá na árvore de natal. Ele passará lá na outra casa também? Ofereci a alternativa de pegar os presentes que o Papai Noel traria e os levaria para a casa dela onde faríamos a ceia. De bate pronto, ela olhou para a vó buscando aprovação e respondeu: Que coisa mais sem graça, vovó! Entendemos e cancelamos o plano de mudança do local das comemorações. O espírito familiar está arraigado entre os vizinhos e não mais se restringe aos laços sanguíneos. Que bom que haja esse sentimento de amizade e união entre famílias, sobretudo numa cidade grande, especialmente Brasília, onde todos somos “estrangeiros” vindos de diferentes estados desse imenso e diversificado país.

 
            Natal é assim, alegria sem fim na família. Não quero saber de passar essa festa em outro lugar, nem mesmo em Paris ou Nova York, a menos que fossemos todos, esposa, filhos, netos, agregados, vizinhos e amigos que eventualmente estão por perto. Aliás, amigos por perto..., já tivemos oportunidade de acolher, na noite de Natal, duas moças, médicas-residentes de um hospital e que em razão de plantões médicos não puderam passar o natal com a família na distante Salvador, Bahia. Naquela noite o telefone da casa ficou ligado por mais de uma hora, pois não havia celular na década de 1980. Choro constante, de cá e de lá. Compreendi a emoção do pai, do outro lado da linha. Depois de algum tempo pedi para falar com ele, meu xará, Sr. Paulo. Aumentei um pouquinho o som da música ambiente, a 9ª Sinfonia de Beethoven – o Hino à Alegria e o tranquilizei dizendo-lhe do prazer de receber sua filha para a ceia em família. Que Alegria, tal qual se expressa no Hino de Beethoven que o senhor pode ouvir ao fundo, disse a ele. Menos de um mês depois ele veio à minha casa agradecer e entregar-me uma lembrancinha, não sem antes dar-me um abraço emocionado, quase às lágrimas. Desnecessário dizer que mantemos relações cordiais desde então.

 
             Natal é isso, compartilhar o amor! Não custa nada e cria laços para sempre. Ainda hoje me lembro dos presentinhos que Papai Noel deixava no sapatinho, na sala da casa de meu avô. Quero que meus netos se lembrem desse imaginário Papai Noel com carinho e amor, na infância e sempre, mesmo que seja muito, mas muito tempo depois como agora o fiz.

Um bom Natal para todos, com muito amor e saúde.
 

Brasília, 24 de dezembro de 2013


Paulo das Lavras.
 
 
Paris- decoração de Natal 2013
 
 
                                            Natal em casa...                                             

                                                               
... com os três netinhos
 
 
 
                                                        
                                                     Na árvore de Natal                                           


                                                              
                                   Esperando o Papai Noel na porta. Sarah com sua cartinha de
                                                                    boas vindas ao Papai Noel

                                                                
                                                E põe ansiedade na espera....
                                          
                                                               
e finalmente... à meia noite o Papai Noel chegou
 
                                                              
Sarah, o abraço e o esperado presente      
 
  
                                       A alegria e felicidade no sorriso de Pedro Henrique
                                                             
                                               Sarah com os avós, alegria sem fim...                  
                                                               
Pedro Henrique e os cobiçados presentes
 

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