sábado, 21 de novembro de 2015

Breve História da Engenharia Agrícola na UFLA


A criação da profissão de engenheiro agrícola estava fadada a acontecer em razão das demandas ocorridas nos seus diferentes campos de atuação, notadamente na mecanização agrícola, armazenagem e irrigação, que experimentaram acelerado desenvolvimento. Ampliaram-se as áreas de cultivo com escassa mão de obra, o que naturalmente provocou uma corrida pela mecanização agrícola e outras técnicas que viessem facilitar e incrementar o processo produtivo agrícola. Por outro lado, o curso de agronomia sempre esteve mais voltado para os aspectos da biologia aplicada em detrimento das ciências físicas e matemáticas exigidas pela engenharia na agricultura. Assim, em 1908, coincidentemente com o ano de fundação da ESAL/UFLA, surgiu o primeiro curso de Engenharia Agrícola nos EUA, na Universidade de Iowa. Destinava-se o novo profissional a cuidar da mecânica na agricultura, construção de estradas vicinais, pontes, eletrificação rural, armazenagem, irrigação e drenagem, dentre outras.


No Brasil não foi diferente. Os motivos que levaram à criação da nova profissão foram os mesmos daqueles reclamados pelos produtores rurais norte-americanos. A Engenharia Agrícola foi a quarta profissão a se desmembrar da agronomia em nosso país. A primeira foi a Engenharia Florestal (1960), seguindo a Zootecnia (1966) e a Engenharia de Pesca (1972). Em 1973 foi a vez da engenharia agrícola com a criação do curso de graduação, com duração de cinco anos, na Universidade Federal de Pelotas.  Seguiu-se a criação do curso em Viçosa no ano de 1974. O curso de engenharia agrícola da Ufla foi o terceiro do país. Iniciou-se no segundo semestre de 1975, com 20 alunos apenas, cujas vagas foram retiradas da agronomia que, ainda assim, continuou com o ingresso de 150 alunos. Mas, foi longa a história dos estudos e a vontade de alguns especialistas em implantar essa profissão no Brasil. Em 1966 foi recomendado pelo Projeto IV/USAID-Brasil a criação de um centro nacional de pesquisa e ensino de Engenharia Agrícola no Brasil. Cinco anos depois, em 1971 decidiu-se que havia necessidade de se nomear uma comissão mista Brasil/EUA para elaborar estudo aprofundado com vistas à instalação do sugerido centro de ensino e de pesquisa em Engenharia Agrícola. Dois brasileiros, dois norte-americanos e um especialista da FAO visitaram as principais regiões do país, em 1972, constatando o atraso em que se encontrava a engenharia agrícola no Brasil, que era tratada superficialmente pelos agrônomos que se limitavam a descrever as máquinas e não analisá-las ou propor novos projetos.

O relatório da comissão não indicou nenhum local para a possível instalação de um centro de pesquisa e ensino para a área em face da precariedade da situação assim retratada:

            - debilidade do ensino de ciências da engenharia nos cursos de agronomia      - poucas pesquisas desenvolvidas nas áreas da engenharia agrícola

            - inexistência de currículo próprio e cursos de engenharia agrícola no país

            - falta de engenheiros agrícolas no país

            - disciplinas dos cursos agronomia voltadas para a área biológica e não da física

- falta de especialização docente na área

- falta de embasamento de candidatos brasileiros aos cursos de mestrado e     

    doutorado da área, nos EUA


            O MEC agiu imediatamente nomeando uma comissão nacional que propôs o currículo mínimo do curso, aprovado em 1974. Ainda naquele ano de 1974 convidou instituições de ensino interessadas nesse curso para uma reunião no MEC. Compareceram poucas instituições, dentre elas a Universidade Federal de Viçosa e a Escola Superior de Agricultura de Lavras/UFLA, representada por mim, que à época acumulava as funções correspondentes a Pró-reitor de Pós-graduação. Encampamos a proposta do MEC e rapidamente foi encaminhado o projeto com a aprovação do Departamento de Engenharia e da Congregação da ESAL/UFLA. O Departamento de Engenharia acalentava o sonho da criação desse curso desde 1973 quando se noticiou a criação de similar em Pelotas. Alguns meses depois veio a aprovação do MEC e os primeiro alunos se matricularam no semestre 1975/2. Em 1980 formou-se a primeira turma de Engenheiros Agrícolas da ESAL/UFLA. Dois anos antes, em 1978, tivemos o privilégio, na qualidade de conselheiro federal do CONFEA, assinar o parecer técnico que ensejou a aprovação da Resolução 256/78-Confea que discriminava as atribuições profissionais do Engenheiro Agrícola. Estava, portanto, criada definitivamente a profissão com direito a registro no CREA.


            O curso da UFLA passou por inúmeras atualizações. Nem bem completara um ano de existência recebeu, em julho de 1976, a visita de outra comissão mista do MSU-Brazil/MEC Project. Nessa ocasião já nos encontrávamos em Brasília, cedido pela ESAL/UFLA ao Ministério da Educação e coordenávamos justamente os programas de educação agrícola e seus programas internacionais (AID Loan Agreement – L 090-512). Assim, incluímos Lavras no roteiro daquela comissão, composta pelos professores especialistas D.W. Henderson/U.C. Davis/USA, F.L. Herum/Ohio State University, L.A. Balastreire/ESALQ-USP, M.L. Esmay/Michigan State University, M. C. S. Leão/UFCeará, P.J. Martin/UFViçosa e R.H. Wilkinson/Michigan State University. A comissão realizou um diagnóstico do curso em Lavras e deixou recomendações estratégicas que foram aproveitadas pela ESAL/UFLA, conforme “Report number 13 - Agricultural Engineering Survey Team”. É interessante notar que o Centro Nacional de Engenharia Agrícola- CENEA, vinculado ao Ministério da Agricultura e localizado em Sorocaba-SP, na Fazenda Ipanema, também foi visitado por aquela comissão mista, embora não fosse instituição de ensino e sim de pesquisas em engenharia agrícola. À época aquele centro de pesquisas desempenhava importante papel no cenário nacional. Lamentavelmente foi fechado definitivamente pelo Governo Collor de Mello, em 1990 e posteriormente a UFLA recebeu do espólio algumas aeronaves agrícolas modelo “Ipanema”.

            Prosseguindo com as reformas e atualizações o curso experimentou os novos currículos mínimos aprovados pelo MEC em 1984 e depois as diretrizes curriculares de 2006 que extinguiram os currículos mínimos obrigatórios. Iniciou a pós-graduação em 1990 com o curso de mestrado que recebeu conceito “A”, logo na primeira avaliação da CAPES. O doutorado na área de concentração em Irrigação e Drenagem foi aprovado pela CAPES em 2002. Hoje tem várias áreas de concentração na pós-graduação tanto no mestrado como no doutorado, contando com cerca de 50 docentes de elevada qualificação (92% com título de doutor e 8% de mestre). Tanto no âmbito do ensino de graduação como de pós-graduação o Departamento sempre foi destaque nas avaliações do MEC no que concerne à qualidade do ensino e de sua infraestrutura física e de pesquisas. Prova dessa elevada qualidade foi a recente aprovação de seis novos cursos, totalmente financiados pelo MEC: Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Materiais, Engenharia Química, Engenharia de Computação e Engenharia Física. Estes se juntaram aos já existentes: Engenharia Agronômica, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Controle e Automação e a Engenharia Florestal. Serão ao todo doze cursos de Engenharia na UFLA, ainda nesse segundo semestre de 2014.

Grande progresso, parabéns UFLA. Parabéns Departamento de Engenharia!


Brasília, 3 de abril de 2014

Paulo das Lavras

            Ufla- aeronave agrícola Ipanema. Herança do extinto CENEA           
                                                                  Ao fundo o Departamento de  Engenharia, onde fui professor,
                                                              de 1969 a 1975, até o dia da primeira aula de Engenharia Agrícola                                         




              Relatório de 1976 - Brasil/EUA, projeto que coordenei, 
                            no MEC, de 1976 a 1989, incluindo a ESAL/UFLA                         



                                                            Primeira página do Relatório da Comissão mista Brasil/EUA

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