Ser Professor
é ser um educador. E o que é um educador? Educador é aquele que é um
facilitador do aprendizado. É quem inspira o aluno a buscar o conhecimento. É
quem forma o cidadão ético, preparado para o futuro. Você foi assim preparado?
Você é um bom “professor”? O que lhe inspirou e foi determinante para a escolha
da carreira de professor?
Nesta semana,
mais precisamente no dia 15 de Outubro,
celebramos o Dia do Professor. As redes sociais e os jornais nos inundaram com
carinhosas mensagens. Agradeci a todas,
como sempre faço, pois é uma maneira de se conservar os vínculos com os
ex-alunos e isto, a gratidão dos alunos, é o maior tesouro de um professor. É a
grande recompensa da vida, o reconhecimento por algo de bom que você fez e que
deixou marcas. Marcas de puro amor que mesmo depois de 50 anos ou mais, os ex-alunos
ainda as lembram.
Conta-se uma
linda história de um ex-aluno que reencontrou seu velho mestre muito tempo
depois e perguntou-lhe: lembra-se de mim, professor? Não, respondeu o mestre.
Pois eu me tornei professor e a minha inspiração foi a sua atitude em relação a
mim, seu aluno. E o que foi que fiz de tão especial que até lhe serviu de
exemplo para também seguir essa carreira? O senhor não se lembra? Eu sou aquele
aluno que um dia, em sua sala de aula, roubou o relógio luxuoso de um colega.
Não, não me lembro, repetiu o velho professor. Pois bem, o senhor, ao receber a
reclamação, trancou a porta da sala e disse: Todo mundo de pé, de olhos
fechados, mãos sobre a própria escrivaninha, vou revistar os bolsos de cada um.
Não se mexam. O senhor terminou a revista, e anunciou que já tinha encontrado o
relógio e o devolveu ao seu dono. O senhor não se lembra mesmo disso,
professor? Ah..., me lembro do caso, mas não do aluno que roubou, porque eu
também estava de olhos fechados... Pois então, professor, aquela sua atitude,
incluindo o fato de que nunca comentou com ninguém e nem mesmo me repreendeu,
salvou minha vida, minha reputação, pois caso contrário eu seria mais um
marginal, estigmatizado pelos colegas e quiçá por todo o colégio. Foi um ato
impensado de um menino deslumbrado com a coisa alheia. Sua atitude foi a maior
lição que recebi e prometi a mim mesmo que seria um professor como o senhor,
para formar cidadãos, encaminhá-los na vida. Aquele meu ato impensado, pueril, poderia ter arruinado a minha vida para
sempre. O senhor a salvou. Nunca me
esqueci disso.
Antes de ser
professor, a gente é aluno. Aliás, aluno a gente é sempre. Não se passa um dia
sequer que a gente não aprenda algo. Aquele jovem professor da história acima,
se tornou um professor porque foi aluno e se inspirou nas qualidades morais
daquele sábio mestre que cuidava de formar cidadãos para a vida. Também
eu tive bons professores nos quais me inspirei. Mas o que mais me motivou foi
um péssimo professor. Sim, péssimo, sem empatia e maldoso. Menino de 12 anos,
da primeira série ginasial, assistia uma aula de Ciências Naturais. Encantei-me
com a figura colorida, de linda pintura ou foto de um cachorro em esqueleto.
Sua figura, estampada em grande quadro mural dependurado no quadro negro,
mostrava apenas o esqueleto, o crâneo, a coluna vertebral, as costelas e os
membros dianteiros e traseiros. Parecia um cachorro vivo, tal a sua disposição
na pintura. Perfeito. Só que, ao descrever o conjunto de ossos do esqueleto, o
professor mencionou as partes e a “coluna vertebral” . Ponto final. Curioso que
era, conhecedor dos cães e outros animais domésticos vertebrados da fazenda,
perguntei inocentemente: professor, e o rabo? A cauda (em linguagem mais
adequada) faz parte da coluna vertebral ou tem outro nome na anatomia do
animal? Esta era a dúvida do menino. Ou você é burro ou quer bagunçar a aula e
neste caso vai para fora da sala. Assim respondeu o irado professor, caminhando
ameaçadoramente para meu lado, assentado, sempre, na primeira fileira das
carteiras da sala de aula. O professor, todo vermelho, raivoso e ainda com
aquela varinha de apontar no quadro negro, balançando-a ameaçadoramente,
continuou com seu discurso contra o aluno “atrevido”. Restou-me apenas abaixar
a cabeça sobre a carteira escolar e chorar, de vergonha, humilhado
perante toda a classe. Nunca mais me esqueci daquele terrível e dramático
episódio em sala de aula. Uma curiosidade sobre o saber, se a cauda do cão
fazia ou não parte da coluna vertebral e se assim poderia ser identificada,
transformou-se em pornografia, na cabeça de um professor, que muitos achavam que tinha problemas inconfessáveis e talvez por isso tivesse a necessidade de negar sua condição.
Situação incompreensível para um menino de então, de uma sociedade
conservadora que jamais discutia tais questões com os filhos. Tabu, tanto em
casa como na escola.
Mas, a marca
indelével ficou e pouco mais tarde foi transformada em desejo de ser
professor..., diferente daquele de mente doentia e que não tinha empatia alguma
pelos alunos ou pela Educação que deveria buscar a formação moral e ética dos
jovens. Prometi a mim mesmo que seria um professor diferente, que buscaria
entender os anseios do aluno e ajudá-lo a aprender, compreender a lógica das
coisas e a buscar o conhecimento para que se transformasse num cidadão
preparado para a vida. Aprender a aprender, sempre, e com empatia e respeito,
ganhando, conquistando a confiança do aluno. Aprendi também, na Filosofia, que
não existe pergunta "burra" e sim resposta idiota. Com certeza,
aquela resposta idiota e a humilhação recebida, moldaram minha vontade de um
dia ser um professor, diferente, com didática e métodos adequados para o
ensino-aprendizagem. Durante a minha vida de professor e ainda como
palestrante, sempre vem à mente aquela resposta idiota de um professor
despreparado para o magistério. Por isso, quando diretor de Ensino, no MEC,
sempre financiamos cursos de atualização pedagógica para docentes do ensino
superior em todas as universidades brasileiras.
Assim fui,
pratiquei a arte de ensinar desde os 15 anos, quando dava aulas particulares de
matemática para um senhor de 30 anos, trabalhador da Rede Mineira de Viação e
que queria prestar o exame de admissão (exame vestibular) para ser aceito nos
colégios. Sim, até os colégios exigiam tal exame de proficiência. Durante o
curso de 2º grau fui monitor de Química e de Fitopatologia e Topografia na
faculdade. Meu primeiro contrato de professor surgiu um ano após a formatura:
Construções e Meio Ambiente, na ESAL/UFLA. Mais tarde, ainda no Ministério da
Educação, em Brasília, acumulei a função de professor de Legislação e Ética para
Engenheiros numa faculdade particular. Ainda hoje, orgulhosamente, ministro
palestras em universidades, conselhos profissionais da engenharia e agronomia e
órgãos públicos e privados em todo o país. Quando se abraça a profissão com
amor, nunca se deixa de ser um profissional ético, que respeita os alunos. Melhor que tudo é encontrar
um ex-aluno e dele receber um abraço, relembrando seus dias de aula e o sucesso
que ele, o ex-aluno, alcançou. Esta é uma das maiores recompensas que um mestre
pode receber!
Orgulho de ser
Professor. Meu abraço a todos os professores.
Brasília,18 de outubro de 2025








