sexta-feira, 6 de junho de 2014

De volta à França (4): O Dia D – 70 anos depois na Normandia




            Nenhum país do mundo fez tanto pela liberdade e democracia dos povos quanto a França. Em menos de 150 anos foi palco de dois eventos marcantes. A Revolução Francesa que culminou com a queda da Bastilha em 14 de julho de 1789, estabelecendo os princípios da democracia. Foi naquele dia, transformado em data nacional, que os franceses derrubaram o regime de governantes opressores e tiranos. O slogan Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) foi incorporado à Constituição Nacional. Esse verdadeiro grito de guerra da população oprimida inspirou a letra do hino nacional da França, o novo país democrático. Marcou história e também serviu de inspiração para muitos idealistas, que sonhavam com a independência das nações, como o Brasil de Tiradentes e muitos outros da América Latina. O segundo evento, também marcante para a humanidade, foi a batalha do Dia D, realizada em 04 de junho de 1944, nas praias da Normandia. Aquela sangrenta batalha tinha como objetivo resgatar a liberdade, o bem mais precioso da humanidade.
Depois de 25 anos de minhas viagens à França em missões oficiais pude, finalmente, realizar uma visita sentimental. Foi assim que planejei conhecer o Museu do Desembarque na Normandia, o Dia-D, a histórica cidade de Caen e o Cemitério Americano da Normandia. Foi uma visita emocionante. Estar ali naquele teatro de guerra onde apenas no dia do desembarque, 06 de junho de 1944, morreram mais de 6.000 soldados das tropas aliadas, metralhados pela artilharia alemã estrategicamente posicionada em casamatas superprotegidas no alto dos penhascos, foi uma experiência memorável. Ao todo foram mais de 60.000 soldados aliados das forças navais e aéreas que ali desembarcaram.  Cerca de 40.000 deles foram mortos nas diversas batalhas que se sucederam na Normandia. A cidade de Caen foi destruída em 70% de suas casas e teve 24.000 civis mortos. Foram as batalhas mais ferozes daquela 2ª Grande Guerra.
Passear pelas ruas da cidade de Caen e pelas praias de Omaha, Utah, Golden e Sword, palcos de sangrentas batalhas e ouvir o relato das histórias foram, sem dúvida, os mais emocionantes encontros que tive com o recente passado, pois nasci poucos meses antes do fim da Segunda Grande Guerra Mundial, cuja rendição da Alemanha ocorreu em oito de maio de 1945 e a do Japão em setembro, logo após das bombas de Hiroshima e Nagasaki. A Alemanha se rendeu, portanto, 11 meses depois da invasão da Normandia pelas tropas aliadas. Ver, tocar e até mesmo ganhar a cópia de um documento original, com assinatura do Fuhrer, que está em poder do filho do oficial francês Robert Reitzer e meu anfitrião Daniel Reitzer e ainda as cópias de condecorações que aquele oficial alsaciano recebeu por méritos na luta contra a invasão de Hitler à França, foram momentos de muita emoção.
Hoje, 06 de junho de 2014 a Europa parou para celebrar seus heróis. À França compareceram chefes de Estados que participaram daquele conflito. François Hollande, presidente da França, recebeu Angela Merkel, da Alemanha, Vladimir Putin, da Rússia, Barack Obama dos Estados Unidos e a Rainha Elisabeth II, do Reino Unido e Príncipe Charles, para homenagear os soldados que participaram no Desembarque há exatos 70 anos. Não menos brilhante e mais emocionante ainda foi a participação de 1.800 veteranos que participaram daquele 06 de junho. Imagino o quanto foi duro e ao mesmo tempo gratificante retornar ao teatro de horror e dali sair vivo. Missão cumprida com o elevado sentimento de defesa a humanidade contra as atrocidades que um tirano, insano, pretendia submeter meio mundo. A mesma emoção que experimentei naquela visita pude revivê-la hoje, com as imagens daquele cenário e sobretudo a postura de reverência de um ex-combatente que compungido abaixou-se e beijou as areias daquela praia onde um dia pensara que não sairia dali com vida.
Grande Dia. Justas homenagens aos ex-combatentes, hoje na França. Nossas homenagens e respeito a aqueles que tombaram em defesa da liberdade e soberania dos povos.

Brasília, 06 de junho de 2014
Paulo das Lavras


Veterano volta à praia de Omaha e faz uma prece, 70 anos depois que os soldados alemães
         metralharam mais de 6.000 soldados das tropas aliadas num único dia


soldados alemães no bunker


                A emoção de visitar a casamata alemã nos penhascos da Normandia e pensar
                              nos seis mil soldados alvejados daquele ponto estratégico
 





Museu do desembarque                    



Os Presidentes da França e Estados Unidos, homenageiam os 10.000 americanos
 mortos e enterrados no Cemitério Memorial Americano da Normandia



                                     A emoção no Cemitério Memorial Americano. Ao fundo o Memorial com

    os nomes de todos os soldados que ali tombaram e onde, hoje François
                Hollande e Barack Obama depositaram flores  





Ao fundo as colinas e penhascos com as casamatas alemãs





Veteranos retornam à praia de Omaha, 70 anos depois
 







O oficial Robert Reitzer (à direita da foto), pai de meu anfitrião, em
missão  de resgate de cidadãos e bens franceses na
    Alemanha   -  junho de 1945


















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