sábado, 3 de dezembro de 2016

Os Colombianos


A nação brasileira passa, nesses dias, por profundo pesar pelo trágico desaparecimento de um time, inteiro, de futebol, vitimado por desastre aéreo na Colômbia. Comoveu a todos nós a solidariedade e o carinho dos colombianos à equipe brasileira de futebol da Chapecoense, como a seus familiares e a todos os brasileiros. Foi notória a repercussão na imprensa e nas redes sociais a atitude de todos os colombianos. A equipe do Nacional de Medelín, teve destaque especial. Era o time que deveria disputar as finais do campeonato sulamericano, dois dias depois da chegada dos brasileiros, o que não aconteceu, devido ao desastre aéreo que matou 71 dos 77 passageiros e tripulantes a bordo, quase à cabeceira do aeroporto de Medelín. O time colombiano, campeão sulamericano por duas vezes, prestou belíssima homenagem aos mortos e a seu time, propondo às autoridades esportivas, a concessão do título de campeão à Chapecoense. Ofereceram, publicamente, numa solenidade com milhares de torcedores, vestidos de branco, o cobiçado título de campeão à equipe morta no desastre de dois dias antes. 

Um cronista, emocionado, perguntou se a catástrofe tivesse acontecido no Brasil, haveria algum time que se proporia a oferecer o título de campeão ao rival? Conseguiria reunir milhares de torcedores só para isto? Ou, então, se o time do Nacional de Medelín tivesse sofrido a mesma catástrofe aqui em nosso solo, algum dos nossos times teria a capacidade de colocar 40 mil torcedores no estádio e outros 40 mil do lado de fora para chorar por nossos irmãos sulamericanos? Abriria mão de disputar uma partida para concorrer ao título de campeão, para respeitar o luto alheio? Com essas comparações, conclui o cronista que a Colômbia nos deu uma lição de solidariedade, amor e que as vidas estão sempre acima das disputas esportivas. Tomara que a lição sirva de exemplo e possamos, no mínimo, acabar com a violência nos estádios. 

Além disso, foi surpreendente a rapidez e eficiência dos socorristas colombianos, com hospitais limpos e equipados. A solidariedade do povo, além das manifestações mencionadas, se estendeu, ou melhor começou, até mesmo na hora do resgate em plena madrugada chuvosa. As emissoras de rádio e TV pediram apoio a quem tivesse carros com tração nas quatro rodas, pois o local era de dificílimo acesso. Uma hora depois tiveram que dar uma ordem severa: “Parem de vir para o local do acidente, pois já há engarrafamento na área”. Verdadeira e admirável lição de solidariedade que os colombianos nos ensinaram. Adversários não são inimigos! 

E eles conhecem a dor, bem de perto, enfrentando uma guerra interna que já dura 50 anos. E isso poucos de nós leva em conta. Muitos, só nos lembramos da fama dos narcotraficantes que denigrem a imagem do país que, ao contrário, sempre os combateu na medida do possível. Outros, como um repórter de rádio e TV, criado na região cafeeira do sul de Minas, carregou a vida inteira uma ojeriza, birra mesmo, disse ele, da Colômbia que concorria em melhores condições que o Brasil no comércio internacional do café. Hoje, o repórter confessou: “rendo-me, penitencio-me por essa atávica birra, diante da grandeza da alma que eles, os colombianos, nos mostraram nesse episódio da catástrofe com o time de futebol brasileiro”. 

Muitos dirão que esse reconhecimento dos brasileiros aos colombianos é devido apenas ao estado geral de comoção pela tragédia ocorrida e que estamos todos solidários com as famílias das vítimas. Sim, estamos mesmo abatidos e solidários, mas, posso afirmar que eu mesmo me enquadro no figurino do brasileiro que tinha aquele país em má fama, até mesmo pelas razões do repórter esportivo de uma grande cadeia de rádio e TV...., a disputa pelos mercados do café. Também eu não nutria nenhuma simpatia por aquele país, pois a vida inteira vivi ouvindo a mesma história por parte de parentes cafeicultores do sul de Minas. Não nutria simpatia alguma..., até que..., na década de 1980, visitei a Colômbia várias vezes. Numa delas, especialmente, ocorrida em novembro de 1987, e lá se vão quase trinta nos, numa missão oficial em Santa Marta, na costa caribenha, pude sentir com maior intensidade a hospitalidade dos colombianos. Joguei fora todas aquelas “pedras” que eu carregava para atirar ou me defender por conta da atávica falta de simpatia para com aquele povo. Ali mesmo no aeroporto internacional de Bogotá, depois de um voo direto do Rio de Janeiro, num Boeing 767-ER da Varig, de prefixo PP-VNP, com seis horas de duração, esperava-nos a delegação de universidades colombianas para imediata conexão em outro Boeing, um 727-200 da Avianca, que ainda era de bandeira colombiana, de prefixo HK-1272, para mais uma hora de voo até a cidade de Santa Marta, situada na costa caribenha. Clima de festa entre os colombianos na calorosa recepção à pequena delegação brasileira que eu chefiava. Uma semana em Santa Marta, a mais antiga cidade da Colômbia, num congresso científico sobre ensino de ciências agrárias na América Latina e Estados Unidos, pudemos conviver com a hospitalidade dos colombianos, suas famílias e admiração que nutrem pelo Brasil e o grande interesse por intercâmbios com nossas universidades e centros de pesquisas. 

Terminados os trabalhos desfrutamos das facilidades e conforto de um resort naquele balneário, com restaurantes de farta e variada mesa, incluindo uma enorme tenda entre coqueiros repleta de frutas tropicais in natura. Delicia de encher os olhos e ainda com variados coquetéis típicos, como a marguerita, o rum com água de coco e a piña colada. Tudo ali, bem em frente às mais azuis águas oceânicas que já vi em todo o mundo. Em seguida partimos para a histórica cidade de Cartagena de las Indias, cidade histórica onde viveu Gabriel Garcia Marques. Ali escreveu seu mais famoso romance, “O Amor nos Tempos do Cólera”. Dali retornamos a Barranquilla e de lá embarcamos num B-727 da Avianca, de matrícula norte-americana, N153FN, com destino a Bogotá, seguindo em conexão num 767-ER, da Varig (PP-VNR) para o Rio de Janeiro e escala em Manaus. Tempo de voo bastante para se deleitar com a leitura do belo romance de Gabo, como era chamado o famoso escritor caribenho e relembrar a hospitalidade e carinho daquela gente. 

Que a lição dos colombianos, nesse triste episódio, produza efeitos. E parece que já começaram, pois, muitos times brasileiros já se dispuseram a oferecer empréstimos gratuitos de jogadores para que a Chapecoense possa se reabilitar e jogar nos próximos campeonatos.
Bela lição do povo colombiano, nossos irmãos latino-americanos, gente hospitaleira, amorosa que sempre preza em nos receber bem em qualquer circunstância. A atitude desse povo, demonstrando as mais profundas e sinceras manifestações de carinho e solidariedade, nos cativou, sensibilizou a todos nós. E aquela velha frase cunhada na catástrofe de um jornal francês e aqui adaptada pelos brasileiros merece mesmo ser lembrada:

 “Somos todos Colombianos”.

Brasília, 03 de dezembro de 2016


Paulo das Lavras  



 
Chegando à Cartagena, 1987, cidade de muitas igrejas e conventos 


 
O mais famoso livro


Cartagena - Vista da cidade de 500 anos



 
Santa Marta, balneário caribenho de aguas azuis



 
Hotel resort, com amplo restaurante e salão de festas à beira das piscinas, com mar azul ao fundo


 
Bogotá, com a montanha emoldurando a cidade a nos lembrar a cidade de Belo Horizonte.
O teleférico naquela montanha nos oferece uma bela vista da capital colombiana.



 
Bogotá, vista do teleférico, muito parecida com a capital mineira



 
Gutierrez/México, à esquerda e Mauricio Medina, à direita da foto. Este, amigo, diretor do Instituto Colombiano de Fomento à Educação Superior - ICFES/Bogotá
1982, em México


 
Em uma rua no centro de Bogotá. Gente atenciosa – 1981



O time da Chapecoense e o Avro RJ 85, acidentado em Medelín na madrugada de 29/11/2016  
Foto- Internet









Nenhum comentário:

Postar um comentário