sábado, 27 de julho de 2024

Uma viagem inesquecível

https://contosdaslavras.blogspot.com/2024/07/uma-viagem-inesquecivel.html 

 
O belíssimo e majestoso prédio do Seminário de Itaúna, onde o menino passou o ano de1958. 
Que coisa mais linda, a arquitetura e o paisagismo caprichados e por isso, além do 
significado especial, afetivo, merece ser compartilhada a experiência desse 
encontro, depois de 66 anos. Haja coração! 
Foto do autor - 2013  (clique na foto para ampliar) 


         Viagens de avião são confortáveis e rápidas quando se tem que vencer longas distâncias. Foram mil e quinhentas idas e voltas em quarenta anos de atividades profissionais, totalizando mais de duas mil e quatrocentas horas a bordo de aeronaves de todos os tipos e tamanhos, cruzando continentes e mares, como passageiro que desfrutava de conforto e tempo para leituras e reflexões. A cada uma dessas viagens pode-se acrescentar, em média,  hora e meia de espera em aeroportos, alcançando-se a expressiva marca de quatro mil horas de tempo de voo e permanência em aeroportos. Isto equivale a 500 dias de oito horas de trabalho, ou quase dois anos inteiros de minha vida laboral. Pelos registros de voos (tenho todos registrados em um diário, incluindo o prefixo da aeronave e modelo) verifiquei que alguns aeroportos, além de minha base, Brasília, destacam-se pela maior frequência, como o de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Foram mais de quatrocentos pousos e decolagens na terra das montanhas alterosas, capital dos mineiros, incluindo um pouso noturno acidentado sob tempestade de chuva e ventos, que ocasionou a quebra do Boeing e derramamento de combustível no gramado onde ficou parcialmente enterrado. Felizmente todos se salvaram e tive apenas leves ferimentos e sem que houvesse a temida explosão de toneladas de querosene de aviação espalhado, verdadeira piscina na qual quase me afoguei.  Mas, essa predominância de pousos e decolagens ali, naquele aeroporto, não podia ser diferente, pois ´Minas é minha terra natal, de onde sempre partia nos primeiros anos de minha vida profissional e para onde frequentemente me dirigia.

Quatrocentos pousos e decolagens não chegam a ser um exagero, pois, como diretor de ensino superior do Ministério da Educação - MEC, sempre visitava as instituições federais de ensino. Nosso estado de Minas é pródigo em número de instituições federais de ensino superior, detendo o maior número em todo o país. São onze universidades: UFMG, UFJF, UFU, UFLA, UFV, UFTM, UFSJ, UFOP, UNIFEI, UFAL e UFVJM. Se contarmos os novos campi vinculados a cada uma das 11 universidades mineiras, recentemente espalhados pelo interior do estado e ainda os Institutos Federais de Educação, o número ultrapassa a 50 instituições de ensino superior, um recorde nacional.

Além dessa maratona de visitas oficiais às instituições de ensino, somam-se as visitas particulares à terra natal, daí a constante presença no aeroporto de Confins. Assim, aquele destino, de cenários montanhosos, lugares queridos que despertam intensa nostalgia na alma, era lugar comum, criando uma rotina que, ao final, nem despertava curiosidade, a não ser o prazer de ali chegar e encontrar lugares e pessoas queridas. Tornou-se rotina, pegar o avião e fazer escala em BH, local de minha primeira atividade profissional, onde me casei e, por isso, por diversas vezes dava um pulinho rápido, estilo bate e volta, até o sul de Minas para visitar a querida cidade natal – Lavras.

Mas, em meio às milhares de viagens já efetuadas,  o que tornaria uma delas especial, inesquecível? Nem sempre é o fator lugar nunca visitado, desconhecido ou ainda deslumbrante. Viagem especial é aquela sonhada, desejada e planejada para conhecer ou revisitar um local marcante em seu passado e que. de certa forma, o tenha influenciado a ponto de despertar interesse durante boa parte da vida, principalmente aquela incontida vontade de retornar e rever o local.  E nesses locais incluem-se pessoas. Gente que também deixou marcas em sua vida. Quase nunca as viagens de trabalho proporcionam esse prazer, salvo honrosas exceções. Viagens que nos deixam a impressão de “inesquecíveis” são aquelas que envolvem sentimentos caros que enfeitam nossa alma. Esta viagem planejada é assim, especial, um encontro de colegas ex-seminaristas que passaram pelo internato em Itaúna-MG, no período de 1954 a 1970. Planejada há seis meses, quando foi criado um grupo de discussões nas redes sociais, tudo foi pensado com antecedência. Mais de setenta colegas foram localizados. A maioria no estado de Minas Gerais e alguns poucos no Rio de Janeiro e São Paulo, lógico Brasília também com apenas dois ex-seminaristas, o Senador Izalci Lucas e este escriba. A partir de então, as discussões se prolongaram, atingindo , às vezes uma centena de mensagens ao dia com inúmeras fotos antigas e atuais. Muitos lá permaneceram por apenas um ano letivo, cerca de dez meses, mas o suficiente para levarem consigo as mais caras recordações.

Assim, planejar a viagem para rever o lugar e encontrar os ex-colegas foi um grande prazer. Há seis meses acendeu neste menino o interesse em realizar tal viagem. Planejar, comprar a passagem aérea, reservar hotel e demais preparativos dispararam o gatilho do inconsciente, trazendo de volta as mais doces reminiscências da juventude  passadas ali no internato em Itaúna. E eis que chegou o dia.... Mas, esta é uma longa história e será contada depois. Garanto que aquela tese, de que não devemos nunca voltar ao lugar onde fomos felizes, porque o TEMPO não está mais lá, não se aplica ao presente caso. Sabe por quê? Estamos também levando o tal “Tempo”. São os nossos ex-colegas que carregam toda sua história de vida e isto é o tal “Tempo”. Aliás, a propósito, estamos na estação do inverno,  de tempo frio, mas com certeza nossos corações serão aquecidos pelo calor humano, pois afinal, esperamos 66 anos para esse Encontro. Promete e volto em breve para contar.

Brasília, 19 de julho de 2024

Paulo das Lavras 

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