domingo, 24 de dezembro de 2023

Plantas em casa, mania de agrônomo em Festa de Natal?

 

Não! Definitivamente não é uma mania de agrônomos como se poderia imaginar e nem são as poinsétias vermelhas tão comuns na época de Natal... Seria mais adequado dizer que é um costume bem antigo e que nossas mães sempre cultuaram e dela herdamos esse saudável hábito de gostar das flores em casa.  Talvez pela origem rural, quando as cidades eram ainda pequenas vilas, ao redor das quais ficavam as propriedades rurais com todas as suas atividades agrícolas de plantio de cereais e o gado pastando nos verdes campos. É sabido que o verde, com grandes espaços livres e a beleza das cores das flores, tem efeito terapêutico sobre nossas mentes.  O homem não foi criado para viver confinado e nossa ancestralidade está ligada à lida no campo, a agricultura, caça e pesca..., a Natureza no seu mais puro conceito. A mudança desse saudável hábito para o meio urbano de hoje, concentrado em arranha-céus com minúsculos apartamentos, como gaiolas suspensas de onde não se pode dar um passo além da porta da sala, tem causado elevado nível de estresse mental nas pessoas. Ninguém gosta de viver enclausurado entre quatro paredes e ainda mais nas alturas, literalmente. Nesse sentido, a saudade da Natureza, dos espaços verdes, fez com que as pessoas trouxessem para dentro de suas casas as plantas e até mesmo pequenos animais de estimação.

O efeito terapêutico das plantas em casa é notório e tem despertado os especialistas para estudos e pesquisas nessa área. A ciência já demonstrou que elas promovem o bem-estar mental, baixando o estresse, reduzindo a depressão, recupera o foco da vida, melhora o desempenho cognitivo e o humor das pessoas, além de aumentar a autoestima e a sociabilidade. Não é pouco, e tudo isso, como dito, comprovado por pesquisas científicas. Os estudos realizados em todo o mundo demonstram esses efeitos das plantas em ambientes domésticos e até mesmo em quartos de hospitais. Os hormônios do estresse (cortisóis) se reduzem sensivelmente, diminuindo a fadiga, irritabilidade e pressão arterial, pois a presença das plantas aumenta os níveis da serotonina, o hormônio da alegria, do humor. Concluíram os cientistas que cuidar das plantas aumenta a concentração da mente naquele momento, trazendo sentimento de realização em vez de ficarmos remoendo as preocupações cotidianas.  É assim quando, por exemplo, regamos a planta ou colocamos algumas gotinhas de adubo, ou ainda a removemos uma folha seca ou simplesmente assistimos o despontar de um novo broto e por último, sentir o cheiro das plantinhas aromáticas e talvez o mais emocionante, o desabrochar das flores. Aprendemos até mesmo quantos dias dura uma determinada flor, de tanto que dela cuidamos. Isto sem contar a presença de pássaros como o beija-flor que vem enfeitar as janelas, onde costumamos colocar nossas plantas ornamentais. Há, é verdade, os pássaros predadores como os periquitos, maritacas e papagaios que tudo destroem por onde passam. Mas ainda assim nos alegramos e até recordamos da passagem bíblica que diz: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimentam”. Tudo é alegria, bálsamo para a alma.

 

Dizem os especialistas que uma única plantinha já faz grande diferença e é suficiente para “mexer” com a nossa mente, pois desperta-nos o interesse de dela cuidar. E então começa o ciclo virtuoso..., os cuidados geram desenvolvimento da plantinha, vemos e sentimos esse desenvolvimento, o cheiro, as cores das maravilhosas das flores, a presença de insetos e pássaros  e tudo isso cria uma sensação positiva do humor a cada interação e a cada lembrança que nos aflora, geralmente da infância alegre, feliz. Alguém me presenteou com um vasinho de alecrim perfumado. Está em destaque na jardineira de meu quarto. A cada manhã que abro a janela contemplo o seu esplendor, retiro uma pequena folha filamentosa, macero-a entre os dedo e sinto o seu aroma inebriante. Dispara o gatilho das sinapse neurológicas e as imagens da infância afloram, com as reminiscências de minha mãe na fazenda, com seu enorme forno à lenha, varrendo com vassoura de alecrim as brasas, amontoando-as no canto circular do forno e o cheiro que exalava do alecrim queimado pelas brasas se espalhava por todo o ambiente. Ao final, os biscoitos de polvilho e as pamonhas de milho, enroladas em folhas de bananeira, ficavam também impregnadas pelo aroma do alecrim. Ah... que saudade! A mente entra em doces recordações de puro amor e como dizem e comprovaram os cientistas, a serotonina se derrama generosamente e o dia começa com alegria e de início a retribuição à plantinha com a rega matinal para enfrentar o sol forte do planalto central. Deus é sábio. Criou o Homem para viver no paraíso... a Natureza!

Cuide de uma plantinha em sua casa, apartamento, escritório ou onde quer que seja. Leve uma também, de presente, quando for visitar um amigo, até mesmo num quarto de hospital, pois ali, seu efeito terapêutico sobre o paciente será maior do que o causado em você, pois ele a contemplará  24 horas e notará mais facilmente sua beleza e a grandiosidade da Natureza.

Ah..., em tempo, sou agrônomo, paisagista, mas não tenho produção e nem comercializo flores, apenas gosto de compartilhar com os amigos essas maravilhas da Natureza... e sempre recomendo: Sejamos gratos à Natureza, pois o Solo nos alimenta na vida e nos acolhe na morte e as flores enfeitam e alegram nossa alma. E literalmente as flores enfeitaram a minha vida inteira, por isso as cultivo com amor.

 Feliz Natal!

 

                         Brasília, 24 de dezembro de 2023

                                    Paulo das Lavras 


                Segurando o pé de Alecrim, folhas filamentosas com aroma 


 
Formando um bonsai. Uma goiabeira de um ano. Em oito anos produzirá 
 frutos aqui no vaso, em janela ensolarada


 
na jardineira da chácara, a visita de um freguês predador natural... rsrs


 
Vista maravilhosa, da janela da cozinha, uma paineira rosa


 O menino nasceu no quarto dessa janela rodeada de ipês 


 O menino nasceu na fazenda rodeada de ipês e foi estudar também cercado de ipês, em Lavras.


 
.. e passou a juventude sob as flores da centenária Tipuana em Lavras. 
 Foto: Robson Rodarte


 O menino vive em Brasília há 48 anos, verdadeira cidade-parque 
 com lindo e requintado paisagismo 
Foto: Correio Braziliense


 Aqui, até o nosso “tesouro” é guardado em local rodeado de ipês 
Foto do autor


Dá para acreditar que, com esse histórico floreado e florado desde o nascimento, passando por toda a vida, literalmente, o menino não seria apaixonado pelas flores e deixaria de comprar a tradicional poinsétia vermelha, de Natal?



















 


 

2 comentários:

  1. Um feliz 2024 para você meu amigo! O seu gosto pelo cultivo de plantas está bem edificado em pilares fortes: a origem rural, o exemplo da mãe, a formação profissional e também o espaço apropriado e o tempo disponível! E, através das histórias, você semeia ideias, distribui emoções e vai cultivando amigos... Palavras também frutificam, embelezam o viver e alimentam a alma!

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    1. Maria Lúcia, prezada amiga dos tempos de colégio, suas gentis e carinhosas palavras revelam a grandeza de sua alma.
      Feliz Ano Novo

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