(nº 1 da série: Minha vida nos EUA)
O jovem executivo numa pausa de fim de emana para conhecer alguns pontos turísticos.
Na Staten Island-NY, visitando a Estátua da Liberdade.
Ao fundo as Torres Gêmeas que foram explodidas, anos depois, por dois
grandes aviões de passageiros, pilotados por terroristas .
Foto do autor – 1977 – colorizada by Rogério Salgado
Quantas casas você já teve? Ou melhor, quantos lugares você visitou, ou passou temporadas de trabalho ou lazer e guardou recordações a ponto de considerar o local como sua segunda casa? Poucos tiveram a chance de estar e trabalhar em tantos lugares como eu. Estive em mais de uma centena de lugares, a metade no Brasil e a outra no exterior, nas Américas do Sul, Central e do Norte e Europa. Em todos esses lugares passamos temporadas de trabalho, desempenhando missões de governo na área da educação agrícola superior. Rica experiência, não somente profissional como também social. Conhecer a história de diferentes povos, tanto em nosso imenso país como em outros continentes, conviver com seus costumes, tecnologias, comidas e até mesmo a vida familiar em novos contextos, nos trouxeram muitas alegrias e surpresas. Em muitos desses locais a acolhida foi tanta que até nos sentíamos em casa. Foi com esse sentimento de pertencimento, de sua casa, que assisti perplexo, ao vivo, a criminosa explosão das Torres Gêmeas de Nova York, que aparece ao fundo da foto que abre esta crônica.
Sentir-se em casa? Ah..., em termos, e isto se refere à boa acolhida e aos amigos que lá deixamos, pois, o que contava mesmo e considerado o melhor da viagem... era o regresso, a volta para casa depois de longas temporadas longe do seu lugar. Mas, isto não nos impediu de criar vínculos afetivos com locais visitados mais frequentemente, como Belo Horizonte, onde morei por um ano e a frequentava, mensalmente, por mais de vinte anos seguidos e agora pelo menos uma ou duas vezes ao ano. Também São Paulo, a capital e a aprazível e progressista cidade de São Carlos, onde estudei engenharia ou em East Lansing, em Michigan, Estados Unidos. Ali trabalhamos por temporadas, durante três anos, administrando 250 professores brasileiros matriculados em cursos de doutorado nas universidades norte-americanas. O mesmo podemos dizer da França onde também desempenhamos missões de governo em temporadas, no decorrer de mais de quatro anos. E a terra natal? Ah, esta é hors concours. Das centenas de crônicas já publicadas. 99% se referem ou citam o lugar onde nasci e o deixei há exatos 50 anos, justamente para correr o mundo, literalmente.
Nesses mais de 50 anos de profissão, sendo quarenta e três com carteira assinada, de terno e gravata, sujeito às jornadas superiores a dez horas e os demais anos como consultor educacional, muitos causos e eventos marcantes se passaram em diversos desses lugares onde trabalhei. As narrativas a seguir não seguem necessariamente a ordem cronológica dos fatos e se restringem aos eventos ocorridos apenas nos Estados Unidos. E neste país, acabei criando vínculos e sempre há um desejo latente de voltar e rever a casa. Minha segunda casa por mais de três anos e a qual revisitei 10 anos depois. Na verdade, foi uma visita de trabalho, de uma semana inteira, bem ali no centro político do mundo, no Departamento de Estado, em Washington-DC.
Um célebre ator americano produziu um filme de muito sucesso – We Are The World e ao final contou que seu pai lhe recomendara: “... filho, aproveite quando for para casa, porque vai haver um momento em que você não poderá voltar para a casa”. Mas, pai, o que quer dizer com isso? ... Vai haver um momento em que as pessoas não vão estar mais lá. A casa estará, mas os entes queridos não”. Assim é a vida, com o tempo não será mais possível reencontrar as pessoas que amamos ou que um dia dividimos tarefas, compartilhamos alegrias, vitórias e derrotas. Embora falaremos apenas de nossa vida nos Estados Unidos, cabe registrar que deixamos, há mais de 50 anos, a terra natal de Lavras, no sul de Minas, território cheio de tradições históricas e na qual minha família se insere desde sua fundação. Nesse tempo de caminhadas encontrei em diferentes lugares novos amigos, aqui e no exterior. Carrego comigo o sentimento de que um dia, ali também foi minha casa. Mas, tempus fugit ! É hora de reencontros e assim, outro dia, 20/07/2024, marquei encontro com o passado de 66 anos. Reunimos quase uma centena de ex-colegas de internato do Seminário de Itaúna. Foi como voltar à casa, repleta de entes queridos. Mais de sessenta anos depois “a casa” estava lá, com os entes queridos, setentões e alegres. Agora, passados cinquenta anos de minhas andanças pelos EUA, lá voltarei em novo cross country tour e pelo menos em um local, sei que vou encontrar uma sobrinha que lá vive e trabalha numa empresa multinacional de produção de blueberry, o mirtilo que, aliás, começa a ganhar mercado no Brasil.
Mas, vamos aos casos, de uma série de mais de uma dezena de crônicas, começando pelo roteiro de viagens (Cross country tour nos EUA) e passando por muitas cidades daquele imenso país. Embora a missão tenha sido profissional, não entraremos em detalhes técnicos dos trabalhos ali desenvolvidos. Apresentaremos ao final, na 13ª crônica, alguns dos resultados técnicos de nosso trabalho naquele país, com o título: Minha vida nos Estados Unidos e o progresso das Ciências Agrárias no Brasil.
Estados Unidos – Um sonho?
Quando menino do 2º e 3º anos do curso ginasial, atuais 7ª e 8ª série do ensino fundamental, os professores de geografia exigiam que os alunos desenhassem um mapa de cada um dos principais países do mundo e nele fossem localizadas as principais cidades. Os professores de línguas estrangeiras exigiam, por outro lado, que decorássemos a conjugação de verbos e vocabulários temáticos, como viajando de trem ou avião, se registrado em hotéis, frequentando restaurantes e museus, encenando assim a nossa presença numa grande cidade europeia (na década de 1950 e início dos anos 60, o Brasil era fortemente influenciado pela cultura francesa, passando, em seguida para a influência norte-americana do pós-guerra. Os professores eram tão exigentes que acabávamos memorizando a geografia dos principais países. Na década de 1950 falava-se muito da Inglaterra, França, Alemanha e Itália e muito pouco sobre Portugal, nossa pátria mãe. Hoje, distante no tempo, analisando as possíveis razões para isso penso que foi por causa do protagonismo daqueles países nas guerras mundiais. Por aqui, era notória a influência tecnológica da Inglaterra que dominava o mundo e o abastecia com suas modernas tecnologias e produtos de qualidade em ferrovias, navegação, tecidos, louças e utensílios domésticos, além de máquinas industriais - até mesmo a famosa enxada de capinar, da marca Duas Caras, tinha origem na similar inglesa Two Faces. No campo da cultura e das artes, a França imperava no Brasil. Moda e perfumes, somente parisienses. O idioma francês era ensinado desde o primeiro ano do ginásio (6ª série do ensino fundamental de hoje), ou seja, logo aos 10 ou 11 anos de idade dos estudantes. O idioma inglês começava um ano depois, no 2º ano. Já o idioma Espanhol só era ensinado em um único ano, no curso Científico que corresponde hoje ao ensino médio, quando os alunos têm em média, 15 ou dezesseis anos de idade. Mas, o interesse do Brasil, no campo de ensino de idiomas, mudou após a Segunda Grande Guerra. Os Estados Unidos passaram a ser o grande protagonista no campo da economia mundial. Antes mesmo do término da grande guerra, os EUA convocaram a famosa Conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, criando um sistema monetário e financeiro internacional para o pós-guerra, determinando dentre outras decisões, que o dólar seria a moeda padrão do mundo. A partir de então passou a liderar as políticas mundiais de reconstrução e desenvolvimento dos países que participaram da guerra ou sofreram consequências. O Brasil participou da citada conferência, tendo inclusive coordenado a primeira reunião da ONU- Organização das Nações Unidas. Foi então que se criou o Fundo Monetário Internacional e o BIRD, braço financeiro da reconstrução mundial, sempre com a liderança dos EUA. Foi na esteira dessa Conferência que também se criou a USAID, a agência norte-americana de assistência internacional que, hoje vem sofrendo duros ataques por parte do próprio governo americano que está prestes a fechar, encerrar em definitivo as atuações dessa agência. Naquele contexto de pós-guerra, o Brasil alinhou-se às políticas emanadas de Whashington, assinando vários convênios de cooperação, destacando-se os acordos Militar (rompido por Geisel em 1978) e o da Educação, tendo como agente coordenador e financiador a USAID.
Voltemos, pois, à influência americana no Brasil e no mundo do pós-guerra. No campo da cultura predominavam os filmes hollywoodianos, os farwest e todos os demais gêneros. Na minha cidade, Lavras, não se passavam outros filmes que não os americanos, à exceção de um ou outro francês. Os carros americanos começaram a chegar em abundância e houve grande ampliação de revendas das marcas GM/Chevrolet, Ford e Willys , responsáveis à época por mais de 80% das vendas de automóveis, furgões, caminhonetes e caminhões em todo o Brasil. No âmbito das indústrias, o Tio Sam tratou logo de financiar a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, ainda no decorrer da guerra mundial. Financiou a indústria de base nacional, estradas e incrementou a produção automobilística, implantando fábricas nacionalizadas das gigantes GM- Chevrolet (1957), Ford (1958) e outras, chegando a dominar 48% dos investimentos durante o governo JK.
“No way”, sem chance, estava tudo dominado a partir dos anos 60 com supremacia inconteste, econômica, industrial, militar e cultural. E o menino das Lavras não foi diferente, sofreu toda essa influência cultural e tecnológica. Aprendeu a conversação fluente do inglês já aos 15 anos, depois de dispensar o curso de Alemão, oferecido gratuitamente pelo Padre Erico Alher, então diretor do Colégio Aparecida, onde estudava. Preferiu o cursinho gratuito, do Peace Corps. Não sabemos ainda, mas é bem provável que sim, se esta ONG também estaria engajada na política americana descrita nos arquivos da Biblioteca LBJ, como um dos braços da Casa Branca, que utilizava seus serviços de inteligência para obter informações, como era o caso da USAID e que hoje está sob acusação e investigação do governo americano e ameaçada de ser fechada em definitivo. No entanto, essa realidade fugia à compreensão do menino que estava interessado apenas em praticar o idioma inglês com o jovem americano Bob, no Colégio Carlota Kemper , todas as noites, de segunda a sexta feira. Era um prazer conversar e praticar o idioma estrangeiro com o simpático jovem voluntário do Corpo da Paz. Mais tarde o menino matriculou-se no Yázigi, da professora Eliany Cicarelli, em salas do edifício onde funcionava a sede do Centro Acadêmico de Agronomia e a Rádio Cultura de Lavras. “No way”...., a cultura americana já estava impregnada no menino que gostava de John Kenedy e dos pop rocks Elvis Presley, Chubby Checker, Paul Anka, The Platers, .... and so on... Não havia internet naquela segunda metade do século passado e as únicas fontes para se ouvir a língua inglesa eram as rádios The Voice of America – VOA e a BBC-Londres. Músicas? Ah..., estas tocavam o dia inteiro nas rádios de Lavras, Rio e São Paulo, as mais sintonizadas na região.
Interessante notar que o menino, ainda com os mapas desenhados por ele mesmo, aos 13 anos, sabia de cor e salteado a localização das principais cidades, L.A., S.F. Detroit, Chicago, New York, a capital Washington-DC e outra não menos famosa: Miami, cuja grafia era lida como se fosse “me ame”, em português e não “maiemi”, com pronúncia em inglês (interessante notar que em todos os países latino-americanos se pronuncia daquela forma, tal qual o menino lia antes de dominar o inglês). O menino sabia de cor a sua localização, ao sul da Flórida, mas, nunca imaginou que um dia conheceria aquela cidade com o esquisito nome “me ame”, com dois “i” e menos ainda que trabalharia naquele enorme país com imensas distâncias que chegam a 4.500 km de costa a costa e cerca de 3.000 km de norte a sul.
Foi assim que lá cheguei, sem previamente almejar e sem nada buscar. Simplesmente cheguei para trabalhar, cumprir uma missão de governo, instalando-me em amplo escritório na Michigan State University. Logo em seguia iniciei meu cross country tour cruzando os quatro cantos dos EUA. Chegava via Miami ou Nova York, duas vezes ao ano e em outras ocasiões também pela capital Washington, para temporadas de três a seis semanas no gelado estado do Michigan, mais ao norte, na região dos Grandes Lagos. Dali partíamos em constantes viagens para visitas a quase duas dezenas das 32 universidades norte-americanas, com as quais mantínhamos contratos para treinamento de nossos 250 professores brasileiros em cursos de PhD e especializações, da área de ciências agrárias. De nosso escritório, do Brazil-MEC/MSU Project, em East Lansing, partíamos em longos voos, de Lansing, a capital do estado de Michigan. Deste seguíamos para Detroit ou Chicago com um dos maiores e mais movimentados aeroportos daquele país (O´Hare, que, à época, operava com pousos e decolagens a cada 20 segundos). A partir destes nos dirigíamos para a costa leste, em Nova York, Virgínia, Washington-DC, Carolina do Norte e Flórida, ou para o centro, norte e sul como Ohio, Illinois, Wisconsin, Indiana, Texas, Novo México, Georgia, Arizona e para a costa oeste, na Califórnia, em verdadeiro cross country tour que movimentava todo um staff de apoio, dirigentes universitários e boa parte das mais de duas centenas de bolsistas de nosso projeto financiado pelo Acordo MEC-USAID/ AID 512 - L 090.
East Lansing – Michigan, nosso Headquarter
Nosso escritório central nos EUA, com um staff de 12 colaboradores, situava-se nas dependências do Latin American Studies Center- LASC, no campus da Michigan State University, em East Lansing, ao lado da capital do estado, Lansing. Não foi pouco tempo naquele local, cuja coordenação direta estava a nosso cargo. Inaugurado em 1974, funcionou até junho de 1978, quando encerrou-se em definitivo o Acordo de Empréstimo AID 512- L 090 e o contrato com a Michign State University. Também não foram poucas milhas percorridas, com centenas de horas de voos, estada em aeroportos e hotéis, sem contar as inúmeras reuniões de trabalho na USAID, no Departamento de Estado, na capital americana, e em várias das 32 universidades daquele país, contratadas para o treinamento dos professor brasileiros. Nessas universidades eram discutidos os projetos de treinamento em cursos de doutorado, cuja maioria das pesquisas foi realizada no Brasil, com a participação in locco, dos professores orientadores. Em todas essas viagens estivemos acompanhados por eficientes secretárias, como Mrs. June Mills, de nosso escritório de Michigan que se encarregava da logística e preparo das agendas de serviço em cada local e elaboração de memorandos de cada evento.
Com a secretária, Mrs June Mills, nos jardins do edifício do Latin American Studies Center, na Michigan State University, onde se situava nosso Escritório. Eficiência e cordialidade no trato das complexas relações de nosso Projeto MEC/MSU- Brazil-MEC Project, AID 512-L 090 com 32 universidades norte-americadas e ainda a agência financiadora, USAID e o Departamento de Estado. Sua dedicação foi exemplar e conseguimos chegar a bom termo com todos os 250 professores brasileiros que lá estavam matriculados em treinamento nos cursos de PhD e Mestrado na área de Ciências Agrárias.
Foto do autor – LASC/MSU-MI, 1976
Os americanos são extremamente organizados, metódicos e isto facilitava nossos trabalhos. Qualquer reunião era seguida de relatório escrito e registrado. Até mesmo as conversações à distância, por telefone, eram transcritas em Memorandos que chegavam imediatamente via telex ou ofício. Por isso, causou-nos grande estranheza e constrangimento. quando de nossa participação na International Conference on Agricultural Higher Education, patrocinada pela USAID-W e realizada de 02 a 08 de outubro de 1988, em Reston- VA. Havia 26 países, 116 participantes, mas, sobre a mesa apenas 25 relatórios impressos à disposição dos participantes estrangeiros. Faltou um..., justamente o do Brasil. Algo de errado deveria ter acontecido. Como pôde ocorrer tamanha falha, justamente o relatório daquele país, o Brasil, que melhor aproveitou os recursos financiados pela USAID, dobrando as metas de treinamento de docentes em cursos de PhD ali nos EUA? Seus impactos na educação agrícola superior e no desenvolvimento agrícola do Brasil foram notáveis. Ficamos a imaginar, ali, surpresos, de que adiantou abrir a portas e arquivos do MEC e das Universidades brasileiras, especialmente da UFRGS e UFV, UFMG, UFRRJ, UFC e ESALQ-USP, para a comissão da USAID-W verificar o desempenho do programa de empréstimo daquela Agência Internacional? Por mais de um no e meio (1986/88), a comissão especial da USAID estudou a questão aqui no Brasil. Coordenada pelo professor William B. Lacy, do College of Agriculture/University of Kentucky e Margaret Sarles/USAID, passaram semanas no MEC e visitaram universidades brasileiras que participaram do referido programa, decorrente do Acordo de Empréstimo daquela Agência Internacional. Conheciam todos os resultados e os impactos positivos que o programa desempenhou em nosso país. Mas, a USAID não liberou o relatório final. Foi bastante frustrante não encontrar ali o relatório da Agência sobre o desempenho do Brasil naqueles acordos de empréstimo. De qualquer forma, apresentamos para os outros 115 participantes do mundo inteiro e dos Estados Unidos, nosso volumoso relatório com os números comprovados do excelente desempenho do Projeto AD-512-L-090, em forma de slides e lâminas de retroprojetor (overhead projector, o datashow de então, da era pré-internet). Somente ao final do evento, já no coquetel de despedidas conseguimos saber as reais causas de não se ter o relatório da USAID sobre seu desempenho no Brasil. O enigmático funcionário do Departamento de Estado disse, olhando para as pedras de gelo girando em seu copo de whisky: “heads were rolled”. Cabeças rolaram por aqui..., e não mais se estendeu nesta sensível questão. Embora eu imaginasse as óbvias razões , pude ainda, em outras conversas, confirmar os reais motivos de não ter havido aquele único relatório da USAID. Mais de dois anos depois, em 21/02/1991, enviamos o Of. 595/91/MEC ao representante da USAID no Brasil, cobrando o referido relatório, mas não obtivemos resposta. Mas esta é outra longa história a ser contada nesta série de crônicas.
Naquele longo e demorado cross country tour pelos Estados Unidos foram feitos muitos registros fotográficos e, lógico, aconteceram muitas outras histórias interessantes e fatos inusitados como os dois acidentes aéreos que sofremos em Washington e Las Vegas. Quer saber mais? Tive, ainda, que ouvir um inusitado conselho: “quer ter um amigo em Whashington? Compre um cachorro”.
“Quer ter um amigo em Washington?... Compre um cachorro”, disse-me o alto funcionário do Departamento de Estado Norte-americano... No, Sir, thank you..., prefiro ir sozinho visitar o Museum of Air and |Space e outros monumentos.
Foto do autor
Além desses percalços, aconteceu ainda uma prisão-relâmpago ao desembarcar no aeroporto de Miami, com descabido interrogatório que recusei-me a responder a maioria das perguntas e pedi a presença de representante consular brasileiro, pois tinha Passaporte de Serviço visado pela Embaixada Americana, para exercer atividades de trabalho nos Estados Unidos, de interesse de ambos os governos. Também houve outra abordagem policial, bem estranha, de agentes secretos americanos, durante minha passagem, com registro fotográfico, próxima a uma manifestação de estudantes iranianos, em frente ao prédio de nosso escritório. Protestavam contra o regime do ditador Xá Reza Pahlavi, apoiado ostensivamente pelos EUA.
Mas, além dos eventos já narrados, há ainda, as memoráveis visitas às cidades de Nova York com suas Torres Gêmeas e a Estátua da Liberdade, e ainda Washington-DC com seus inúmeros museus, monumentos, prédios públicos e o Cemitério Nacional de Arlington, onde se encontram sepultadas iminentes figuras históricas, como o ex-presidente John Kennedy, que tanto nos inspirou na juventude. Ainda me lembro de sua famosa frase na campanha eleitoral de 1960: “Don´t ask what the United States can do for you..., but what united you can do for the Unirted States”. Não menos interessantes cenários de filmes de farwest de Old Sacramento/Califórnia e Old Tucson/Arizona. Quem não se lembra do badalado filme “A Primeira noite de Homem”, com a trilha sonora de The Sound of Silence, de Simon e Garfunkel? Foi ambientado na Universidade de Berkeley, a mais antiga universidade da Califórnia, e ali acorri, ciceroneado por uma bolsista brasileira daquela universidade, após uma gostosa feijoada de sábado, e pude, assim, contemplar aquele belo cenário. Essas e outras histórias interessantes, serão contadas na sequência desta série sobre a minha vida na terra do Tio Sam. Foram três anos, em temporadas de muitas viagens, em verdadeiro cross contry tour, travessias, cruzando o país de norte a sul e de costa a costa, com bastante proveito e aprendizado na gestão de projeto de treinamento de mais de duas centenas de professores brasileiros naquele país.
Sede da USAID em Washington-DC. Em vez de comprar um cachorro, preferi andar pela cidade e conhecer seus monumentos e museus. Na segunda foto, a Casa Branca, aos fundos, bem distante da grade que cerca a sede do Governo Norte-americano.
Fotos: Washington DC, 1- Internet . 2- do autor
A convivência com os americanos, em especial nosso staff em Michigan, foi bastante prazerosa, pois tratavam-nos com distinção e muito respeito em nossas estadas naquele país, incluindo a visita de cortesia alguns anos depois. Foi uma rica experiência! Ali encontrei terreno fértil para cultivar as lembranças dos tempos de juventude. Lembranças calcadas na influência social e econômica, alicerçadas nos princípios de idealistas como J.F.Kennedy e seus antecessores que tinham como objetivo a política da aproximação e da boa vizinhança. Naquele passado do pós-guerra, fomos, os jovens, conquistados mais pela empatia da atração cultural, estilo de vida, música (rock´n´roll, twist, country...) e sobretudo pelo cinema hollywoodiano. Estes foram os elementos que moldaram nossa mente e o desejo de aprender o idioma inglês, embora as condições para isso fossem muito incipientes à época. Ao contrário de hoje, assusta-nos o retorno, ainda que de forma travestida, porém em maior espectro, a política do big stick, que agora se apresenta de forma mais truculenta, para proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos, o hard power. A coerção já chegou a alguns países da Europa e do continente americano como México e Canadá, com sérias e efetivas intervenções políticas e econômicas. Embora todo esse turbilhão político esteja atualmente em curso na América, sou grato ao seu povo, que sempre recebeu bem a este menino, especialmente a USAID, desde os queijos chedar no internato, aos 12 anos, até às duras discussões para modificações nas metas de treinamento de docentes brasileiros nos EUA e afinal aprovadas, passando ainda pelos gabinetes de trabalho em Michigan, e escritórios de governo em Washington e, principalmente, na cooperação interuniversitária para o desenvolvimento da educação agrícola superior no Brasil, a base para o nosso progresso e liderança mundial neste setor, nos dias atuais.
Concluindo, podemos dizer que a travessia – cross contry tour - que empreendemos pelos EUA foi longa e demorada, mas muito produtiva, com enorme sucesso científico e tecnológico para o nosso país. Mas, foi também muito prazerosa. Podemos, ainda, reafirmar com absoluta convicção que aquele ditado chinês, do filósofo Confúcio, está completamente certo, corretíssimo. Diz o ditado: “Escolha um trabalho que você ama e você nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida”. E assim aconteceu com o Menino das Lavras. Foi um trabalho muito dinâmico, interessante e jamais tomado pela rotina. Cada hora era diferente, literalmente. Pessoas diferentes, de diferentes lugares e nacionalidades, que acorriam aos meus gabinetes no Ministério da Educação em Brasília, em Michigan, nos Estados Unidos ou em Paris, na França, onde
também trabalhei em missões de governo. Tudo isto agitava nossa mente fervilhante e o prazer do dever cumprido nos proporcionava enorme sensação de felicidade, sem igual. Ainda hoje, quando recordo aqueles tempos, é assim, com o coração e mente de menino.
Amém
Brasília, 28 de fevereiro de 2025
Paulo das Lavras
Chegando por Miami, Nova York ou Washington-DC, nosso country tour começava por essas três cidades. De Detroit ou Chicago, na região dos Grandes Lagos, dotadas de grandes e movimentados aeroportos, partíamos para outras viagens por aquele imenso país. Nosso escritório ficava em East Lansing, no Michigan, cidade universitária, ao lado da capital do estado, Lansing,
a 140 km de Detroit
conhecendo suas famosas marinas. Miami era uma das principais entradas nos EUA.
Na segunda foto, no bondinho pelas ruas em declives de San Francisco na Califórnia
Fotos do autor
e ao Lincoln Memorial.
Fotos do autor
Museu do Ar e Espaço (foto 1). Tudo sobre a história da aviação e nada sobre Santos Dumont. Só cultuam os irmãos Wright como inventores do avião. Aqui, admirei o original do avião
Spirit of St Louis, no qual o piloto Charles Lindbergh relizou o primeiro voo solo,
cruzando o Atlântico sem escala, em 1927.
Na foto 2 o não menos famoso Museu Ford, em Detroit, berço do automobilismo.
Fotos do autor
Nosso staff contava com eficientes colaboradoras. Além da secretária Mrs June Mills, havia a Srtas Pam, Rhonda e Debbie que, alem dos planos de viagens,
relatórios e preparação de agendas de encontros nas diversas Universidades ou
no próprio Escritório em Michigan, como se vê nas fotos seguintes
Foto do autor
Agenda no Escritório em Michigan
Foto do autor
Até mesmo recados telefônicos, recebidos de todo os EUA, eram registrados e processados
Foto do autor
Planos de viagens para a Cornell University/Ithaca-NY; Univ. Wisconsin/Madison;
Ilinois University/Champaing; Purdue University./West Lafayette – Indiana e
Michigan State University- East Lansing
Foto do autor
Washington; East Lansing; San Francisco/Cal- University of Berkeley;
University of California - Davis/Sacramento; University of Arizona/Tucson;
Georgia State University/Athens e Univ. of Flórida- Gainsville.
Foto do autor
Os bilhetes de passagens aéreas internacionais eram emitidos quase que
exclusivamente para uso na empresa PanAm e raramente pela Varig
Foto do autor
John Hunter, coordenador local de nosso escritório em Michigan, era extremamente organizado. Reuniões e até mesmo telefonemas eram registrados em memoranduns com as principais decisões tomdas nas conversações à distância. Não havia internet nos anos 70/80
Foto do autorCom Charles Laughling, em frente ao prédio da MSU. Grande colaborador, eficiente consultor
em nossos escrtitórios nos EUA e também aqui MEC e, mais tarde na ESALQ-USP.
Faleceu prematuramente. Era , ainda, escritor de contos infantis.
Foto do autor
Capa de relatório
Flâmula que mantínhamos em nosso escritório. Sobre o bureau, deixávamos bandeirinhas do Brasil para distribuição aos “chorões” de saudades da Pátria. Todos eles levavam uma para casa. Não resistiam, e se não a pediam, eram oferecidas.
Fotos do autor
Madison, a capital do estado de Wisconsin, onde está sediada
a Universidade Estadual de Wisconsin e a maior bacia leiteira dos EUA
Foto do autor
Momento de descontração à caminho do aeroporto na viagem de volta. O menino que, na infância era fascinado pelos westerns, foi despertado pelo folheto turístico de Old Tucson/Arizona, cidade cenário de filmes hollywoodianos.
Ali assistiu show de bang-bang, ao vivo, com Xerife e o bandido caindo “morto”, do alto do telhado. Levantou-se, após a cena e tendo visto minha empolgação, pois consegui fotografar a cena da queda (foto 2), ofereceu-se para encenar um assalto para tomar meu passaporte ali no velho Oeste, conforme foto a seguir.
Mrs June Mills, não estava muito afeita à minha máquina fotográfica e por isso barbeirou no enquadramento.
Mas ainda assim, mostrei aos filhos e contei a história desse “assalto” no velho oeste americano...rsrs.
Pena que antigamente não havia smartfones com fotos digitais, onde se pode repeti-las e editar inúmeras vezes.
Aqui foi em máquina Kodak com rolo de fita colorida e não dava para repetir a cena....
Fotos- Od Tucson, folder turístico/Arizona. Fotos 2 e 3, do autor


























