sábado, 7 de junho de 2014

De volta à França (5): Cemitério Americano da Normandia



Como parte das celebrações dos 70 anos do Dia D, que foi a invasão da Normandia pelas tropas aliadas e que marcou o início do final da Segunda Guerra Mundial, as visitas ao Cemitério Americano da Normandia, na praia de Omaha/França, foram o ponto alto das comemorações. Também lá estive recentemente e pude prestar minha singela homenagem de respeito aqueles quase dez mil soldados que ali jazem. Embora já tenha falado antes sobre a visita, não poderia deixar de destacar dois fatos que ali observei. Fiz os registros em fotos que ilustram este texto: O primeiro é a Estrela de David, símbolo dos judeus que não aceitam a cruz, símbolo dos católicos. Em meio à quase dez mil cruzes brancas destacam-se em seus lugares, algumas estrelas. O segundo destaque e talvez o principal daquele monumento, é a enorme escultura em bronze, de 6,70m de altura, intitulada: “Spirit of American Youth Rising from the Waves” (Espírito da juventude americana ressurgindo das ondas).

Essa escultura representa um jovem americano ressurgindo das ondas do mar, com os braços e mãos estendidos, olhando para os céus a contemplar a Glória da chegada do Senhor. Representa os soldados saindo das águas do mar, naquele trágico desembarque das tropas, e embora muitos tivessem sido feridos de morte chegaram ao alto daquela colina onde jazem seus corpos. E assim, gloriosos, emergem das ondas que ficaram abaixo e veem a Glória da chegada do Senhor que veio arrebatá-los. Ao ler o histórico da criação daquela bela e significativa escultura, veio-me à memória a linda e emocionante letra do hino nacional norte-americano, que tantas vezes lá cantei em solenidades na universidade. O hino relembra as guerras e o soldado em meio à artilharia, nos clarões dos fogos dos canhões, vislumbrando e vendo que a sua bandeira nacional ainda estava tremulando no alto do mastro, o símbolo nacional do amor à pátria, servindo de estímulo e dando-lhe forças para continuar na batalha. In literis:

And the rocket's red glare

The bombs bursting in air

Gave proof through the night

That our flag was still there

Oh say does that star

Spangled banner yet wave

O'er the land of the free

And the home of the brave

 

Tive a certeza de que o autor que projetou aquele monumento, do jovem americano ressurgindo (sua alma) das ondas do mar, com os braços e mãos estendidos, olhando para os céus a contemplar a Glória da chegada do Senhor que viria arrebata-lo, se inspirou na mesma visão que o soldado americano tivera durante a guerra, no clarão dos fogos do canhão iluminando a bandeira estrelada no alto do mastro no topo do morro. Assim como a bandeira estrelada era o símbolo da pátria e esperança de dias melhores, servindo de incentivo para vencer a batalha, também ali, nas praias da Normandia, aquela escultura representava os anseios dos jovens soldados ali tombados, ainda no mar ao desembarcarem, de onde suas almas emergiam  para alcançar a Glória do Senhor. E mais, a colocação da escultura foi cuidadosamente planejada de modo que estivesse voltada para o ocidente..., a América, berço do soldado saudoso de sua pátria e seus entes queridos.

 Linda alegoria, e mais uma vez não pudemos conter as lágrimas de emoção quando, ao final da descrição do monumento, conhecemos o verdadeiro sentido daquelas mãos elevadas ao alto e o desejo de retornar à pátria, para onde estava voltada, olhando para o outro lado do Atlântico. A emoção aumentou ainda mais, quando nos lembramos do hino nacional dos americanos que tantas vezes ouvimos, cantamos e apreciávamos seu inteiro teor de puro amor à pátria. Sempre o comparávamos, em conteúdo e emoção, ao nosso Hino Nacional do famoso grito do Ipiranga e quem, honestamente, estando no exterior nunca chorou ao ouvi-lo ou presenciar o hasteamento do nosso pavilhão nacional?

 O escultor Donald Harcourt De Lue, não poderia ter sido mais feliz ao idealizar tão belo e significativo monumento em honra à memória dos soldados ali tombados em defesa da liberdade dos povos.


Brasília, 7 de junho de 2014

Paulo das Lavras 

Estrela de David, simbolizando a crença judaica, entre as milhares de cruzes cristãs



“Spirit of American Youth Rising From the Waves”, escultura simbolizando
  a partida do soldados tombado em combate. Ressurgindo das ondas do mar
                          onde desembarcaram e tombaram heroicamente.  Braços estendidos e olhar
 para a Glória  da chegada do Senhor.Comovente!

 


Vista do Cemitério Americano da Normandia com o Memorial ao fundo e as
           bandeiras da França e Estados Unidos tremulando



70 anos depois, uma reverência aos soldados tombados em combate na Normandia

                                                     Uma reflexão respeitosa diante do túmulo do soldado nº 125, Ray A. Lemmon, da 29ª
                                                     Infantaria, Colorado. Tombou em 15 de junho de 1944 uma das batalhas que se sucederam
                                                     ao  desembarque nas praia da Normandia.  Não há como não se emocionar diante do túmulo
                                                     de um soldado que lutou e morreu para garantir a nossa liberdade.








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