sábado, 15 de abril de 2023

Um desastre no aeroporto de Confins

As notícias sobre acidentes aéreos provocam calafrios naqueles que têm o avião como meio de transporte e dele fazem uso constante. Mas, na noite de 20 de julho de 1989, assistindo ao noticiário de TV, não pude evitar o calafrio e grande estupefação ao ver as cenas do grave desastre com um DC-10/10 da United Airlines, em Sioux/Iowa, pois havia se passado apenas dois anos que eu sofrera o terceiro acidente aéreo, ocorrido no aeroporto de Confins em Belo Horizonte, no qual poderiam ter morrido todos os passageiros, caso tivesse havido explosão ao cair no solo. Os dois acidentes anteriores com o jovem executivo internacional aconteceram ali mesmo nos EUA. Nesse desastre de Sioux, que acabara de assistir, havia 296 pessoas a bordo, sendo 285 passageiros e 11 tripulantes. Destes, 111 morreram, 285 sobreviveram, dos quais 172 tiveram ferimentos e 113 saíram ilesas entre os escombros em chamas. Problemas hidráulicos causaram o desastre, tornando o avião incontrolável, sem flaps ailerons, profundores, leme de direção e freios auxiliares do trem de pouso. Diante da TV, com aquelas cenas chocantes, um filme tenebroso passou pela minha mente, relembrando os desastres aéreos pelos quais passei, especialmente um deles com as mesmas panes hidráulicas na aeronave, assim que decolou de Washington-DC. O outro acidente, que sofri nos EUA, foi em Las Vegas/Nevada. Neste, em voo de Chicago para São Francisco e quando já estávamos na metade da rota, de quatro horas de voo, houve incêndio a bordo, com pânico total entre tripulantes e passageiros das primeiras poltronas. Curvou à esquerda e em voo de quase ponta cabeça alternou para o aeroporto mais próximo, Las Vegas, onde uma tripulante ficou internada, com ferimento nos olhos e intoxicada por inalação de fumaça. Durante esse acidente ainda estava um pouco traumatizado com o anterior, de Washington, ocorrido apenas 10 dias antes, no voo para Cleveland/Ohio. Partimos do aeroporto Nacional de Washington-DC, com escala programada para Cleveland e destino a Lansing, a capital de Michigan, onde tínhamos o escritório central de nosso projeto nos EUA, na Michigan State University.  O voo, num Boeing 727-200, com bem mais de 100 passageiros, prometia ser tranquilo, tempo bom, num final de tarde do dia 14 de novembro de 1977, uma segunda feira.  Logo após a decolagem de Washington-DC,  cerca de 15 minutos de voo, a viagem foi abortada e alijou-se o combustível sobre o mar. Foi desviada a rota para o Dulles International Airport, no estado da Virgínia, terra de Samuel Rhea Gammon o fundador da Universidade Federal de Lavras, minha terra natal e onde eu ainda era professor. A aeronave perdeu totalmente o sistema hidráulico, ficando sem nenhum controle de direção horizontal e vertical, tal qual aquele DC-10 de Sioux. Mas conseguiu pousar numa pista maior, com espuma anti-fogo e redes de aço no final da pista, já com dezenas de carros de bombeiros e ambulâncias a postos. Felizmente ninguém se  feriu. A tragédia de Sioux foi evidentemente maior e traumatizante, com inúmeras perdas de vidas. Ao contrário, e felizmente, nosso avião conseguiu pousar no eixo da pista e parou com o bico na rede metálica que havia sido montada no final da pista, no aeroporto de Dulles/Virgínia. Em vez de ambulâncias, usamos ônibus para chegar à estação de passageiros, sãos e salvos e em seguida conduzidos a um hotel, em  Reston-VA, onde passamos a noite nos recuperando do susto.

             Mas, voltemos a Confins. Naquela noite de 13 de dezembro de 1987 embarcamos com muita animação, em Brasília, com destino a Belo Horizonte, onde participaríamos de uma reunião do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA na sede do CREA-MG. A animação incluía a escolha do voo. Havia dois voos com diferença de apenas cinco minutos naquele horário de partida, por volta das 19:00 horas. Nos tempos da chamada Ponte Aérea, as passagens eram vendidas em sistema “code share” e podia-se escolher voos em qualquer companhia aérea, a Varig, Vasp e TransBrasil, únicas operadoras da Ponte Aérea.  O voo da Varig, saiu antes, mas preferi o TransBrasil, pois estava praticamente estreando os novos Boeings recém lançados no mercado, o 737-300. Havia lido na imprensa que esses novos Boeings eram motorizados com turbinas GE, super silenciosas e mais possantes que as antigas Rolls-Royce que equipavam os 737-200, barulhentos. Tanto assim que, logo em seguida aviões com essas barulhentas turbinas, como o Sucatão da Presidência da República, um velho Boeing 707, com quatro dessas turbinas, foram proibidos de pousar em Nova York e principais aeroportos dos EUA.

            Avião novinho em folha, estofamento impecável com cores neutras, som estereofônico disponível em cada poltrona, um luxo e tinha apenas 300 horas de voo, informou-me o comandante a quem visitei na cabine, antes da decolagem. Uma hora de voo e a aproximação e descida foram feitas com bastante turbulência ao romper algumas nuvens cúmulos-nimbus, os temíveis CB, nuvens negras, espessas, pura água condensada, quase uma rocha de gelo. Uma forte tempestade assolava o aeroporto de Confins. Ainda assim, ao contrário do voo da Varig, que decolara cinco minutos antes do nosso e que desistira do pouso, arremetendo a proa para o Rio de Janeiro, o nosso garboso e novíssimo 737-300 de prefixo PT-TEA, comandado por um destemido piloto, aventurou-se a pousar em meio à forte tempestade de chuva e ventos. Desalinhou do eixo da pista e simplesmente caiu sob forte rajada de chuva e vento. Despencou de uma altura de uns dez metros, atirado que foi pela violência da tempestade. Partiu a asa esquerda, que bateu primeiramente no solo. Também o trem de pouso e a turbina ficaram para trás, aos pedaços e a aeronave adernou para esquerda.

Um barulhão aterrorizante, tanto pela queda brusca ao solo como pelos impactos da asa esquerda e turbina arrancada ainda na pista, aumentando assustadoramente o barulho da lataria e metais arrastados pelo asfalto afora, gramado e lama, numa velocidade inicial de 400 km/h. Nada resistiu ao impacto e tudo foi se arrastando pelo chão, parte atolando no gramado e outra pelo asfalto soltando fagulhas. Pedaços do avião, fuselagem, turbinas se desprenderam e, no interior da aeronave, além do pânico e gritaria, objetos “voavam” sobre nossas cabeças, as maletas, mochilas, tudo, tudo mesmo que estava no bagageiro superior veio abaixo, ferindo levemente alguns passageiros. E o pior foi que assim que bateu no chão, apagaram-se as luzes da cabina. Escuridão total. Verdadeiro terror, portas e janelas de emergência que não se abriam, gritaria geral e pânico total entre os mais de cem passageiros. Diante da iminência de desfecho fatal, o subconsciente em pânico logo disparou a imagem das filhas pequenas e da esposa que ficariam sem o arrimo e... a exclamação em surdo brado “Oh meu Deus”, apelando a Ele pela vida.  Havia muitas crianças, pois era período de férias e a gritaria ficou maior ainda com o choro dos pequenos e das mães ou acompanhantes. Passou-se uma “eternidade”, sob pânico total  e nada das portas se abrirem. As aeromoças pareciam estar em desespero, para não dizer pânico, diante do emperramento da porta dianteira esquerda da aeronave retorcida. Depois de alguns segundos no escuro, que pareceram uma eternidade, as luzes da cabine se acenderam. Respirei aliviado, imaginei que haveria tempo suficiente para a fuga dos escombros. A presença de luzes era sinal que não havia incêndio e o piloto religou a A.P.U. (APU,  Auxiliary Power Unit, pequena turbina embutida na cauda do avião e que fornece energia para os sistemas de comunicação/iluminação e refrigeração). Ainda não..., pensei eu, não há fogo, mas a explosão do combustível derramado dos tanques situados nas asas, que estavam despedaçadas.... “Perna para que te quero”. Mas, como sair daquele charuto, fechado, que poderia explodir? Para piorar, havia fumaça na asa direita, justamente do meu lado e embora a janela de emergência situada sobre a asa já tivesse sido aberta pelos passageiros, ninguém se aventurou a sair por ali, até porque a fumaça começou a invadir o interior da aeronave, causando tremendo pavor nos passageiros ainda abalados com o choque brusco do avião no solo. Felizmente, vimos depois, que não se tratava de fumaça de incêndio, mas apenas vapor d’água de chuva sobre os restos das turbinas fumegantes. Mesmo assim, a única coisa que vinha à mente de todos era o iminente e temido incêndio, precedido de explosão, tal qual se vê nos filmes. Crescia o pânico entre as mais de 100 pessoas que ali estavam confinadas. Da sexta fileira de assentos (6C), no corredor já apinhado de gente apavorada, e sem condição de me mover, gritei para dois homens, jovens e fortes, para ajudarem as aeromoças a forçar a porta dianteira, que estava emperrada. Por sorte, uns três homens conseguiram abri-la, mesmo depois de tentarem forçá-la para fora, quando o certo seria puxá-las para o interior da cabina. Aberta a porta, as comissárias, então, acionaram imediatamente a rampa inflável, o tobogã, para alívio do sufoco coletivo.

Por incrível que pareça, após a abertura daquela porta da salvação, aumentou-se a confusão. Uma mulher, jovem ainda, entrou em pânico, com descontrole total. Estava nas últimas poltronas e ao ouvir a gritaria quando da abertura da porta dianteira, e sem ter como se locomover pelo apinhado corredor, simplesmente subiu nos espaldares das poltronas e em desabalada carreira passou por cima da cabeça de todos, e com olhos arregalados e grande estupor, gritava: “meu noivo é piloto e sei que o avião vai explodir“. Vazou pela porta de saída, aos gritos e atropelando a todos que se abaixavam para proteger a cabeça de sua tresloucada caminhada por cima de todos. Iniciada a fuga, de nada adiantaram os apelos das aeromoças para que todos se livrassem de pequenas bagagens de mão, sapatos, objetos cortantes, pontiagudos ou simples metais e plásticos rígidos que porventura estivessem portando nas roupas. Atropelo geral e no “salve-se quem puder”, nem as crianças tiveram prioridade, embora chorassem muito e as mães aos gritos para alcançar em primeiro lugar a porta com a rampa inflada. Logo chegou minha vez, pois a massa de passageiros comprimidos era tal que não foi possível dar prioridade a ninguém. Só mesmo em situações com cheiro de morte para as pessoas se sentirem possuídas do verdadeiro instinto animal de sobrevivência a qualquer custo, incontrolável. Passar por cima dos outros, empurrar e gritar eram atitudes perfeitamente “normal” para todos em pânico.  Antes dessa confusão infernal eu havia tirado os sapatos, caneta e chaves do bolso do paletó, retirando também a gravata, tal qual mandam os manuais de segurança aeronáutica. E lá fui rampa abaixo, empurrado pela multidão apressada. A descida foi rápida pelo improvisado tobogã, mas...,  a surpresa maior foi cair sentado sobre uma verdadeira piscina de mais de 10 mil litros de querosene, o combustível de aviação altamente inflamável e que ainda escorria dos tanques sob as asas quebradas. Mal senti o terrível e temível cheiro do combustível, que prenunciava incêndio iminente, tive o ímpeto de me levantar rapidamente e correr para longe.  Correr?... Ah..., antes mesmo de levantar-me, levei uma estocada lancinante nas costas, de quebrar as costelas. Uma mulher, de físico avantajado, não retirou os sapatos de salto alto. Este, muito comprido e de ponta bem fina e, como um petardo, de peso multiplicado por 10, em razão da velocidade e força G, causou-me um impacto de quase uma tonelada nas costas. Fui atirado novamente ao chão, quase afogado no alagado de água e querosene e, pior, com o salto do sapato cravado nas costas, me lambuzei ainda mais e quase me afoguei de vez. Ah..., não! Pensei, o que é isso? Já me afoguei aos três anos num grande reservatório de água e agora em meio à lama de água e querosene e ainda com risco de ser incendiado como um homem tocha?

Encerrava-se assim a primeira fase da pavorosa fuga. Mergulhado, pisoteado e quase afogado no mar de querosene sufocante sob o peso de vários passageiros que caiam velozmente da rampa, enquanto alguns até nos ajudaram a sair daquela perigosa situação. Perigosa e engraçada, pois havia uma mulher presa, pelo pé, nas minhas costas. Éramos todos candidatos a virar uma tocha sem salvação caso eclodisse um incêndio.  Ainda assim, lembro-me que achei graça naquela inusitada cena, uma  mulher com as pernas para cima, em “V”, mostrando toda a sua anatomia, dentro da poça de lama, gritando e esperneando,  iluminada pelas lanternas dos comissários. Mas, não havia tempo nem clima para apreciar a inusitada cena daquela senhora, com pernas para o ar, pois o combustível da aeronave, com a asa estraçalhada e barriga enterrada, continuava jorrando ali sobre todos nós. Em outra circunstância até daria para ficar ali a contemplar o esquisito e intrigante cenário de uma mulher deitada de costas na lama  e o pé agarrado nas minhas costelas perfuradas. Mais aterrorizante foi passar ao lado dos escombros da turbina, com superfície em brasa, fervilhante, fumegando, fazendo barulho de fritura e soltando fumaça sob a chuva que caía. Parecia espargir fagulhas, porém debeladas pela própria chuva torrencial. Paradoxalmente, descobri depois, que a própria chuva evitou a explosão do avião que deslizava de barriga e arrancava fagulhas no asfalto que eram apagadas pela enxurrada de mais de um palmo de altura. Não fosse isso, as fagulhas entrariam em contato com o combustível derramado (que flutua sobre a água) e  nem estaríamos aqui para contar a história. Mas, na hora ninguém se lembra disso e prevalece o pânico e, na iminência do pior, quando você sabe que não há mais jeito, eis que os pensamentos adquirem força e afloram, de novo, as imagens da família, das  filhas pequenas e da esposa que ficariam desamparadas. “Oh, my God”, o que será delas? Cuide para que eu não falte. E graças a Esse bom Deus... o avião (os restos) não explodiu e todos se salvaram.

             Alguns, no entanto, tiveram  ferimentos leves, provocados por objetos que “voaram” dos bagageiros superiores ou quando pularam direto para o chão, sem a rampa inflável. Uma mulher grávida, quase no fim da gestação, foi empurrada pela porta traseira, que finalmente conseguiram abrir, porém desprovida de rampa inflável. A gestante caiu na lama e rompeu a bolsa amniótica. Foi a primeira a ser socorrida pelos bombeiros que chegaram cinco minutos após a queda da aeronave. Novamente, pernas em ação e agora em pânico incontrolado. Mesmo atolado num mar de querosene, descalço, saí em desabalada carreira, em meio à escuridão da noite, iluminada apenas pelo lusco-fusco das luzes do distante terminal de passageiros e os faróis e roto-lights das ambulâncias e bombeiros que se aproximavam em velocidade e ao mesmo tempo evitavam atropelar os passageiros em desabalada fuga para longe dos destroços. Em segundos ganhei a pista de pouso lateral, ainda que com dores lancinantes da estocada nas costas. Corri até atingir local supostamente seguro. Ao longe pude visualizar as luzes do terminal de passageiros, que me pareceram situar-se a quilômetros de distância, tal o desespero da fuga diante de iminente explosão da aeronave em pedaços. Muitos carros e ambulâncias do Corpo de Bombeiros chegaram em socorro, com seus faróis iluminando a escuridão daquela trágica noite de tempestade. Recolhido, resgatado e levado em ambulância para o terminal de passageiros, onde fui  medicado e, ainda na sala de atendimento médico, pedi para fazer uma ligação interurbana, pois ainda não existia o aparelho celular e se existisse estaria perdido, danificado pois estávamos mergulhados e encharcados de querosene e lama.

            Agora, quando descrevo esses fatos, muitos anos depois, minha esposa lembrou-me que estranhou as minhas palavras naquele telefonema. “Você verá pelo noticiário da TV que o avião em que eu viajava caiu, aqui em Confins, mas eu estou bem, só levei uma estocada nas costas, de sapato de salto alto, de uma mulherona...rsrs”. Nada mais comentei, despedi-me, dizendo que iria para o hotel tomar um bom banho e antes pedir à companhia aérea que fornecesse roupas ou recuperasse minha bagagem deixada na cabine do avião.

Dois dias depois cheguei em casa, de roupa nova, completa, terno, gravata e sapatos, comprados na loja Delano, esquina de Afonso Pena com Espírito Santo, ali mesmo em BH, pois cheguei ao hotel enlameado, sem os sapatos que havia perdido na louca correria, , roupa danificada, cheiro terrível de querosene, pronta para descarte. Coincidência, no voo de volta a aeronave também era um Boeing 737-300, novo, de prefixo PT-TEB, irmão gêmeo do acidentado, cujo prefixo, matrícula, se diferenciava por uma única letra sequenciada. Fiz boa parte da rota na cabine de comando, pois naqueles tempos ainda eram permitidas visitas, e ali conversei com o comandante sobre o acidente anterior e normas de segurança de voo. Depois, no silêncio de minha poltrona, contemplando o infinito céu azul, a dez mil metros de altitude e na tranquilidade da alma relaxada em comunhão com Deus, agradeci pela Vida, por mais aquele livramento e cheguei à conclusão que nenhum trauma ficaria, ou seria capaz de fazer-me abandonar a paixão de voar. É verdade que, em acontecendo, o desastre desestabiliza o emocional, mas tudo tem seu valor, por pior que seja o acontecimento. Na viagem de volta, o silêncio da alma falou mais alto. Na descrição sobre o silêncio da alma, tão bem colocada por Rubem Alves, encontrei a explicação do porquê quando estou nas alturas, voando a quase mil por hora, encontro inspiração para meditar e colocar a alma no lugar certo, mesmo com as apavorantes lembranças dos dois acidentes aéreos sofridos anteriormente nos Estados Unidos e este, de Confins, mais grave ainda.

Pode parecer paradoxal, mas como continuar apaixonado por aviões depois desse acidente? Outros já haviam acontecido nos EUA e como, então, depois de tantos apuros ainda conservar o fascínio pelos voos? Simples..., acalento o "Sonho de Ícaro",  o sonho e a paixão por voar, voar... subir, subir... asas de ilusão... sonho audaz de balão ... como expressou o cantor e compositor Biafra. Ali, nas alturas, no silêncio da aeronave e a contemplar as nuvens e a imensidão do espaço, é praticamente o único lugar onde consigo relaxar e soltar completamente a alma. Ali, literalmente nas nuvens, não tem o stress urbano, com noticiário escabroso da TV mostrando tragédias, assaltos e tudo quanto é desgraça humana e ambiental. Somente as nuvens, o infinito e a terra lá embaixo, distante e com diminutas formas visíveis. Em minhas reflexões cheguei à conclusão que já derrotei a Dona Morte várias vezes. Cinco ao todo, três acidentes aéreos, dos quais não carrego traumas. Ao contrário disso, os traumas que tenho são com os outros dois acidentes/incidentes acontecidos na infância. O primeiro, uma grave cirurgia aos dois anos de idade e o segundo, um afogamento aos quatro anos. Desses dois, ainda hoje, carrego sequelas físicas e psicológicas. Mas, também tenho de um deles a gostosa lembrança de passar inteiramente outros nove meses, 24 horas ao dia, no colo dos pais, irmãs e amigos da família,  com suas doces canções de ninar e causos de bichos na floresta, que ainda tenho registrados na memória. Relembro-os com carinho e doçura na alma. Nunca os esqueci, como também a cena de choro de todos ao redor do menino, ainda com três anos apenas,  reanimado do afogamento, enrolado em toalhas e expelindo golfadas de água com as massagens e respiração boca a boca feitas pela mãe que desesperada clamava a Deus pela vida do filho.  Assim, diante de tamanhas e reiteradas sortes, estou vencendo aquela Velha de capa preta e foice na mão, por 5 x 0. Mas, sabemos também que se ela, a dona Morte, vencer uma única partida neste jogo da vida, de nada adiantará o novo placar de 5 x1, pois prevalecerá a única vitória dela.

Não penso nisso! Melhor é ter, sempre, um projeto de vida, qualquer que seja a sua faixa etária. Ter um projeto de vida é encontrar coisas que se goste de fazer, aprender a dizer ‘não’, dar muita risada, enfrentar o medo e buscar felicidade, o sucesso junto à família e amigos, que são as dádivas que Deus colocou no mundo para tomar conta de nós. Amém!

                                                                                                       

Brasília, 12 de janeiro de 2016

 

Paulo das Lavras


 PT- TEA  737-300 TransBrasil- avião novinho em folha, com apenas 300 horas de voo. Asa e turbina esquerdas quebradas, deixando  pedaços na pista e arrancando fagulhas que se apagavam sob a enxurrada de um palmo de altura... 
Foto: Airspeed – Planespotters.net



 
Jornal O Globo 15/12/19 


 Jornal F. de S. Paulo 15/12/1987
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