quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Terapia pela escrita... Vamos nessa?


Li um artigo interessante sobre a terapia psicológica por meio da escrita, sejam poesias, contos, crônicas ou outras.  Foi lembrado o exemplo de Carlos Drummond de Andrade que, em entrevista, citou o inicio de sua carreira na literatura com poesias produzidas por impulso. Nelas ele constatou, depois de certo tempo, que ali estavam inseridos aspectos sombrios que povoavam sua mente. Seus escritos eram, segundo o próprio Drummond, uma forma de clarear esses pensamentos conflitantes, exercendo um papel muito salutar, tonificante para a sua alma. A literatura tinha, portanto, efeito terapêutico para ele, aliviando a carga de problemas que carregava. Assim, expressava-se na poesia, ainda que na linguagem simbólica, aquilo que era inconsciente e que de certa forma o incomodava, sejam as injustiças, as belezas ou simples passagens de vida em família e nunca antes devidamente explicadas ou exploradas convenientemente. E ele se sentia aliviado ou até mesmo gratificado por ali colocar aqueles “problemas”, expelindo-os de forma construtiva. A literatura era seu “divã”, concluiu Drummond.

É interessante a constatação de que, até mesmo nos contos de ficção, sempre há um pouco de autobiografia. Aqueles que gostam de escrever, ainda que por puro lazer e muitos de nós somos assim, sabem muito bem disso (crônicas que escrevo só as libero para os amigos mais chegados, pois as leem com o os olhos do coração e adicionam críticas sinceras, pois o que me move é o desejo de crescer e co,mpartilhar as coisas boas da vida). Qualquer produção literária, não importa o gênero, sempre traz um pouco da vida do autor. As crônicas, então, são terríveis nesse sentido. Nelas o autor escancara os seus pensamentos e sentimentos, expondo-se totalmente. E na verdade o cronista segue, quase sempre, o figurino descrito por Drummond.  Busca explicar, à luz de sua vivência e conflitos internos, agora escudados em maior experiência e respaldados em conhecimentos mais amplos, os fenômenos e acontecimentos do cotidiano. Pela crônica adquirimos coragem de abordar as queixas ou ideias que antes não pudemos ou tivemos coragem de fazê-las diretamente aos protagonistas de outrora. E agora, às vezes, me pergunto por que esse impulso de escrever sobre o cotidiano ou reminiscências da infância e juventude? Por que se sente bem em sair pelas ruas e conversar com garis, catadores de lixo reciclável (e até fotografar-se com eles), vigilantes, policiais em serviço, motoristas profissionais, garçons, donos de estabelecimentos comerciais, babás e até crianças que ainda mal sabem se expressar? São pessoas que exercem atividades totalmente distintas daquelas para as quais fui treinado e me dediquei toda a vida. Hoje, depois de tanto tempo, parece que acordei para a vida, a vida como ela é, como dizia Nelson Rodrigues e não apenas aquele mundo profissional, cercado pelos top minds, formal, requintado e que lhe cercou por todo o tempo, no país e no exterior. Formalidade demais! Assim, hoje, ao procurar entender o outro, o próximo que está a seu lado e seu modo de vida, ou simplesmente descrever uma experiência própria, comparando-a com a atualidade e assim tirar lições que possam valer para si mesmo e todos que delas tomem conhecimento é simplesmente “viver”. E assim, pela escrita, prolongamos o prazer da vida.


Por consequência a tese de Drummond se aplica a todos nós que gostamos de escrever, ainda que de forma amadorística, ou seja, descobrimos ou simplesmente usamos a literatura ou a escrita, como terapia da alma e ao mesmo tempo levamos, por meio dela, mensagens construtivas para os amigos. E quando dizemos "escrita" incluímos as artes da pintura, da música e da fotografia, pois as fotos tem duas faces, a que é mostrada e a invisível, aquela que está por detrás da câmera, o pensar, a mensagem que o fotógrafo deseja repassar com a imagem por ele capturada.  O pensador Rubem Alves soube expressar isso de forma mais poética ao escrever: 
"Assim são as imagens poéticas: elas tem o poder de ir lá no fundo da alma, onde moram os esquecimentos e quando um desses esquecimentos acorda a gente sente uma estremeação no corpo. Essa é a missão da poesia: recuperar os pedaços perdidos de nós”.


 Drummond e Alves estão certos. A escrita tem efeito terapêutico. Me estremeço diante de uma bela imagem como essa que abre a crônica, uma mulher, guerreira na luta pela sobrevivência Quer terapia melhor do que “descascar” um tema e dele tirar conclusões positivas ou simples desfechos que alegram os corações?

Brasília, 13 de novembro de 2013

Paulo das Lavras


Entendendo a vida de uma catadora de lixo. Na infância a carroça do Tatá, o freteiro da pequena 
cidade do interior, fazia sucesso entre as crianças que sempre queriam uma carona.
  Falar com essa mulher guerreira, que ganha o seus sustento com uma humilde
carroça transitando pela região central de Brasília, em busca de materiais recicláveis, 
foi como uma terapia para alma do menino  que estacionou o carro e correu para a prosa e a foto,
 não sem antes dar´lhe algum para o sustento do sofrido cavalo de tração.
Foto do autor -  Brasília 2012


Conversando e aprendendo sobre a vida de uma policial
do Batalhão de Polícia Montada. Diante dos elogios
 sobre a elegância do conjunto, sorriu para a foto. Ou melhor, gargalhou tanto 
que até  teve que se curvar para não cair do enorme cavalo
Foto do autor - Brasília, Esplanada dos Ministérios


Contando histórias e aprendendo com as crianças, enquanto aguardava-se o show
da Esquadrilha da Fumaça

Colhendo peras na chácara e ensinando o valor da natureza

Dando asas ao "sonho de Ícaro",  tão desejado desde  a infância..., voar, voar, subir, subir..



A vida toda cercada pela formalidade do trabalho. Chegando à Lavras
com o Ministro da Educação 
Foto: Ascom-Ufla, 1994




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