sexta-feira, 12 de março de 2021

Amigos em Washington?

 
Não é fácil fazer amigos em Washington. Disse-me o diplomata do Deapartamento de Estado, ali na capital dos americanos. Melhor visitar museus e prédios públicos como a Casa Branca, embora cercada a 300 metros com grades e telas.
Foto do autor - 1977


Não, não se engane. Não deixei nenhum amigo na capital norte-americana. Apenas conhecidos, aqueles com os quais desempenhamos algum trabalho. Aprendi a prestar atenção nos cães de estimação desde os tempos de trabalho nos Estados Unidos. Lá, numa reunião social do Departamento de Estado, em Washington-DC, durante seminário internacional sobre programas da USAID no mundo inteiro, um alto funcionário do governo perguntou-me como era a vida numa capital (Brasília) fundada havia menos de 20 anos. Respondi-lhe que a cidade de Brasília era excelente para o trabalho e até mesmo para caminhadas em seus parques que rodeam os prédios residenciais. Um paraíso paisagístico, sem igual no mundo. Nem mesmo ali em Washington, Nova York, Londres ou Paris. Mas, socialmente, deixava a desejar pela falta de raizes e as constantes revoadas nos finais de semana para a terra natal. Naquela época, anos de 1980, quase não existia vida social, pois todos os funcionários eram migrantes temporários que retornavam para sua cidade natal após cumprir a missão em determinado período de governo. Os finais de semana eram vazios, pois quase toda a familia voava para os estados de origem. Ninguém aguentava mais que quinze dias isolado do convívio de seus antigos e dos sólidos laços familiares e de amigos da infância e juventude. Além disso, boa parte dos colegas de trabalho não trazia sua família e morava em hoteis, flats, muito comuns na cidade. A capital era, de fato, muito nova e ainda não tinha raizes que prendessem os moradores, sempre considerados “forasteiros”. Qualquer conversa começava sempre com a célebre pergunta, de onde voce é, de qual estado da federação você veio? E essa falta de raizes nos custava bastante dinheiro com a ponte-aérea, reclamei para o interloicutor interessado na resposta. O funcionário americano retrucou: “Aqui é pior..., no friends, too”, só há ambições e se quizer ter um amigo aqui..., compre um cachorro! Não entendi bem, arregalei os olhos, engoli em seco e até achei muito engraçada a expressão à queima bucha: buy a dog - compre um cachorro! Dei uma boa gargalhada, pois embora fleugmático e mesmo sorvendo um copo de uísque cowboy, o gringo estava com certeza ironizando a frieza e a indiferença social da capital dos norte-americanos. E era mesmo, pois ali dificilmente se fazem amigos, há muitos visitantes, gente de outros estados ou paises, políticos ou executivos fazendo lobby em favor de seus projetos. Fiquei a pensar, se o gringo, de maneira geral, já não é tão efusivo como os brasileiros, ali na capital era pior a situação. Total indiferença para com as pessoas..., “no friends”, ecoavam as palavras do gringo balançando o gelo em seu copo de whisky..., apenas interesses comerciais. Ainda bem que a capital americana é dotada de inúmeros museus e monumentos de atração turística, pensei logo, e o visitante não precisa ficar encerrado nos hoteis em finais de semana.

Hoje, mais que nunca, ao vivenciar casos como o do vira lata adotado e superdotado, Candu (link anexo), pudemos compreender melhor o conselho daquele morador da cidade de Washington. Tratei logo de vestir a carapuça e pensar em arranjar amigos verdadeiros na outra capital, Brasília. Se os humanos não oferecem ou não merecem confiança, principalmente nas capitais onde a população de políticos é considerável e é grande a mobilidade com vai e vêm constantes, os cães, ao contrário, não se cansam de dar provas de amor e fidelidade aos seus donos. Lá mesmo em Washington, mais recentemente, o cão labrador, Sully, de Geoge Bush (pai) deu mostras inequívocas de puro amor e fidelidade. Quando o ex-presidente Bush faleceu, o labrador ficou postado com absoluta tristeza ao lado do caixão do antigo e querido dono. A foto do cãozinho ali a seu lado, num último adeus, rodou o mundo e nos comoveu a todos.  E naquele dia me lembrei das palavras do gringo do Departamente de Estado Americano, num salão de festas ali mesmo em Washington onde George Bush exerceu a presidencia dos E.U.A. Suas palavras, “se quizer ter um amigo aqui..., compre um cachorro...”, reverberaram na minha mente. Ali estava o exemplo, bem aos meus olhos, um cão da raça labrador num último adeus ao dono querido. Fiel amigo.


 A cena comovente do labrador Sully, ao lado do caixão do amigo, o querido ex-presidente dos E.U.A. Essa foto foi publicada nas redes sociais e viralizou, incluindo a frase “Missão cumprida”, por aquele cão adestrado que ajudara o ex-presidente em seus últimos meses de vida. 
Foto: internet 2018


Em Nova York até há o Museus dos Cachorros (AKC Museum of the Dog) que, em recente passado, apresentou a exposição “Cachorros Presidenciais”, mostrando a retrospectiva das diferentes raças de cães que já viveram na Casa Branca ao lado dos presidentes que ali se hospedaram. Interessante a narrativa das histórias dos cachorros e a influência que eles tiveram naquele país. O único inquilino que para lá não levou um cachorro foi o Sr Trump. Aqui no Brasil há um ditado que diz que quem não gosta de samba bom sujeito não é. Será que haveria correspondência desse ditado em relação aos animais? Portanto, a piada que o gringo contou-me nem  pode ser classificada como tal, pois reflete a preferencia, o amor que os americanos têm pelos cães, a começar pelos presidentes da nação. Também não é de se estranhar que nessas metrópoles haja exagerada quantidade desses bichinhos de estimação. Mas, não é somente por lá. Paris, por exemplo, bate todos os recordes de número de cães por habitante. Ali, o índice de natalidade dos humanos é dos menores do mundo, apenas 0,6% e por isso, na falta de crianças, os casais preferem ter a companhia de cachorros. Estão presentes, em grande número, nas ruas, parques e até em restaurantes. Nunca entedia, quando lá trabalhava, aquela enorme quantidade de cães puxados pelas madames ou até mesmo carregados no colo, nas ruas e em todos os lugares. Somente compreendi a situação quando tomei conhecimento das estatísticas sobre natalidade. Sem crianças e muitos cães de estimação, essa era a realidade parisiense durante as temporadas que lá passei a trabalho, por mais de cinco anos. Certa vez estava jantando, num respeitável e seleto restaurante especializado em ostras, situado no cruzamento da Boulevard Raspail com Montparnasse e cujos bancos estofados eram geminados, costas com costas, senti repentinamente e sem nehum aviso prévio, um leve roçar na nuca, seguido de um molhado “lambeijo”. Assustado, imaginei já refeito do susto e mais animado depois de algumas semanas sozinho por ali, que alguma gata, no sentido figurado, estava me cortejando. Virei para trás e ainda pude sentir o hálito quente do cachorrinho da madame, a qual sequer se desculpou. Decepção geral, pois além de errar a espécie, nunca imaginara ser possível uma situação daquela. Coisas de capital, onde, segundo o diplomata americano, para se ter um amigo é preciso comprar um cachorro e no caso de Paris, mais ainda, um substituo das crianças quase inexistentes na capítal francesa. Haja cachorros!

Bem, por aqui, em Brasília, também há muitos cachorros de estimação e todas as manhãs e tardes desfilam pelos parques de imensos gramados. Também tenho os meus, mas preferi mante-los na chacara com mais espaço e conforto para eles, que são nossos fiéis amigos, seja em Paris, Washington, Brasília, ou qualquer outro lugar. Depois dessas inusitadas experiências em Washignton e Paris, sinto-me como um americano ou francês quando chego à chacara. Lá estão todos os quatro ou cinco câes a me esperarem. Disse-me o caseiro que eles identificam o barulho de meu carro a mais de um km de distância e saem em disparada rumo ao portão latindo e correndo. Ao chegar e ser recebido com tanta "festa", sinto-me como se fosse um americano ou francês, "amado", querido, festejado e até penso que a capital onde moro tem o mesmo problema daqueles estrangeiros. Desço rapidamente do carro faço um afago nos dois enormes filas e nos vira-latas, os mais festeiros e tento silenciar a estrondosa banda de recepção de latidos e uivos. Lógico que não deixo me darem lambeijos, coisa que não pude evitar na capital francesa...

 

Brasília, 12 de março de 2021

Paulo das Lavras


 

 
O American Kennel Club Museum of the Dog, em Nova York, promoveu em 2020 uma exposição Cachorros Presidenciais, tal a admiração pelos cães. 

Foto- AKC


 
Ali em Washington nem a minha gravata lembrando a bandeira americana e muito menos as gargalhadas foram capazes de provocar o humor do interlocutor que, embora ali morasse havia tempo, pensava que, na capital, era mehor comprar um cachorro para se chamar de amigo e ser correspondido... Constatei que ele estava certo
Foto do autor - 1988


 Era mais fácil fazer amizades com estrangeiros, como esses filipinos, em visita ao Capitólio. Aquele mesmo icônico predio que um aloprado presidente incentivou a sua invasão em recente passado e que provavelmente também não gosta de cachorro Foto do autor - 1988

 

 Lincoln Memorial, também boa opção de visita na capital americana
Foto do autor - 1977


Biblioteca do Congresso, esta sim não pode deixar de ser visitada. 
Foto do autor - 1977


 O melhor era mesmo deixar a capital Washington, com sua marina no rio Potomac e a vista aérea do Departamentto de Estado e voar para aregião dos Grandes Lagos, Michigan e Illinois 
Foto do autor – decolando do aeroporto Nacional de Washington-DC, nov. 1988


 
Na Michigan State University, onde permanecíamos por mais tempo em nosso escritório, especialmente no verão, com uma dezena de funcionários, a acolhida era mais calorosa. 
Foto do autor – junho 1977


 Para quem passava de quatro a seis semanas sozinho, nos EUA, a cada vez, nada melhor que um fim de semana numa bela fazenda, de um colega de trabalho, em Tuscola-Illinois, na região dase terras mais férteis do mundo, o chamado “Corn belt”- cinturão do milho, 200 km ao sul de Chicago. Sim, esta é a casa sede de uma moderna fazenda norte-americana. 
Foto do autor - 1978



 
Nos anos 80/90 passei a trabalhar periodicamente em Paris e ali a presença dos cães de estimação é mais intensa que nos EUA. Dominam as ruas e os parques e até em.... 
Foto- internet


 ... em restaurnates, onde chegam a nos incomodar e  assustar. Tal qual nesta foto, quase levei um “lambeijo” desse, em um respeitável e especializado restaurante localizado no coração de Paris. 
Foto- Aleksandarnakic




 Abraço de derrubar ao chão ou um “lambeijo”..., só se for de seu cão, conhecido, manso e amigo. Pantera, a primeira cadela da raça Fila que ganhei. Por ironia, ganhei-a de um diplomata que retornou a seu país. Nessa época ainda não conhecia a paixão dos americanos por cães, o que só foi-me revelado cinco anos depois, ali em Washington. Mas..., 
Foto do autor- 1983 


 ... em Brasília, como em Washington ou Paris onde trabalhei, os “amigos” duram enquanto dura a missão, o projeto a tarefa ou interesse dos “recém-conhecidos”, como nessa foto, na Câmara dos Deputados, onde defendíamos a criação da profissão de Paisagista. Também por aqui, capital política de nosso país, de alto rodízio de pessoas, melhor seguir o conselho do gringo... 


... pois, constata-se, de fato que também aqui há muitos cães de estimação com seus donos a desfilarem pelas ruas e parques.  Prefiro manter os meus na chácara com amplo espaço.


Um dos mais fiéis cães de guarda, da raça Fila Brasileiro. Argus, esperando o dono retirar a cobertura da piscina.


 Enfim, seja aqui ou nos EUA e na França, os cães (Argus e Tobi) são os melhores amigos. E nos esperam, pacientemente, enquanto vamos tomar água na cozinha e “guardam” a botina como se alguém fosse leva-la, surrupiá-la de seu dono.

 

Veja também, no link abaixo, uma história inacreditável de amor dos cães, acontecida e vivenciada na chácara.  http://contosdaslavras.blogspot.com/2014/10/candu-o-adotado-superdotado.html





 



 






 













 



 

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