segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Fitotecnia - 50 anos de História da Pós-Graduação na ESAL- UFLA


   



Artigo: Paulo Roberto da Silva (*)



         Raramente artigos técnicos começam com uma foto, aliás, duas fotos históricas. Mas, é admissível em palestras. A História dos 50 anos da Pós-Graduação na antiga Escola Superior de Agricultura de Lavras, hoje, UFLA, será aqui contada de maneira diferente. Em palestras não é proibido expressar emoções e ultimamente, nas visitas que tenho feito a esta Universidade, pedimos ao motorista para dar uma paradinha  naquele portão do Campus Histórico, aqui mostrado em foto. A imaginação voa. Haja emoção!

Aqui estamos, hoje, para celebrar a milésima tese de mestrado realizada nesta centenária instituição, a Universidade Federal de Lavras. E hoje é dia 05 de setembro, o exato dia da inauguração da antiga Escola agrícola de Lavras, célula-mater dessa Universidade. São 116 anos de vida, ativa, profícua, mudando o cenário da Agricultura regional e nacional! Mas, vamos logo adiantando, quem procurar a história da pós-graduação da Fitotecnia da UFLA  a encontrará nas publicações e relatórios oficiais, disponíveis em todos os meios de comunicação. Ali estão todos os seus feitos e benefícios trazidos à sociedade. O que não será encontrado, em parte alguma, qualquer que seja o pesquisador ou simples interessado, são as  informações de bastidores de como tudo aconteceu. Quem ajudou, quem  atrapalhou?   Muitos   contribuíram dedicando-se   ao extremo, mas, não se pode esquecer que houve vozes opositoras interessadas em sufocar, proibir a nossa pós-graduação. Hoje, portanto, além dos fatos marcantes e há dois casos inéditos que nunca foram relatados em livros ou artigos técnicos, vamos falar também dos bastidores dessa longa e linda história de lutas para a criação da Pós-Graduação na UFLA, instituição e mestres que conhecemos desde o ano de 1956, há exatos 68 anos. Temos muitas histórias de bastidores para contar, focando detalhes às vezes 

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(*) Professor aposentado, ex Pro-Reitor de Pós Graduação da UFLA -1969/1975. Ex- Diretor de Ensino Agrícola Superior e do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior-SINAES do Ministério da Educação – Brasília/DF – 1975/2008. Consultor de Educação Superior em Engenharia e Agronomia. paulosilvadf@gmail.com  Telezap: 61 98122 1523

 

 

 

 

 

 

despercebidos, mas que valorizam as ações de quem as executou. Somos protagonistas diretos desde 1963, como estudante de curso de extensão e em seguida calouro (1964) no primeiro ano da Escola então Federalizada.  Menos de dez anos depois já estava nomeado para o cargo que hoje corresponde a Pró-Reitor de Pós-Graduação, com a incumbência de implantar, de imediato, os primeiros cursos de mestrado.  Por outro lado, adquirimos larga experiência nas questões relativas ao Ensino Agrícola Superior de nosso país, pois, durante 34 anos estivemos  à frente de sua gestão no Ministério da Educação, em Brasília, para onde fomos designados pelo Conselho Superior da Escola para servir em tempo integral, desde o ano de 1975. Colecionamos farta documentação naquele período e também rebuscamos, com luvas e máscaras, os embolorados arquivos do Ministério da Educação, trazidos da antiga SEAV - Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário, órgão do Ministério da Agricultura que geria as escolas de agronomia e veterinária até o ano de 1961.  Há fatos inéditos e outros surpreendentes que aqui apresentaremos.

Haja emoção..., preparem os corações...

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Magnífico Reitor..., autoridades acadêmicas e amigos  aqui presentes nesta solenidade. ...

Poucos têm o privilégio, que hoje nos é concedido, de falar a esta seleta comunidade que comemora a milésima tese de pós-graduação em Fitotecnia e ao mesmo tempo em que celebramos os 116 anos de fundação da UFLA e ainda a 600ª tese de doutorado. Neste ano de 2024  também comemoramos o  cinquentenário de criação de um ato universitário que se consolidou, fez e faz História, o ato de criação da Pós-Graduação na UFLA, no qual tivemos a honra de ter sido protagonista. Sinto-me em casa, vendo todo esse legado - a nossa UFLA e sua comunidade universitária. Alegria em dobro em reencontrar aqui, depois de 50 anos, alguns colegas com os quais dividimos tarefas na construção desse belo patrimônio físico e sobretudo humano de gente que trabalhou e trabalha com afinco e dedicação. Trabalho, cuja dedicação e amor se repetem, ininterruptamente por 116 anos. Sim, cinco de setembro de 1908 foi o exato dia em que se inaugurou a Escola Agrícola de Lavras, célula mater desta Universidade. É muito gratificante estar aqui hoje e compartilhar essa alegria.

 Magnífico Reitor, prezados amigos... Comecemos pelas fotos que abrem a palestra. Sob aquele portão da velha ESAL/UFLA passamos milhares de vezes. Leio e releio aquele brasão ali afixado, o qual colocamos no lay-out do folder inaugural da pós-graduação do primeiro curso de mestrado, de Fitotecnia, há 50 anos. Esse folder, cujo original guardamos no baú de afetos, é histórico. Aquele brasão representa a mudança havida na Escola em 1937 e então o repetíamos sempre, pois o início da Pós-Graduação também representava um novo e significativo marco na sua história. Foi em 1975, o início da Pós-Graduação, mas seus antecedentes remontam a quinze anos antes, com efetivo e eficaz planejamento e execução de um projeto maior: a criação das bases necessárias para a transformação daquela tradicional Escola em Universidade. Esta foi, sem dúvida, a maior vitória daquele esforço coletivo que chegou em 15/12/1994. A meta-síntese do Plano Diretor da velha ESAL, pensada por Alysson Paolinelli em 1960, foi atingida, 35 anos depois... ESAL/UFLA.

2- Os primórdios da ESAL/UFLA

         Relembremos, pois, essa grande jornada história da Pós-Graduação, iniciando pela fundação da antiga Escola Agrícola de Lavras. Foi inaugurada em 1908, pelo Reverendo Samuel Rhea Gammon. Havia chegado ao Brasil no natal de 1889, quarenta dias depois da Proclamação da República. Tinha apenas 24 anos de idade e havia terminado seus estudos no Seminário Teológico na Virginia/EUA. 


     
ESAL/UFLA, década de 1930, Campus Histórico. O prédio maior recebeu o nome de 
Álvaro Botelho e foi inaugurado em 1922. 
Foto – arquivos UFLA

  Samuel Gammon foi enviado à Minas Gerais, cerca de dois anos após sua chegada ao Brasil. Tinha a missão de escolher uma cidade para sediar o Colégio Internacional de Campinas-SP, pois grassava naquela cidade a febre amarela que ali inviabilizava sua permanência e precisava ser transferido para outra localidade. Chegou à Lavras em março de 1892, atravessou o Rio Grande de balsa, pois não havia sequer a ponte metálica em Ribeirão Vermelho, onde terminava a estrada de ferro que vinha de São João Del Rey. Aqui chegou, verificou a localização estratégica da cidade, ponto de entroncamento de São Paulo e Rio para se alcançar os sertões das “Geraes e dos Goyazes”. Avistou e se maravilhou diante da majestosa Serra da Bocaina, que lembrava as mesmas silhuetas montanhosas de sua terra natal, na fazenda de seus pais, aos pés das montanhas dos Alleghenies, na região de Montgomery e Bristol, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América. Ali era, nas palavras de Clara Gammon, ”um dos lugares mais encanadores da Terra”. Desde menino, dos 12  aos 16 anos, passava diariamente ali aos pés daquelas serras conduzindo a carroça puxada pelo velho burro Dobbin, a caminho do vilarejo levando os produtos da fazenda. Enquanto vencia as duas léguas de distância, contemplava aquelas lindas montanhas no vale do rio Holston e pedia a Deus que, queria ser Pastor, missionário e que lhe concedesse um lugar, ainda que distante, para exercer sua missão de pregador. Quando Samuel Gammon aqui avistou, pela primeira vez, a bela silhueta da Serra da Bocaina, emoldurando a cidade de Lavras e logo atrás o Rio Grande que acabara de atravessar, não pôde deixar de associar as semelhanças com a sua terra de origem e seus pedidos em preces. Então, exclamou: “Aqui está a minha Terra Prometida. Eis-me aqui, Senhor, este é o meu verdadeiro campo de trabalho, a missão de minha vida. Obrigado, Senhor”, escreveu Clara Gammon em seu livro “Assim brilha a luz”.

 Em novembro de 1892 a mudança do Colégio chegou à Lavras   e em 1º de fevereiro de 1893 foi ministrada a primeira aula. Assim, nasceu em Lavras o Instituto Presbiteriano Gammon. Quinze anos depois foi fundada a Escola Agrícola, o embrião da UFLA, com muita fé e amor no coração do Dr Gammon, pois era uma missão de vida! Missão gestada, desejada e pedida a Deus constantemente nas suas orações silenciosas, ao pé das inspiradoras montanhas da Virgínia. Ali, em Lavras, estava aquela serra que lhe despertou a memória de suas orações desde menino, como a lembrar-lhe que essa seria a sua terra prometida. Aí está, portanto,  a origem, o DNA da UFLA, de puro amor e dedicação dos missionários norte-americanos que aqui aportaram, há 132 anos e plantaram o  Instituto Presbiteriano Gammon-IPG, sob a égide do lema “Dedicado à Glória de Deus e ao Progresso Humano”. O IPG foi a célula mater que deu origem, em 1908, à Escola Agrícola, hoje Universidade Federal de Lavras.  Portanto, o embrião da Universidade Federal de Lavras foi gestado e criado por missionários norte-americanos, sob o signo da fé, do amor e da prática do bem ao próximo, sob o lema: Dedicado à Glória de Deus e ao Progresso Humano.

A Srª Clara Gammon se perguntava, em outro capítulo de seu livro: “O que poderia ele fazer, um pobre camponês? Que futuro o aguardaria?”. Pois, o futuro chegou-lhe aos 27 anos, na terra prometida, entre o Rio Grande e a Serra da Bocaina! As preces do jovem   de 12 aos 16 anos, feitas diariamente aos pés da montanha Alleghenies, foram atendidas e grandiosas obras ele realizou aqui em frente à montanha da Bocaina. Não à toa, na secretaria do IPG, sob as escadarias do edifício Lane-Morton, há uma linda foto panorâmica da Serra da Bocaina. Ali, Dan Gammon, neto de Sam Sam Gammon, fez questão de posar para uma foto, como a relembrar o sonho de seu avô, o sonho realizado da Terra Prometida. 

   
À esquerda Cover Moutain – na fronteira do Tennessee com o estado da Virgínia/EUA, onde viveu 
Samuel Gammon.  À direita Dan Gammon, neto de Samuel Gammon, ao lado de sua esposa Sandy,
 na Secretaria do IPG, tendo ao fundo o painel panorâmico da Serra da Bocaina.  Muita semelhança
entre aquelas montanhas... Sam Gammon tinha motivos para acreditar que o Senhor havia reservado esse 
local como a sua Terra Prometida de Lavras. Foi muito gartificante acompanhá-los nessa visita, relembrar a saga 
 do Fundador de várias instituições educacionais em Lavras e agradecer a essa maravilhosa família norte-americana.
 Fotos- 1- Sandy Thomas Gammon - 2024                                2-  do autor – IPG/Lavras , 2019 

Samuel Gammon idealizou, planejou e fundou a Escola Agrícola de Lavras  e trouxe  Benjamin Harris Hunnicutt  para implantá-la (1908-1926). John Henry Wheelock cuidou de sua consolidação (1927/35; 1945; 1953/56) e Alysson Paolinelli dinamizou toda aquela obra (1966/71), expandindo-a, criando as bases para sua transformação em universidade. Quase um século de trabalho profícuo até que, em 1994, o MEC diante das excelentes condições de  seu campus, corpo docente qualificado e produção científica, decidiu elevá-la à categoria de Universidade.

    
Samuel Rhea Gammon o Fundador ; Benjamin Harris Hunnicut –o Realizador 
John Wheelock – o Consolidador e Alysson Paolinelli-  o Dinamizador 
Fotos – arquivos UFLA

 




O brasão da ESAL/UFLA – uma história

O folder do mestrado de Fitotecnia, apresentado logo no início, traz o brasão de forma circular, criado em 1937. Mas, nunca ninguém havia escrito ou divulgado algo sobre sua origem. Tivemos uma grande surpresa, quando trabalhando nos Estados Unidos, no final dos anos de 1970 e lá procurando universidades para matricular nossos 250 professores em cursos de PhD na área agrícola, nos  deparamos com aquele brasão, idêntico, no frontispício do College of Agriculture/Iowa State University. Retornando ao Brasil consultamos o Prof. Alfredo Scheid Lopes, que também se surpreendeu. Muito ligado ao Prof. Wheelock, de quem usara o nome para o Laboratório de Solos da Esal/Ufla, em 1963/64 quando ali ingressei como calouro de Agronomia. Lembrou-se que  Wheelock graduou-se naquela Escola de Iowa em 1922, ano em que veio para Lavras e teria sido ele quem trouxe e criou aquele brasão, quando em 1937 a antiga Escola Agrícola passou a chamar-se Escola Superior de Agricultura de Lavras. Contatamos por  telefone e e-mail a Universidade de Iowa e veio a confirmação. Ele, Wheelock, havia se graduado em Iowa em 1922, ano em que também chegou ao Brasil e pouco tempo depois assumiu o cargo de diretor da Escola. Deu continuidade às inovações  implantadas pelo antecessor, privilegiando a prática agrícola e o relacionamento com os produtores rurais, focado na .  filosofia dos Land Grant Colleges, com a trilogia Ensino, Pesquisa e Extensão. Era um sistema de ensino inovador, aquele trazido por Hunnicutt e que Wheelock deu continuidades, pois se opunha ao sistema francês, que era adotado  por Piracicaba, Bahia e Pelotas/RS e que privilegiava o academicismo, a ciência pura com vistas a se conseguir maior produção por área, visto se tratar de um país pequeno em extensão territorial. Nos EUA, ao contrário, com grandes extensões de áreas e terras fertilíssimas (Corn belt), mas com escassa mão de obra, a ênfase do ensino agronômico recaiu sobre a produção com intensa mecanização agrícola e o menor uso possível de mão de obra. Com base nisso, a ciência associada à prática e à extensão rural, o Dr Hunnicut realizou em Minas Gerais a 1ª Exposição Agrícola, ali na praça central do Campus Histórico da Ufla. Também trouxe o primeiro trator agrícola para a região e, estrategicamente promoveu o melhoramento das sementes de milho, café, importou raças suínas do tipo carne, como o Duroc-Jersey, Landrace e Large White, bem ao gosto dos habitantes da zona rural de Minas Gerais, que ainda hoje consomem banha e muita carne porco. Foi também o criador da primeira publicação oficial da ESAL, a revista "O Agricultor", instalou o Posto Meteorológico e a indústria de laticínios em |Lavras. A mudança veio efetivamente no década seguinte e o Prof  Wheelock, incentivado pela receptividade dos métodos inovadores do ensino trazido dos Estados Unidos e aceito pelo governo brasileiro, decidiu, em 1937, quando a Escola com base na nova lei de reforma do ensino agrícola,  a mudar seu nome  para Escola Superior de Agricultura de Lavras. Foi então que adaptou e adotou o brasão da Iowa State University. Destacam-se nesse brasão o lema  “Ciência e Prática” que é a reprodução da filosofia dos Land Grant Colleges americanos (Morril Act de 1862) com a trilogia: Ensino, Pesquisa, Extensão. A ESAL  cumpria à risca aquela trilogia desde a sua fundação e ainda incorporou a Extensão Rural, com suas exposições agrícolas e incentivo aos fazendeiros na melhoria das técnica de produção. No brasão abaixo, de Iowa, há ramos de trigo, cultivo típico dos EUA e no da ESAL/UFLA estão os ramos de café. Science with Practice foi traduzido para Ciência e Prática. Por algum tempo, após a transformação da ESAL em Universidade,  a UFLA adotou a mesma logomarca/brasão de 1937, mudando-o para o atual modelo que aparece nas fotos a seguir.

    
Foto 1-  1858 –Iowa Agriculture Collge. Foi a primeira faculdade de Agronomia a aderir ao Morril Act de 1862-Land Grant College. Em 1898 mudou o nome para este que aparece na foto 1, do frontispício da faculdade nos anos de 1970.

Foto 2 -  1937 – aproveitando a mudança de legislação do ensino agrícola brasileiro, o diretor John.H. Wheelock, ex-aluno de Iowa, fez a adaptação da logomarca daquela universidade norte-americana para a Escola Superior de Agricultura de Lavras que, por imposição legal, teve que mudar seu antigo nome Escola Agrícola de Lavras.

Foto 3 - 1994- transformada a ESAL em Universidade, esta manteve a mesma logomarca por algum tempo até a adoção de novo design (foto 4)          Fotos do autor

        Esta é a pré-história da pós- graduação desta universidade que aqui, hoje, celebramos e, por isso, rendamos homenagens a aqueles precursores que, com muito amor e dedicação,  se empenharam na construção dessa grandiosa obra e graças a eles, aqui estamos comemorando os seguintes feitos da UFLA;

-  cinquentenário da Pós-Graduação

- milésima tese de mestrado,

- sexcentésima tese de doutorado

- 116 anos da ESAL/UFLA

 

Não é pouco! Há muito que se celebrar! Mas, continuemos com os bastidores dos fatos dessa longa e bela História.

 3- Crise na Educação Agrícola Nacional - o papel da ESAL/UFLA no MEC

 A década de 1960 foi dificílima para o ensino agrícola brasileiro. Os americanos ganharam a guerra e passaram a dominar o mundo e por aqui, sob o patrocínio de um programa de ajuda “Aliança para o Progresso”, passaram a influenciar no campo da Educação. Veio a reforma do ensino com a promulgação da LDB de 1961, extinguiu-se o modelo seriado dos cursos de graduação, de origem francesa, cuja cultura imperava no país desde os tempos do império e implantou-se o sistema de créditos, tal qual os americanos faziam. Porém, a reforma mal assimilada misturou os sistemas de créditos com o seriado e então surgiram derivações que culminaram com a criação de vários e diferentes cursos de graduação que nada mais eram do que simples especializações que poderiam ser realizadas na pós-graduação.  Nessa mesma reforma de 1961, retiraram o ensino tecnológico dos ministérios afins e os repassaram ao MEC. A Agronomia saiu do Ministério da Agricultura, mas o MEC a recusou durante 12 anos. Não queria aceitar o ensino tecnológico, caríssimo com fazendas, gado, plantações, campos de pesquisas agrícolas, empregados e professores em tempo integral, sob o lema de “Ensino, Pesquisa e extensão”. Predominava o estilo acadêmico francês, “professor horista”, aqui, ali e acolá em várias faculdades, batizados ironicamente como professor-taxi que corria de uma faculdade para outra várias vezes ao dia. Nesse contexto de nova filosofia do ensino agrícola superior,  a antiga ESAL/UFLA fez história. Além da qualidade do ensino, destacou-se na pesquisa, extensão e principalmente, nas lutas junto ao MEC, na figura de Alysson Paolinelli, que muito atuou  para que o Ministério da Educação aceitasse incorporar a gestão do ensino agrícola, oriundo do Ministério da Agricultura por imposição de lei.

Por que a ESAL/UFLA tomou a frente junto ao MEC naquele jogo de empurra de aceita/não aceita o ensino agrícola no Ministério da Educação? Simples de entender. A ESAL/UFLA foi a quarta escola de agronomia criada no Brasil. A primeira foi na Bahia em 1877 a segunda em Pelotas no ano de 1883 e a terceira em Piracicaba em 1901. Todas as três tinham um importante detalhe em comum, foram criadas como cópia do curso de agronomia da Escola de Paris-Grignon. A Escola Agrícola de Lavras ao contrário, foi fundada nos moldes dos Land Grant Colleges americanos, que associa o Ensino, à Pesquisa e à Extensão. Ensino apoiado na pesquisa, com inovação de práticas agrícolas  decorrentes da pesquisa em campo e em seguida levar esse novo conhecimento ao agricultor, por meio da Extensão Rural. Foi nesse contexto de inovação que a Escola de Lavras, realizou, por exemplo, a Exposição Nacional do Milho e a 1ª Exposição Agrícola de Minas Gerais,  edição de jornais agrícolas, dentre tantas outras atividades. Era, portanto, desde a sua criação, uma Escola de elevada reputação pela qualidade de seu ensino. Tanto assim que , em 1926, foi publicado, pelo Ministério da Agricultura, o livro “O Ensino Agrícola no Brasil – seu estado atual e a necessidade de sua reforma”, sugerindo a adoção do modelo da Escola de Lavras.

Mas, a crise dos anos 60 foi mais séria, pois havia resistência do MEC em aceitar o ensino agrícola. Paolinelli, líder estudantil e recém-contratado como professor da Escola de Lavras, passou a atuar junto ao MEC, pressionando-o a encampar de vez o ensino agrícola que estava no limbo depois da nova LDB de 1961, quando foi retirado do Ministério da Agricultura. Criou, com seus colegas de Piracicaba a Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior-ABEAS e por meio dela pressionava o MEC. Doze anos depois o MEC capitulou diante da insistência de Paolinelli, criando em 1973 a Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Agrárias – CECA, que passou a gerir o ensino agrícola naquele ministério. Soba liderança de Paolinelli na ABEAS, a CECA realizou um Estudo de Demandas da Área de Ciências Agrárias, indicando a necessidade de criação de programas de melhoria do ensino agrícola superior. Em 1974 foi criado um programa internacional, sob contrato com a USAID, para a melhoria do ensino agrícola superior (AID 512-L 090- Brazil MEC/MSU Project). A gestão desse programa internacional (PEAS), cujo escritório central do MEC ficava em Michigan (MSU), era tão problemática que em apenas um ano e meio passaram pelo MEC três diretores do ensino agrícola. Lá chegamos em 1975 e em menos de uma ano assumimos a diretoria do ensino agrícola superior e demos curso ao programa internacional. Apenas 12 universidades brasileiras participavam, recebendo consultorias e treinamentos de 32 norte-americanas. Foi criado outro programa, cujo projeto atendia todas as demais instituições federais de ensino agrícola superior, incluindo-se a ESAL/UFLA. Da crise provocada pelo MEC decorreu a redenção, com o surgimento dos programas de melhoria da Educação Agrícola Superior, o PEAS e o PRODECA. Estes, com investimentos superiores a cinquenta milhões de dólares aplicados no ensino agrícola, proporcionaram notável desenvolvimento dos cursos de graduação e pós-graduação na área de Ciências Agrárias. Decorre daí, do treinamento de mestres e doutores,  o sucesso da produção e produtividade agrícola de nosso país. Em entrevistas gravadas pelas mídias, Paolinelli disse claramente que o modelo de desenvolvimento agrícola brasileiro se assentou no apoio das Universidades. Reciprocamente, nossa gestão dos assuntos da educação agrícola superior sempre contou, também, com a colaboração do Ministério da Agricultura, principalmente da EMBRAPA. Paolinelli, quando Ministro da Agricultura levava, por diversas vezes, o diretor de ensino agrícola superior, em suas viagens de visitas aos estados.

 4- ESAL - o quase fechamento, a federalização e o renascimento

         Dezembro era mês de formatura na ESAL. Nos bastidores do auditório Lane-Morton, no Instituto Presbiteriano Gammon, minutos antes do início da solenidade de formatura de Agronomia, daquele ano de 1959, o diretor John Wheelock, chamou um jovem formando e antes mesmo que ele prestasse juramento e recebesse o canudo, disse-lhe:  “A Escola está em dificuldade, alguns professores já a deixaram, agora sairão dois outros, um deles voltará para o nordeste. Precisamos que voce fique e assuma as funções  de professor, caso contrário teremos mesmo que fechá-la”. O garoto ficou surpreso, embora soubesse ou imaginasse que aquele convite se devia, principalmente, ao fato de ter sido lider estudantil e agia com garra na defesa da ESAL. Estupefato pela crueza da realidade e o inesperado convite, e tendo que tomar uma decisão, pensou no seu emprego já garantido por seu pai, que era alto funcionário da Secretaria Estadual de Agricultura, mas capitulou, respondendo ao diretor que, embora já tivesse promessa garantida de maior salário, renunciaria a tudo para aceitar o desafio de ajudar a soerguer a cinquentenária ESAL. Não foi difícil aquela decisão, contou-me ele, quando também me convidou para ser professor na ESAL, exatos nove anos depois em Belo Horizonte. Aquele jovem tinha sido presidente do Centro Acadêmico de Agronomia – CAA e fora ele o primeiro a escutar, no decorrer do ano de 1959, as  declarações de John Wheelock, então diretor e  Eduardo King Carr  (diretor escolhido para o ano seguinte)  que a Escola seria fechada se as coisas não chegassem a bom termo. Portanto, o calejado líder estudantil, tinha a exata noção do significado daque convite minutos antes de sua formatura. Nascia,  ou melhor, se consolidava ali, momentos antes de sua formatura,  um dos grandes, senão o maior benfeitor da ESAL/UFLA ..., e da Agricultura brasileira, Alysson Paolinelli, que se atirou de corpo e alma na missão de salvar a Escola.

            Mas, a crise se instalou aceleradamente na velha Escola no período de 1960/63. A Missão Presbiteriana, dos EUA, comunicou às autoridades que não mais poderia manter a ESAL. O governo do Estado se recusou pois já mantinha outra escola agrícola, em Viçosa, mas, contudo, o governo federal a federalizou em 23/12/1963. Paolinelli a tudo e a todas as oposições enfrentou de corpo e alma. Paralelamente ainda lidou com a insensibilidade do MEC que teimava em não aceitar o ensino agrícola que havia saído do Ministério da Agricultura. Carregava duas frentes de lutas inglórias no MEC. Ora.., diziam no MEC, Escola de Lavras? Vamos fechá-la, nem sabemos o que é o tal ensino agrícola... Efetuivamente enviarma à Lavras um emissário com o objetivo de fechála, definitivamente e encaminha os alunos para outras escolas.  Paolinelli Recebeu e hospedou em sua casa, em janeiro de 1963, o emissário do MEC que ali fora com a portaria ministerial no bolso para fechamento da Escola.  Pasmem, depois de dois ou tres dias de conversas em casa e nas ruas de Lavras, o emissário do MEC, desistiu de comunicar o fechamento e prometeu a Paolinelli que iria pugnar pela federalização da ESAL. Esta foi a maior vitória de Paolinelli, pois convenceu o emissário a “rasgar” a portaria de fechamento e enfrentar a “oposição” em Brasília. Em 23/12/1963 foi assinada a Lei de federalização da ESAL. Para os historiadores de Lavras a federalização marcou o renascimento da ESAL que, 30 anos depois, se transformou em universidade federal. O árbitro do bom senso, que evitou a morte e fez renascer a velha ESAL, foi o eminente Professor Eudes de Souza Leão, merecidamente homenageado pela Universidade e a comunidade lavrense em setembro de 2017.

   
Eudes de Souza Leão – 1963, veio fechar a Escola.. Na segunda foto,  em 2007, na cidade do Recife, 
 sua cidade natal, quando o convidamos (na foto) a visitar Lavras por ocasião do centenário 
 da Escola. Dali mesmo liguei para o Reitor: prepare o título de Professor Honoris causa 
para o segundo pai da ESAL/UFLA. 
Na útima foto, em 212, na porta da casa do diretor Paolinelli, com reencontro saudoso, na mesma casa, onde eles mudaram o destino da Escola,  47 anos antes. Concederam sua segunda certidão de nascimeto. Dois garandes benfeitores,  
Eudes de Souza Leão e Alysson Paolinelli. 
Fotos – 1 e 3 arquivos da UFLA 

Um garoto de 18 anos estudava com afinco para o vestibular da Escola naquele ano de 1963. Intensa crise reinava na Escola e em toda a cidade. Porém, aquele enorme presente de natal, recebido em 23/12/1963, foi surpreendente: a federalização da Escola que esteve prestes a ser fechada. Dez dias depois o garoto não só passou no primeiro vestibular da ESAL federalizada como também conseguiu a primeira clasificação dos 30 calouros aprovados para o ano letivo de 1964. Dedicou-se tanto aos estudos que emagreceu muito e por isso, no primeiro dia de aulas, o calouro  recebeu o apelido com o nome que se dá ao talo de cana de açucar saído da moenda, fininho, magrinho.  “Paulo Bagaço” passou a ser meu nome.  Futuro promissor aguardava o calouro magricelo. Estagiário-monitor remunerado de Química e depois de Engenharia, ocasião em que auxiliava trabalhos topográficos no novo campus. Certa vez, em aula prática do professor de Hidráulica, Jair Vieira, executando a drenagem do atual campo de futebol, ao lado do Estádio coberto,  com sistema alinhado em forma de espinha de peixe e uso de máquinas retroescavadeiras, jorrou “petróleo”, liquido preto, malcheiroso. Alegres, gritamos; Petróleo, petróleo...!!! Estamos ricos, vamos nos filiar à OPEP. Prof Jair chegou de imediato e disse: Ôh, cambada..., isso é esgoto da fossa séptica do hotel Alvorada, lá no alto do barranco (atual arquibancada).

Outras atividades do estagiário foram as demarcações da avenida que liga o Campus Histórico ao novo campus e os primeiros prédios. Por sinal, locamos o Prédio da Administração (atual PROPLAG) virado para a cidade e não para a venida central, conforme determinavam as plantas arquitetônicas projetadas por engenheiros e arquitetos do MEC, no Rio de Janeiro.

Além dessas monitorias, por mérito no aproveitamento, o estagiário ganhou bolsa na área de Solos, na cota do exigente e rigoroso Prof Alfredo Scheid Lopes, o que lhe valeu estágio remunerado de trinta dias numa empresa produtora de fertilizantes em São Paulo. E o futro continuou promissor, pois o mesmo Prof Alfredão, o selecionou para um emprego em empresa de planejamento agroflorestal e paisagismo, em BH. Um ano depois Paolinelli ligou para empresa e disse: Paulo Roberto, venha aqui. Aqui aonde? Na sede da DFA (hoje SFA- Superintendência Federal de Agricultura, de MG), na Av Contorno, final do Parque da Cidade, pertinho de seu escritório. Venha cá, porque preciso de você. Mais nada disse. Corri para lá, um pouco preocupado, pensando que tipo ajuda necessitaria. Carro quebrado e a volta para Lavras? Provavelmente não, pois lá havia oficina federal e pronta para ajudá-lo. Mas, afinal o que seria? Estacionei o carro no amplo estacionamento interno da DFA que tempos depois mudou-se para a Av. Raja Gabaglia. Falou, com ar sisudo, do plano diretor da Escola e que havia conseguido verbas para ampliar a construção no novo campus e contratação de docentes. Essa é a hora para deslancharmos. Vamos para Lavras, voce vai nos ajudar, foi estagiário do meu Departamento de Engenharia, ajudou a locar as avenidas e prédios, fiscalizou as obras de construção..., portanto, já reservamos uma vaga de professor para voce, começa em janeiro (estávamos em dezembro de 1968), encerre seu contarto e volte para Lavras. Sim a proposta é tentadora, trabalhar na velha e querida Esal, mas quanto é mesmo o salário? Ah, assim não dá, pois aqui em BH recebo o dobro.  Não, mas espere aí, o MEC prometeu o “ tempão” (salario em RETIDE – regime de tempo integral e dedicação exclusiva) para breve, já no segundo semestre. Vai empatar com seu salário.  Respondi, Ok, vou fazer o que gosto e onde gosto e a nossa Esal vai progredir. Em 02/02/1969, Paolinelli assinou a carteira de trabalho que ainda guardo no meu baú de afetos. Depois daquela decisão e um cafezinho na DFA, achamos graça da situação, pois também abri mão de um ótimo salário em BH, tal qual ele a nove anos atrás, quando o então o diretor Wheelock lhe “convidou” para ingressar no quadro docente. Coincidentemente agora, estava, ali, como novo diretor da ESAL fazendo-me o mesmo “convite” que soava como intimação, tal qual  ele recebera em 1959.  A história do garoto de 18 anos, vestibulando, rfelete a alegria que toda a comunidade lavrense sentiu com a federalização da velha ESAL que, trinta anos depois se treansformou em universidade.

Mas, nem tudo foi  alegria após a federalização, pois a demora nos trâmites legais, atrasou o pagamento aos professores e funcionários. Foram dois anos de muito sacrifício para eles que, heroicamente resitiram, vivendo de favores de parentes e comerciantes que lhes fiaram as vendas na esperança de um dia se regularizar a situação. Regularizou-se, porém com dois anos de espera, até o dia em que Alysson Paolinelli e o Prof. Américo Cicciola chegaram à Lavras, à meia noite, com uma perua Rural Willys, abarrotada até o teto com todo o dinheiro em espécie, sacado numa agencia bancária em Belo Horizonte. Mas essa história – do carro pagador - já está contada em livros. 

 
Ano 1958- Cinquentenário da ESAL.  O reitor Lawrense Gibson Calhoun (quarto da esquerda para a direita) 
tendo a seu lado o diretor John Wheelock. Foi nesse auditório, com aquele lindo cenário e brasão ao fundo, 
que o garoto, calouro da Agronomia, foi “batizado”. 
Foto- arquivos da UFLA 


5-  O Plano Diretor da Escola

            Havia um Plano Diretor para a ESAL, feito por Paolinelli. Para alguns críticos, era um plano megalômano, julgado impossivel de ser realizado e ainda ironizavam que  não se tratava de plano diretor e sim Plano do Diretor... Quando contratado como professor (janeiro 1960) atuava na coordenação das ações politicas para a federralização da Escola. Ocupou o cargo de vice-diretor e em 1966, menos de três anos após a federalização, sua grande conquista, foi escolhido diretor, cargo que ocupou até 1971, quando então foi nomeado Secretário da Agricultura de Minas Gerais. Como diretor e com visão de futuro, tratou logo de elaborar um plano geral de desenvovimento para a Escola. O plano consistia em preparar as bases para a trnasformação da ESAL em Universidade. Meta principal, a construção do novo campus com transferencia imediata, até 1970, das instalações e todo acervo. Ampliação do corpo docente, com contratação de 50 novos professores. Treinamento imediato de 50% dos docentes em cursos de mestrado ou doutorado. Ao final de cinco anos a meta seria 80% dos docentes qualificados, ultrapassando expressivamente as universidades similares. Ampliação física e de acervo da biblioteca, aumento de vagas para 200/ano na Agronomia eram consideradas prioridades, como também a criação de novos cursos – Engenharia Agrícola, Zootecnia, Engenharia Florestal e outros. O plano ambicioso previa ainda a criação de cursos de pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) e por último a meta-síntese: a transformação da Escola em universidade. Coisa de doido, diziam alguns. Outros não duvidaram e até lhe arranjaram um apelido bem coerente: trator de esteira. Onde passa empurra ou arrasta. Ninguém fica parado, inerte perto dele, tal o seu poder de liderança e empatia. Foi assim com este autor, empurrando-nos ali em BH, em dezembro de 1968, para a assinatura de contrato de professor na ESAL.   

            O diretor Paolinelli vivia na estrada em busca de apoio e dinheiro para a consecução de seu Plano Diretor. E conseguia, seja para obras ou bolsas de mestrado e doutorado no país e no exterior para os docentes. Ainda hoje, todos se admiram, de como Paolinelli conseguira aquelas vultosas verbas no MEC em pleno período de crise financeira e extrema escassez de recursos federais para a Educação. Diante dessa concessão especial, Paolinelli determinou que 50% dos docentes da Escola teriam que estar matriculados em cursos de PG, onde quer que fosse, no país ou no exterior. Ordem cumprida à risca. Cinquenta por cento do efetivo do departamento de Engenharia estava fora, cursando mestrado ou doutorado e o mesmo acontecia com outros departamentos.  A outra metade que permanecia era obrigada a  assumir a ministração de aulas dos colegas ausentes. Nesse “programa”, assumimos algumas aulas de topografia, além da matéria de Construções Rurais, da qual era professor assistente efetivo. E mais, ainda acumulava as funções do cargo de coordenador da PG (equivalente a Pró-reitor). O “trator” empurrava ou arrastava e todos trabalhávanos  com entusiasmo, pois o colega mestrando ou doutorando, voltaria em breve com a titulação esperada. Além disso, sabíamos que o novo campus teria que ser completado, ofertas de novas vagas e cursos ampliados..., tudo se desenvolvia a olhos vistos, como planejado. Era um entusiasmo só! O “trator” não parava nunca e sempre alegre, otimista, contagiando a todos.

            Nosso Departamento de Engenharia era o responsável pela construção dos predios. Nada de treceirização. Adotamos a administração direta. Contratávamos pederiros, pintores, bombeiros hidráulico e até treinávamos alguns de nossos funcionário para obras civis. O preço de cada obra concluída era de duas a tres vezes mais barato. Certa vez o Ministro da Educação, Ney Braga visitou a ESAL. Percorreu o novo campus, com mais de 20.000 m² já construídos, com uns 10 ou 15 predios em pleno funcionamente. Quando, ali na sala da Congregação da Escola e na presença de todos os professores,  o Prof. Valter de Carvalho apresentou-lhe o relatório de desmpenho da obras de construção dos prédios. Surpreso com os números, o ministro, incrédulo, perguntou: “... professor, o senhor está dizendo que com a verba de um único prédio, aprovada pelo meu Ministério, vocês aqui nesta Escola, constroem dois prédios? Com a verba de um só?”.  Lavras ficou na história com tal economia e por uma razão muito simples: tudo era feito por administração direta, com o esforço, competência e dedicação de nossos professores do Departamento de Engenharia que, além das obrigações acadêmicas e de pesquisas, se dedicavam a executar e fiscalizar as obras e seus seus operários contratados. Muitas das edificações tiveram seu projetos elaborados por engenheiros e arquitetos do próprio Departament de Engenharia. Nada de luxo, pisos de granitina, paredes com tijolo aparetente ou revetidos de cerâmica ou ainda simples rebocos, porém, sólidos. Ainda hoje com mais 50 anos alguns desses prédios ostentam os mesmos acabamentos.

Paolinelli sabia fazer o dinheiro render, tinha liderança e todos se empenhavam em fazer o melhor. Essa foi e é a ESAL/UFLA  que faz diferença: DEDICAÇÃO! Fiel ao plano original, a instituição deu um salto de qualidade e ampliou a oferta de cursos que antes se resumia apenas à graduação de agronomia e uma centena de alunos.

 

 6- A criação do Mestrado em Fitotecnia

......  “Quem não é o maior, tem que ser o melhor”...

Adotamos esse lema, muito comum à época, pois iríamos entrar num campo dominaddo por instituições qualificadas como Viçosa, que iniciou sua pó-sgarduação em 1961, sob o manto da cooperação internacional (Purdue University) e Piracicaba, com a universidade de Ohio, além da UFRRJ, antiga Escola Nacional de Agronomia (Km 47- Seropédica) tida, por lei, como padrão nacional. Todas muito conceituadas e dispunham de apoio e  financiamentos externos. Portanto, nada melhor que aquele lema, para quem não era a maior e estava apenas iniciando no ramo: Ser a melhor! E isto, ser a melhor Escola de Pós-graduação,  passava também  pela acolhida aos alunos e suas familias, muitos vindos de outros estados, como se verá adiante.

Em junho de 1972 o diretor Fábio Cartaxo nomeou comissão especial para estudar a viabilidade de implantação de cursos de pós-graduação na Escola (Portaria n.º 036/72). Com parecer favorável dessa comissão, foi então criada a Coordenadoria Geral de Pós-Graduação (atual Pró-Reitoria de Pós-Graduação). Em fevereiro de 1973 nosso nome foi indicado para assumir as funções de  primeiro Coordenador Geral da PG (hoje Pró-reitor), com a missão de implantar os cursos stricto-sensu . Desafio enorme, começar algo de grande importância, a partir do zero e ainda ter que concorrer com os grandes de então.  Visitamos aquelas instituições de ensino, conhecemos suas estruturas e programas. Quilos de cópias de estatutos, regimentos e regulamentos de cursos, legislação federal e vários outros, pois naquele tempo não existiam ainda o fax e muito menos a internet. Estatutos e normas elaboradas e aprovadas pela Congregção da Escola, partimos para os projetos de cursos de mestrado de Fitotecnia e de Administração Rural, sendo este inédito no país e para o qual tivemos que buscar profesores norte-americanos, da Califórnia.

O Departamento de Assuntos Universitários- DAU/MEC (hoje SESU/MEC), Capes, CFE (hoje CNE/MEC), EMBRAPA, CNPq. Ministério da Agricultura e outros órgãos em Brasília e Rio, eram nossos endereços frequentes de longas e demoradas visitas, além de um órgão internacional que muito nos ajudou, Latin American Teaching Fellowships que garantiu a vinda de professores norte- americanos para o curso de Administração Rural. O MEC aprovou nossos projetos. O documento que mais nos alegrou, depois de tanto trabalho, dias e dias de viagens, toneladas de papéis, foi sem dúvida a certidão de nascimento da Pós-Graduação na ESAL/UFLA, o Of.  4177/74/CODEAC/DAU/BSB de 23/08 de 1974, assinado por Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, substituto do diretor Edson Machado de Souza, ambos titulados, tempos depois, como Professores Honoris Causa da UFLA. Após o início efetivo do mestrado, a ESAL foi incluida no Planao Nacional de Pós- Graduação- PNPG, fato devido especialmente ao professor dos quadros da ESAL,  Valter de Carvalho, que se encontrava prestando serviços permanentes ao DAU/MEC.  

 
Ofício do Departamento de Assuntos Universitários/MEC – Certidão de nascimento
 da Pós-Graduação Stricto Sensu da ESAL-UFLA – 23/08/1974. 
Foto- arquivos UFLA 


A simpatia do Diretor Geral do DAU/MEC, Edson Machado de Souza, antigo conhecido de Alysson Paolinelli, desde os tempos em que o prof. Edson exercia as funções de Diretor do CNRH do IPEA/SEPLAN, foi primordial para a celeridade da aprovação do mestrado em Lavras. Da mesma forma seu adjunto Prof Lynaldo Cavalcante, também era admirador da saga de Paolinelli, o diretor que “perturbou” o MEC nos anos 60,  para a criação da diretoria de ensino agrícola no antigo DAU/MEC.

Aprovado pelo ofício de 23/08/1974, o mestrado de Fitotecnia foi iniciado em março de 1975.  O grande problema não foi a estrutura acadêmica e tampouco a presença de livros e periódicos exigidos para a biblioteca, ou ainda qualificação de docentes (contávamos com23 doutores e mais de 30 mestres), ou ainda os recursos financeiros. Tudo estava certo, conforme planejado e xigido pelas normas do MEC. Candidatos acima do número de vagas, entrevistamos cada um, selecionamos 20. Muitos vieram de outros locais e como alojar suas famílias em Lavras?  Esse era o garnde problema que enfretamos logo durante a seleção dos candidatos. Naquela época não havia oferta de imóveis pois a demanda era muito pequena. Dois corretores de imóveis operavam na cidade e não tinham nenhuma casa para alugar naqueles idos de janeiro/fevereiro de 1975. E agora? Haviamos dito aos futuros alunos que havia moradias em Lavras e tínhamos que honrar o compromisso.  Fomos diretos para a praça central e, em frente ao Banco do Brasil, abordávamos a todos, perguntando sobre casas para alugar para professores (alunos) que vinham trabalhar (estudar) na ESAL. A mesma história se repetiu para se conseguir vagas nas escolas para os seus filhos e até mesmo para abertura de contas bancárias, tivemos que ir ao gerente e atestar a idoneidade do candidato, novato na cidade. Hoje é diferente pois a cidade se estruturou, desenvolveu-se por causa desse grande afluxo de estudantes da pós-graduação. Alguns anos depois consultei o jornal local e me constatei que havia mais de 400 anúncios de aluguel e venda de casas e apartamentos. A pós-graduação na UFLA tem movimentado a cidade.

Pois bem..., quem não é o maior, tem que ser o melhor. Afora a assitência nessa logistica dos alunos, também os departamentos, a biblioteca central, professores e orientadores passaram a dispensar especial atenção aos alunos de pós-graduação, fazendo a diferença e proporcionando qualidade e sucesso, sempre reconhecidos, tanto nos cursos de mestrado como nos de doutorado. Seguiram-se aos dois primeiros cursos de mestrado, os de Solos, Alimentos, Zootecnia, Estatística e outros. O primeiro curso de doutorado foi também de Fitotecnia, iniciado em 1989.

 7- A despedida de um professor

Era o dia 04 de agosto de 1975, meu último dia de trabalho na Escola Superior de Agricultura de Lavras-Esal que pouco tempo depois se transformaria em Universidade. Não foi fácil dizer adeus a um lugar que fez parte de toda uma vida profissional daquele jovem de 30 anos de idade. Havia acabado de inaugurar solenemente o segundo curso de mestrado aprovado pelo MEC,  Administração Rural, pioneiro no Brasil, inovador.  Alguns alunos do mestrado de Fitotecnia compareceram à solenidade e em seguida entregaram-me uma carta de despedida, redigida e assinada com antecedência por todos os seus colegas. Li e a reli várias vezes, pois nunca recebera tamanha homenagem, tanto carinho e reconhecimento pelo trabalho que desempenhamos junto a eles, os pioneiros da pós-graduação na ESAL. Lembrei-me do lema: quem não é o maior tem que ser o melhor. Se não fomos o melhor, pelo menos fizemos o melhor de nós e a carta parecia mostrar isso, como se vê a seguir. 


 
 


 
Quarenta anos depois voltamos à ESAL/UFLA para a solenidade dos 40 anos do Mestrado de Fitotecnia. 
Três dos  21 alunos pioneiros do mestrado de ano de 1975, ali estavam: Maria das Graças Carvalho,
 Milton Moreira de Carvalho e Pedro Milanez, que  por seus próprios méritos, foram contratados,
 por concurso público, como professores  da  UFLA logo em seguida à conclusão do mestrado. 
Foto do autor – UFLA 2015 

Naquela manhã de 04 de agosto de 1975, emocionado com a inauguração de mais um curso de mestrado e ainda a carinhosa homenagem dos mestrandos da Fitotecnia,  percorri pela última vez, as avenidas daquele Campus que ajudara a demarcar e construir  os prédios, como também a medir as áreas rurais contíguas, particulares, para fins de desapropriação e ampliação dos campos experimentais. Conhecíamos palmo a palmo, pois ali implantamos redes de água, esgotos, galerias pluviais, energia elétrica, comunicações, tudo, enfim, até mesmo os gramados.

 

Parei o carro debaixo de frondosa árvore defronte ao prédio da Administração da Escola – futura Reitoria. Contemplei a cidade e ao fundo a maravilhosa Serra da Bocaina emoldurando a vista no horizonte. Mais abaixo o campus histórico e então olhei ao redor, pela última vez e demoradamente, o belo e novo campus que vimos gestar, nascer e crescer, tijolo a tijolo, laje por laje e um profundo e imenso sentimento de gratidão perpassou a mente, rolando com muita intensidade um filme em flashback..., 1967 a avenida de ligação, 1968/69 os primeiros prédios, 1970 a transferência definitiva para o campus e mais prédios, culminando com a aprovação de novos cursos de graduação, especialmente o de Engenharia Agrícola, do qual participamos dos primeiros sonhos e frequentamos todas as reuniões do MEC antes da criação dessa nova profissão no Brasil.  Todas essas realizações sonhadas pelos precursores, Gammon, Hunnicut, Wheelock e ultimamente por aquele “trator”, Alysson Paolinelli, que nos conduziu naquela hercúlea tarefa de um dia transformar aquela pequenina Escola, que admitia apenas 30 alunos por ano, em universidade plena.  Nesse mesmo novo campus já se encontrava a Coordenadoria (Pro-Reitoria) de Pós-Graduação que tivemos o privilégio de implantá-la, criar os primeiros cursos de mestrado e lançar a Escola no seleto clube da pós-graduação strictu sensu da área de ciências agrárias no Brasil. Justo naquele ano de 1975 iniciamos dois cursos de mestrado. Quase dois anos de preparação dos projetos e muitas idas e vindas ao Ministério da Educação, em Brasília, para onde iríamos, em definitivo dali a apouco. Um novo desafio  prontamente assumido e com o aval do colegiado superior e da diretoria da ESAL.

 

O filme flashback continuava..., a primeira visita à ESAL em 1958, menino de 11 anos, ali no Museu de História Natural, hoje chamado Museu Bi Moreira. Impressionou-se com os bichos empalhados ali expostos e ainda os instrumentos de tortura dos escravos às vistas dos incrédulos meninos Em março de 1963, matriculou-se no curso de extensão, de formação de operador de máquinas agrícolas, antes da federalização e depois de dez dias de sua federalização, logrou classificar-se em primeiro lugar, no primeiro vestibular federal. Foram quatro anos de muitas alegrias e satisfação como estudante ali no velho campus  com estágios, monitorias e a conquista do diploma de Engenheiro Agrônomo. Como estagiário do Departamento de Engenharia, participou do início da construção do novo Campus e um ano depois recebeu o convite para integrar aquele mesmo departamento da ESAL. Intensificadas as obras de construção, o novo campus foi inaugurado em 1970 e agora, ali, em agosto de 1975, tudo parecia maior, grandioso, obra realizada, maior do que os sonhos daquele visionário que um dia, em BH, ligou-me, chamando para uma reunião: você vai voltar para Lavras, precisamos acabar de construir o novo campus..., treinar os docentes. Voltei, o novo campus foi inaugurado, ano seguinte partimos para a Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, para cursar a pós-graduação em Engenharia Hidráulica e Sanitária. No retorno à ESAL, assumimos a tarefa de criar a pós-graduação, empreendendo uma maratona de viagens às universidades congêneres e idas e vindas ao MEC, em Brasília. Antes mesmo da aprovação dos dois primeiros cursos de mestrado na ESAL conseguimos aprovar a criação do curso de graduação de Engenharia Agrícola, depois de algumas reuniões no MEC com técnicos da USAID, em 1974.

 Ali, debaixo daquela árvore, sozinho no carro, com todo aquele filme passando pela mente, reli a carta algumas vezes e desabei. Como deixar a nossa velha e querida ESAL que agora está se renovando aqui neste campus recém-inaugurado? As palavras do já saudoso diretor Diretor Sylvio Nogueira de Souza, estendendo-me o o telex de convite do MEC, ressoaram em minha mente:

“...se você for, deixará de ser meu vice, mas, lá no MEC, em Brasília, poderá fazer muito mais pelo nosso projeto de um dia nos transformarmos em universidade”.

Esse diretor havia nos deixado com pouco mais de trinta dias no cargo, pois falecera em acidente na rodovia, próximo a cidade de Oliveira, quando voltava à noite de viagem de serviço a B.H. Isto aconteceu uma semana antes de minha partida definitiva para Brasília e assim aquelas suas palavras soavam mais que doloridas na alma, ali defronte ao prédio da Diretoria, o mesmo onde recebemos o convite oficial e decidimos partir para Brasília em nova misssão, com o aval da querida Escola.


 
 O diretor da ESAL, Prof. Sylvio Nogueira de Souza, presidindo uma solenidade 
 em seu curto mandato  de cerca de 30 dias. 
“Se você aceitar o convite do MEC, deixará de ser meu vice, mas poderá ajudar  
a ESAL se transformar em Universidade", disse-me ele.  
Foto – 1975, arquivos UFLA

 

Foi difícil dizer adeus à velha e querida ESAL naquele final de manhã do dia 04 de agosto de 1975. Mal contive as lágrimas, tamanha a emoção e ali estava sob a frondosa árvore a contemplar a cidade emoldurada pela serra da Bocaina, no novo campus que ajudara a construir... Muito orgulho, muito amor por tudo... Como foi difícil dizer adeus para um lugar que me transformou, que me fez uma pessoa melhor tanto na alma como profissionalmente. Alma enlevada, agradecida por tudo. A semente plantada por Samuel Gammon prosperou, produziu frutos que alimentaram a minha alma, os sonhos de um jovem e de muitos outros que por ali passaram. Nela deixamos um pedacinho de nossa contribuição para o futuro de nossos filhos e próximas gerações.

 Dia seguinte amanheci em Brasília. No longo caminho percorrido os pensamentos não se desligavam daquele glorioso passado. Somente quando avistei as luzes da cidade naquela madrugada foi que foquei no futuro. As luzes de neon brilhavam, vistas do alto da chegada pela rodovia. Parei o carro em local seguro, próximo ao posto da PRF, contemplei aquele belo cenário e surpreendentemente lembrei-me do título do livro de Clara Gammon..., “Assim Brilha a luz”. A luz brilhou para Sam Gammon que encontrou em Lavras a sua Terra Prometida pelo Senhor. Foi a terra onde nasci e por isso sempre brilhou para mim também. Ao me deparar com aquele brilho amarelado das luzes de Brasília,  naquela fria madrugado de 05 de agosto de 1975, também fiz uma prece: “Senhor, espero que a luz brilhe sobre mim, também aqui neste novo local de trabalho”. E hoje, 50 anos depois, posso dizer que também, em Brasília, fui iluminado pela graça de Deus, tal qual o fui aqui nesta Universidade, à qual sou grato por tudo que aqui recebi e fui  privilegiado pela oportunidade de participar de seu desenvolvimento nesses longo período de minha vida,  presencialmente e depois apoiando-a por meio do Ministério da Educação, em Brasília. Certo dia, quando trabalhava nos Estados Unidos, em missão de Governo, parei diante de um monumento da Universidade de Wisconsin, em Madison. Ali obtivemos uma vitória no sentido de que as pesquisas de nossos professores doutorandos pudessem ser feitas no Brasil, com a participação do professor orientador. Foi então que lembrei-me que estava justamente na terra de Samuel Gammon, onde um dia ele pediu que a Luz brilhasse sobre ele em distantes terras. Também ali, na terra que ele deixou para servir ao Brasil, também a Luz brilhou para este  seu discípulo, mais de 80 anos depois da chegada do Rev. Gammon à Lavras. 

 
 Sam Gammon veio dos Estados Unidos  para Lavras e pediu ao Senhor que a LUZ brilhasse sobre ele.   
Mais de 80 anos depois um jovem professor da Escola fundada por ele,  lá estava nos 
Estados Unidos, e ali, na  Universidade de Wisconsin – Madison, a LUZ brilhou 
  para ele também, concedendo-lhe vitória significativa para o treinamento de 
docentes brasileiros  em programas de PhD naquele país. Em tudo dai graças ao Senhor! 
Fotos: 1- Clara Gammon   2- do autor

 8- Nova etapa, expansão vertiginosa  da ESAL/UFLA

A expansão da ESAL/UFLA nos 20 anos que antecederam a sua transformação em universidade foi vertiginosa. O Plano Diretor elaborado por Paolinelli foi executado à risca e ampliado em alguns projetos. Em 1994, vesperas de sua transformação em universidade já contava com seis cursos de graduação e 15 de pós-gradução, além de extraordinária ofera de cursos especialização na modalidade à distancia. O diretor Jair Vieira explorou ao máximo as condições favoráveis do MEC que, à época, assim que assumimos a diretoria do Ensino Agrícola Superior naquel ministério, criou o Programa de Desenvolvimento deo Ensino de Ciências Agrárias - PRODECA. Em curto espaço de tempo foram criados cinco cursos de graduação e mais de uma dúzia de mestrados. Em 1989 iniciou-se o primeiro curso de doutorado. O PRODECA financiou a contratação de 35 novos docentes e 115 colaboradores que reforçaram os traabalhos de campo e laboratórios como suporte ao ensino e pesquisa, reforçando e ampliando principalmente a pós-graduação. A execução desse Programa do MEC foi muito bem sucedida na ESAL, graças ao empenho e dedicação do coordenador local, Prof. Fábio Cartaxo que tunha larga experieência na gestão acadêmica, pois acabara de exercer as funções de Diretor da ESAL.  Outros diretores do período que antecedeu a criação da universidade também cuidaram com afinco do desenvolvimento da Escola. João Mrcio (79/83); Luiz Augusto (83/87), Juventino (87/91) e Silas (91/96)  que foi o último diretor da ESAL e sob sua direção a Escola se transformou em Universidade, sendo nomeado pelo MEC como primeiro reitor.   

 O diretor Alysson Paolinelli, autor do ambicioso plano de expansão da ESAL/UFLA 
Foto: 1974- acervo de Renato Libeck

As décadas de 1960/80 foram marcadas por crises na Educação nacional, mas paradoxalmente repleta de oportunidades e nesse sentido a Escola teve intenso e marcante protagonismo. Tão logo chegamos ao MEC assumimos  a direção do Ensino Agrícola Superior e de imediato incluímos a ESAL no  I Plano Nacional de Pós-Graduação – PNPG e assim pôde usufruir dos  planos setoriais dos sucessivos PND e outros, pois já havia, por pressão de Paolinelli e seus colegas da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS, diagnósticos precisos sobre a situação do ensino agrícola do país. Havia poucos cursos de mestrado e apenas um único de doutorado em todo o país, no ano de 1970. Havia que se expandir a oferta e a Escola entrou firme nesse propósito. Foi a época da criação da EMBRAPA, implementada por ninguém menos que o novo Ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, o mesmo que planejou e promoveu o desenvolvimento da ESAL. Ao final de seu mandato como ministro, a EMBRAPA conseguiu contratar e treinar a impressionante marca de 972 mestres e 225 doutores, com extraordinário salto quantitativo e qualitativo nas pesquisas agronômicas.

 Havia uma pedra no caminho da ESAL/UFLA

            A expansão dos cursos de pós-graduação na ESAL/UFLA obedeceu a todos critérios de qualidade exigidos pelo MEC, mas em 1978 teve que vencer dificuldades de cunho político, pois houve manifestação contrária da ESALQ/USP, contestando a aprovação de cursos de pós-graduação em Lavras. Pelo ofício Nº CPG-1062, de 27/09/1978, o Professor Ernesto Paterniani, Presidente da Comissão de Pós-Graduação daquela Escola, de Piracicaba, questionou o CFE - Conselho Federal de Educação, hoje Conselho Nacional de Educação, questionando as autorizações do MEC para que a ESAL oferecesse cursos de mestrado. Dizia, dentre outras, que “a Comissão de Pós-graduação da ESALQ/USP considerava muito perigosa a proliferação de cursos de pós-graduação em instituições que não contem com as condições necessárias para a concessão desses títulos”. No entanto, tal questionamento provou-se descabido em face às informações contidas no Memo. 318/78/UCAP/DAU/MEC que reportou ao CFE, informando que todos os pedidos de autorização tiveram trâmite normal pelo antigo Departamento de Assuntos Universitários- DAU, hoje Secretaria de Educação Superior e que todos os processos de autorização dos cursos de mestrado da ESAL/UFLA tramitaram pela Comissão de Especialistas de Ensino, onde a própria ESALQ/USP tem assento. Informou, ainda o referido parecer, que a ESAL/UFLA, possuía à época 73% de seus 189 docentes titulados com mestrado e doutorado, cujo índice de titulação era considerado muito alto em relação aos padrões nacionais da época. Por outro lado, na qualidade de Diretor do Ensino Agrícola Superior do MEC, contra-argumentamos  junto ao Departamento de Assuntos Universitários, que, além da Escola de Lavras ter atendido a todos os critérios de qualidade estabelecidos pelas normas ministeriais, ela detinha o maior índice de qualificação docente de todo o país, com mais que o dobro da média nacional (esforço de Paolinelli, a partir da federalização). Não bastasse isso, tinha, ainda, elevada produção científica, com estreita colaboração com órgãos estaduais e federais de pesquisa agropecuária como a EMBRAPA, EPAMIG e convênios de cooperação com a  SEAGRI/MG e Ministério da Agricultura para o  desbravamento dos Solos do Cerrado nos programas de desenvolvimento do cerrado como o POLOCENTRO, do Ministério da Agricultura. Mais surpreendente, ainda, destacamos em nota técnica ao Gabinete do Ministro da Educação, era o fato de que a própria instituição reclamante tinha assento na Comissão de Especialistas de Ensino - CECA, órgão de assessoramento do MEC, responsável pelas análise de todas as demandas do ensino de ciências agrárias, tendo esta Comissão aprovado por unanimidade os cursos de mestrado da ESAL/UFLA.

Assim, aquela manifestação descabida de um colegiado interno, mais nos pareceu, como diretor do Ensino Agrícola Superior do MEC, uma simples questão interna corporis e sem fundamento, até porque  o diretor da ESALQ,  Prof Salim Simão, estava sempre a elogiar o desempenho da Escola de Lavras, a escola do Ministro Paolinelli, dizia ele e a quem muito prezava desde o início dos anos 60, quando juntos trabalhavam convencendo o MEC a aceitar o ensino agrícola que havia saído do M.A. Ouvimos suas palavras elogiosas à Escola de Lavras, um ano antes, em 06/01/1977, quando comparecemos em Piracicaba, numa solenidade da Congregação da ESALQ. Lá estávamos, o Ministro Paolinelli, da Agricultura e o MEC (eu o representava), gratos às palavras do então Diretor da ESALQ/USP, referindo-se à ESAL/UFLA. Retribuímos, dizendo que a ESALQ/USP  é uma das pioneiras do Brasil e tem treinado técnicos em seus cursos de pós-graduação de elevada qualidade e que os professores da ESAL/UFLA, em grande maioria, obtiveram seus títulos de mestres e principalmente de doutores ali, em Piracicaba. A ESALQ/USP apresentou-se entre as três melhores instituições colocadas no programa PEAS/MEC no tocante ao treinamento de seus docentes em cursos de doutorado nos EUA. Sempre foi parceira na melhoria da qualidade da educação agrícola superior em nosso país e esteve presente no MEC ao lado de Paolinelli na batalha no início dos anos 60, quando o Ministério teimava em não acolher o ensino agrícola superior  que deixara de pertencer ao Ministério da Agricultura. Finalizando nossas palavras em retribuição ao diretor da Escola de Piracicaba, manifestamos nosso orgulho e satisfação pela ESALQ/USP integrar o corpo de assessoramento ao MEC, por meio da Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Agrárias-CECA.

 Liderança da ESAL/UFLA no cenário nacional

Apesar dos percalços políticos, a ESAL/UFLA sempre soube aproveitar e, mais que isso, inovar e criar oportunidades. Foi assim desde seu início com cinco grandes diferenciais:

- Introduziu o modelo de ensino do Land Grant College, em contraposição ao modelo francês de ensino  academicista, divorciado da pesquisa tecnológica agrícola e da difusão de tecnologias junto aos agricultores

  - Acolhida diferenciada de apoio ao aluno, como fator positivo ao aprendizado

- Introdução da Extensão Rural, influenciando, nesse sentido, o Ministério da                    Agricultura antes mesmo da década de 1920 e em 1926, citada em livro do Ministério da Agricultura

- Ação política junto ao MEC, convencendo-o a “aceitar” a gestão do ensino    

     tecnológico agrícola , anteriormente subordinado ao Ministério da Agricultura

 

- Assessoramento permanente ao MEC na gestão do ensino agrícola superior, desde

 1961 e ocupando cargos e funções de direção superior no Ministério a partir de     

 1974.

 

- Gestão/Diretoria de Avaliação, Expansão e Regulação da Educação Superior,  

   período  2004/2008

 

Foi também da ESAL/UFLA, por intermédio de seu diretor, Paolinelli, o esforço junto à SEPLAN/PR para a aprovação de verbas adicionais para o ensino agrícola superior. A partir de 1974 o MEC alocou todo apoio, destinando verbas para as atividades do ensino agrícola superior. Administramos os staffs em Brasília e nos Estados Unidos (treinamos 250 professores brasileiros em programas de PhD em 32 universidades norte-americanas). Na sede do MEC contávamos com 20 técnicos e 10 membros da Comissão de Especialistas e nos Estados Unidos tínhamos um staff de 12 profissionais norte-americanos, sediados em nosso escritório na Michigan State University, sob nossa gestão e para onde nos dirigíamos periodicamente para acompanhar e despachar as questões pertinentes. Uma de nossas decisões que ficou marcada  e aproveitada por outros órgãos financiadores de bolsas de estudos, foi a criação do doutorado-sanduiche, nome figurado para caracterizar a realização dos créditos de disciplinas lá na universidade norte-americana e a pesquisa para a tese, feita aqui no Brasil. Houve reação em contrário dos americanos até o momento em que dissemos não ser justo empregar dinheiro do Brasil em pesquisas no estrangeiro, quando sabemos que as condições de clima, água,solo, planta e animais são completamente diferentes. Não adianta, dissemos a eles, levar para o Brasil uma vaca leiteira do Wisconsin, que produz 50 kg de leite/dia. Lá, só produzirá 20 e morrerá atacada pelo carrapato e calor de até 40ºC, além do que não será capaz de digerir as duras fibras do capim tropical.  Da mesma forma, as sementes de soja, trigo e milho daqui do Corn Belt sequer germinarão nas nossas condições climáticas e solo. Se germinarem, serão atacadas implacavelmente pelas doenças e pragas tropicais. Pesquisas e teses de nossos doutorandos têm que ser feitas no Brasil, com suas condições próprias de clima e solo. Concordaram, mas tivemos que pagar a estada e salários de dois meses de cada orientador norte-americano que aqui veio instalar os experimentos. Mas, valeu a pena, pois além de pesquisar nas nossas condições de campo, os aproveitamos para ministrar cursos de especialização para nossos docentes. Portanto, o chamado doutorado-sanduiche (créditos lá e pesquisa aqui) foi invenção genuina das ciências agrárias, no ano de 1976, nesse programa internacional do MEC.                            

 O grande legado da UFLA à Educação Agrícola Superior

Nenhuma outra universidade contribuiu tanto como a ESAL/UFLA e por tanto tempo na gestão da Educação Agrícola Superior no Ministério da Educação. Os resultados foram excelentes para todo o país. Além dos resultados listados acima, cabe citar a  criação da diretoria de ensino de ciências agrárias, a realização de estudos de demanda de especialistas para o setor agrícola, a execução do Acordo de Empréstimo da USAID destinado ao treinamento no exterior (250 PhDs), criação de programas especiais – PEAS/Programa de Educação Agrícola Superior  e PRODECA/programa de Desenvolvimento das Ciências Agrárias, para expansão do ensino de graduação e pós-graduação, tendo a própria ESAL/UFLA também recebido recursos substanciais neste último, com excelentes resultados propiciando sua transformação em universidade pouco tempo depois.

Graças a esses programas de apoio à área agrícola, o Brasil conseguiu quintuplicar, até 1985, em curtíssimo prazo, a oferta de cursos de pós-graduação. A oferta de cursos era baixa em relação às necessidades do país, com apenas 24 cursos de agronomia. Na Pós-Graduação havia somente 35 cursos de mestrado e 07 doutorado.  A grande maioria (57%) se concentrava na  ESALQ/USP e ainda assim com poucas áreas de especialização.

Todo esse esforço foi coordenado no MEC por professores dessa centenária Escola de Lavras e foi instrumento de alavancagem do desenvolvimento da produção e produtividade agrícola, com exportações de produtos que alcançaram os primeiros lugares no ranking comercial mundial. O legado que a ESAL/UFLA deixou ao país, por meio de suas ações diretas e colaborações junto ao MEC, no período de 1960/2010, no âmbito da Educação Agrícola Superior, podem ser assim discriminados:

·       Melhoria do planejamento e coordenação da educação agrícola superior.

·       Melhoria dos órgãos de planejamento e administração universitária.

·       Implantação de um sistema de cooperação interuniversitária nacional e internacional.

·       Melhoria das bibliotecas de ciências agrárias.

·       Melhoria qualitativa e quantitativa do corpo docente.

·       Expansão e consolidação dos cursos de Pós – Graduação.

·       Expansão e consolidação dos cursos de Graduação

·       Apoio aos centros de tecnólogos em ciências agrárias, recém criados no país.

·       Criação da Engenharia Agrícola no país.

·       Expansão Ensino de Aviação Agrícola

 

No curtíssimo prazo de 1975/80, os professores da ESAL/UFLA, nas funções de gestão no MEC, contribuíram para:

- Contratação de 271 novos docentes (35 na ESAL/UFLA)

- treinamento de 224 PhD nos EUA e no país,

                           254 Mestres (30 nos EUA),

                            76 Especializações (56 nos EUA).

- 90 consultorias  de universidades norte-americanas

- 56,4 milhões de dólares (valores de 1975) aplicados no ensino agrícola superior

     - criação e implantação de Centros de Ciências Agrárias nas Universidades   

          Federais do Mato Grosso, Santa Catarina, Acre, Paraíba, Alagoas e    

          Amazonas no período 1975/80.

 

          Além desses trabalhos concentrados em programas e financiamentos externos, a assessoria da UFLA ao MEC se estendeu a toda a Educação Superior brasileira, por meio do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades – REUNI, que se iniciou no começo dos anos 2.000 e se estendeu por mais de dez anos. Neste programa a UFLA foi amplamente beneficiada em igualdade de condições com as demais universidades e pode expandir seus cursos e ampliar significativamente seu novo campus. Ainda no campo de trabalhos da UFLA no MEC, cabe lembrar que em 1976, diante das dificuldades de se criar um curso de Agronomia na Universidade do Amazonas, o Prof João Márcio de Carvalho Rios, Professor Titular da ESAL/UFLA ,foi cedido ao MEC para a implantação do curso de agronomia em Manaus, onde permaneceu por três anos e contratou alguns ex-alunos do curso de mestrado de Fitotecnia da ESAL/UFLA para iniciar o ensino agrícola naquela distante e carente região que não contava com nenhum curso da área agrícola.

Outra grande contribuição da Esal ao MEC, foi a efetiva participação na criação da Engenharia Agrícola no país, com destaque para a introdução da Aviação Agrícola que ainda hoje é mantida e até há um exemplar histórico de uma aeronave agrícola estacionada ali no campus ao lado  dos anfiteatros da antiga Engenharia Rural. 


 
Avião Agrícola Ipanema, herdado do CENEA/MA pelo DEG/UFLA. A ESAL teve intensa e marcante atuação na criação dos cursos de Engenharia Agrícola no país e na promoção da aviação agrícola, junto ao MEC, MA e EMBRAER. 
Foto do autor: Avião Agrícola Ipanema – Museu Departamento Engenharia-UFLA 


Como visto, pode-se afirmar com segurança que o desenvolvimento da ESAL/UFLA no período 1975/81 foi inteiramente baseado no programa PRODECA/MEC. Isto porque o país atravessava período de escassez de investimentos e as universidades foram bastante prejudicadas com duros contingenciamentos de verbas orçamentárias. No período 1975/81 foram aprovados pelo  MEC, os cursos de Engenharia Agrícola (1975), Zootecnia (1976), Tecnólogo em Administração Rural (1976), Engenharia Florestal (1980) e Licenciatura em Ciências Agrícolas (1981). Após o término do PPRODECA, o contingenciamento de verbas do MEC prosseguiu e a ESAL/UFLA teve que esperar 11 anos para criar um único curso de graduação, a Medicina Veterinária, em 1992. O mesmo aconteceu com a expansão da pós-graduação, pois até 1976 eram cinco cursos de mestrado e os próximos, de Fitossanidade (1984) e Genética e Melhoramento de Plantas (1986) também tiveram que esperar longo tempo para serem iniciados. Além desses avanços na oferta de cursos, o PRODECA propiciou a construção da primeira ala da nova Biblioteca e ampliação de seu acervo em mais de 21.000 livros e 2.800 títulos de periódicos, Também o primeiro restaurante universitário, salas de aula dos departamentos de Agricultura e de Engenharia, galpão de máquinas, Salão de Convenções e usina de beneficiamento de sementes também receberam apoio do PRODECA. Com esses investimentos foi possível dobrar o número de alunos, passando de 500 (1975) para 1.000, em 1981.

 Se por um lado a ESAL/UFLA colaborou com o MEC, cedendo em tempo integral três de seus professores, sendo que dois serviram em Brasília (Valter de Carvalho, 1974/75 e Paulo Roberto da Silva 1975/2008) e outro em Manaus (João Márcio de Carvalho Rios (1976/78), por outro lado e tendo em vista que os trabalhos desses colaboradores naquele Ministério foram de grande valia para o desenvolvimento da Educação Agrícola Superior no país e em especial, para as instituições de ensino, essa Universidade foi amplamente recompensada, pois participou, em igualdade de condições e sob rigorosos critérios de avaliação de desempenho de gestão, de todos os programas especiais que o Ministério desenvolveu ao longo desse período. A UFLA soube aproveitar os recursos disponíveis e deu um extraordinário salto quantitativo e qualitativo.

Houve notável e vertiginosa expansão  da ESAL/UFLA depois de sua federalização. Mesmo antes, a velha Escola Agrícola de 1908 já causava mudanças no Agro brasileiro. Samuel Rhea Gammon, Benjamim Harris Hunnicutt e John Wheelock foram os pioneiros. Nos anos de 1960 surgiu Alysson Paolinelli, o “trator” que empurrava e arrastava a todos. Revolucionou a ESAL e criou as bases para ser elevada à categoria de Universidade. Porém, mais vertiginosa, foi a sua contribuição dessa Instituição de Ensino ao desenvolvimento da Educação Agrícola Superior em nosso país. Influenciou o MEC na criação de políticas para esse setor e assim promoveu-se  o grande desenvolvimento da ciência, da pesquisa e da extensão rural, alçando nosso país ao topo da produção e produtividade agrícola mundial.                                                                                                                                                 

9- A transformação em Universidade, a luta nos bastidores e uma cafeteira no caminho

             As inovações que o jovem Engenheiro Agrônomo Benjamim Harris Hunnicut trouxe ao implantar a Escola Agrícola de Lavras, fez toda a diferença na abordagem da ultra conservadora e tradicional escravagista agricultura brasileira de então. O prof. Hunnicutt revolucionou as práticas agrícolas na região e introduziu a grande novidade da época, a Extensão Rural. Promoveu exposições agropecuárias , lançou o jornal O Agrário, levando ao agricultor os ensinamentos das técnicas agrícolas, além de criar um posto zootécnico para o melhoramento genético e introdução de novas raças de rebanhos bovinos e suínos.  Essa inovações causaram grande interesse dos fazendeiros de então, pois nunca tinham sido contatados, procurados em suas fazendas. A fama da Escola Agrícola de Lavras percorreu o Brasil inteiro. Para cá acorriam estudantes de todas as regiões do país, do norte, nordeste, centroeste e sudeste principalmente. Seus formandos se espalharam e passaram a ocupar postos chaves no Ministério a Agricultura e nas redes estaduais e municipais dos serviços então conhecidos por Fomento Agrícola. A Esal sempre primou no trato e atenção a seus estudantes. A tradição norteamericana foi trazida para cá, o incentivo aos esportes, bolsas estudos, alojamento e alimentação, tudo enfim que pudesse proporcionar um ambiente acolhedor, propício ao desenvolvimento acadêmico dos estudantes. Inclui-se neste rol de acolhimento, as festividades anuais de celebração da Semana da UFLA, quando se comemora, como hoje, o aniversário de sua fundanção. Tradição secular, que todo aluno incorpora, admira e prestigia a cada ano. Presenciei essas atividades acolhedoras aos estudantes, lá nos EUA, na Michigan State University, onde trabalhei como coordenador geral do programa do Ministério da Educação de treinamento de mais de duas centenas de professores brasileiros em cursos de PhD  distribuídos por todo aquele país. Anualmente, na cerimônia do Commencement, que marca o inicio do ano letivo, no  começo do verão, quando também a universidade gradua seus formandos (com a presença dos novatos, para incentivá-los). Premiavam-se aqueles que se destacaram na academia, nas artes, cultura e nos esportes. Cerimônia realizada em estádio aberto, lotado, com shows de fanfarras e suas indefectíveis balizas com lindas coreografias e torcidas organizadas, com desfiles de atletas, premiações e lógico a cerimônia solene de graduação propriamente dita, com os alunos orgulhosamente trajando suas becas. Um orgulho para a universidade e as famílias. Não pude deixar de me emocionar ao lembrar-me das festividades da Semana do Instituto Gammon, celebrada anualmente, no mês de  agosto, onde havia  o desfile de fanfarras com shows de balizas fazendo malabarismos à frente, competições esportivas, entrega de medalhas. Sentia-me em casa com aquelas cerimônias naquele distante país, onde residiam as raizes da nossa velha ESAL/UFLA. A diferença que sentia ali, e dolorida, era a falta do Hino Nacional e o hasteamento do auriverde pendão da esperança, acostumados que estávamos em nossa Pátria. Foi ali, assistindo e me emocionando com aquelas  lindas cerimônias, que, mais uma vez, entendi e compreendi o quanto Samuel Gammon amou a Terra Prometida de Lavras, para onde  levou, implantou e cultuou essas tradições de acolhimento aos estudantes e demonstrações de carinho e respeito às suas famílas. Acolher, reconhecer, valorizar, prestigiar e premiar aqueles que se destacaram é uma forma de se cativar para sempre os ex-alunos. O Instituto Gammon trouxe esse sadio costume para Lavras e a cidade ganhou fama de ótimas escolas e acolhimento especial, fazendo marcante diferença entre outras cidades universitárias .

Mas porque falar da tradição  gammonense/esaliana de acolhimento aos estudantes, neste tópico referente à transformação da ESAL em Universidade? Simplesmente porque esse saudávle costume teve influência no processo de transformação da Escola em universidade. Foi uma epopéia, iniciada em 1960, quando Alysson Paolinelli, ao ser contratado como professor,  ali mesmo no ato de sua formatura, em dezembro de 1959, estabeleceu como meta a federalização da ESAL e a  criação de bases para sua trenaformação em universidade. A Escola foi federalizada em 23/12/1963 e transformada em universidade pela Lei 8.956, de 15/12/1994. Nesta transformação em Universidade, a história registra os protagonistas, com destaques para o diretor Silas Costa Pereira que,  à época conduziu brilhantemente a questão junto ao MEC, onde nos encontrávamos exercendo funções de  Diretor de Avaliação, Expansão e Regulação das Universidades Federais. Aquele ano de 1994 foi bastante tumultuado para a Educação Superior (novamente a turbulência na Educação). O MEC decidiu fechar o Conselho Federal de Educação que , segundo o ministério, “transformou-se num balcão de negócios”. Assim, a Secretaria de Educação Supeior do MEC ficou encarregada de administrar a “massa falida” de todos os processos que ali tramitavam. Não eram poucos, passando pela autorização de cursos, reconhecimentos dos cursos de graduação, sem o que as instituições de ensino não podiam expedir diplomas. Como diretor de Avaliação, Expansão e Regulação das Universidades Federais, nos transferimos para a sede do CFE e durante quase dois anos, gerenciamos as centenas de processos pendentes, de todas as modalidades, das Engenharias à Medicina, Direito, Letras, todas enfim. Comissões de Especialistas se reuniam mensalmente e apreciavam os processos. Aprovados, eram encaminhados em seguida para homoligação da SESU e do Gabinete do Ministro para consequente expedição dos atos legais. Neste período o Ministro da Educação, Murilo Hingel, era o mesmo que aprovou a transformação da ESAL em Universidade. Ainda que o CFE estivesse funcionando e sob nossa direção, foi dispensada a tramitação do processo de transformação da ESAL em Universidade naquele Conselho, pois seu plenário havia sido destituído, conforme decreto do Presidente Itamar Franco. Esta situação perdurou por longo tempo, pois o novo Conselho somente foi criado pela Lei 9.131, de 24 de novembro de 1995,  com a nova denominação de Conselho Nacional de Educação-CNE/MEC.

Foi nesse período de fechamento do CFE que lidamos, no MEC, com o processo de transformação da ESAL em universidade. O processo tramitou pela Câmara dos Deputados e guardava apreciação no Senado Federal. Constantemente eram solicitadas ao MEC informações de toda ordem, do orçamento, cursos e programas de ensino e pós-graduação, alunado e pesquisas. Caminhava lentamente, embora o diretor Silas estivesse sempre atento. Um pouco antes, em junho de 1993, acompanhamos o Ministro da Educação, Murilo Hingel em sua primeira viagem à ESAL. Oriundo da Unversidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, queria conhecer o compus da ESAL. Fomos recebidos pelo Diretor Silas Costa Pereira, no aeroporto de Lavras, antigo campo de aviação, pois ainda  não existia o aeroporto da Baunilha, asfaltado. Presente também o Secretário de Educação Superior – SESU/MEC, Rodolfo Pinto da Luz. Lá estavam, também, a nos receber os Professores Canisio Ignácio Lunkes e a Professora Marília Amaral Lunkes, dirigentes do Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS. A visita tinha por objetico mostrar ao Ministro as condições da Escola que pleiteava sua transformação em universidade.

 
 Foto 01-  Ministro Murilo Hingel (semi-encoberto, recebendo cumprimentos) em sua primeira 
 visita à ESAL;      Profª Marília Lunkes, ao lado. Reitor do INCA, Canísio Lunkes (de costas); Diretor as Esal - Silas Costa Pereira e à direita o Secretário Educação Superior/MEC- Rodolfo Pinto da Luz. 
O último à direita, o autor, Paulo Roberto da Silva, Diretor de Avaliação e Expansão das Universidades
 Federais/ MEC.   (Lavras, junho de 1993)

Foto 2 – Sessão Solene de instalação da UFLA, dezembro de 1994- Lavras -  O novo Reitor empossado, Silas Costa Pereira,  Ministro Murilo Hingel; Alysson Paolinelli e Paulo Roberto da Silva, diretor de Avaliação e Expansão das Universidades Federais/MEC.                        Fotos- arquivos UFLA

 

      



        O processo caminhava lentamente no MEC e no Senaddo Federal. Havia resistências de toda ordem, não somente técnica e financeira, mas, principalmente jurídica, pois aquela forma de criação de universidade, por transformação de uma escola isolada (faculdade), autarquia federal, nunca tinha sido feita antes. Hibernou por longo tempo no MEC, na assessoria jurídica que não ousava inovar e no Senado Federal, onde também tramitavam outros processos semelhantes. Dalí deveria surgir a lei de transformação. No Senado Fedral o Senador Epitácio Cafeteira avocou para si a responsabilidade de analisar aquele lento processo da Escola de Lavras. E por que o nobre Senador maranhanse fizera isto? Gratidão, amor e simpartia pela Terra dos Ipês e das Escolas. Tão grato que até mudou seu sobrenome em homenagem ao falecido irmão que lá estudara no Gammon e na ESAL, graduando-se em Agronomia no ano de 1944. O Senador não estudou em Lavras e tampouco ali residiu, mas sim, seu saudoso irmão Francisco Affonso Pereira.  Havia uma cafeiteira no meio dessa história, dissemos no subtítulo deste capítulo! Quando estudante no Gammon, o maranhense (nascido na Paraiba) Francisco Affonso Pereira tinha o hábito de andar com uma cafeteira e onde estivesse a depositava sobre a mesa ou ao lado da carteira em sala  de aula. Parecia um gaúcho com a inseprável bomba de chimarrão. Por esse hábito não usual, de sempre carregar uma cafeteira, ganhou o afetuosos apelido de Chico Cafeteira. Terminou seus estudos no Gammon e matriculou-se no primeiro ano do curso de Agronomia da Escola Superior de Agricultura de Lavras e para lá carregou tambéma a cafeteira e o apelido. Graduou-se Engenheiro Agrônomo em 1944 e como prova de gratidão doou à Escola uma estatueta em bronze da deusa Ceres, a deusa da Agricultura. Essa estátua encontra-se cadastrada no Museu Bi-Moreira. Chico Cafeteira radicou-se em Lavras, casando-se com uma moça de tradicional família da cidade e dedicou-se à atividade agropecuária. Mas, foi colhido menos de dois anos depois, por grave problema de saúde e veio a falecer prematuramente aos 26 anos de idade. Seu irmão, Epitácio, veio a Lavras cuidar dos funerais, Ouviu, viu e constatou o quanto seu irmão era querido na cidade. O carinho recebido desde a acolhida no internato do Gammon e depois na ESAL, a família querida  que ele constituira, deixando  a esposa viuva e órfã a filhinha recém nascida. Conheceu a história do apelido, cafeteira, dado a seu irmão e até nisso ficara patente a acolhida carinhosa a seu querido mano, que partira tão precocemente. Epitácio saiu de Lavras sensibilizado com as manifestações de amor a seu irmão, carinhosamente conhecido pelo apelido e  muito bem integrado à comunidade, tendo, inclusive, atuado como treinador de atletismo no L T C – Lavras Tenis Clube. Anos mais tarde Epitácio entrou na política e tomou uma decisão inédita: mudou seu nome para Epitácio Cafeteira, usando, assim, o carinhoso apelido que seu irmão tivera em Lavras. Foi  assim que conhecemos esse Senador em Brasília e que foi amigo de Lavras, onde, ocasionalmente visitava sua única sobrinha que ficara órfã muito cedo.

            O Senador Epitácio Cafeteira ao ver o nome de Lavras como interessada, cidade gravada com afeto em seu coração, tomou a si o processo que tramitava no Senado Federal e pôs-se a analisá-lo. De imediato requereu “regime de urgência” na tramitação. Conseguiu. Agendou-se sua discussão para a sessão plenária  do dia 06/12/1994. Lá estávamos, ao lado do diretor Silas Costa Pereira e outros amigos lavrenses também residentes em Brasília. Era uma terça feira de grande expectativa quanto à apreciação do PL 4772/94 - ESAL, que já  havia  sido  aprovado  pela  Câmara  dos  Deputados.  Seria  

   
 Foto 01- Francisco Affonso Pereira, que veio do Maranhão (nascido na Paraíba) para estudar no Gammon e na ESAL. Faleceu prematuramente, em Lavras, Seu carinhoso apelido, Chico Cafeteira,  foi adotado pelo irmão, Epitácio Affonso
 que se tornou Senador pelo estado do Maranhão.

Foto 02- Senador Epitácio Cafeteira, em almoço de homenagem na cidade de Lavras, em 2002. Ali buscou e adotou o apelido  “Cafeteira”, atribuído a seu irmão pelos colegas estudantes. Nascido Epitácio Affonso Pereira,  passou para a política com o nome de  Epitácio Cafeteira, adotando definitivamente o  carinhoso apelido acadêmico de seu irmão.        Fotos: arquivos família Cafeteira 


aprovado o “regime de urgência” de votação para esse PL? Como se desenvolveriam as discussões diante da tramitação paralela de outro projeto semelhante, o da Escola Paulista de Medicina-E.P.M que havia caminhado junto ao da ESAL na Câmara dos Deputados? A forte e grande bancada paulista, como reagiria ao pedido de urgência do colega maranhense? E se pedissem vistas?  Para nossa surpresa, aprovou-se o pedido de regime de urgência para a apreciação do PL relativo à ESAL. Não havia mais motivos para o temor de algo dar errado ou tivesse a provação postergada. O PL 4772/94 foi aprovado e transformado em lei. Nove dias depois foi promulgada pelo Presidente Itamar Franco e publicada no Diário Oficial- DOU: Lei 8.956, de 15/12/1994.

            Aquela terça feira, ali no Plenário do Senado Federal, foi um dia de muita apreensão mas logo compensada pela alegria e surpresas. Não imaginávamos tantas manifestações elogiosas e favoráveis por parte dos Senhores Senadores. Eduardo Suplicy, de São Paulo, defensor de outro peojeto de lei, o da transformação da Escola Paulista de Medicina em Universidade, nas mesmas circunstâncias de Lavras, foi um dos mais eloquentes na defesa da transformação da ESAL em Universidade, demonstrando profundo conhecimento sobre o seu desempenho e valor para o país. Outros se manifestaram igualmente e nenhuma objeção foi apresentada por qualquer outro Senador. Encerrada a sessão,  procuramos assessores parlamentares e com eles conversamos sobre a grata surpresa de só ouvir elogios à ESAL, sem nenhuma objeção sequer. Desses relatos o Senador Epitácio Cafeteira se sobressaiu na campanha em prol  de Lavras, ali no Senado, em favor do PL de transformação da ESAL em Universidade. Ao tomar conhecimento do projeto, o ilustre Senador tomou a frente junto ao relator e fez o trabalho de convencimento a todos os demais pares. Presenciamos as discussões no Senado Federal, desde a apresentação do relatório pelo relator substituto até as intervenções de cada senador inscrito na Ordem do Dia e que, efetivamente se manifestou em plenário. Eduardo Suplicy ao proferir seu voto, teceu elogiosas considerações sobre a Escola e a tradição de Lavras na educação. Além das declarações no ato de se votar, se inscreveram outros senadores: Júnia Marise (MG), Ronan Tito (MG), Jarbas Passarinho (PA), além de Epitácio Cafeteira, autor do pedido de regime de urgência na votação. Este, falou com tanto entusiasmo e amor à cidade de Lavras e à própria instituição ESAL, que mais parecia um mineiro do que maranhense. Só faltou dizer que seu nome Cafeteira não era de batismo, mas adotado, do apelido de seu amado irmão Chico Cafeteira, brotado dos corações de seus colegas do Gammon e da ESAL , nos idos de 1940/44.  Mais uma vez restou demonstrada que a acolhida do Gammon e da ESAL fez diferença. O Senador Epitácio Cafeteira deu mostras de sua gratidão ao carinho que a cidade havia devotado a seu irmão. 

Aqui cabe, portanto, uma pergunta, por que vinham alunos de tão distantes regiões do país para estudar em Lavras?  Eu mesmo tive colegas do Rio, Espirito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e São Paulo. Pela excelência de seu ensino, é a resposta! Encontramos evidências que justificam essa boa fama. Primeiramente pela divulgação natural dos  trabalhos dos dedicados missionários norte-americanos. Em segundo lugar, o próprio Ministério da Agricultura a reconhecia como centro de excelência no ensino, pesquisa e a inovadora extensão rural, trazida dos Land Grant Colleges. Em 1926, Arthur Torres Filho, diretor do Fomento Agrícola, do Ministério da Agricultura, escreveu e publicou no Rio de Janeiro o primeiro livro sobre a formação de técnicos na área da agropecuária, “O Ensino Agrícola no Brasil – seu estado atual e a necessidade de sua reforma” e nele defendia a metodologia dos Land Grant Colleges  que vinha sendo praticada de forma pioneira na Escola de Lavras, desde sua fundação, cerca de 18 anos antes da publicação do citado livro. Assim a reputação da ESAL, na primeira metade do século 20, já era bastante difundida, atraindo estudantes de todas as regiões, especialmente do nordeste e centro-oeste do país. Bem mais tarde, já nos anos 60, entrou em ação outro líder de grande empatia e que fez o Brasil inteiro conhecer a Escola de Lavras, Alysson Paolinelli. Paralelamente, corria a fama de ótima acolhida em Lavras. O espírito gammonense, aquele jeito especial de  bem acolher os alunos, trazido da cultura norte-americana, produziu frutos. Com tantos elogios e demonstrações de carinho à cidade e sua gente, ali naquela sessão plenária do Senado Federal, pudemos imaginar quanta história ali estava presente. Ninguém da comunidade lavrense e nem mesmo os colegas estudantes de agronomia do período de 1941 a 1944 imaginaram que aquele apelido “cafeteira”, atribuído ao acadêmico Chico Affonso, pudesse um dia ser lembrado com tanto carinho por alguém que adotou aquela mesma alcunha e se lembrou de retribuir o amor à Escola, à cidade que um dia acolheu seu irmão.

 A cafeteira usada a tiracolo naquela Escola dos anos 40, trouxe, portanto, muitas consequências. Primeiramente o carinhoso apelido dado a seu portador e depois a mesma alcunha adotada por seu irmão, político influente que, em impressionante gesto de amor, retribuiu, 54 anos depois daquele batismo do jovem estudante, forasteiro em Lavras, com o ato de aprovação da Universidade daquela cidade que tão bem acolhera seu saudoso irmão. Nossas homenagens aos irmãos Cafeteira, Chico, o ex-aluno do Gammon e da Escola Superior de Agricultura de Lavras e Epitácio, o senador que acelerou os trâmites e ajudou a aprovar a lei que criou a Universidade Federal de Lavras. Ambos os irmãos, da distante terra de São Luiz do Maranhão, contribuíram de forma amorosa e efetiva para o desenvolvimento da Terra dos Ipês e das Escolas. A cidade precisa lembrá-los, como benfeitores que nela semearam o amor. Agora, melhor dizendo e corrigindo o subtítulo deste capítulo,  havia não apenas uma, mas duas “cafeteiras” nessa história de bastidores da mais importante instituição da cidade.  Samuel Gammon, foi a pessoa mais importante que passou em Lavras. Não à toa, chamou-a de “A minha Terra Prometida pelo Senhor” e ali jurou viver todos os dias de sua vida, acolhendo a todos que buscavam o saber. Esse costume da acolhida prevaleceu até mesmo naqueles que nem lá estudaram ou viveram, mas tiveram familiares ali acolhidos com amor. Uma cafeteira foi lembrada, mais de cinquenta anos depois e serviu de motivo para retribuir o amor recebido.

 

10- Conclusão

            Esperamos que essa longa narrativa dos bastidores da história antiga da Universidade Federal de Lavras tenha servido para a compreensão de seus valores. Cento e dezesseis anos são decorridos desde a sua fundação em 1908. Esse patrimônio técnico, científico e cultural aqui representado pelo lindo Campus e principalmente pelos seus docentes, alunos e colaboradores, tem um valor inestimável e é respeitado no país inteiro e no mundo. Os rankings oficiais aí estão a comprovar a sua qualidade. A criação da Pós-graduação stricto sensu foi consequência natural do esforço de todos. Sinto-me imensamente honrado por ter tido a felicidade de ter sido aquele a quem a comunidade  confiou a tarefa de aqui criar e implantar, mesmo com todas as dificuldades da época, lá se vão 50 anos, os primeiros cursos de mestrado nesta Universidade. Agora, graças aos esforços de todos que contribuíram para esse objetivo e em especial aos atuais gestores, professores, alunos e colaboradores que aqui estão desempenhando esse papel, a nossa Universidade se destaca no cenário nacional e internacional pela essência de sua qualidade, comprovada por avaliações oficiais.

            A História da ESAL/UFLA é longa e maravilhosa, nasceu do amor na causa missionária dedicada à Glória de Deus e ao Progresso Humano. Muito há ainda que se escrever, falar e  exaltar sobre s saga dessas notáveis figuras que atuaram e se dedicaram com afinco na missão de se criar as bases para que a Escola fosse transformada em Universidade. Deixo aqui o meu apelo para que o reitor Scolfaro apoie a publicação de livro que estamos terminando de escrever, onde abordamos como testemunha ocular e simples coadjuvante, todo esse período que antecedeu ao ato de transformação da ESAL em Universidade Federal de Lavras. O título escolhido para essa obra será: ESAL/UFLA - 1960/90: da crise ao renascimento e transformação em Universidade

            Finalmente, nossos parabéns ao mestrando da milésima tese, Venicius Urbano Vilela, defendida recentemente e hoje aqui presente para receber as honrarias. Parabéns ao seu orientador, prof. Dr. Everson Reis Carvalho. A Pós Graduação na UFLA continua rendendo bons resultados para o desenvolvimento agrícola de nosso país. Parabéns!

Nossa homenagem póstuma ao Prof. Márcio Bastos Gomide, um dos signatários daquela afetuosa carta de despedida que recebemos em agosto de 1975, quando ele iniciava, como um dos pioneiros o curso de mestrado de Fitotecnia. Homenagem esta que prestamos pela 1ª tese de mestrado por ele defendida na ESAL/UFLA  em 18/11/1976. Nosso abraço de gratidão e reconhecimento pelo seu trabalho, que dirigimos a seu filho, Prof. Dr. Lucas Rezende Gomide, aqui representando a família.

Parabéns ao doutorando Antônio Alves Soares,  pela primeira tese de doutorado, defendida em  15/0281993 e a seu orientador,  Dr Magno Antônio Patto Ramalho.

Parabéns à autora da 600ª tese de doutorado, Silvana Ramlow Otto Teixeira da Luz e seu orientador, pesquisador, Dr. Gladystone Rodrigues Carvalho.

Parabéns ao Prof Adriano Bruzzi, Pro-reitor de Pós Gaduação, que nos sucede 50 anos depois e que tem honrado nossa conceituada instituição perante o mundo acadêmico e de pesquisa do Brasil e no exterior. Sucesso!

  Parabéns a todos os alunos, professores, orientadores de teses, colaboradores e dirigentes que fazem desta Universidade  o orgulho de todos nós e da nação brasileira, onde desponta como uma das melhores, segundo avaliações do MEC.

Orgulho de ser UFLA!  Conhecer a história é valorizar o presente para olharmos o futuro com otimismo e confiança. Façam diferença na vida... dediquem-se com amor  ao trabalho! Somente isso importa ao final da vida. O amor é o maior tesouro que temos e o melhor legado que podemos deixar e levar dessa vida. Aqui vivi os melhores dias de minha vida, sempre pautado nos ensinamentos dos mestres desta Casa. Sou grato, por estar aqui hoje, dirigindo-lhes essas palavras. Permitam-me, ao final dessa longa narrativa, dizer-lhes que discordo daquele conselho de um filósofo:

“Nunca volte ao lugar onde você viveu e foi feliz, pois o que você procura não está mais lá..., o tempo”.

 Ora, o tempo passado aqui está presente! Eu o trouxe junto comigo, ao relembrar tudo o que aqui passamos, fizemos, planejamos e plantamos juntamente com os antigos colegas, alguns dos quais aqui presentes e já citados. Estamos colhendo o produto dessa seara que plantamos. O Tempo está aqui, o tempo presente com suas presenças que acreditaram no passado laborioso e agora  continuam essa obra. Esse tempo não foge, contrariando uma vez mais outro ditado, tempus fugit. Mas a Saudade é cruel, dizem outros. Não é, não! A Saudade é o amor que fica. E por isso é boa para a alma. Todos nós que aqui estamos hoje, viemos expressar o nosso amor, o amor que ficou durante a vida inteira na construção dessa grandiosa obra, que se chama UFLA. É o amor que está presente, de todos, aqui e agora, em momento de sublime alegria das famílias e de cada um de nós que estamos contribuindo para a Glória de Deus e o Progresso Humano, como bem expressou e testemunhou o fundador dessa grande obra, Samuel Gammon.

 Amém! Glorioso e venturoso futuro para todos vocês. Amém e amém...!

Muito feliz por estar aqui e presenciar o amor, a dedicação de todos nessa grande obra. “Curti” muito o trabalho que aqui desenvolvi. Foi um trabalho que produziu frutos. E tenho colhido muitos deles ao longo desses anos, onde quer que tenha estado, ou esteja, como aqui, hoje. Volto para minha casa com a alma confortada,  rejuvenescida. Eterna gratidão!

Obrigado, ESAL/UFLA! Sucesso sempre, pois este Estabelecimento aqui foi plantado sob o lema do grande missionário, Samuel Gammon: Dedicado à Gloria de Deus e ao Progresso Humano.  E tem sido assim!

 

 Brasília/Lavras, 05 de setembro de 2024  - 116º aniversário de fundação da UFLA

          Prof. Paulo Roberto da Silva

paulosilvadf@gmail.com   

  whats... 61-98122 1523 




Fotos históricas:


Novo campus - década de 1970

  


Predio Alvaro Botelho - atual Museu Bi-Moreira

 

Vista parcial Campus UFLA - anos 2020

 

 Com Alysson Paolinelli e prof Carlos Eduardo
 Volpato - Cinquentenário do Depto de                    
                                              Engenharia/;UFLA - 2015                                                    
          



Dan GaGmmon, neto de samuel Gammon e esposa
Sandy, solenidade de 150 anos do IPG
 


                                        
                                              Posse Reitor J R Scolforo - 2012  MEC- Brasília  
 


   Posse Reitor J R Scolforo -   2016  
   


Convite a todos Engenheiros para esta palestra sobre
Engenharia de Segurança do Trabalho

 

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com nossa palestra sobre  a Formação em Georreferenciamento e Drones 
na Agronomia














 





 









 

 












 


 

 


             


                                                                   



 

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