sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O valor de uma Viagem

Viajar é mudar a roupa da alma, disse o poeta Mário Quintana. E é mesmo! Aliás, viajar muda tudo, a começar pelo olhar que passa a ser perscrutador, que enxerga coisas novas. Bate aquela curiosidade própria das crianças, de querer saber tudo, perguntar sobre tudo que se vê de diferente, a começar pelas palavras do idioma local e se extasiar com as histórias sobre lugares e pessoas. A viagem muda nossos hábitos, pois as coisas que eram normais passam a não ser mais, pelo simples fato de que as culturas são diferentes nos diversos locais de nosso imenso país ou mundo afora. O que é normal em sua terra nem sempre será em outra e vice-versa. Assim, a viagem mexe com o pensar das pessoas e tem forte impacto no comportamento. E essa influência é sempre positiva, pois nos impulsiona para novas idéias de como agir e sair da repetição monótona do fazer as coisas sempre do mesmo jeito. O olhar externo é sempre incentivador às inovações. Lógico, se você estiver aberto para ver, analisar, comparar e aproveitar o melhor em qualquer viagem seja a trabalho, lazer e mais ainda se for para um curso de especialização, quando o tempo e o convívio são maiores.

Não há dúvida que acontece significativa mudança no pensar, pois abrem-se novos horizontes e ninguém será o mesmo após uma viagem. Há até quem diga que o preço de uma viagem é caro. Isto porque voce nunca mais estará completamente em casa, pois uma parte de seu coração estará sempre em outro lugar. Esse é o preço que voce paga pela riquesa de amar e conhecer lugares e pessoas em mais de um lugar. Não foi a toa que o grande velejador, Amir Klink, que conheceu os mais belos lugares do mundo, a começar pela Antártida e o Polo Norte, escreveu:
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.

São profundas as palavras desse viajante solitário. É preciso “sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto”, disse ele. Sentir a solidão em locais muito distantes faz-nos pensar e amar mais aqueles que nos cercam e que são lembrados constantemente. Com certeza, nunca ninguém será mais a mesma pessoa depois de uma viagem e é bom que sejamos eternos alunos, aprendizes da vida.
Outro grande viajante e escritor, Saint Exupéry, também confirma isso. Ele sobreviveu a um desastre aéreo e passou longo tempo no deserto do norte da África. A solidão no deserto e ainda as constantes viagens, pilotando um avião do Correio Aéreo da França, fizeram-lhe brotar os mais puros sentimentos da alma. Disse ele:
“Sou um pouco de todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que deixei e sou muito das coisas que gostei”.

Belas palavras desse piloto francês, autor de O Pequeno Príncipe e que tantas vezes pernoitou no Campeche, em Florianópolis, na rota do Correio Aéreo Paris-Buenos Aires. Pura verdade que se soma as de Klink e Quintana, pois somos tudo aquilo que passamos na vida. E nesse contexto, as viagens deixam marcas indeléveis. Também sou assim e muito, muito mesmo, das coisas que gostei. Das viagens, quando menino à vida adulta, cheias de andanças pelo mundo. Sempre fui aluno nas minhas viagens, como bem recomenda o velejador. Apreciei as marcantes diferenças de sotaques do norte a sul de nosso país, o pragmatismo profissional dos americanos, a fleuma dos ingleses, a formalidade e objetividade dos alemães, o individualismo dos irrequietos franceses, a cordialidade dos portugueses e a irreverencia latina dos italianos, muito próxima à dos brasileiros. E muitas outras diferenças de hábitos e costumes pude experimentar. Senti o frio abaixo de zero grau do hemisfério norte e o calor de até 50 graus dos desertos do Arizona, nos EUA e de San Juan, na Argentina, como também a inúmeras belezas naturais da Amazônia, do Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras maravilhas de nosso país. Tudo isso faz parte do “acervo” armazenado no subconsciente e que de alguma forma exerce ou exerceu influencia na minha vida. Aliás, foi por causa das viagens à Brasília que me encantei com a belíssima arquitetura da cidade, a que mais área verde tem. A chamada cidade-parque, dos extensos verdes e jardins floridos. Qual a cidade que tem ¾ partes, ou seja, 75% de área verde? Não encontrei nenhuma igual ou que a superasse em todo o mundo. Não resisti a esse convite da natureza e aqui estou há 40 anos, desde aquele agosto de 1975, quando o reitor de minha universidade aprovou a cessão ao Ministério da Educação.

O valor da viagem não tem preço. Muda tudo! Muda a roupa da alma, como disse o poeta. Você nunca mais será o mesmo depois de uma viagem! E por falar em viagem, já estou de malas prontas para rever a cidade natal e atender a um honroso convite de minha universidade, a UFLA.

Brasília, 19 novembro de 2015 – Dia da Bandeira Nacional.


Paulo das Lavras 



 Numa gostosa visita à cidade natal. Nada melhor que rever
                                                   os amigos na praça central. Na foto os notáveis Luiz Teixeira
                                                   da Silva (no meio) e José Claret Mattioli à esquerda
                                                                                           foto de Catarina Júlia – 2013


O avião do Correio França-Buenos Aires, pilotado por Saint Exupéry, que fazia escalas com pernoites no Campeche, em Florianópolis. 

As viagens mudam as pessoas....

  
Amir Klink também disse o mesmo que Saint Exupéry


 
Conhecendo uma fábrica artesanal de carros típicos, na Costa Rica 


  

 
 Foto  tomada numa tarde de 2014, subindo a serra de
 Mariana para Ouro Preto, como a relembrar a primeira longa
 viagem, de 16 horas, de maria-fumaça, rumo ao Seminário de
 Itaúna, onde o menino, de 12 anos de idade, passara um ano.
Viagem marcante para a vida do menino. Tudo novo, diferente,
até mesmo a contínua saudade, doída, da casa, família e amigos.
Hoje, lamentavelmente, a região de Mariana está inundada de lama,
por conta de desastre com barragem de rejeitos de mineração.



 
 Ouro Preto..., como não ficar marcado pelas constantes
visitas do recém-formado engenheiro-agrônomo, que ali
 cuidava de reflorestamentos das mineradoras? Frio intenso
 julho de 1968, época de cuidar dos viveiros de eucaliptos



 
O gosto pelos jardins, adquirido nos trabalhos com as praças
de BH marcou-o para sempre nas viagens, como essa em
 Otawa, capital do Canadá - 1986 



 
No Cine Municipal e depois no Cine Brasil, o menino adorava
as cenas de bang-bang. Aqui, num intervalo de visita de trabalho
 à Universidade do Arizona, uma pausa para conhecer a cidade
cenário de 99,9% dos filmes far-west: Old Tucson – 1978




 
Decolando na região central de Washington, com vista
privilegiada do Capitólio e sua Esplanada (Mall), além das
marinas ao longo do histórico  rio Potomac.



 
Em 2001, dois grandes aviões comandados por terroristas explodiram
as Torres Gêmeas de Manhattan, que aparecem ao fundo, em foto de
1978. Se o enunciado de Saint Exupéry está certo, como não sentir a
sua perda? Marcas indeléveis em nossa mente.



 
A simplicidade de uma nativa das montanhas da Guatemala, trocando
 algumas palavras com o turista curioso por conhecer os costumes locais




A tranquilidade dos bosques e florestas que margeiam o azul,
 de águas límpidas, despoluído rio Sena, nos arredores de Paris.
Passeio  relaxante e surpreendente pela preservação ambiental,
 logo ali, onde o Rei Luiz XV mandou instalar as Machines de
Bougival que bombeavam água para o luxuoso Palácio de Versailhes



O romântico café de Flore, em Saint Germain des Prés, desde 1885. Ali o filósofo Jean Paul Sartre e a escritora Simone de Beauvoir se reuniam para suas produções intelectuais. Cachimbos sempre dão uma conotação diferente (ainda que emprestado para o menino), enquanto os jovens se deliciam com um café e fumam (e como fuma na França...), trocando juras de amor. Frio de 04ºC não espanta ninguém, nem mesmo nas mesas do lado de fora, na calçada, onde há campânulas de aquecimento elétrico (amareladas, ao alto da foto), entre as lâmpadas de iluminação e que refletem um calor especial sobre as mesas (dezembro, 2013).
Infelizmente, agora, dois anos depois, os cafés da cidade estão em pânico por conta de recentes ataques terroristas

  

O majestoso Castelo de Sintra, também conhecido por Castelo dos Mouros.
Arredores de Lisboa - 1986


Do alto da Catedral de São Pedro, Vaticano – 1986. Mais de
2000 anos de história ali se descortina


Conhecendo uma oca indígena. Mato Grosso - 1975



Viagens enriquecem a alma. Quanto mais cedo conhecer
 outros lugares, melhor proveito se pode tirar.



















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