quinta-feira, 17 de novembro de 2016

As mãos calejadas de um pai

  (crônica com 2.715 visualizações em 06/09/2022- 20:00h - blogger)

Um jovem foi se candidatar a um alto cargo em uma grande empresa. Passou na entrevista inicial e estava indo ao encontro do diretor para a entrevista final. O diretor viu seu currículo, era excelente. E perguntou-lhe:

- Você recebeu alguma bolsa na escola? - o jovem respondeu - Não.
- Foi o seu pai que pagou pela sua educação?  Sim - respondeu ele.
- Onde é que seu pai trabalha? Meu pai faz trabalhos de serralheria.
-  O diretor pediu, então, ao jovem para mostrar suas mãos.  O jovem mostrou um par de mãos suaves e perfeitas.
- Você já ajudou seu pai no seu trabalho?
- Nunca, meus pais sempre quiseram que eu estudasse e lesse mais livros. Além disso, ele pode fazer essas tarefas melhor do que eu.
             O Diretor lhe disse: Eu tenho um pedido: quando você for para casa hoje, vá e lave as mãos de seu pai. E venha me ver amanhã de manhã.  O jovem sentiu que a sua chance de conseguir o trabalho era alta!

 Quando voltou para casa, ele pediu a seu pai para deixá-lo lavar suas mãos.  Seu pai se sentiu estranho, feliz, mas com uma mistura de sentimentos e mostrou as mãos para o filho. O rapaz lavou as mãos de seu pai lentamente. Foi a primeira vez que ele percebeu que as mãos de seu pai estavam enrugadas e tinham muitas cicatrizes. Algumas contusões eram tão dolorosas que sua pele se arrepiou quando ele a tocou.  Esta foi a primeira vez que o rapaz se deu conta do significado deste par de mãos trabalhando todos os dias para pagar seus estudos. As contusões nas mãos eram o preço que seu pai teve que pagar por sua educação, suas atividades escolares e seu futuro.  Depois de limpar as mãos de seu pai, o jovem ficou em silêncio organizando e limpando a oficina do pai. Naquela noite, pai e filho conversaram por um longo tempo.

 Na manhã seguinte, o jovem foi encontrar-se com o Diretor. Este percebeu as lágrimas nos olhos do moço quando ele perguntou:

- Você pode me dizer o que você fez e aprendeu ontem em sua casa?
 O rapaz respondeu: Lavei as mãos de meu pai e também terminei de limpar e organizar sua oficina. Agora eu sei o que é valorizar, reconhecer. Sem meus pais, eu não seria quem eu sou hoje... Por ajudar o meu pai agora eu percebo o quão difícil e duro é para conseguir fazer algo sozinho. Aprendi a apreciar a importância e o valor de ajudar a família.

 O diretor disse: - Isso é o que eu procuro no meu pessoal. Quero contratar uma pessoa que possa apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conhece os sofrimentos dos outros para fazer as coisas, e que não coloca o dinheiro como seu único objetivo na vida. Você está contratado.

 Uma criança que tenha sido protegida e habitualmente dado a ela o que quer, desenvolve uma mentalidade de "Tenho direito" e sempre se coloca em primeiro lugar. Ignora os esforços de seus pais.  Se somos esse tipo de pais protetores, estamos realmente demonstrando amor ou estamos destruindo nossos filhos? Você pode dar ao seu filho uma casa grande, boa comida, educação de ponta, uma televisão de tela grande... Mas quando você está lavando o chão ou pintando uma parede, por favor, o faça experimentar isso também . Depois de comer, que lave os pratos com seus irmãos e irmãs. Não é porque você não tem dinheiro para contratar alguém que faça isso; é porque você quer amar do jeito certo. Não importa o quão rico você é, você quer entender. Um dia, você vai ter cabelos brancos como a mãe ou o pai deste jovem. O mais importante é que a criança aprenda a apreciar o esforço e ter a experiência da dificuldade, aprendendo a capacidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.

O texto  acima chegou-me às mãos por meio de amigos e traz uma bela mensagem que fez-me relembrar uma passagem de minha vida. Também meu pai tinha as mãos calejadas, grossas, muito grossas e sobretudo fortes. Ao despedir-me dele, pela última vez, quando partiu aos  cento e um anos de idade, sussurrei algumas palavras, antes de se fechar a urna. Minha palavras se referiam exatamente às suas grossas e calejadas mãos.  Foram ouvidas por meu irmão mais novo. Este as relembrou, oito anos depois, quando em minha chácara, em Brasília, quase 1.000 km distante da terra natal. Rememoramos, então, o árduo trabalho que ele, nosso pai, enfrentara a vida inteira e com muita alegria. E aquela alegria aflorou-nos com prazer redobrado, pois, ambos, tínhamos construído na chácara, dois anos antes, uma cerca de arame que dividia os piquetes de pastos do cavalo. Trabalho duro, cavar o buraco com mais de oitenta centímetros de profundidade, retirar a terra com as mãos, colocar o pesado moirão, socar e compactar a terra a seu redor, desenrolar o arame, esticá-lo ao máximo e pregá-lo com o grampo ou afixa-lo na catraca. Ali, ele e eu, pudemos avaliar o quanto era dura a faina do trabalho que nosso pai desempenhou com muito amor à terra. E nunca fomos obrigados a fazer isso na fazenda, pois ele não permitia e eu, efetivamente não o fiz, pois estávamos na cidade estudando, lendo livros para nos formar em alguma profissão, tal qual ele desejava para seus filhos. E algum tempo depois  após a partida de nosso pai, pudemos, ali, relembrar aquelas palavras que eu então dissera, segurando-lhe as mãos num último e dolorido adeus, embora ele tivesse vivido 101 anos. Sim, cento e um anos e eu então dissera, com lágrimas nos olhos: “obrigado, meu pai, que com essas grossas e calejadas mãos, trabalhou a vida inteira, até mesmo há trinta dias atrás, produzindo o próprio alimento para nosso sustento quando crianças e jovens e nunca deixastes que fossemos lhe ajudar na lida da roça, pois queria que estudássemos. Que Deus o tenha”.

E hoje,  deparo-me com um artigo sobre pesquisas do IBGE, focando justamente a importância da influência dos pais para o sucesso profissional dos filhos. A pesquisa realizada com 3.000.000 de pais (sim, três milhões) traz o depoimento de uma mãe nordestina, orgulhosa:

“Os calos da minha mão são o orgulho que sinto de ver aonde elas chegaram (suas filhas diplomadas em curso superior). Para quem veio da enxada, da seca e da fome, isso já é muito”.

Hoje nossos calos não são mais nas mãos, como antigamente, mas sim contados pelo tempo e dedicação que dispendemos para a educação e formação de nossos filhos. Sigamos o exemplo da dedicação de nossos pais e cuidemos para que nossas crianças tenham a melhor educação possível E esta não se resume à qualidade da escola, suas instalações físicas, docentes qualificados, currículos atualizados e tudo mais que a moderna pedagogia recomenda. É preciso que cuidemos, simultaneamente, de proporcionar-lhes as melhores condições possíveis no conjunto de nossas relações sociais que, dentre tantas, incluiriam:  cursos extras de redação/português, inglês (imprescindível- conversação e redação), artes, esportes (competições), rede de amigos influentes e bem-sucedidos, estágios no exterior (imprescindível) e em empresas nacionais. Importante também oferecer oportunidades de visitas a feiras (comerciais, industriais, artísticas, etc), exposições técnicas e científicas, shows artísticos e viagens nacionais e internacionais. Assim, estaremos proporcionando a eles uma extensa gama de oportunidades extracurriculares e ampliação de sua cultura técnica, científica e cultural, com reflexos indiscutíveis para as oportunidades de sucesso profissional.

            Não bastam boas escolas e se antigamente as mãos de nossos pais foram calejadas para nos proporcionar o melhor, incluindo o diploma de nível superior, hoje esses “calos” são outros. Incentivar, acompanhar e empurra-los, se preciso for, sempre, pois estes são os nossos “calos” neste mundo cada vez mais competitivo e que está a exigir maior qualificação de quem deseja ser bem sucedido.

 Ainda que faltem boas escolas ou até mesmo o dinheiro, mas....

 OS PAIS NÃO PODEM FALHAR. 

Calejem-se!


Brasília, 15 de novembro de 2016

Paulo das Lavras



 
Sr Vico – Clovis Pereira da Silva, meu pai, aos 84 anos, voltando da capina para o almoço das 10:30h. Caminhar firme, braços fortes, mãos calejadas, grossas, sorriso alegre.... tarefa cumprida! O que se repetiu, diariamente, até os 101 anos de vida. 


 
Comemorando 100 anos de vida, juntamente com o 14- BIS, de Santos Dumont.
Vida honrada, como bem disse aquele diretor de escola, da história acima, repassando-nos valores como: “pessoa que aprecie a ajuda dos outros, uma pessoa que conhece os sofrimentos dos outros para fazer as coisas, e que não coloca o dinheiro como seu único objetivo na vida”.


 
Aos 75 anos, de bem com a vida na mesma fazenda onde “calejou” as mãos e criou os filhos


 
Fincando um moirão de cerca e relembrando os calos do pai, trabalho duro,
que deixa as mãos calejadas, ainda  que  se usem luvas apropriadas



 
Ciclone, o dono das pastagens cercadas. Reminiscências das férias na fazenda


 
O piquete de pastagem e a cerca, um ano depois. Os calos nas mãos
compensam o prazer de contemplar o trabalho realizado e reconhecer o seu valor



Nossos “calos” de hoje são outros: tempo e dedicação aos filhos/netos
Inseri-los no contexto social, onde a acirrada disputa por um lugar
no mercado de trabalho, será vencida por aqueles que forem melhor
preparados, técnica, científica e socialmente, com vasta
cultura e domínio de idiomas, a começar pela língua pátria e o inglês.









4 comentários:

  1. Bateu saudade do Tivico! Bem isso, primo! Hoje os calos não estão nas mãos, até porque nossas atividades profissionais são outras, mas a dedicação na educação dos filhos não são diferentes e de nós, se o desprendimento for completo, eles herdarão o caráter. Parabéns! Lindo causo!

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  2. É bem assim mesmo, primo, lembrando que nossos pais se mudaram para a cidade para que pudéssemos estudar. Com isso se sacrificaram mais ainda, pois tinham que vencer as distâncias até a fazenda, numa época em que nem estradas transitáveis existiam. Nossos "calos" de hoje são bem diferentes, mas a disposição é igual. A sociedade agradece, os filhos também. Um abraço

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  3. Excelente texto, meu colega. Parabéns por ter separado um tempinho escrevendo sobre um tema e uma realidade sobre a qual me identifiquei, pois venho da roça e minha ajuda na fazenda do pai está planejada para acontecer, pois estou aqui trabalhando nas empresas ainda, aprendendo muito com elas também. Sem a sensibilidade de enxergarmos o valor nas pessoas é muito difícil criar as coisas com algum valor. Fernando M.

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    1. Fernando, que bom que você se identificou com o texto. Aproveite, sempre, a presença de seus pais para dizer a eles o quanto você se orgulha deles e que irá retornar um dia. Valorizar nossos pais é a primeira gratidão que brota em nossa alma quando, paramos para pensar aonde chegamos, profissionalmente e como ser humano. Um abraço e sucesso para você!

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