quinta-feira, 7 de março de 2024

Mulher – por que defendê-la ?

             Voei centenas de vezes na rota Brasília/Rio/Brasília e BHZ/SÃO/BHZ, a bordo de todo tipo de aeronave comercial, o Electra, Viscount, Samurai, One-Eleven, Boeing, Airbus, Caravelle, o primeiro jato comercial, francês, das linhas aéreas Varig e Cruzeiro e muitos outros aviões executivos da Força Aérea Brasileira – FAB como seus Lear-Jet e o mais disputado pelos ministros, aos quais acompanhava em viagens de serviço, o HS-125, jatinho executivo inglês, amplo e superconfortável. Além desses, muitas outras viagens foram feitas em aviões menores como o Bandeirante, Xingu e o Brasília, fabricados no Brasil pela Embraer, como também seus modernos jatos ERJ-145, 170 e 190.  Eram tantas as viagens que acabei memorizando a rota, cujas cidades e acidentes geográficos como as cadeias montanhosas, rios, matas, ferrovias e rodovias eram facilmente identificados pela janela do avião. Quando se abriam os portões de acesso à pista de embarque eu era o primeiro da fila (mineiro não perde o trem, dizem...) e corria a escolher um lugar privilegiado, à frente e com ampla visão, livre dos estorvos das turbinas ou das fuselagens das enormes asas. Era assim mesmo, pois não havia lugares marcados e nem as rampas telescópicas para o embarque diretamente à porta da aeronave.  Aboletado nos melhores lugares, desfrutávamos de ampla visão, identificando cada local no chão a 10 mil metros de altura e ainda cronometrando o tempo de voo para se chegar a cada ponto marcado. Assim, exatos 50 minutos após a decolagem de Brasília, lá estava a cidade natal de Lavras, com seu inconfundível cenário, de um lado o Rio Grande serpenteando entre montanhas e de outro a majestosa Serra da Bocaina, paredão que emoldura a cidade pelo lado sul, tal qual a Serra do Curral embeleza a capital dos mineiros. Aos 45 minutos de voo avaliava o local sobrevoado e já me fixava nas rodovias, montanhas e cidades vizinhas, como Santo Antônio do Amparo, pequenina, mas com enorme igreja matriz e torre bem alta. Em segundos era só olhar mais à frente e à direita lá estava a terra natal e nesta, à margem da rodovia Fernão Dias a fazenda onde nasci e passava todas as férias escolares desde então. Ali, no silêncio e na solidão, a bordo das aeronaves, e com aquele saudoso cenário à vista, o menino invariavelmente mergulhava no tempo e até desejava saltar de paraquedas para chegar ao doce recanto do lar onde nascera. Foi então que comecei a entender o valor da Mulher, refletindo sobre tudo que ela representa na vida de todos nós, a começar pela geração e cuidados com as crianças, e  assim o subconsciente se deleitava com as imagens da doce infância, bem ali, a 10 mil metros abaixo. Ah... por que não um paraquedas ali, na hora e realizar o sonho da busca ao tempo perdido?

Cheguei aonde cheguei, estudava muito, venci todas as etapas com distinção, ocupei honrosas funções de trabalho, bem-sucedido no Brasil inteiro e no exterior, principalmente nos Estados Unidos e França onde desempenhei longas missões de governo, mas, nunca, nunca mesmo, me esqueci de onde vim e o papel que as mulheres desempenharam na minha formação. E ali, de dentro do avião, nas alturas, a cada vez que sobrevoava minha querida cidade natal e as fazendas onde me criei, mergulhava nos escaninhos escondidos da alma e encontrava, sempre com imensa e terna gratidão, a figura de minha mãe, brava guerreira que lutou pelos filhos. Mulher de fibra. Costumo dizer aos amigos, como a lembrá-los: Homens..., somos aquilo que as mulheres nos fizeram! E é verdade, com destaque para a mulher-mãe, em primeiro lugar. Sou grato a Deus pelas mulheres que me fizeram ser o que sou, a mulher-mãe, as irmãs, tias, avós, professoras que cuidaram da criação, formação e educação e ainda, as outras que chegaram mais tarde, no trabalho, esposa, filhas e amigas do convívio social.

A todas elas, as mulheres, sem distinção, sempre dediquei atenção e respeito, tendo como inspiração o exemplo de berço, a saga, dedicação e amor de minha saudosa mãe, que muito cedo partiu para a glória do Senhor. Mas, não só por isso, também defendo e estimulo oportunidades para que elas, as mulheres, ocupem o lugar que merecem, ou seja, onde elas quiserem. Deixo aqui o meu conselho, neste momento em que assistimos à tanta violência contra as mulheres. Respeito e admiração a elas, sempre! Nunca é demais lembrar e repetir que nós, os homens, somos aquilo que as mulheres nos fizeram. Que neste 08 de Março em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, as lembremos com carinho e afeto e nem seja preciso repetir o 08 de março de 1917, quando as mulheres russas foram à praça pública, emparedando o Czar Nicolau II, reclamar o direito ao trabalho digno, embora a luta de hoje se foque mais contra o machismo e a violência. Defendamos sempre a Mulher e não apenas nesse dia dedicado a ela.

Viva o Dia Internacional da Mulher! Parabéns a todas, pelo muito que representam em nossas vidas. Precisam ser mais valorizadas e essa é a melhor maneira de se defende-las.

 

Brasília, 07 de março de 2024

                                                  Paulo das Lavras



 
Minha mãe, com o filho caçula, Anízio. Mulher guerreira, descendente de portugueses
 da região do Porto, que chagaram ao Brasil em 1720 e se estabeleceram em Lavras em 1750.

Foto: ano 1948, aos 34 anos de idade. 



 Um jatinho perdido entre as montanhas de Lavras e S.J.Del Rei, HS 125 FAB – VU-93 -  2117 . 
 Pouso abortado em São João del Rei, em 07/05/1988. Neste jatinho executivo o menino se transformou
 em co-piloto/navegador e rumou o avião  com a proa para a cidade de Lavras. Veja esta história completa em:

https://contosdaslavras.blogspot.com/2014/04/passeando-entre-montanhas.html 



 Lavras e a majestosa Serra da Bocaina que emoldura a cidade.

 Com essa maravilhosa vista, voando num jato, a 10 mil metros de altura, também

o pensamento voa. “Vá, pensamento, vá! Voa em asas douradas, pousa sobre as encostas e colinas

 onde os ares são tépidos e macios com a doce fragrância do solo natal... Reacende em

 nosso peito a memória, fale-nos do tempo que passou...”.

Contemplar e passear por entre as montanhas de Minas é como ressuscitar a nostalgia

decantada e cantada nos versos acima, nessa maravilhosa ópera,  Nabuco – Va Pensiero,

 escrita pelo gênio Giuseppe Verdi. 

Foto: Alejandro, 2012  




 Serra do Curral, em Belo Horizonte. Impressionante as semelhanças 
dos maciços que emolduram Lavras, S. J. Del Rei e Belo Horizonte. 
As montanhas são a marca registrada das Minas Gerais.
Foto: internet

 











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