sexta-feira, 20 de junho de 2014

Hino Nacional, emoção só nas Copas?



           Época de Copa do Mundo há uma profusão de hinos nacionais, cantados com muito entusiasmo, simbolizando o amor e o desejo de vitória. Interessante observar o ritmo, a cadência e o entusiasmo com que os jogadores cantam e expressam suas emoções naquele momento. O hino americano é mais cadenciado, puxando a alma para a reflexão, enaltecendo os valores da vitória com a bandeira estrelada brilhando sobre a terra da liberdade e dos bravos. O hino nacional francês, a famosa Marselhesa, têm ritmo mais acelerado como um verdadeiro grito de guerra impulsionando seus soldados para o front da batalha. E o nosso hino nacional? Bem esse dispensa qualquer classificação. Mexe com a alma no mais puro sentimento de nacionalismo evocando um sonho intenso com o sol da liberdade, amor e esperança em lindos campos floridos com a mãe gentil que, nos seus seios, acolhe os filhos com mais amores. É a nossa terra adorada, Pátria amada, Brasil! E nada mais é preciso dizer, pois está na alma.
  
 A imprensa tem dispensado bastante atenção na execução do hino nacional. Tem mostrado nossos atletas cantando a plenos pulmões e alguns chorosos como Thiago Silva, Júlio Cesar e depois Neymar. E o mais bonito que temos notado é que o brasileiro parece que se desinibiu e aprendeu a cantar o hino nacional por inteiro. Nas partidas de futebol permite-se apenas a primeira estrofe de cada hino, mas agora a moda é prosseguir cantando à capela. Ou seja, continuam a cantar sem que haja qualquer acompanhamento instrumental. Essa moda começou em 2011, num jogo entre Brasil e Argentina, em Belém do Pará e a imprensa logo a batizou como “à capela”, uma expressão de origem italiana. De qualquer forma muitos dos jogadores não conseguem segurar as lágrimas, cantando ali perfilados, pouco antes do chute inicial. É fácil compreender o choro de Thiago Silva, jogador do Paris Saint Germain, vive no exterior a curtir o eterno banzo da pátria querida e a gora ali, em casa, em frente a milhares de brasileiros, cantando o hino nacional..., é emoção demais. Das seleções estrangeiras chamou a atenção o volante Serey, da Costa do Marfim, que desabou em pranto enquanto cantava seu hino nacional, antes de enfrentar a Colômbia, aqui em Brasília. Sensibilizados os torcedores se levantaram em todo o estádio e aplaudiram o jogador marfinense. Ao fim do hino, Serey baixou a cabeça e continuou em prantos, sendo então abraçado por seus colegas. Linda e comovente demonstração de amor à pátria distante e mais bonito ainda o sentimento de respeito por parte dos setenta mil torcedores presentes.

Parece mesmo que quando estamos distantes da pátria o amor aflora com mais intensidade. E é precisamente na ausência que a proximidade é maior.  Lembro-me que, em meados da década de 1970, estava no exterior onde desempenhava missão de governo, em estadas de quatro a seis semanas, sozinho e a saudade parecia que apertava mais. A saudade não é produto da solidão e da distancia. Ela vem das fantasias que surgem na solidão. E como era duro suportá-la naquela época, pois as comunicações não eram tão avançadas como hoje. Existiam apenas o telex e o telefone fixo, cuja qualidade das ligações deixava a desejar, além de excessivamente cara. Num domingo, flanando pela cidade, passando pelo porto de Nova York, eis que vi um navio ancorado com a bandeira brasileira tremulando ao vento... Ah, não houve como segurar as lágrimas ao simples olhar daquele auriverde pendão da esperança. Saudades da pátria, dos tempos de menino nas paradas de 7de Setembro ou em fila no pátio da escola para o hasteamento da bandeira e em seguida cantar o hino nacional, a chamada Hora Cívica. Da mesma forma, chegar à embaixada do Brasil na Avenida Massachusetts, na capital americana e logo à entrada contemplar o pavilhão nacional tremulando, mexia  com os sentimentos aflorados, ali distante da pátria. A distância, a falta dos amigos e principalmente do doce som do nosso idioma... ah, não tem quem não resista diante do símbolo augusto da paz, com sua presença nos trazendo à lembrança a grandeza da Pátria. E tal qual escrito no Hino da Bandeira, o afeto que se encerra em nosso peito se converte em profundo respeito e contemplando seu vulto sagrado compreendemos o nosso dever. Mais interessante ainda é que esse sentimento, de afeto e amor, é mais intenso quando ali estamos, longe, a serviço da Pátria e não em simples viagem de lazer quando tudo é festa e alegria.

Os símbolos nacionais, especialmente o hino e a bandeira, fazem parte do nosso sentimento. Estão entranhados em nossa alma, por tudo que representam para nós em termos de nação e patriotismo. Tomara que essa onda de cantar o nosso hino se espalhe e mais, que usemos mais vezes a bandeira nacional, em casa e nas ruas. Aliás, nunca vi um país que mais cultue a sua bandeira que os Estados Unidos. Em qualquer foto elas aparecem em destaque. Na Avenida Wall Street, são dezenas delas em quase todos os edifícios privados. Aqui no Brasil ainda não temos esse saudável hábito. Basta andar pela Avenida Paulista, coração financeiro e raramente as vemos nas marquises e fachadas de casas comerciais e bancárias. Só há profusão de bandeiras em dia de jogo da Seleção Brasileira. Tomara que se mude, pois em relação ao hino nacional já progredimos.

Brasília, 20 de junho de 2014

Paulo das Lavras



Thiago Silva ”desabou” ao cantar i Hino Nacional             

O mesmo com Serey, da Costa do Marfim


                     Tua nobre presença à lembrança da grandeza da Pátria nos traz                             
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Verde e amarelo em profusão, mas só na Copa 

                                                                        Av. Paulista, quase não se vê bandeiras hasteadas  em destaque                  
                                                                            Nem mesmo no imponente edifício da FIESP...
 
               

 

... Só mesmo em ocasiões especiais


                                                                            ... ao contrário de Wall Street

                  








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