Não, meu Natal deste ano não será em
Paris. Embora lá estivesse às vésperas e me deleitado com as vitrines das lojas
mais sofisticadas do mundo e a linda decoração das avenidas, praças e
monumentos, meu pensamento estava voltado para as festas no aconchego do lar.
Alguém me perguntou pela rede social, vais passar o natal aí em Paris? Não! Passagem
de retorno devidamente marcada, algumas comprinhas e só! Natal é família....
Não tenho coragem, ou melhor, estrutura emocional sequer para pensar o Natal
longe de casa, seja na glamorosa Paris ou na cintilante e atrativa Nova York. Nunca
o passei fora de casa. Nada substitui a união e a reunião da família. Os
preparativos começam muito antes, com as compras de presentes longe dos
congestionamentos de trânsito e de clientes nas lojas. Depois vem o
planejamento da festa, a decoração do ambiente incluindo a montagem da árvore
que, obrigatoriamente, conta com a participação das crianças que adoram
dependurar os enfeites e ver as luzinhas brilharem. Tem também a escolha dos
pratos e sobremesas para a ceia. Tudo decidido em família. Os filhos casados se
encarregam de preparar um prato surpresa, ficando o principal com o anfitrião.
Essa tradição vem da infância, quando o
avô fazia questão que todos os netos colocassem seus sapatinhos na sala de sua
grande casa. Dia seguinte levantávamos bem cedo e corríamos na esperança de ver
o Papai Noel ainda por lá. Nunca o vimos nessa tarefa, mas os presentinhos lá
estavam em cada sapatinho. Esse era o costume na década de 1950. Até me lembro
de uma musica, cantada por Jamelão nos programas dominicais da Rádio Nacional,
que dizia: “coloquei o sapatinho na janela do quintal...”. Dia de Natal era só
alegria para a criançada, isto sem contar as festividades religiosas que
incluíam missa e visita aos presépios montados na igreja Matriz de Sant´Ana e
nas casas de amigos da família.
Desde que chegaram os netos resolvemos
inovar as comemorações do Natal. Abrimos as portas das casas vizinhas e um
Papai Noel, de verdade, chega à meia noite tocando uma sineta, gritando
Hooo...Hooo...Hoo e carregando um enorme saco abarrotado de presentes destinados
a, pelo menos, umas dez crianças. Foi ideia de uma antiga vizinha, carioca
festeira que só. É uma algazarra geral na hora do abraço e distribuição dos
presentes, pura adrenalina da criançada, de dois aos oito ou dez anos de idade.
Todos querendo abraçar o Papai Noel e receber seu presente. Naturalmente ele
pega o presente, devidamente identificado, chama a criança pelo nome e em
seguida pergunta se ela “se comportou bem” durante o ano e só então faz a
entrega. Interessante foi notar a argúcia dos pequenos de apenas dois anos de
idade. Antes mesmo da pergunta já chegavam anunciando: “ Papai Noel, eu “se
comportei”... Assim mesmo “se comportei”... rsrs. Criança é joia, não há nada
nesse mundo que se compare à sua pureza e amor.
Esse ritual tem sido um sucesso que se
repete a cada ano. Mas, há uns três anos, tivemos um probleminha... um dos
garotos já com seis anos gritou: ah.. o Papai Noel é o tio Mário Augusto...
Pronto, suspense geral e a vó emendou dizendo o contrário. Não adiantou, embora
com todos os disfarces do vestuário, barbas postiças, óculos à caráter, luvas e
até mesmo uma entonação de voz bem característica de Papai Noel, o garoto
retrucou: é sim, olha o relógio dele, do tio Guto...rsrsr. O jeito foi chama-lo
para outro local, confirmar a verdade e pedir segredo. Criança adora um
“segredo” ... e a festa continuou sem que mais ninguém duvidasse que ali estava
o verdadeiro Papai Noel que veio trazer os presentes para eles. Depois dessa os
cuidados na roupagem, maquiagem e voz do Papai Noel foram redobrados. Tomara
que hoje à noite não se repita essa “descoberta” por parte da meninada.
Bem, neste ano uma das filhas sugeriu
que fizéssemos o natal em sua nova casa, no bairro de Águas Claras. Embora
tivéssemos achado uma boa ideia, os dois netos, de cinco e seis anos de idade
perguntaram: Mas como o Papai Noel, que
passa aqui na casa do vovô e da vovó vai saber? Eu já coloquei minha cartinha
de pedido do presente lá na árvore de natal. Ele passará lá na outra casa também?
Ofereci a alternativa de pegar os presentes que o Papai Noel traria e os
levaria para a casa dela onde faríamos a ceia. De bate pronto, ela olhou para a
vó buscando aprovação e respondeu: Que coisa mais sem graça, vovó! Entendemos e
cancelamos o plano de mudança do local das comemorações. O espírito familiar
está arraigado entre os vizinhos e não mais se restringe aos laços sanguíneos.
Que bom que haja esse sentimento de amizade e união entre famílias, sobretudo
numa cidade grande, especialmente Brasília, onde todos somos “estrangeiros”
vindos de diferentes estados desse imenso e diversificado país.
Natal é assim, alegria sem fim na
família. Não quero saber de passar essa festa em outro lugar, nem mesmo em
Paris ou Nova York, a menos que fossemos todos, esposa, filhos, netos,
agregados, vizinhos e amigos que eventualmente estão por perto. Aliás, amigos
por perto..., já tivemos oportunidade de acolher, na noite de Natal, duas
moças, médicas-residentes de um hospital e que em razão de plantões médicos não
puderam passar o natal com a família na distante Salvador, Bahia. Naquela noite
o telefone da casa ficou ligado por mais de uma hora, pois não havia celular na
década de 1980. Choro constante, de cá e de lá. Compreendi a emoção do pai, do
outro lado da linha. Depois de algum tempo pedi para falar com ele, meu xará,
Sr. Paulo. Aumentei um pouquinho o som da música ambiente, a 9ª Sinfonia de
Beethoven – o Hino à Alegria e o tranquilizei dizendo-lhe do prazer de receber
sua filha para a ceia em família. Que Alegria, tal qual se expressa no Hino de
Beethoven que o senhor pode ouvir ao fundo, disse a ele. Menos de um mês depois
ele veio à minha casa agradecer e entregar-me uma lembrancinha, não sem antes dar-me
um abraço emocionado, quase às lágrimas. Desnecessário dizer que mantemos
relações cordiais desde então.
Natal é isso, compartilhar o amor! Não
custa nada e cria laços para sempre. Ainda hoje me lembro dos presentinhos que
Papai Noel deixava no sapatinho, na sala da casa de meu avô. Quero que meus
netos se lembrem desse imaginário Papai Noel com carinho e amor, na infância e
sempre, mesmo que seja muito, mas muito tempo depois como agora o fiz.
Um bom Natal para todos, com muito amor
e saúde.
Brasília, 24 de dezembro de 2013
Paulo das Lavras.
Paris-
decoração de Natal 2013
Natal em casa...
... com os três netinhos
Na
árvore de Natal
Esperando
o Papai Noel na porta. Sarah com sua cartinha de
boas vindas ao Papai Noel
E põe ansiedade na espera....
e finalmente... à meia noite o Papai Noel chegou
Sarah, o abraço e o esperado presente
A alegria e felicidade no sorriso de Pedro Henrique
Sarah com os avós, alegria sem fim...
Pedro Henrique e os
cobiçados presentes
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