quinta-feira, 6 de março de 2014

A culpa é do aluno

É cada uma... #trágico!
Recebi, em uma rede social, a mensagem acima. Em seu cabeçalho, ao lado da nota que o aluno recebeu, constava apenas a observação:  “É cada uma... # trágico!”, em clara referencia aos conhecimentos ali contidos. Contestei de imediato nos seguintes termos:
À primeira vista parece mesmo trágico e engraçado. Talvez, por isso, os comentários nessa linha são até pertinentes. Porém à vista de especialistas em avaliação acadêmica a questão tem dois lados. Em minha opinião não se pode penalizar exclusivamente o aluno. Ele é o elo mais fraco, a primeira e maior vitima do sistema. E nesse sistema o primeiro responsável é o professor.
            Verifiquei vários comentários sobre esse caso e encontrei um que combina com o meu ponto de vista. Diz o seguinte:
“Na boa, a qualidade da resposta está intrinsecamente ligada à má qualidade da pergunta. Nós não percebemos porque nos acostumamos com este tipo de avaliação. #trágico!”.
            A maioria de nossos professores só pensa no exame vestibular e querem “treinar” seus alunos para as tais pegadinhas. Ora, exame vestibular é para isso mesmo. Não é à toa que o MEC os chama de Processo Seletivo. E selecionar implica mais em “eliminar” do que escolher os melhores. É bem assim... como mil candidatos para 50 vagas. Portanto, está corretissima a análise do Prof Bruno, sobretudo quando diz que estamos tão acostumados com esse tipo de avaliação e, por isso, nem percebemos. Esquecemo-nos que a missão do professor é “formar” o aluno, ensinar-lhe a ser crítico e saber ler, interpretar e comentar/analisar qualquer evento. Para tanto é necessário balizar, orientar... E onde está o reflexo dessa postura pedagógica na péssima formulação da questão?
 Se eu fosse o pai desse aluno entraria com recurso na comissão didático-pedagógica da escola. Exigiria reavaliação em face da pergunta ter sido vaga, a ponto de ensejar novas indagações, como:
É para se focar períodos abrangidos pela guerra, início/causas, meio/ batalhas/logistica e fim/resultados? (a guerra durou cinco anos); o papel dos aliados; a Itália no conflito; o Dia D e o desembarque na Normandia; os reids aéreos; o holocausto; a morte de Hitler, etc, etc, ou ainda, puxando para o lado brasileiro... Porque o Brasil entrou na guerra? a ação da FEB na Itália; A Usina Siderurgica de Volta Redonda; as bases aéreas americanas em Natal; Getúlio e Olga Benário... etc, etc. Ou ainda, sob um aspecto mais global e histórico, quais os impactos da guerra na vida dos cidadãos? Ou ainda falar exclusivamenbte sobre os avanços da ciência e da tecnologia decorrentes das grandes necessidades de suprimentos bélicos, de alimentos, saúde, comunicações (até inventaram o radar e os foguetes e depois os aviões a jato!).
            Do ponto de vista do garoto ele escolheu relatar, em até 10 linhas, a imaginação de uma batalha, muito provavelmente influenciado pelos filminhos de tv, a grande babá eletrônica de nossos dias. Ele acertou e se o conteudo não está bom, o roteiro é 10. O recorte postado de sua redação não mostra o final, mas provavelmente alguns soldados morreram na evacuação que o hipotético comandante ordenara.... Por sua vez, o professor, ao limitar a redação em 10 linhas, demonstra não querer muito trabalho para ler. Depois ainda ironiza o aluno “parabenizando” a criatividade e lhe tasca um zero, vírgula, zero! Então, tá... o aluno é obrigado a adivinhar o que o professor queria que fosse escrito. Até me faz lembrar de um folclórico professor da antiga ESAL que fez a seguinte pergunta em prova: “O que foi dito na porteira da fazenda do Totonho Cambraia, naquele dia da aula prática?” (só um aluno, daqueles que anotam tudo, respondeu).
Nesse caso particular estou com a opinião de outro professor que avaliaria o aluno em tela com nota  5 (cinco), pelo menos e anotação em sua ficha de avaliação sobre a qualidade de sua imaginação. Quem sabe no futuro viria a ser um cineasta? (Havia orientador pedagógico para esse tipo de avaliação/intervenção?). De fato é mesmo uma situação “ # trágica”. Porém para o lado dos professores, pois os alunos são as vítimas indefesas dessa falta de didática e avaliação do desempenho educacional.
 
Brasília, 05 de novembro de 2012
 
Paulo das Lavras

 

2 comentários:

  1. O professor não delimitou o tema, no entanto, isso, no caso de uma prova para uma turma, para a qual o professor leciona durante o ano todo, nunca foi um problema, quando os alunos eram mais respeitosos e interessados. Pois, durante as aulas, o professor, logicamente, desenvolveu o tema, provavelmente deu exercícios e, claro, de forma oral, explicou o que seria cobrado na prova. Realmente, frases soltas, fora do contexto, podem nos levar por caminhos diversos até mesmo totalmente opostos à realidade. Essas perguntas resumidas, normalmente acontecem para economizar os espaços e simplificar tanto a leitura para o aluno, como também a elaboração das provas.

    Infelizmente, nas páginas de prova, não se pode comprovar tudo o que o professor acrescentou, em suas explicações, em aulas anteriores e, até mesmo, no momento da prova. A única defesa desse professor seria o testemunho dos demais alunos. Se bem que, no caso de um pedido de revisão de prova, a banca poderá pedir as provas dos demais alunos e verificar se houve uma maioria de mal entendidos, essa é uma boa comprovação.

    Parece-me que a resposta se trata de um dos males que estão se tornando frequentes nas escolas atualmente: utilizar as provas para fazer deboches e piadas. Tanto que, nas regras para redação de vestibular, incluíram umas normas voltadas para esse aspecto.

    No entanto, não posso discordar de que a culpa de erros, nem sempre é apenas do aluno. Muitas vezes são dos professores, sim. Assim como, também, das famílias, pelo modo como vêm educando crianças e jovens. Em alguns casos, deseducando. Por mais errada que tenha sido a escola antiga, num quesito ela estava certa: respeito à hierarquia é muito bom, na família, na escola e na sociedade. Caso contrário, teremos a anarquia.

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    1. Ótimos comentários, pois a questão é complexa e é preciso considerar também os pontos abordados por você. Obrigado. Gostaria de receber mais contribuições, que pdem ser enviadas para: paulosilvadf@gmail.com

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