terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Peruano..., se Deus quiser

Não, não é o habitante andino, do Peru e sim a crença do homem do campo. A fé do homem do campo que move montanhas tem fundamento climático. Olhos para o céu, mãos firmes segurando a enxada inseparável, e a esperança renovada de um ano para o outro. Dezembro, mês das chuvas, as roças de milho, café, arroz e feijão estão viçosas e então a crença, na virada do ano, é que se a chuva continuar vai ser bom para a agricultura. Afinal, esforçou-se para lavrar a terra, semear, adubar, capinar e agora só resta esperar que “para o ano”, ou como diz o mineiro da zona rural “peruano” que vem que a chuva continue e a colheita seja boa!

O agricultor é um sábio que convive muito bem com a natureza e talvez por isso quase nunca falha a sua fé, a esperança de farta colheita. Na vida colhemos aquilo que plantamos e mais certo ainda é que só colhemos depois que plantamos. Colhemos apenas onde plantamos e melhor ainda, a colheita é infinitamente maior do que o número de grãos que semeamos. Uma semente de milho produz várias espigas com centenas e até milhares de grãos. Assim deve ser a nossa vida. Plantar sempre as sementes do amor, da esperança e da verdade. E onde? Em todos os ambientes, mas de preferencia naquele em se vive diariamente. Plantando o bem e a paz certamente colheremos felicidade, traduzida nos mesmos ingredientes, porém multiplicados como a semeadura do agricultor.

Aprendi com meu pai que, com os olhos para o céu, nos últimos dias de dezembro, exclamava: “Peruano”, se Deus quiser, a chuva vai continuar e a colheita vai ser boa! Ter feito a sua parte, a semeadura e os tratos culturais nas plantações dava-lhe a certeza de que Deus não falharia com as chuvas. Assim, restou-me a certeza de que devemos fazer a nossa parte e a colheita virá multiplicada. Esse é o segredo para se viver bem, fazer tudo a seu tempo..., viver cada dia, cada momento, como o agricultor que prepara a terra, planta a semente, cuida com extremo zelo para colher fartura. Por isso, fim de ano, enquanto muitos se preocupam em fazer longas listas de metas e objetivos para o ano que vem, lembro-me do “peruano” esperançoso do agricultor.

Portanto não planejo nada de especial que não seja para os próximos dias. Nada de longo prazo, pois a vida é curta e precisamos viver com intensidade o dia de hoje. Estar em harmonia com a família, a natureza e os amigos é importante. Tem problemas? Sim, todos os temos, mas porque não se desfazer das coisas velhas e dar lugar ao novo? Velhos hábitos pessoais, roupas velhas, arquivos de papeis ou do HD, tablet ou smartphone e até, quem sabe, uma faxina nas redes sociais, por que não? Quem teve a ideia de dividir o tempo em fatias, dando-lhe o nome de ano, fez certo, foi genial como disse Carlos Drummond de Andrade, pois o corpo humano cansa, chegando a quase exaustão ao seu final. Assim, com um brake para as festas natalinas e férias do trabalho cotidiano, as esperanças se renovam.

Que o Ano Novo, de número 2016, seja para você, como também para mim, de 365 dias vividos a cada dia, apreciado e degustado com muita alegria de se viver. Nada acontece por acaso. Desde que o mundo é mundo o ser humano sabe que tem que semear para colher. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre, disse o poeta Drummond. Olhe o Ano Novo com novo olhar. Mas, também não se esqueça de agradecer a Deus pela colheita do ano que se encerra, pois não há alegria maior que olhar para trás e sentir orgulho do dever cumprido, da vida vivida com alegria. Essa é a verdadeira felicidade, permanente.

Que a sua colheita seja farta, repleta de alegrias “peruano” que vem, 2016, que se inicia daqui a pouco.

Paulo das Lavras


Brasília, 30 de dezembro de 2015


 Um grão de milho semeado produz várias espigas com milhares de grãos.
Por isso semeie a bondade e terá farta colheita. O Ano Novo está em você

 
Sr Vico aos 84 anos. Voltando da capina para o almoço das 10:30h. Braços fortes,
mãos calejadas. Sorriso alegre..., tarefa cumprida! “Peruano” (para o ano) que vem
a chuva vai continuar e a colheita vai ser boa!
Viveu 101 anos em plena harmonia com a natureza e as pessoas ao seu redor


6 comentários:

  1. Ao ler este texto, as lembranças da simplicidade da vida no campo, do cheiro de mato vêm à tona, da expectativa renovada. E que "peruano" que vem consigamos trazer esta simplicidade cada vez mais para perto do nosso dia a dia. Obrigada Paulo das Lavras!

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    1. Que bom que você gostou, Márcia Moura.De fato, dizem os poetas e filósofos que a felicidade reside na simplicidade das coisas. E quer melhor "coisa" do que a natureza, o campo e o homem que nela trabalha e dela retira o sustento da família? Com certeza todos nós vamos usufruir dessa simplicidade "peruano" que vem. Um abraço.

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  2. Muito gostoso ler sua crônica... a gente recorda a infância dourada que tivemos. A liberdade de correr nos pastos,o quão importante a gente se sentia ao ajudar na colheita do café, brincar nas capinas dos matos que insistiam em crescer nas plantações, acompanhar a transformação das cores dos grãos de cafė...verdes depois vermelhos (que vontade eu tenho de que meus netos conhecessem de perto o que meus filhos não tiveram a oportunidade de ver)... colher milhos para transbordar a panela fumegante no fogão de lenha.Ver a transformação do grão do milho em fubá no moinho d'água...e depois comer aquele angu fresquinho com um franguinho caipira...Quantas saudades seus contos nos trazem Paulo Roberto.Como é saudosa nossa infância. Obrigada por me fazer viver esta saudade.

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    1. Adorei saber que fui capaz de despertar, com minha crônica baseada na simplicidade da vida no campo que meu pai usufruiu por 101 anos, o sentimento de gostosa nostalgia de sua infância. A colheita do café, mencionada por você, me desperta também uma saudade imensa das férias de julho, quando, meninos, íamos para a fazenda. Era a maior aventura do mundo, subir e assentar sobre a carga de café em grãos vermelhos, cheirosos e adocicados, acompanhando o carreiro conduzir os bois, pacientemente, carro cantando morro abaixo até o imenso terreiro de secagem e a tulha, onde era armazenado depois de 21 dias secando ao sol. E a troca do fubá? Levava o milho e trazia igual medida de fubá. O lucro do moleiro era sempre o volume a mais que se produzia com a mesma medida do grão e que nós, os meninos, nunca entendíamos. Ah... tempos bons, felizes. Você tem razão!

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    1. tratava-se de cópia duplicada do mesmo comentário postado um minuto antes.

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