sexta-feira, 18 de abril de 2025

Amigos que se vão – Ângelo Delphim

 
O site Historiaufla Lavras, postou: O Encontro de História, projeto da UFLA, se solidariza com a família do Ângelo  e reconhece o legado dele para Lavras. Ângelo até nos últimos dias antes da sua partida sempre recebeu e atendeu
  a todos informando sobre a história de Lavras. E tinha projeto para a cidade que queria realizar mesmo com a 
saúde debilitada e aposentado. 
Fonte: poStedosrn 5fe7uàh1: alt h0f51 iglada4f3t6fl30iibrl1587a13cs






... Em todo tempo ama o amigo e  na angústia se faz o irmão”.
Provérbios 17:17





      Feliz daquele que cuidou da vida de seus entes queridos preparando-os para a partida. Somente assim a alma será recompensada com  a alegria do amor dedicado aqueles que sempre  nos amaram. Viva sua vida de forma que o medo da morte nunca possa entrar em seu coração. Sim, esta é a maneira mais amorosa e digna para os momentos finais, seja de outrem ou  de nós próprios. Ler o amoroso texto que Carlos Delfim escreveu sobre seu querido irmão, Ângelo, foi muito emocionante. E daqui, à distância, sem poder dar um abraço  e compartilhar o pesar, a dor parece mais forte e o impacto soa mais dolorido na alma. Um pedaço de nós que se vai para sempre. Aqui, distante 1.000 km, me ponho a pensar para que servem os velhos amigos? Desde as primeiras linhas de seu texto já se notava que a crônica se referia a alguém muito especial e que partiu para sempre. Especial no  sentido de diferente, alguém de grande coração, amoroso que não conseguia ver alguém sofrer, sem que o protegesse.


    Prezado Carlos, não era só a você que Ângelo “protegia”, caso alguém descobrisse suas estripulias. Seu irmão tinha um enorme coração. Todos os lavrenses dizem isto. Estou fora de Lavras há 50 anos, mas nunca perdi os contatos  com os amigos, especialmente os colegas da UFLA.  Nos primeiros 30 anos de ausência minhas visitas eram quase que mensais, pois ainda mantinha negócios na cidade. Bastava assentar-se, ali na praça, o Jardim de Lavras, bem defronte à Igreja do Rosário e Banco do Brasil para encontrar-se com grande parte dos amigos, ou então ir aos campi da UFLA, o antigo e o novo. Ultimamente as visitas se restringiram a apenas duas vezes ao ano. Ângelo era um dos que sempre encontrava e sempre com o mesmo sorriso e finesse. Gostava de entrar naquele lindo casarão e eu reclamava da entrada de seu escritório na rua lateral, a Gastão Maia. Para compensar, me levava para a copa, onde Vera, sua irmã já tinha preparado café com fartas e deliciosas quitandas que não encontro por aqui, em Brasília.


    Você afirmou que ele “não media o tempo dispendido mostrando a quem visitava o museu que dirigia, prestando informações aos visitantes”. Não era somente isso. Muito mais. Amava o que fazia e presenciei isto inúmeras vezes, fosse com autoridades ou simples cidadãos. Certa vez nos encontramos próximo ao Museu, pois estava hospedado na Casa de Hóspede (antiga casa do diretor da Esal, ao lado do prédio Álvaro Botelho, sede do Museu) e comigo estavam os quatro filhos de idades entre 08 e 10 anos. Ele os conduziu a uma visita de mais de uma hora em todas as dependências do Museu, que ele cuidava com tanto carinho. Adoraram a inesperada visita. Maravilharam-se com as relíquias desde os tempos da escravidão e outras curiosidades. Hoje, 40  anos depois, mesmo não tendo mais o encontrado, se lembraram daquela atenciosa e interessante visita e ficaram muito entristecidos com sua partida.  Ângelo era assim, sabia cativar para sempre!


    Em 2013, promovi, com patrocínio da Ufla, o lançamento de um livro de Carlos Murilo, daqui de Brasília, ex-secretário de JK e muito amigo de Lavras. Evento bastante concorrido e o amigo Ângelo Delphim lá estava a nos prestigiar. Em 2017 ele havia passado por problemas de saúde e uma amiga, Maria José Valladão, organizou a meu pedido uma visita coletiva a ele. E lá fomos nós, quatro amigos tomar um café com ele, numa lanchonete logo acima de sua casa. Depois disso, ele passou a dar notícias de sua saúde nas redes sociais e pude sentir que ele, indiretamente, estava mandando recado aos amigos: gente, estou aqui... Assim, para  homenageá-lo e a outros velhos amigos que eu sempre visitava em BH e Lavras, escrevi, em fevereiro de 2018, uma crônica, onde eu perguntava “para que servem os velhos amigos?”. Lá estão, nessa crônica, Ângelo Delphim, Nelson Werlang, Juca e o filho Claret Mattioli, Luiz Teixeira da Silva e tantos outros, com fotos,  agradecimentos pela amizade e atenção, conforme pode ser visto nos links abaixo indicados.  


    Ano passado, em setembro de 2024, fui à Lavras receber uma homenagem nas comemorações da milésima tese de Mestrado, cujo curso inaugurei, quando ali fui Pró-reitor de Pós-Graduação e ao passar pela rua Santana, logo no seu início, pedi ao motorista para parar o carro. Desci, dispensei-o e bati à porta daquele belo casarão, residência de Ângelo e Vera, sem aviso prévio. Fui logo apelando diante do não reconhecimento deste desconhecido forasteiro: “Sou colega de universidade de Ângelo, vim de longe e gostaria de abraçá-lo”. Fui logo conduzido ao seu escritório, onde ele estava e aparentemente gozando de boa saúde. Estendemos a conversa por longo tempo, seguindo-se o café servido e acompanhado por sua irmã Vera. Cobrou-me a entrega de uma arado de aiveca que pertencera a meu pai e já prometido, desde o ano anterior, para o seu recém-criado Museu Rural. 


    Carlos e Vera..., não deu tempo de levar aquela peça até o Museu, fundado por Ângelo. Ele partiu antes e nos deixou, a todos comovidos. Era meu plano criar expectativas e chegar aí sem aviso, com minha SUV e a surpresa ali dentro bem à vista. Eu tinha certeza de que seria uma imensa alegria, pois contei a ele, numa postagem nas redes sociais, em 2023, o carinho e a história daquele lindo arado agrícola, que alimentou toda a família, pelas mãos de meu pai, aí nas fazendas em Lavras, nos idos de 1940 a 60. Não deu tempo de levá-lo e ver essa alegria inata, dele, embora o tenha visitado por três vezes depois disso, mas sempre por meio de viagens aéreas. Agora, vou abreviar a entrega, com amor redobrado pois, o  Ângelo Alberto de Moura Delphim foi muito mais do que nos foi contado em sua crônica. Vejam as inúmeras homenagens que recebeu em vida, da UFLA, IHGL. Gammon, Câmara Municipal, Rotary e tantas outras, merecidas. Acrescentei, neste texto e em outras crônicas , um pouquinho mais de histórias sobre sua vida, mas, de cada lavrense que encontrarem, vocês ouvirão muitos outros casos dele e sobre ele. Alma pura, coração doce que a todos alegrava. Para terminar, repito aqui, parte de seu texto: Ângelo, um anjo, deixa o mundo terreno, retornando às alturas celestiais. Que Deus o receba como um filho amado.
 

    Ângelo Delphim nos fez irmãos. Que o canteiro de flores que você preparou e semeou no quintal da casa dele, apenas um dia antes de sua partida para a Glória Deus, floresça e sempre que você ali voltar, possa admirar a beleza das flores e se lembrar com muito mais carinho do querido irmão, que também amava os jardins floridos. Foi seu presente a ele, desenhado por Deus. Seu jardineiro sabia disso, apenas não soube se expressar direito, mas também sentiu a despedida. Coisas de Deus. Ângelo partiu em paz no dia seguinte e o canteiro de flores florescerá em breve. Este é mais um conforto que Deus proporciona para a  nossa alma. Doravante nos restará a saudade, muita, mas muita mesmo,  principalmente a você e Vera que estarão mais em contato com a sua lembrança, a começar por esse novo canteiro de flores. E o que é a saudade, senão o amor que fica? Meu abraço de pesar  a todos os familiares, na certeza de que a memória desse grande e humilde homem ficará gravada para sempre em nossa terra natal. .

“... Em todo tempo ama o amigo e  na angústia se faz o irmão”,  diz o provérbio bíblico.
Amém!


Brasília, 18 de abril de 2025
      
 Paulo das Lavras



Muitas vezes bati à porta desse lindo casarão, residência e escritório de Ângelo Delphim.
 Longas conversas regadas a cafezinho e deliciosas quitandas
Foto: família Moura Delphim



O jovem Ângelo Delphim,  aos 26 anos
Foto: Rogério Salgado 




Em 2013, na Casa Rosada, no lançamento do livro sobre JK. Alegria, ladeado por
 dois velhos amigos que infelizmente nos deixaram, Ângelo e Claret Mattioli.
Foto do autor 



Em setembro de 2017, a amiga Maria José Valladão organizou, a nosso pedido, 
essa visita ao amigo Ângelo, para um café em lanchonete, ao lado e sua casa. 
Foto do autor











Um arado agrícola para o Museu Rural, criado por Ângelo Delphim. 
O Prof. da UFLA, Ricardo Sette, quando esteve em minha chácara, 
fez questão de ser fotografado  ao cabo daquela simples máquina 
que também foi utilizada por seus pais.
Ferramenta largamente utilizada em Lavras na primeira metade do século XX. 
Relíquia de minha família, será entregue, em breve, ao Museu Rural de Lavras.
Foto do autor 




P.S.  - Sugerimos acessar os links abaixo, de outras crônicas sobre Ângelo Delphim  (copie e cole),:

https://contosdaslavras.blogspot.com/2018/02/velhos-amigos-para-que-servem.html 

https://www.facebook.com/angeloalberto.demouradelphim/posts/2706081279542081 

 








 

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Um aniversário em tempos de Covid

 


Estava na chácara, tranquilo, cumprindo a quarentena imposta pela pandemia do Covid-19  e não pretendia vir para a cidade. Um pouco triste por não poder receber os netinhos para o indispensável bolo com velinhas e guaraná, já estava até resignado. Logo após o almoço, no entanto, instado que fui, partimos para a cidade. Ao chegar em casa, fui  logo “obrigado” a levar para o porteiro algumas frutas trazidas da chácara. Foi apenas um pretexto para que eu me deslocasse até à portaria do prédio. 

Ali estava a grande surpresa que sequer desconfiei. Lá estavam, recém chegados e estacionados, três carros conhecidos e deles desceram três famílias, as de duas filhas e uma terceira de amigos comuns de todos nós. Cada qual com seu filho, três crianças, os dois netinhos de 12 e 11 anos e o amiguinho deles que também me chama de vovô. Alinharam-se, respeitadas as distancias mínimas de dois metros impostas pelas regras sanitárias contra o Covid-19 e entoaram o famoso “Parabéns para você...”

Mudo, ali estatelado, do alto das escadarias e a uns cinco metros de distância e  contendo as lágrimas de emoção, ouvi o tradicional “parabéns” . Em seguida a linda oração proferida por Pedro Henrique, pedindo as bênçãos de Deus sobre mim, concedendo-me saúde e que Ele acabasse, bem depressa,  com a quarentena do coronavírus, pois estava com muita saudade do vovô, de seu abraço, vir à sua casa e tudo mais.

Depois de três semanas de afastamento social, privando-nos do convívio diário com os netos, do abraço, das prosas, do sorvete e das constantes visitas às bancas de jornais, futebol de salão e de gramados, aulas de inglês, estudos de matemática, geografia e história..., não foi fácil  se segurar, me segurar ali, estático, contra o ímpeto de pular escadarias abaixo e abraçar, agradecer e compartilhar aquela alegria incontida com os meninos, seus pais e muito especialmente pela sincera oração do menino de 11 anos, pura, brotada do coração.

Agradeci a Deus, recolhi a tristeza momentânea e reforcei o pedido para que eu ainda possa abraça-los muito em breve. E ao final, também reconheci que tive de esperar 75 anos para ter um aniversário sem bolo com velinhas e com discurso de todos os presentes, adultos e crianças, de alto e bom som, em razão da distancia sanitária e show gratuito para os demais moradores que chegaram à janela.   Amém!


Brasília, 05 de abril de 2020

Paulo das Lavras