terça-feira, 31 de maio de 2022

Preconceito etário ou choque de gerações?

             Nem preconceito, nem choque. Professor desde os dezesseis anos, aprendi a conviver com alunos de 15 a 70 anos. Sou da geração baby- boomer, aquela nascida entre 1945 e 64, ou seja a geração, do período do pós-guerra, quando a humanidade se deparou com grandes avanços tecnológicos, mudanças políticas e viu o homem ir a lua, presenciou o início das lutas pelos direitos humanos e a liberação da mulher (Twiggi de minissaia e outras ativistas como Betty Friedan que queimou o sutiã em praça pública). Foi a época da explosão demográfica do pós guerra, com todas as mudanças pelas quais o mundo passou, incluindo até mesmo o surgimento de novos estilos musicais como o Rock´n´roll, Twist. Ah... suspiram os mais velhos..., quem não viu, vibrou, dançou em festas abrilhantadas pela turma da Jovem Guarda? Wanderlea, Vanderley Cardoso, Carlos Gonzaga, Roberto Carlos e tantos outros em shows na cidade de Lavras? Para quem não sabe, Roberto Carlos, em início de carreira, no ano de 1962, apresentou-se num pequeno circo instalado na Praça Santo Antônio, ali na minha cidade natal, Lavras. Alegria geral da meninada adolescente empolgada com a Jovem Guarda do yeh, yeh, yeh .  Bem depois dessa turma do pós-guerra, cujos princípios focavam no intenso trabalho em busca da prosperidade e valorização da família com costumes tradicionais e elevada religiosidade, chegou a nova geração, a Geração X

Acostumei-me a trabalhar com os jovens e isto levou-me a absorver os  seus hábitos e jeito de encarar a realidade. Conectar-se à diversidade de assuntos dos jovens e perceber seus ideais e então orientá-los para a vida profissional, mais que o ensino das ciências, era um desafio ao qual me impus. Costumava dizer a eles, meus alunos, que o mais inteligente era aquele sabia fazer perguntas desafiadoras ou até mesmo inusitadas diante de um problema e não aqueles que tinham a resposta da múltipla escolha do certo, errado, não sei. Ora, se já havia resposta certa, alguém já havia se debruçado na questão e encontrado a solução. Se já existe resposta certa, para que, então, uma empresa iria querer um profissional medíocre que decora as respostas? Não, o mundo corporativo vai atrás de talentos e os talentosos não se contentam apenas com a decoreba do certo, errado, não sei. Os talentosos são curiosos, exploram o desconhecido em busca de soluções, inovadoras, para o problema da empresa que está inserida no mundo corporativo de grande e acirrada competitividade. Assim, sempre consegui acompanhar a agitação dos jovens e estar à frente e junto a eles. Nunca apliquei uma prova de múltipla escolha com o famigerado certo, errado, não sei. Sempre foram estudos de casos, com consulta à bibliografia, internet e outros meios, com resolução individual ou em grupos e ainda com orientação do professor. Trabalhoso? Sim, demais, ler, corrigir, ouvir explanações em grupos...! Mas, valia a pena, pois estávamos lidando com jovens ávidos pelo saber e ansiosos por ingressar no competitivo mercado de trabalho, hoje mais voltado para o empreendedorismo. Todo educador sabe que devemos formar profissionais de  nível superior para serem “empregados” e sim empreendedores. Antigamente, até os anos de 1970, os cursos de graduação primavam em formar “empregados”, principalmente para o serviço público. Era comum terminar a graduação e o recém formado já ter o emprego garantido no serviço público como no caso das ciências agrárias, na EMATER, M. da Agricultura, Secretarias estaduais e municipais de fomento e pesquisas agrícolas. Hoje, ao contrário, impera o agronegócio com avançadas tecnologias e estudos de mercados internos e externos, bem apropriados às gerações  Z e Alpha que lidam com a Agricultura 4. 0 e suas sofisticadas ferramentas de otimização integrada da produção e gestão agrícola em diferentes estágios, com a precisão de controles remotos, monitorados por satélites, drones, softwares e outros dispositivos, como também forma de se trabalhar e gerenciar tudo à distância, no conforto de seu home-office.  Assim, não há por que se falar em conflitos de gerações, sejam elas X , Y,Z ou Alpha. Na minha experiência de mais de 60 (sim, sessenta) anos de magistério posso afirmar que todo profissional, ou mesmo quem não se adaptar às novas exigências corporativas está fadado ao esquecimento ou a mediocridade. O que  viria primeiro, o esquecimento ou a mediocridade?  Não sei, penso que caminham juntos. Minha adaptação às diversas gerações aconteceu automaticamente, com o convívio diário em sala de aula e foi fantástica pois vivia e respirava o ar e as inquietações dos jovens que são ágeis, rápidos. A diferença era que, em sendo mais velho e experiente, sentia-me na obrigação de incentiva-los a desenvolver sua próprias capacidades intelectuais, sintonizando-os com os problemas atuais e buscar soluções criativas, empreendedoras como agentes ativos dessa mudança que está acontecendo a cada dia. 


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