sábado, 16 de março de 2019

Família e lições do massacre de Suzano


          Temos hoje uma sociedade bem generosa: põe os filhos na creche, os pais no asilo e vão passear com o cão, de preferencia no colo. Essa é uma frase de efeito, dentre muitas, que ironizam as causas da tragédia acontecida numa escola de ensino médio em Suzano, próximo à cidade de São Paulo. Dez mortos e outro tanto de feridos, por conta dos atos de insanidade de dois rapazes, chocando profundamente os brasileiros não acostumados a esse tipo de barbárie.

  Embora todos nós saibamos as origens, as causas desses comportamentos insanos que levam jovens a matar pessoas em locais públicos e se suicidarem em seguida, não deixamos de notar as propostas para se evitarem tais comportamentos. Eis algumas, bizarras na maioria das vezes e até mesmo com justificativas:
- colocação de detectores de metal e guardas armados na porta da escola – afinal bancos protegem seu dinheiro assim. Por que não proteger da mesma forma nossos tesouros maiores- as crianças?
- proibir a venda, posse e porte de arma de fogo.
- proibir a posse e porte de facas, pois, afinal, Bolsonaro quase morreu em atentado à faca.
- proibir a venda, posse e porte de machadinhas. Uma das vítimas foi atingida por uma dessas “perigosas armas”.
- proibir a venda, posse e porte de arco e flecha e sua similar “besta”.
- proibir o uso de caixas de papelão e fios metálicos (usadas para simulacros de bombas explosivas no massacre de Suzano).
- proibir a venda de luvas pretas, máscaras de caveiras, roupas pretas e botas de combate, pois os assassinos de Suzano trajavam-se assim, incentivados por “batalhas na internet”.
- - proibir a atividade de youtuber, pois produzem videogames violentos com uso de armas de guerra, extermínio de pessoas e animais, incentivando jovens à matança coletiva. Afinal, em Brasília já se condenou um desses youtubers que, inclusive, teve abortado seu plano de chacina numa grande universidade da capital.
- proibir as redes de TV, jornais e mídias em geral, de divulgarem notícias e imagens de violências. Afinal os assassinos de Suzano se inspiraram nas imagens do massacre na escola secundária de Columbine/E.U.A. O destaque na mídia é recompensa para os atiradores. Pesquisa da State University of N.Y., constatou o “efeito imitação”. A mídia foca nos assassinos e então os autores de tiroteios querem superar a fama dos atiradores anteriores, matando mais pessoas.
- proibir novelas, tipo rede-lixo, que incentivam violências e degradação moral.
- proibir o uso de celular por parte de crianças

Parece piada, esse rol de recomendações que recolhemos na imprensa e nas redes sociais nesses últimos dias, pois se esqueceram de falar da mais importante das causas, a educação, a formação de nossos jovens. É mais fácil e simples, jogar a culpa “nos outros”. Esquecemos que os culpados somos nós, os pais, a família. A frase inicial, acima, retrata a ironia de alguém que também se lembrou dessa culpa e ironizou-a com aquelas palavras que copiei das redes sociais. E pior, o ataque aos estudantes de Suzano não foi fruto de um contexto isolado de surto psicótico de dois jovens, mas, de puro ato de maldade, planejado, comprovando-se total ausência de valores. Entre tudo que li e para não me alongar, ficarei com as sensatas palavras de um grande e respeitado estudioso da psicologia humana e que, aliás, nem pai de família é, mas conhece os problemas da desestruturação familiar. Trata-se do Padre Fábio de Melo. Eis a sua mensagem sobre esse triste massacre de Suzano, onde ele coloca uma pá de cal sobre as “tantas baboseiras e falsas justificativas” para aquela barbárie, algumas das quais listei acima: 
“Palavras do Pe. Fábio de Melo: Cansado e perplexo com tantas baboseiras e falsas justificativas para as atrocidades que ainda nos surpreendem todos os dias... Os meninos não mataram porque o porte de arma é um projeto do atual governo. Os meninos não mataram porque jogavam jogos violentos. Os meninos não mataram porque a escola foi omissa. Os meninos não mataram porque sofreram Bullying...
Eles mataram porque as famílias estão desestruturadas e fracassadas, porque não se educa mais em casa, não se acompanha mais de perto, a tecnologia substitui o diálogo, presentes compram limites, direitos e deveres e não há o conhecimento e respeito a Deus.
Precisamos parar de nos omitir, de transferir culpas. A culpa é minha, é sua, de todos nós!
A violência é o desdobramento de carências afetivas, da necessidade de ser visto e notado, ainda que da pior maneira.
As armas não matam, o que mata é a ausência de AMOR!!!”

Bela reflexão desse especialista que prega o amor. Acordemos, pois, cuidemos mais de nossos filhos e como disse, ainda, outra especialista, Cassiana Tardivo, em um post na internet sobre a tragédia de Suzano:
“Antes perdíamos filhos nos rios, nos matos, nos mares, hoje temos perdido eles dentro do quarto! Quando brincavam nos quintais ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias e ao ouvi-los, mesmo a distância, sabíamos o que se passava em suas mentes. Quando entravam em casa não existia uma TV em cada quarto, nem dispositivos eletrônicos em suas mãos.
Hoje não escutamos suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias, as crianças estão ali, dentro de seus quartos, e por isso pensamos estarem em segurança. Quanta imaturidade a nossa. Agora ficam com seus fones de ouvido, trancados em seus mundos, construindo seus saberes sem que saibamos o que é...
Perdem literalmente a vida, ainda vivos em corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados num mundo global de tanta informação e estímulos, de modismos passageiros, que em nada contribuem para formação de crianças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente corretas e de acordo com seus valores familiares. Dentro de seus quartos perdemos os filhos, pois não sabem nem mais quem são ou o que pensam suas famílias, já estão mortos de sua identidade familiar…
 Tornam-se uma mistura de tudo aquilo pelo qual eles têm sido influenciados e pais nem sempre já sabem o que seus filhos são. Você hoje pode ler esse texto e amar, mandar para os amigos. Pode enxergar nele verdades e refletir. Tudo isso será excelente. Mas como Psicopedagoga tenho visto tantas famílias doentes com filhos mortos dentro do quarto, então faço a você um convite e, por favor, aceite!
Convido você a tirar seu filho do quarto, do tablet, do celular, do computador, do fone de ouvido, convido você a comprar jogos de mesa, tabuleiros e ter filhos na sala, ao seu lado por no mínimo dois dias estabelecidos na sua semana à noite (além do sábado e domingo).
E jogue, divirta-se com eles, escute as vozes, as falas, os pensamentos e tenha a grande oportunidade de tê-los vivos, “dando trabalho” e que eles aprendam a viver em família, se sintam pertencentes no lar para que não precisem se aventurar nessas brincadeiras malucas para se sentirem alguém ou terem um pouco de adrenalina que antes tinham com as brincadeiras no quintal”.

Bem assim mesmo, Pe. Fábio e a psicopedagoga, Cassiana, falam a mesma linguagem e eu me arrisco a citar um fator preponderante, que nos levou a esse estado generalizado de desagregação da família: O CONSUMISMO. Desenfreado, é um dos grandes vilões nessa situação. Não bastam dois carros na garagem, home theater e toda parafernália eletrônica na sala, um aparelho de TV em cada ambiente da casa, cinco telefones celulares (casal, duas empregadas/babás, e para os filhos acima de seis anos...), tablets e computadores com internet e wi-fi, férias na Disney, colégios e faculdades particulares, estágios em Cambridge ou universidades americanas, roupas de grife compradas em Nova York ou na Avenida de Montaigne e Champs Elysées de Paris, ou tudo mais que for possível adquirir para saciar o “monstro” do consumismo. 

       Ora, ora, e então o velho e mal acostumado “senhor provedor” da casa não deu mais conta do recado, de prover as demandas, os custos da casa e a mulher teve que ir à luta, trabalhando no mercado de trabalho em igualdade de condições (apenas no cumprimento de horário..., pois o salário, não! Ainda é menor do que o do homem e pior, se submete à tripla jornada, administrando a casa). E resultou que o casal terceirizou tudo, a começar pela educação dos filhos que ficam por conta de cuidadoras desde os seis meses de idade e quase sempre sem nenhum preparo para as tarefas de formação da criança. Essa, o consumismo, com consequente ausência de ambos os pais em casa, não é a única causa, mas tenho-a visto como uma das mais frequentes.

A violência é o desdobramento de carências afetivas, do amor dos pais, da família e que só se consolidam com a convivência em família. Assim dizem os especialistas, inclusive os dois citados acima. Leiam e reflitam, sobre suas palavras. Vale a pena tentar melhorar o mundo, ou melhor, a formação afetiva de nossos filhos. Como avô, tenho colaborado bastante nessa tarefa e tem sido muito gratificante.


Brasília, 16 de março de 2019

Paulo das Lavras. 




As armas não matam, o que mata é a ausência de AMOR!!!, disse o Padre Fábio de Melo
Foto: internet


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