segunda-feira, 9 de maio de 2016

Luto... Brasília amanheceu triste

Luto... Brasília amanheceu triste. Seus canteiros de flores choram. Ozanan Coelho, o agrônomo que transformou, literalmente, a cidade num canteiro florido, partiu repentinamente. Foram 40 anos de trabalho, transformando a capital numa cidade-parque que encanta a todos os seus três milhões de habitantes e inúmeros visitantes. Sem igual no mundo inteiro! Deixou sua marca indelével em nossos corações, a beleza da cidade em flor, que tanto tenho cantado e exaltado em crônicas. Ozanan, pessoa simples e embora diretor-geral da Novacap, trabalhava com a porta aberta, como ele própria dizia. Entra quem quiser, recebo a todos igualmente e o máximo que pode levar é um não... , completava ele. Lembro-me dele desde o ano de 1980, quando solicitei-lhe, em seu gabinete e gentilmente concedeu um estágio para paisagista da UFLA. Também deixou lembranças como incentivador da criação de jardins em todas as casas, produzindo e fornecendo mudas  a preços acessíveis. Brasília é hoje exemplo de consciência ambiental, paisagística. Aqui, os jardins são os únicos patrimônios totalmente livres, sem nenhum cercamento ou policiamento e ainda assim plenamente respeitados. Nunca houve um único caso sequer de vandalismo contra as flores e jardins. Todos os admiram.


O poeta Rubem Alves aponta pelo menos uma razão para se gostar de jardins: “Um jardim é a face visível de Deus, é o seu rosto sorridente…”. E num jardim estou no paraíso, completa o autor. Plagiando a metáfora do poeta, podemos afirmar que, em Brasília, vivemos num paraíso, cercado de flores em seus milhares de canteiros e mais quatro milhões de árvores, a maioria floríferas exuberantes, além de outros tantos milhões de metros quadrados de gramados. As flores enfeitam a alma. Não é a toa que o altar das celebrações religiosas é enfeitado com flores, pois alegram mais ainda a alma e ajudam a nos aproximar de Deus. Da mesma forma enfeitamos a nossa casa, a mesa da festa, qualquer que seja. Até na morte enfeitamos a viagem para a última morada dos entes queridos, como que a alegrar-nos, sabendo que estamos retribuindo o amor que deles recebemos em vida.


Tenho certeza que o mestre jardineiro, Ozanan Coelho, terá hoje o seu féretro enfeitado em alameda florida, pois em vida ele pavimentou muito bem o seu caminho. Estarei lá para levar ao amigo e respeitado profissional, o último tributo de gratidão. Enfeitou toda a cidade, por longo tempo. Que Deus o receba com flores, da alma, pois as flores do campo nós lhe oferecemos hoje, nessa despedida para a morada final. Ainda que essas flores  que levaremos tenham sido plantadas e cultivadas por ele, no campo ou ainda inspirando, diariamente, nossa alma que aprecia e reverencia a beleza dos jardins. Por isso lhe retribuímos com gratidão. Pena que hoje, ao pegar uma flor para levar à sua despedida, nos invade um sentimento de profundo pesar, pelo passamento daquele que viveu entre elas. Como Ruben Alves, ele também será eternamente conhecido e reconhecido como o homem que enfeitou Brasília, amava as flores!

Brasília, 9 de maio de 2016

Paulo das Lavras


 

 


A Congea tomentosa, em grande e exuberante volume, em minha
chácara. Inspirada nos jardins do Centro de Convenções Ulisses
 Guimarães, da década de 1990 







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