domingo, 19 de outubro de 2025

Dia do Professor

 

 
Foto:  cortesia IStock


Ser Professor é ser um educador. E o que é um educador? Educador é aquele que é um facilitador do aprendizado. É quem inspira o aluno a buscar o conhecimento. É quem forma o cidadão ético, preparado para o futuro. Você foi assim preparado? Você é um bom “professor”? O que lhe inspirou e foi determinante para a escolha da carreira de professor?

Nesta semana, mais precisamente no dia 15  de Outubro, celebramos o Dia do Professor. As redes sociais e os jornais nos inundaram com carinhosas mensagens.  Agradeci a todas, como sempre faço, pois é uma maneira de se conservar os vínculos com os ex-alunos e isto, a gratidão dos alunos, é o maior tesouro de um professor. É a grande recompensa da vida, o reconhecimento por algo de bom que você fez e que deixou marcas. Marcas de puro amor que mesmo depois de 50 anos ou mais, os ex-alunos ainda as lembram.

Conta-se uma linda história de um ex-aluno que reencontrou seu velho mestre muito tempo depois e perguntou-lhe: lembra-se de mim, professor? Não, respondeu o mestre. Pois eu me tornei professor e a minha inspiração foi a sua atitude em relação a mim, seu aluno. E o que foi que fiz de tão especial que até lhe serviu de exemplo para também seguir essa carreira? O senhor não se lembra? Eu sou aquele aluno que um dia, em sua sala de aula, roubou o relógio luxuoso de um colega. Não, não me lembro, repetiu o velho professor. Pois bem, o senhor, ao receber a reclamação, trancou a porta da sala e disse: Todo mundo de pé, de olhos fechados, mãos sobre a própria escrivaninha, vou revistar os bolsos de cada um. Não se mexam. O senhor terminou a revista, e anunciou que já tinha encontrado o relógio e o devolveu ao seu dono. O senhor não se lembra mesmo disso, professor? Ah..., me lembro do caso, mas não do aluno que roubou, porque eu também estava de olhos fechados... Pois então, professor, aquela sua atitude, incluindo o fato de que nunca comentou com ninguém e nem mesmo me repreendeu, salvou minha vida, minha reputação, pois caso contrário eu seria mais um marginal, estigmatizado pelos colegas e quiçá por todo o colégio. Foi um ato impensado de um menino deslumbrado com a coisa alheia. Sua atitude foi a maior lição que recebi e prometi a mim mesmo que seria um professor como o senhor, para formar cidadãos, encaminhá-los na vida. Aquele meu ato impensado, pueril,  poderia ter arruinado a minha vida para sempre.  O senhor a salvou. Nunca me esqueci disso.

Antes de ser professor, a gente é aluno. Aliás, aluno a gente é sempre. Não se passa um dia sequer que a gente não aprenda algo. Aquele jovem professor da história acima, se tornou um professor porque foi aluno e se inspirou nas qualidades morais daquele  sábio mestre que cuidava de formar cidadãos para a vida. Também eu tive bons professores nos quais me inspirei. Mas o que mais me motivou foi um péssimo professor. Sim, péssimo, sem empatia e maldoso. Menino de 12 anos, da primeira série ginasial, assistia uma aula de Ciências Naturais. Encantei-me com a figura colorida, de linda pintura ou foto de um cachorro em esqueleto. Sua figura, estampada em grande quadro mural dependurado no quadro negro, mostrava apenas o esqueleto, o crâneo, a coluna vertebral, as costelas e os membros dianteiros e traseiros. Parecia um cachorro vivo, tal a sua disposição na pintura. Perfeito. Só que, ao descrever o conjunto de ossos do esqueleto, o professor mencionou as partes e a “coluna vertebral” . Ponto final. Curioso que era, conhecedor dos cães e outros animais domésticos vertebrados da fazenda, perguntei inocentemente: professor, e o rabo? A cauda  (em linguagem mais adequada) faz parte da coluna vertebral ou tem outro nome na anatomia do animal? Esta era a dúvida do menino. Ou você é burro ou quer bagunçar a aula e neste caso vai para fora da sala. Assim respondeu o irado professor, caminhando ameaçadoramente para meu lado, assentado, sempre, na primeira fileira das carteiras da sala de aula. O professor, todo vermelho, raivoso e ainda com aquela varinha de apontar no quadro negro, balançando-a ameaçadoramente, continuou com seu discurso contra o aluno “atrevido”. Restou-me apenas abaixar a cabeça  sobre a carteira escolar e chorar, de vergonha, humilhado perante toda a classe. Nunca mais me esqueci daquele terrível e dramático episódio em sala de aula. Uma curiosidade sobre o saber, se a cauda do cão fazia ou não parte da coluna vertebral e se assim poderia ser identificada, transformou-se em pornografia, na cabeça de um professor, que muitos achavam que tinha problemas inconfessáveis e talvez por isso tivesse a necessidade de negar sua condição. Situação incompreensível  para um menino de então, de uma sociedade conservadora que jamais discutia tais questões com os filhos. Tabu, tanto em casa como na escola.

Mas, a marca indelével ficou e pouco mais tarde foi transformada em desejo de ser professor..., diferente daquele de mente doentia e que não tinha empatia alguma pelos alunos ou pela Educação que deveria buscar a formação moral e ética dos jovens. Prometi a mim mesmo que seria um professor diferente, que buscaria entender os anseios do aluno e ajudá-lo a aprender, compreender a lógica das coisas e a buscar o conhecimento para que se transformasse num cidadão preparado para a vida. Aprender a aprender, sempre, e com empatia e respeito, ganhando, conquistando a confiança do aluno. Aprendi também, na Filosofia, que não existe pergunta "burra" e sim resposta idiota. Com certeza, aquela resposta idiota e a humilhação recebida, moldaram minha vontade de um dia ser um professor, diferente, com didática e métodos adequados para o ensino-aprendizagem. Durante a minha vida de professor e ainda como palestrante, sempre  vem à mente aquela resposta idiota de um professor despreparado para o magistério. Por isso, quando diretor de Ensino, no MEC, sempre financiamos cursos de atualização pedagógica para docentes do ensino superior em todas as universidades brasileiras.

Assim fui, pratiquei a arte de ensinar desde os 15 anos, quando dava aulas particulares de matemática para um senhor de 30 anos, trabalhador da Rede Mineira de Viação e que queria prestar o exame de admissão (exame vestibular) para ser aceito nos colégios. Sim, até os colégios exigiam tal exame de proficiência. Durante o curso de 2º grau fui monitor de Química e de Fitopatologia e Topografia na faculdade. Meu primeiro contrato de professor surgiu um ano após a formatura: Construções e Meio Ambiente, na ESAL/UFLA. Mais tarde, ainda no Ministério da Educação, em Brasília, acumulei a função de professor de Legislação e Ética para Engenheiros numa faculdade particular. Ainda hoje, orgulhosamente, ministro palestras em universidades, conselhos profissionais da engenharia e agronomia e órgãos públicos e privados em todo o país. Quando se abraça a profissão com amor, nunca se deixa de ser um profissional ético, que  respeita os alunos. Melhor que tudo é encontrar um ex-aluno e dele receber um abraço, relembrando seus dias de aula e o sucesso que ele, o ex-aluno, alcançou. Esta é uma das maiores recompensas que um mestre pode receber!

Orgulho de ser Professor. Meu abraço a todos os professores.

 

Brasília,18 de outubro de 2025

 Paulo das Lavras.


Com o colega Prof Charles Laughlin, defronte meu escritório na Michigan State University -1978


 
Paraninfando no UNILAVRAS - 1987 


 Com professores de Montpellier- França  - 1987 


 
Encontro Pedagógico/Redesenho Curricular – UniFor-CE 
Com Prof. Lúcia/AlmeidaFilho/ Sandra -  2012


 
Com alunos no Museu de Artes e Ofícios - Paris- 2013


 Com professores da UFLA - 2015 , celebrando 40 anos da PG 


 
Recebendo diretores do UniLavras no MEC - 2016 


 Palestrando na UFLA- 50 anos Eng. Agrícola – 04/09/2025
















 



sábado, 11 de outubro de 2025

Criança

 
O menino aos 10 anos, primeira comunhão, 
 um costume dos anos de 1950/60

 


 

A alma é movida à saudade, disse Rubem Alves. Para o poeta a alma não tem o menor interesse no futuro. "A saudade é uma coisa que fica andando pelo tempo passado à procura dos pedaços de nós mesmos que se perderam", completou o ilustre filósofo. Perderam? Será? Que nada, digo eu! O passado, a Criança que fomos, está bem aqui, nos escaninhos da alma. Criança amada, adulto feliz!

E como é bom ser criança! É tão bom que nós os pais e avós, desejamos que nossos filhos ou netos jamais crescessem e fossem eternas crianças. Elas, as crianças, passam o dia se divertindo, criando mundos mágicos sem as preocupações e aflições dos adultos e à noite, se aninham em suas camas e esperam que os pais ou  avós, venham lhe contar histórias, ganhar um beijo e o boa noite. Dormem o somo dos justos. Desconheço um pai que ao ver essa cena, ali ao lado da criança, piscando miudinho, sorrindo e caindo no sono,  não tenha derramado uma lágrima de amor e contentamento, agradecendo a Deus pela dádiva de ser o guardião do filho, aquela lama pura, inocente que sabe que tem a proteção dos pais. Criança é feliz, brinca, canta, grita o dia inteiro, numa algazarra que alegra o ambiente. Quem nunca passou defronte uma escola, na hora do recreio ? Quem nunca viu e ouviu isto num parquinho?

Ah... crianças são dádivas de Deus! Prolongam nossos dias na Terra. Cuidemos delas com muito carinho. Criança amada, adulto feliz!

Brasília,  12 de outubro de 2025

 

Paulo das Lavras



P.S - é fácil voltar a ser criança. Veja, num instante cheguei là:   

 http://contosdaslavras.blogspot.com.br/2016/07/um-seminario-na-decada-de-1950-parte-i.html