segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O mar e as montanhas




Há os que gostam do mar e até  declaram que seriam incapazes de viver sem ele. Não, não falo de pescadores, daqueles que se aventuram em precárias e frágeis jangadas ou grandes barcos pesqueiros que avançam sem medo mar adentro. Compreensível que esses não saibam mesmo viver sem ele. Falo das pessoas comuns que desenvolvem um amor, quase que platônico, pelo azul de suas aguas, a imensidão que convida à reflexão. Muitos ficam extasiados pela arrebentação das ondas ou o barulho do vento que as levantam ou faz caminhos na areia. O barulho da água da maré chega a ser calmante para muitos. O mar com certeza leva para longe suas preocupações e relaxa a alma. Há até aqueles que acreditam numa deusa das águas e para ela leva as oferendas de flores. Mas, parece que não dá muito certo, pois sempre são devolvidas à areia das praias. De qualquer maneira o mar exerce um fascínio em quem está diante dele. Todos nós nos lembramos da sensação, da grande emoção ao vê-lo pela primeira vez.

Dizem também que ninguém se cansa de namorar o mar, mas o que dizer do arrebatamento que as montanhas nos proporcionam? Levam-nos para o alto, enlevam a alma que, naquele vazio próprio do êxtase, nos remete ao amor, à alegria de viver e sonhar, literalmente! Assim, sem demérito para as qualidades emocionais proporcionadas para os que o cultuam, prefiro as montanhas ao mar. Até porque nunca ouvi dizer que alguém se retirou mar adentro para meditar ou orar. Os que assim querem e desejam a paz de espírito, sempre procuram o alto das montanhas. Parece que nelas nos aproximamos mais de Deus. Também é sabido que os mineiros não têm mar e aprendem a contemplar as montanhas desde a tenra idade. E ali, na terra das alterosas, as montanhas, por encurtarem o horizonte físico, despertavam uma imensa curiosidade no menino. Logo pela manhã, durante o café, ali estava aquela enorme montanha à frente, a uns dois quilômetros apenas, e as perguntas sempre se repetiam: O que será que há do outro lado? Rios, cidades, plantações, vales? Aquelas pedras são grandes? Há bichos ferozes naquelas matas das serras? Do lado sem florestas seria fácil escalar, imaginava o menino. Já onde havia a floresta..., ah... nem pensar, pois estaria cheia de bichos ferozes, onças, lobos, cobras e tudo mais que os adultos “sabiam” existir para amedrontar os pequenos mestres arteiros e mantê-los ao redor da casa, sem grandes aventuras em locais mais distantes.

Então, deve ser por isso, pela familiaridade com as linhas sinuosas do horizonte, que o menino aprendeu e sabe, ainda hoje, medir as montanhas com os olhos e o faz melhor que as planuras do planalto central, a despeito de nelas ter passado a maior parte de sua vida. A montanha, como disse o poeta, tem como pano de fundo o desfile de nuvens e os raios cristalinos da luz dourada do sol. O seu limite é o encontro com o céu. Mas, nem tanto ao mar e nem tanto à terra. Uma visita ao mar, de vez em quando, faz bem. Uma semana é suficiente para se reconciliar com as ondas e a areia da praia. Mas, visitar Minas, terra das montanhas, é melhor ainda, pois é o mesmo que estar de volta ao berço. Momento ímpar, verdadeiramente uma ocasião especial, passear entre montanhas.

As montanhas de Minas são obras sublimes do Criador, nos fascinam e inspiram a cada momento. Ao deixar o aeroporto de Belo Horizonte elas já nos cercam e despertam a curiosidade de menino que nunca cessa..., o que haverá do outro lado...? Um pouco adiante, logo à saída do aeroporto, já se descortina a Serra do Curral que cerca a capital das Alterosas e a seguir, em direção à Fernão Dias, a Serra de Ibirité, de Igarapé, Itatiaiuçu e Itaguara, que fazem parte do quadrilátero ferrífero da rica Minas Gerais.  Serra da Bocaina, de Lavras..., estou chegando e sua escalada será certa, porém desta vez sobrevoando seu dorso de pedra. Momentos especiais, escalando-as à pé, à cavalo, de jeep, de trem ou até mesmo de ultraleve,  como já vividos inúmeras vezes na terra natal de Lavras, em BH com sua Serra do Curral, por entre córregos e a mata do Jambreiro  rumando para Nova Lima. Ou também em Ouro Preto, Mariana, Caraça e até na Guatemala escalando montanhas em busca de pequenas aldeias indígenas dos Maias. Também na cidade do México já escalei montanhas em busca das ruinas de aldeias dos Astecas. Ah.., montanhas, montanhas minhas, que me viram nascer, crescer e por muito tempo despertaram a curiosidade do menino que, hoje, já do outro lado da serra bem distante, as relembram com carinho..., as montanhas de Minas e das Lavras do Funil.

Brasília, 18 de julho de 2018

Paulo das Lavras 

A belíssima Serra da Bocaina que emoldura a cidade de Lavras

Foto: Ronaldo Renoir


Acordar pela manhã e saborear o café contemplando a majestosa Serra da Bocaina
 foi a rotina do menino, por toda a infância e juventude, na espaçosa casa da chácara,
 onde hoje situa-se a Vila Cruzeiro do Sul, bairro da cidade de Lavras



Saindo de BH rumo ao sul de Minas... por entre montanhas



O menino, jovem engenheiro, desbravou muitas serras em Ouro Preto,
 Mariana e Caraça, plantando florestas para as siderúrgicas.


Pintura de Rugendas -  tropa de negociantes a caminho do Tijuco,
nas montanhas de ouro e diamante das Minas Geraes (1824)


Um saudoso passeio entre Mariana e Ouro Preto, escalando a montanha
Foto do autor, 2012


Outro passeio, de maria fumaça, por entre montanhas deTiradentes e São João del Rei
Foto: internet


O menino conhecendo a cultura indígena nas montanhas da Guatemala


 “Escalando” a Serra da Bocaina, em Lavras, pelo alto, num Aero-Boero argentino.
 Proa alinhada ao dorso de pedra da bela serra que emoldura a cidade de Lavras.
Foto do autor - 2014


Até mesmo nas planuras do Planalto Central, o menino encontrou
um recanto em meio à serras. Saudade da terra natal, como ensinou
 o poeta Mário Quintana: "a gente continua morando na velha casa em que nasceu”
Foto do autor – Brasília, 2004 


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